
O que aconteceu ao
PT? Em que momento o partido que deveria ser uma frente de esquerda deu a
guinada que o levaria inevitavelmente às práticas sujas da direita e a ela se
uniu, resguardando-se demagogicamente nos discursos ufanistas e nas vestes vermelhas
que enganam os parvos? Por que e como aceitou, o partido que deveria ser dos
trabalhadores, a manobra que o atraiu para o centro do poder, aliando-se
justamente aos inimigos dos trabalhadores – cartéis, trustes, empresários,
latifundiários -, aceitando a globalização, o neoliberalismo econômico, um
plano a médio e longo prazo de domínio imperialista sobre a América Latina? O
que levou o PT, em seu processo de transformação de abóbora em carruagem real,
a afastar do partido todos os grupos de esquerda e a eleger sucessivas direções
de membros reacionários que aceitam os postulados do capitalismo? O que fez o
que restava de inteligência no PT a concordar com a corrupção como norma –
desde as prefeituras petistas até o Governo Federal nos seus três poderes – sob
a pífia desculpa de pragmatismo político?
Entre tantos fatores que levaram o
Partido dos Trabalhadores a visitar o sistema e conviver com suas esquivas e
lodosas sombras, destaco dois como mais importantes e, talvez, determinantes:
1.
A sacralização do ícone “trabalhador”
na figura de Lula, uma nova versão do culto à personalidade, com objetivos
essencialmente demagógicos.
2.
O surgimento de um curioso partido,
denominado Partido Revolucionário Comunista (PRC), que tinha muito pouco de
comunista, nada de revolucionário e preferiu a auto-extinção enquanto partido
para ajudar a levar o PT para a direita e buscar uma política de alianças que o
tornaram refém do capitalismo.
Inicialmente formado
por correntes de todas as tendências do variado espectro da diáspora
esquerdista após as tentativas de guerrilha urbana e rural, o PT era um partido
de muitas siglas, nas quais os militantes, quase obrigatoriamente,
abrigavam-se, muitas vezes sem saber exatamente o significado ideológico da sua
tendência política dentro do partido que, na verdade, foi criado por
sindicalistas paulistas - como Lula e Jair Menegheli – inspirados no sindicato
direitista Solidariedade, da Polônia, que recebeu ajuda da CIA para combater o
socialismo.
Inclusive, Lula era
muito parecido fisicamente com Lech Walesa, o líder do Solidariedade, que mais
tarde elegeu-se presidente da Polônia depois de transformar o sindicato em um
partido político. A exemplo de Lech Walesa, Lula nunca foi marxista, seja por
convicção ou por incapacidade de estudar e assimilar a teoria. Era meramente um
sindicalista carismático que liderou greves de metalúrgicos e que sabia fazer
acordos satisfatórios com os patrões.
Isso chamou a atenção
de diversos setores, inclusive de grupos de esquerda que logo o adotaram como
totem, mitificando-o como símbolo da luta dos trabalhadores, mesmo que essa
luta ficasse restringida a um cantinho do Brasil, a região do ABC paulista. E
também chamou a atenção de grupos da “direita esclarecida”, notadamente
empresários de todos os setores que já estavam fartos de uma ditadura militar
que começava a atrapalhar os grandes negócios e precisavam de uma liderança
“popular e democrática” para ajudar a forçar uma redemocratização que ao fim e
ao cabo iria ao encontro dos desejos do capital nacional e internacional.
Nunca, em período de
ditadura, greves e passeatas de trabalhadores foram tão veiculadas pelos meios
de comunicação aliados aos interesses do capital. E todos sabem que quando eles
não querem, mesmo que milhares passem gritando na sua frente, não publicam. Os
verdadeiros donos do Brasil sabiam que Lula nada tinha de nacionalista e que,
mesmo aparentando ser o líder de um partido de suposta esquerda que estava
sendo gerado a partir das greves, poderia ser manobrado gradativamente para
aceitar as premissas capitalistas e, quem sabe, assim como Lech Walesa,
recebesse em troca, em futuro não muito distante, a presidência do país. É
dando que se recebe.
Além disso, um
partido que congregasse a esquerda, limitando-a a determinados preceitos
organizacionais era uma ótima idéia que evitaria novas guerrilhas, ou, mesmo,
uma tentativa de revolução. E, melhor que isso, um partido que usava o título
pomposo de “Partido dos Trabalhadores” poderia, com o tempo, abafar de vez o
Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) – este sim um partido muito perigoso, na
medida em que se revelava nacionalista, contendo ideais subversivos, como o
amor à pátria, a defesa das nossas riquezas e o desenvolvimento sem dependência
externa.
