sábado, 18 de outubro de 2014

PATRULHAMENTO





A fúria petista nestes últimos dias de campanha só pode ser comparada, remotamente, ao desvario de Júlio de Castilhos nos anos 1890, que mandava degolar adversários políticos e, se não os encontrava, porque a maioria fugia para o Uruguai e Argentina, matava os seus parentes e arrasava as suas casas. Aquele estado de coisas – ao contrário do que dizem os autores mais bem comportados, que preferem uma análise civilizadamente política – gerou tamanha revolta que obrigou os exilados a uma revolução que ensangüentou o sul do Brasil por quase três anos. Vencida esta, com o apoio do ditador Floriano Peixoto, os castilhistas inventaram todo tipo de calúnias e difamações contra os revolucionários, que continuaram a ser perseguidos e assassinados até que, em 1923, nova revolução sob o comando de Assis Brasil conseguiu vencer o despotismo.

   Ou talvez essa fúria deva ser comparada ao período do Terror da Revolução Francesa – entre agosto de 1792 e julho de 1794 – quando milhares de pessoas foram assassinadas pelos mais débeis motivos. Somente em dezembro de 1794 foram mortas mais de 5.502 pessoas na guilhotina. Todo o poder, quando usado com insensatez, tende a ser ditatorial, corrupto e desumano. Se fossem outros os tempos e o PT se visse obstado pela mesma ferrenha oposição de agora, provavelmente viveríamos um período de sangrentas perseguições.

   Começando com o apoio de grupos de esquerda, o PT, aos poucos se tornou tão amigo do poder que, na ânsia por arrecadar mais e mais votos da população, incorporou os adversários da direita que antes combatia, como Fernando Collor, Jáder Barbalho, José Sarney e Paulo Maluf. Ao mesmo tempo, conservou em suas fileiras intelectuais da classe média alta que se tornaram orgânicos ao partido e perderam a capacidade de senso crítico – para tentar passar aos seus militantes hipnotizados uma idéia de coerência com ideais progressistas jogados no lixo há muito tempo.

   Toda a esquerda se retirou do PT, ajudando a formar novos partidos socialistas e afirmando que o PT não mais a representa. Esses claros foram preenchidos por pessoas abertamente direitistas ou acomodadas politicamente, procurando aquele partido com fins interesseiros e não ideológicos, gostando de citar Paulo Freire, depois que a nossa educação foi arrasada, e Gramsci, a quem seguem apenas nominalmente.

   Na política interna, o PT se revela um partido que adotou a corrupção como meio e fim em si mesmos. Não consegue nem ser maquiavélico, porque o seu objetivo já foi alcançado e nada mais deseja que as benesses do poder. Na política externa, o governo do PT é um Cavalo de Tróia a serviço do imperialismo, que ainda não foi descoberto pelos países que compõem a ALBA (Aliança Bolivariana das Américas) ou pelos países que lutam para preservar a sua identidade nacional, como a Argentina peronista.

    Das práticas antigas, somente uma restou ao PT: o patrulhamento. Cacá Diegues e Chico Buarque foram alguns que denunciaram o patrulhamento ideológico, nos anos ’70. Hoje não é mais ideológico, mas continua a ser patrulhamento, e se caracteriza por técnicas de intimidação e apelo ao medo, eventualmente evoluindo para o conflito.

    A fúria do PT é sinônimo de que a intimidação e o apelo ao medo não estão funcionando. Restou o conflito. Nesta campanha política ocorreram ataques infamantes à candidata Marina Silva. E o mesmo acontece agora em relação a Aécio Neves. Na falta de argumentos e de propostas, a difamação, o ataque moral, a busca do conflito.

    Vencendo ou perdendo as eleições, o PT deixará uma nação dividida, não ideologicamente, porque falta ideologia ao PT, mas moralmente – entre aqueles que aceitam os desmandos e a corrupção como norma política e os que protestam contra a amoralidade e a ausência de princípios éticos que tomou conta do país.

Um comentário:

  1. Excelente análise sobre o patrulhamento nestas eleições, se reportando inclusive a anos passados, que se repetem no presente momento no Brasil. Parabéns!

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