terça-feira, 7 de outubro de 2014

A MÁSCARA CÍNICA DA DIREITA





No blog de Felipe Moura Brasil, (WWW.veja.com/felipemourabrasil), em matéria de 03/10/2014, uma das frases do autor vem a calhar sobre o tema: “(...) as eleições deste ano, disputadas por candidatos apenas de esquerda (Dilma, Marina e Aécio) (...)”. Na verdade, a diferença entre PT e PSDB é quase inexistente. A meu ver, os dois são partidos de direita, uma vez que defendem o capitalismo com uma vertente social assistencialista, estilo Rotary ou Lyons, através da instituição de programas que visam o fim da miséria ou da extrema pobreza, objetivando unicamente incorporar grande parte da população à classe média, e não fazê-la adquirir consciência social e conseqüente capacidade de luta.

   Não se trata de alertar o povo para as causas da sua miséria, resultado de exploração secular, mas de acenar para essa grande massa - que permanece condicionada a determinados padrões que levam à alienação e aceitação do estabelecido como “natural” – para a possibilidade de participação na sociedade de consumo, o que a levará a um maior afastamento da sua realidade e a quase um delírio na busca de bens materiais, impulsionada pelas exaustivas propagandas que apontam produtos absolutamente desnecessários como o grande e único objetivo a ser conquistado na vida.

   Vivemos em um país capitalista, ou seja, em um país no qual as pessoas são induzidas a dar valor apenas ao dinheiro, às conquistas materiais, aos objetos, à aparência – a tudo o que for visível, físico, e que puder acrescentar, de maneira prática, elementos que visem formar uma personalidade que seja o reflexo prosaico da vulgaridade ordenada pelos meios de comunicação. Mais que o conservadorismo que ordena a estagnação, o pensamento de direita, hoje, pretende a estagnação conservadora dentro de modelos pré-elaborados que levem as pessoas a acreditar que estão evoluindo socialmente.

    Nesse cenário, o fator “competição” é exacerbado, e o outro, o próximo, tende a ser considerado como um adversário em potencial. Ao contrário do socialismo, em que se apresenta a possibilidade de união entre as pessoas e, num plano maior, união entre os povos, o capitalismo provoca a separação, a inimizade, obrigatoriamente formando classes sociais que se protegem e hostilizam as demais e, mesmo dentro de cada uma dessas classes – no que é apelidado de pirâmide social -, há uma acirrada disputa pelo poder, visando ascensão material, domínio sobre os demais.

   O capitalismo prevê não só a disputa, como a divisão e oposição entre pessoas da mesma classe social e, principalmente, entre classes de diferentes níveis. Liberdade, para os capitalistas, significa concorrência no seu sentido mais torpe e ganancioso. Notadamente, o capitalismo se caracteriza pela exploração. Um operário é explorado na sua força de trabalho na medida em que produz muito mais do que recebe pelo valor do seu trabalho. Essa diferença foi chamada por Marx de “mais valia”, que é o lucro auferido pelo empregador ao explorar o trabalho assalariado.

   “Liberdade”, para a direita, exprime a idéia de licença para explorar, dividir e exaurir a força das classes assalariadas; subjugar o operário e o camponês – a grande maioria da população – a um sistema de semi-escravidão oficializado pelo Estado capitalista. Para que seja assim, torna-se necessário uma força de trabalho excedente, caracterizada pelos desempregados, o que dá ao empregador a possibilidade de constante rodízio entre os assalariados, obrigando-os a aceitar o pagamento estipulado ou passar fome.

   O capitalismo não seria capitalismo sem a exploração e o desemprego. Em um país onde todos estivessem empregados, a força reivindicatória do trabalhador por melhores salários e estruturas sociais avançadas faria com que o trabalhador fosse remunerado em conformidade com o seu esforço e chegaria um momento em que as classes sociais dominantes desapareceriam ao serem obrigadas a ceder os seus lucros aos operários, provocando o advento do socialismo, ou uma sociedade igualitária sem exploradores.

    A noção de “igualdade” é execrada e considerada como absurdo para os capitalistas. Para eles, igualdade é a grande ameaça que ronda no horizonte, deixando-os muito assustados. A igualdade social implicaria no fim dos seus privilégios, na destruição da falsa e movediça noção de “status”, na eliminação de barreiras entre as classes. Uma única classe social, onde todos contribuam de acordo com as suas capacidades e recebam conforme as suas necessidades, sem miséria ou desemprego, é fator de grande pesadelo para a direita.