Lula serviu a todos
os interesses e a todos os interessados que desejavam um país de joelhos frente
ao capital internacional e aliado das grandes potências imperialistas. Lula
agia como agente catalisador das emoções de um povo frustrado que tinha perdido
a sua referência histórica com a deposição de João Goulart e que estava carente
de líderes e de projetos para o país. Ali no ABC paulista teve início uma trama
que visava unir todos os elos de uma esquerda esfacelada por guerrilhas
suicidas e que, com o seu internacionalismo entreguista, nunca fora
representativa dos anseios do povo brasileiro por um país unido e forte e
buscando uma personalidade própria – assim como fizera o antigo PTB de Getúlio
Vargas e João Goulart.
E o que parecia um
grande acerto do PT a nível interno, apontando Lula como salvador da pátria
para uma nova geração que não vivera o período anterior ao golpe de 1964 e que
era incentivada à alienação em relação à própria história, detendo-se apenas no
momento ufanista das “Diretas Já” e da Constituinte, também foi o seu grande
erro – provavelmente um erro calculado e tido como acerto – ao reeditar no
Brasil o culto à personalidade de alguém que ainda era uma promessa salvífica e
que passou a deter as esperanças de milhões de pessoas desarvoradas
ideologicamente e com pouca compreensão do seu passado e que eram incentivadas
a acreditar que o presente - nos anos ’80 da “abertura democrática” – abria
portas para um futuro de progresso e verdadeira independência – a partir do
momento em que Lula fosse eleito Presidente e o Partido dos Trabalhadores
tomasse o poder.
Lula somente foi
eleito quando concordou em se aliar ao capital nacional e internacional,
cumprindo a agenda que o império propusera para o Brasil – um país subserviente
com um governo que facilitaria todas as demandas das multinacionais e do
empresariado sequioso por aumentar as suas riquezas. Em troca, o PT dominaria
os sindicatos a ponto de amordaçá-los e eternizaria a luta pela reforma
agrária. Nos dois setores – campesinato e operariado – imporia um forte controle,
através da cooptação dos seus líderes para importantes cargos, no Congresso e
fora dele, e imporia às massas uma visão idealista de um socialismo passivo e
reformista. Para fins políticos, o PT poderia conservar a cor vermelha, o que
provocaria dois resultados: iludir o povo e diminuir a força pedagógica dos
partidos da verdadeira esquerda, empurrados para esquecidos nichos onde,
inevitavelmente, acabariam por se diluir em cego burocratismo e abstrusas
teses.
Para que esse plano
fosse realizado, faltava ainda fazer do PT não um partido frentista composto
por tendências as mais diversas, mas unificá-lo em torno de idéias que, aos
poucos, com o passar dos anos e a diminuição do fervor político dos militantes,
poderia dar o necessário giro para a direita, aliando-se aos setores que antes
combatia e que lhe daria a possibilidade de conquistar o poder e, quem sabe,
todas as regalias, inclusive a aberta corrupção. Para este fim, uma das
tendências internas do PT, o Partido Revolucionário Comunista (PRC), contribuiu
com muita disposição e entusiasmo.
O PRC
O Partido
Revolucionário Comunista surgiu nos meios universitários durante os anos 1970 e
foi organizado clandestinamente primeiramente como dissidência do PCdoB, que
tivera a maioria dos seus quadros mortos na tentativa de guerrilha na região do
Araguaia. No entanto, o PRC somente ficou conhecido nacionalmente a partir de
1984, quando se integrou ao PT como uma de suas tendências políticas.
Dizia-se o PRC um
partido marxista-leninista que repudiava toda e qualquer tentativa de
conciliação com setores da burguesia. A princípio, o PRC considerava o PT como
um partido tático - “uma organização político-frentista hegemonizada por
posições reformistas, aprisionada nos marcos da ideologia burguesa”. Como
partido tático, o PT poderia ser utilizado não como um objetivo de luta pelo
poder nos padrões tradicionais, mas como uma alternativa para desestabilizar o
projeto de Nova República, evitando
que se consolidasse a “democracia dos monopólios” para que fosse criada uma
correlação de forças favorável “ao avanço da luta por uma estratégia
revolucionária”, pautando a possibilidade de construção de uma alternativa democrática, operária e popular,
contrapondo-se à estratégia meramente democrática e popular formulada pela Articulação,
que era a tendência majoritária no PT.
