A fúria petista nestes últimos
dias de campanha só pode ser comparada, remotamente, ao desvario de Júlio de
Castilhos nos anos 1890, que mandava degolar adversários políticos e, se não os
encontrava, porque a maioria fugia para o Uruguai e Argentina, matava os seus
parentes e arrasava as suas casas. Aquele estado de coisas – ao contrário do
que dizem os autores mais bem comportados, que preferem uma análise
civilizadamente política – gerou tamanha revolta que obrigou os exilados a uma
revolução que ensangüentou o sul do Brasil por quase três anos. Vencida esta,
com o apoio do ditador Floriano Peixoto, os castilhistas inventaram todo tipo de
calúnias e difamações contra os revolucionários, que continuaram a ser
perseguidos e assassinados até que, em 1923, nova revolução sob o comando de
Assis Brasil conseguiu vencer o despotismo.
Ou talvez essa fúria deva ser
comparada ao período do Terror da Revolução Francesa – entre agosto de 1792 e
julho de 1794 – quando milhares de pessoas foram assassinadas pelos mais débeis
motivos. Somente em dezembro de 1794 foram mortas mais de 5.502 pessoas na
guilhotina. Todo o poder, quando usado com insensatez, tende a ser ditatorial,
corrupto e desumano. Se fossem outros os tempos e o PT se visse obstado pela
mesma ferrenha oposição de agora, provavelmente viveríamos um período de
sangrentas perseguições.
Começando com o apoio de grupos
de esquerda, o PT, aos poucos se tornou tão amigo do poder que, na ânsia por
arrecadar mais e mais votos da população, incorporou os adversários da direita
que antes combatia, como Fernando Collor, Jáder Barbalho, José Sarney e Paulo
Maluf. Ao mesmo tempo, conservou em suas fileiras intelectuais da classe média
alta que se tornaram orgânicos ao partido e perderam a capacidade de senso
crítico – para tentar passar aos seus militantes hipnotizados uma idéia de
coerência com ideais progressistas jogados no lixo há muito tempo.
Toda a esquerda se retirou do
PT, ajudando a formar novos partidos socialistas e afirmando que o PT não mais
a representa. Esses claros foram preenchidos por pessoas abertamente direitistas
ou acomodadas politicamente, procurando aquele partido com fins interesseiros e
não ideológicos, gostando de citar Paulo Freire, depois que a nossa educação
foi arrasada, e Gramsci, a quem seguem apenas nominalmente.
Na política interna, o PT se
revela um partido que adotou a corrupção como meio e fim em si mesmos. Não consegue
nem ser maquiavélico, porque o seu objetivo já foi alcançado e nada mais deseja
que as benesses do poder. Na política externa, o governo do PT é um Cavalo de
Tróia a serviço do imperialismo, que ainda não foi descoberto pelos países que
compõem a ALBA (Aliança Bolivariana das Américas) ou pelos países que lutam
para preservar a sua identidade nacional, como a Argentina peronista.
Das práticas antigas, somente
uma restou ao PT: o patrulhamento. Cacá Diegues e Chico Buarque foram alguns
que denunciaram o patrulhamento ideológico, nos anos ’70. Hoje não é mais
ideológico, mas continua a ser patrulhamento, e se caracteriza por técnicas de
intimidação e apelo ao medo, eventualmente evoluindo para o conflito.
A fúria do PT é sinônimo de que
a intimidação e o apelo ao medo não estão funcionando. Restou o conflito. Nesta
campanha política ocorreram ataques infamantes à candidata Marina Silva. E o
mesmo acontece agora em relação a Aécio Neves. Na falta de argumentos e de
propostas, a difamação, o ataque moral, a busca do conflito.
Vencendo ou perdendo as
eleições, o PT deixará uma nação dividida, não ideologicamente, porque falta
ideologia ao PT, mas moralmente – entre aqueles que aceitam os desmandos e a corrupção
como norma política e os que protestam contra a amoralidade e a ausência de
princípios éticos que tomou conta do país.
Excelente análise sobre o patrulhamento nestas eleições, se reportando inclusive a anos passados, que se repetem no presente momento no Brasil. Parabéns!
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