terça-feira, 28 de outubro de 2014

O POVO NÃO ESQUECE





Começou o movimento a favor da pacificação. A Dilma quer a união nacional, e o Aécio também. Aliás, bastante curiosa a rapidez com que o senador aceitou a derrota nas urnas, apesar da possibilidade de compra de votos e da denúncia esporádica de fraude nas urnas eletrônicas. Em outros tempos a política era mais séria. Confesso que sinto saudade do brio de um Leonel Brizola, da denodada luta de um Luiz Carlos Prestes. Talvez Aécio e PSDB pensem que o povo que lhes deu a gigantesca votação era todo a favor da pessoa ou do partido, quando, na verdade, era contra a corrupção e a impunidade, representadas pelo PT e seus comprados aliados. 

   Poderia ser a Marina, mas, no caso, foi o Aécio o detentor das esperanças nacionais. Mudar significava, em primeiro lugar, tirar a quadrilha do poder. Se o governo sucessor também se transformasse em quadrilha, o povo já teria aprendido a lutar e a detectar os seus verdadeiros inimigos. O PSDB terá, no máximo, 20% do eleitorado e precisou de muitas alianças e principalmente do repúdio nacional ao PT para conquistar mais de 48% da votação no segundo turno. Agora, passadas as eleições, pode voltar à sua pífia atuação no Congresso Nacional e, se preferir, aliar-se ao PT – seu irmão gêmeo -, mas isso não evitará a luta do povo. 

   Povo que não está sendo devidamente representado pelos verdadeiros partidos de esquerda, como PCB, PSTU e PCO (o PSOL, é notório, é o aliado de reserva do PT, ou PT-2). Observe-se que o leque de alianças que Aécio reuniu em torno de si englobava desde a extrema direita, que acredita que o PT é um partido comunista – suprema ofensa aos verdadeiros comunistas – até a esquerda independente e democrática, passando por liberais com pouca politização e indignados sem qualquer viés político. 

   A esquerda organizada em partidos (PCB, PCO, PSTU) preferiu aceitar o patrulhamento ideológico do PT e do PSOL, orientando seus filiados a anular o voto ou votar em branco, não identificando os verdadeiros anseios populares e excluindo alguns milhões de eleitores que poderiam ter sido decisivos para expulsar a corrupta prática petista do cenário político. Esqueceram-se os líderes daqueles partidos antigamente revolucionários a lição histórica que revela que é mais fácil derrubar a direita assumida do que a falsa “esquerda” populista, assistencialista, com laivos de reformismo e inevitavelmente mais reacionária e apegada ao poder do que a bronca direita conservadora. Entenderam o contrário, mas a História e feita de contradições que nem sempre levam à perfeita síntese. 

   Agora, aqueles partidos que detêm o poder em conjunto sob a égide do PT querem a pacificação, a união do povo em torno de um único objetivo, que, em última análise, será o objetivo desses partidos que dividem o Brasil e comungam entre si os lucros dessa fictícia divisão. O povo pode esperar; já votou, está exausto com a campanha eleitoral e, se ainda mostrar alguma insatisfação deve lembrar que daqui a dois anos poderá votar de novo – assim eles pensam. 

   Para isso, contam com o apoio da grande imprensa, liderada pela Rede Globo que sempre está do lado do poder e agora prega a paz e o amor, tentando passar a idéia de que tudo acabou no dia da eleição, no máximo no dia seguinte e que os adversários de ontem que lutaram como verdadeiros inimigos devem trocar o beijo da paz e fingir que nada aconteceu – como se as eleições fossem o mesmo que uma grande disputa de escolas de samba que termina na quarta-feira com a divulgação dos resultados que satisfazem a uns e entristecem a outros, mas depois tudo passa, porque carnaval tem todos os anos. 

   Enganam-se. Mesmo que os partidos envolvidos na luta eleitoral desejem a hipocrisia provocada pela ganância, o povo não esquece. O povo não esquece as ofensas, as mentiras, as infâmias, o cinismo. O povo não esquece a violência que sofre a todo o momento, tanto física como moralmente. Não pode o povo esquecer que foi e está sendo vítima da calúnia e da arrogância dos déspotas e de seus agentes pagos. É impossível ao povo esquecer os corruptos que o roubam. O povo não esquece a falsificação da verdade; não esquece a torpeza dos crápulas; não esquece a decadência das instituições, a devassidão dos costumes, o infecto cenário político nacional. 

   Inevitavelmente, após as eleições a nação ficou dividida entre aqueles que desejam o continuísmo da perversão e aqueles que ainda têm alguma esperança de viver em um país limpo da sujeira e da putrefação política. E estes últimos continuarão a lutar.

Um comentário:

  1. Será que o povo realmente não esquece? Espero que não. Muito boa matéria. Parabéns!

    ResponderExcluir

Faça o seu comentário aqui.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...