Alguns
membros do Ministério Público de São Paulo perderam completamente o pudor,
demonstrando o seu desconhecimento das mais elementares normas de justiça. São
eles os promotores Cassio Conserino, Fernando Henrique de Moraes Araújo e José
Carlos Blat, que apresentaram denúncia contra Lula, por lavagem de dinheiro e
falsidade ideológica, com base no que chamam de evidências. Os raivosos
promotores asseveram que Lula não deveria ter se manifestado após a sua prisão
para depor. Segundo eles, Lula é uma ameaça para a ordem pública e, por esta
razão, deve receber o castigo da prisão preventiva.
De
acordo com os promotores, não é possível opor-se à violência travestida de
legalidade. Conforme esse raciocínio e se Lula for preso, qualquer um que se
coloque contra leis injustas e atitudes opressivas será passível de prisão, o
que implicará na coerção das liberdades individuais, como a livre manifestação
de pensamento. Ficará a critério do Judiciário determinar o que é ou não uma
ameaça à ordem pública. Dependendo do humor ou da tendência política de
promotores e juízes, essa ameaça poderá estar num irrefletido palavrão ou, quem
sabe, num verso de música como “Brasil, esquentai vossos pandeiros” – e ninguém
estará a salvo.
Inflamados
por uma imprensa fascista e golpista, acreditam que reagir contra atos
ditatoriais é dar um mau exemplo à população, quando, na verdade, é exatamente
o contrário: todo cidadão tem direito de se contrapor às arbitrariedades e injustiças.
Os
denunciantes são pessoas que tem o cargo de promotor porque fizeram um
concurso, e não devido a seus conhecimentos gerais ou humanistas, e que se
revelam no próprio documento da denúncia como pobremente instruídos,
confundindo Hegel com Engels e vergonhosamente demonstrando a sua parca
cultura.
Seria
aceitável a confusão entre Hegel e Engels para um estudante de primeiro ano de
qualquer universidade brasileira, mas jamais em se tratando de promotores que,
muitas vezes, em suas denúncias, estão decidindo sobre vidas humanas e a elas
se sobrepõem como se fossem super-homens, ou aves de rapina ostentando suas
plumas. Dessas pessoas com poderes quase ilimitados exige-se, no mínimo, um
maior conhecimento para que possam respaldar amplamente uma denúncia subjetiva
– como a apresentada contra Lula - com fraco alicerce e sem provas que a
robusteçam.
Do
que se depreende que se há falha no documento apresentado com citações
censuráveis, é muito provável que toda a denúncia esteja baseada em sofismas,
em falsas alegações o que a torna eivada de erros e, conseqüentemente, nula.
É
óbvio que os denunciantes estão agindo sem qualquer isenção, movidos pelo ódio
político, dado o uso do nome de Marx (Hegel?) na denúncia contra Lula. E aqui
fica clara, mais uma vez, a ignorância (do verbo ignorar) dos autores do
documento. Pressupõem que Lula seja marxista, o que já foi negado pelo próprio
Lula, que não passa de um líder popular de tendência neoliberal, sem maior
formação teórica. Segundo o que demonstrou durante o seu governo, Lula pertence
a um partido que se diz de esquerda, mas aceita o capitalismo e quer
reformá-lo. Portanto, não é marxista.
E,
mesmo que Lula fosse marxista, não são admissíveis alegações ou citações
políticas – ainda que tortuosas, face ao manifesto despreparo dos referidos
promotores - numa denúncia onde a acusação, por tíbia que seja, trata de
lavagem de dinheiro e falsidade ideológica.
Além
do quê, há um erro crasso de interpretação quanto ao que Marx pensaria sobre a
atitude de revolta de Lula. O filósofo alemão jamais se envergonharia de quem
luta pela dignidade de uma nação, buscando a justiça social. O próprio Marx foi
perseguido durante toda a sua vida e encontrou o último exílio na Inglaterra,
onde pôde completar suas pesquisas e editar a maior parte de seus livros – com
o apoio de outro filósofo chamado Friedrich Engels, e não Hegel.
Os
promotores, ainda que em vã e ridícula tentativa de ironia, estão claramente
revelando uma posição política contrária a do denunciado, deixando transparecer
que o objetivo final da denúncia é fazer de Lula um preso político, o que só
acontece nas piores ditaduras.
A
presunção de inocência, coroada pela frase “Ninguém será considerado culpado
até prova em contrário” foi colocada por terra, nocauteada por leis elaboradas
por fascistopatas e agora se presume que todos são culpados até prova em contrário.
A Constituição desta república - que mais parece uma monarquia absolutista do
Judiciário – tornou-se uma carta para enganar bobos e vivemos um regime
ditatorial e repressivo, onde promotores, juízes e policiais fazem o que
querem, sob o pretexto de combater a corrupção.
Na
verdade, combatem a esquerda. Com ou sem provas, encarceram todos aqueles que
lhes são desagradáveis politicamente e se provas não existem podem ser forjadas
ou compradas através de delatores muito bem premiados – e premiar a delação é
uma forma de corrupção. O inerme Executivo é refém do Legislativo, constituído,
em sua maioria, por declarados golpistas, entre eles muitos corruptos
conhecidos, que permanecem impunes.
Estamos
atravessando um momento de tamanha histeria contra os movimentos sociais e seus
representantes, que a população informada (ou desinformada) grotescamente pelos
meios de comunicação de direita passou a acreditar que prender por ouvir dizer
equivale à justiça. E essa cegueira faz com que parte do povo torne-se
irracional, misturando policiais com promotores e estes com juízes, haja vista
a sanha inquisitorial que tomou conta de alguns representantes do Judiciário e do
Ministério Público.
Quando
promotores são confundidos com esbirros e juízes agem como carrascos, algo está
muito errado e o estado de direito tão duramente conquistado transforma-se em
ditadura do Judiciário.
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