    A desigualdade permanente é o que sustenta o capitalismo e dá à direita pressupostos políticos maquiados por valores – alguns, estacionários, apresentando características de mito inquebrantável; outros, mais flexíveis, tentando adequar-se à mudança dos costumes; todos como um feixe de referências ou códigos subliminares que têm em vista jamais aprofundar a questão social, nunca mexer com o que está estabelecido, no máximo propor reformas de caráter horizontal que em nada afetarão as estruturas do poder, que poderá ter partidos que se alternem desde que obedeçam aos estereótipos estabelecidos. 

   Essa alternância no poder é chamada de democracia na medida em que dá ao povo a liberdade de votar e escolher os seus representantes e, ao mesmo tempo, tira do eleitor a possibilidade de participar ativamente do seu destino, uma vez que esses representantes, assim que empossados, passam a obedecer àqueles que patrocinaram as suas campanhas: empresas, bancos, etc. Esta é uma prática política que muito pouco tem de “democrática”, no sentido mais abrangente da palavra: governo do povo, posto que o governo, por mais alternância que haja nos nomes e partidos que desfrutam do poder, continua pertencendo às classes mais abastadas ou ligadas aos interesses do latifúndio, empresariado, multinacionais e outros grupos de poder extremamente afastados da grande massa que forma a população, que é chamada às urnas a cada dois anos para referendar, inconscientemente, a desigualdade social. 

    Neste contexto, partidos políticos, como o PT – que expurgou dos seus quadros os elementos socialistas e optou por uma política de alianças com oligarquias, ficando conhecido pelos atos corruptos de muitos dos seus membros – e PSDB – que entende a social-democracia como forma de amenizar a pobreza e, assim como o PT, trazer o povo a cabresto através de reformas que nada mudam – são partidos claramente de direita, defensores do sistema. Ambos são entreguistas e antinacionalistas, recebendo dinheiro de grandes empresas, optando sempre por privatizações e leiloando as nossas riquezas. 

    Deles, nada pode esperar a classe trabalhadora. E muito menos as classes não trabalhadoras, a grande multidão de miseráveis que moram em barracos ou nas ruas, sobrevivendo de expediente, de favores, de esmolas, eternamente perseguidos pela polícia e criminalizados por sua miséria. Desses partidos hipócritas nada pode esperar a população mais consciente, porque não a representam em suas aspirações por um país verdadeiramente democrático. Nada mudará com a eleição de Dilma ou de Aécio. 

    No entanto, se a derrota do PT acontecer, isso servirá, ao menos, para desmascarar uma política baseada no cinismo; um projeto político que pretende oficializar uma falsa esquerda, a exemplo do PRI (Partido Revolucionário Institucional) mexicano, que se eterniza no poder através de alianças com o capital e obriga a esquerda a organizar guerrilhas, que não podem vencer ou o México será invadido pelos Estados Unidos. A uma “esquerda” assim talvez seja preferível uma direita declarada e essencialmente analfabeta politicamente, como aquela frase: “Prefiro um inimigo sincero a um falso amigo”. 

   Vencendo o PT, a farsa continuará indefinidamente. 

   Vencendo o PSDB, ele trará em seu bojo desde os mais rançosos e absurdos grupos de direita – pessoas com um mínimo de cultura política e um máximo de ódio ao povo – até a centro-direita, que vive de conchavos e acordos e, inevitavelmente, formará aliança com o PT e PMDB no Congresso. E as máscaras cairão. O povo perceberá, aos poucos, que os partidos que detêm o poder não se diferenciam, em essência são todos corruptos e inimigos da verdadeira democracia popular. 

    Por outro lado, o PSDB não poderá – sob pena de suicídio político – deixar de sustentar os planos reformistas e assistencialistas que dão ao PT milhões de votos. Além disso, assim como o PT, evitará avançar objetivando uma democracia participativa, que seria o mesmo que a renúncia ao poder. O inimigo ficará exposto. 

    Alguns afirmam que a vitória de Aécio representaria um retrocesso político. No entanto, o retrocesso já existe desde 1964 e a volta dos militares para os quartéis significou a instituição de uma democracia consentida, baseada somente em eleições que nada acrescentam, com a ascensão de líderes políticos antecipadamente vendidos aos interesses do grande capital, que sobrevivem de acordos, alianças e subornos. A ética e a moral foram colocadas no lixo e a insensibilidade, a barbárie e a truculência dominam. Há maior retrocesso?

Um comentário:

  1. Perfeita explanação sobre esquerda, direita, e principalmente sobre os males do capitalismo sentidos diariamente por todos nós. Parabéns!

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