Começou o movimento a favor da
pacificação. A Dilma quer a união nacional, e o Aécio também. Aliás, bastante
curiosa a rapidez com que o senador aceitou a derrota nas urnas, apesar da
possibilidade de compra de votos e da denúncia esporádica de fraude nas urnas
eletrônicas. Em outros tempos a política era mais séria. Confesso que sinto
saudade do brio de um Leonel Brizola, da denodada luta de um Luiz Carlos
Prestes. Talvez Aécio e PSDB pensem que o povo que lhes deu a gigantesca
votação era todo a favor da pessoa ou do partido, quando, na verdade, era
contra a corrupção e a impunidade, representadas pelo PT e seus comprados
aliados.
Poderia ser a Marina, mas, no
caso, foi o Aécio o detentor das esperanças nacionais. Mudar significava, em
primeiro lugar, tirar a quadrilha do poder. Se o governo sucessor também se transformasse
em quadrilha, o povo já teria aprendido a lutar e a detectar os seus
verdadeiros inimigos. O PSDB terá, no máximo, 20% do eleitorado e precisou de
muitas alianças e principalmente do repúdio nacional ao PT para conquistar mais
de 48% da votação no segundo turno. Agora, passadas as eleições, pode voltar à
sua pífia atuação no Congresso Nacional e, se preferir, aliar-se ao PT – seu irmão
gêmeo -, mas isso não evitará a luta do povo.
Povo que não está sendo
devidamente representado pelos verdadeiros partidos de esquerda, como PCB, PSTU
e PCO (o PSOL, é notório, é o aliado de reserva do PT, ou PT-2). Observe-se que
o leque de alianças que Aécio reuniu em torno de si englobava desde a extrema
direita, que acredita que o PT é um partido comunista – suprema ofensa aos
verdadeiros comunistas – até a esquerda independente e democrática, passando por
liberais com pouca politização e indignados sem qualquer viés político.
A esquerda organizada em
partidos (PCB, PCO, PSTU) preferiu aceitar o patrulhamento ideológico do PT e
do PSOL, orientando seus filiados a anular o voto ou votar em branco, não
identificando os verdadeiros anseios populares e excluindo alguns milhões de
eleitores que poderiam ter sido decisivos para expulsar a corrupta prática petista
do cenário político. Esqueceram-se os líderes daqueles partidos antigamente
revolucionários a lição histórica que revela que é mais fácil derrubar a
direita assumida do que a falsa “esquerda” populista, assistencialista, com laivos
de reformismo e inevitavelmente mais reacionária e apegada ao poder do que a
bronca direita conservadora. Entenderam o contrário, mas a História e feita de
contradições que nem sempre levam à perfeita síntese.
Agora, aqueles partidos que
detêm o poder em conjunto sob a égide do PT querem a pacificação, a união do
povo em torno de um único objetivo, que, em última análise, será o objetivo
desses partidos que dividem o Brasil e comungam entre si os lucros dessa
fictícia divisão. O povo pode esperar; já votou, está exausto com a campanha
eleitoral e, se ainda mostrar alguma insatisfação deve lembrar que daqui a dois
anos poderá votar de novo – assim eles pensam.
Para isso, contam com o apoio
da grande imprensa, liderada pela Rede Globo que sempre está do lado do poder e
agora prega a paz e o amor, tentando passar a idéia de que tudo acabou no dia
da eleição, no máximo no dia seguinte e que os adversários de ontem que lutaram
como verdadeiros inimigos devem trocar o beijo da paz e fingir que nada
aconteceu – como se as eleições fossem o mesmo que uma grande disputa de
escolas de samba que termina na quarta-feira com a divulgação dos resultados
que satisfazem a uns e entristecem a outros, mas depois tudo passa, porque
carnaval tem todos os anos.
Enganam-se. Mesmo que os
partidos envolvidos na luta eleitoral desejem a hipocrisia provocada pela
ganância, o povo não esquece. O povo não esquece as ofensas, as mentiras, as
infâmias, o cinismo. O povo não esquece a violência que sofre a todo o momento,
tanto física como moralmente. Não pode o povo esquecer que foi e está sendo
vítima da calúnia e da arrogância dos déspotas e de seus agentes pagos. É
impossível ao povo esquecer os corruptos que o roubam. O povo não esquece a
falsificação da verdade; não esquece a torpeza dos crápulas; não esquece a
decadência das instituições, a devassidão dos costumes, o infecto cenário
político nacional.
Inevitavelmente, após as
eleições a nação ficou dividida entre aqueles que desejam o continuísmo da
perversão e aqueles que ainda têm alguma esperança de viver em um país limpo da
sujeira e da putrefação política. E estes últimos continuarão a lutar.
Será que o povo realmente não esquece? Espero que não. Muito boa matéria. Parabéns!
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