O PT é um partido
composto de siglas que encobrem nomes. A Articulação dos 113 surgiu a partir do
Manifesto dos 113, em 1983, e logo se constituiu na tendência majoritária do
PT. Era composta por sindicalistas, membros das Comunidades Eclesiais de Base
(CEBs) e ex-integrantes de organizações de esquerda como a ALN (Aliança
Libertadora Nacional). A Articulação se impôs como a verdadeira classe
dirigente do PT, como o próprio PT; mais que uma tendência, geria o
comportamento das tendências dentro do partido, obrigando-as a seguir os rumos
por ela estipulados. O líder de direito era o Lula, eterno presidenciável; o
líder de fato era José Dirceu.
Mas a Articulação
necessitava de alianças com outras tendências para continuar no poder. Em 1987,
a Articulação chamou o PRC e teve uma longa conversa com membros dessa
tendência que se dizia de esquerda. Também chamou os líderes da Democracia
Socialista (DS) e os intimou a um comportamento adequado à nova realidade
petista. A Articulação, enquanto PT (ou o PT, enquanto Articulação), desejava
impor as suas teses e tornar as tendências internas submissas a elas. Um
documento assinado por José Dirceu e Wladimir Pomar, intitulado “Contra o
socialismo legalista” dava o tom do que o PT (ou a Articulação) se pretendia
enquanto partido.
O documento chamava
as demais tendências de sectárias e idealistas e as obrigava moralmente a
assumir o PT-Articulação como único partido de esquerda no Brasil – uma
esquerda que se propunha conservadora, que adotava a conciliação de classes e a
luta meramente político-partidária. As tendências que não aceitassem as teses
da Articulação estariam indo contra o PT e, naturalmente, seriam alijadas do
partido. Dava-se um prazo para que as tendências se alinhassem à doutrina da
Articulação e, em 1991, quando duas das tendências internas do PT –
Convergência Socialista e Causa Operária – persistiram na sua integridade,
foram expulsas do partido.
Tendências políticas
inexpressivas, como “O Trabalho” e “Democracia Socialista”, continuaram
formalmente como tendências internas do PT, mas docilmente subordinadas à
Articulação. Na Articulação destacam-se nomes como Ricardo Berzoini, José Dirceu,
Chico Macena, Luiz Dulci, Marco Aurélio Garcia e Lula. Alguns deles são
conhecidos da Justiça, outros esperam a sua vez. Atualmente, a Articulação
adotou o apelido “Construindo um novo Brasil”.
No revolucionário
PRC, entre outros pontuavam José Genoíno, Adelmo Genro Filho e Tarso Genro.
Alguma coisa aconteceu na reunião entre PRC e Articulação, em 1987. Dois anos
depois, o PRC (Partido Revolucionário Comunista) mudava de nome e de ideologia.
Passava a se chamar Nova Esquerda (depois Democracia Radical e hoje...) e aderia
ao capitalismo. Entenda-se “Nova Esquerda” por “Nova Direita” – uma esquerda
sem ideologia. Com esse apoio, a Articulação fortaleceu-se enquanto tendência
de direita que mandava no PT e não mais deixou a direção partidária, mesmo que
tenha trocado o nome algumas vezes.
Nova Esquerda não foi
um nome gratuito, encontrado por acaso. O movimento “New Left” (Nova Esquerda)
atingira o seu pico em 1968 nos Estados Unidos e Europa. Nos Estados Unidos,
devido, principalmente, aos protestos contra a guerra do Vietnã; na Europa, por
medo do comunismo, e seus teóricos arriscaram a expressão “eurocomunismo” para
designar movimentos apáticos formados por uma geração temerosa de mudanças que
fossem além da liberdade sexual e da liberdade de usar drogas. Liberdade. A
Nova Esquerda norte-americana e européia, formada por uma classe média
ascendente e desejosa de participação no poder, lutava por mudanças nos
costumes e a isso intitulava de liberdade. Nessa luta também entravam os
direitos humanos, principalmente os dos negros dos Estados Unidos. Luta que foi
sufocada, com o assassinato de líderes como o pacifista Martin Luther King e o
revolucionário Malcolm X. Organizações como “Panteras Negras” e “Black Power”
foram esmagadas, o movimento negro foi dissolvido e os negros discriminados
refugiaram-se na música gospel ou preferiram uma passiva participação
parlamentar, que acabou originando, entre outros, o reacionário Barack Obama.
Longe de se colocar
contra o capitalismo, a Nova Esquerda Européia das décadas de ’70 e ’80 visava
a reforma de um sistema que estava se tornando caduco e asfixiante devido ao
excesso de autoritarismo, às guerras fabricadas para enriquecer banqueiros e empresas
multinacionais e às diferenças cada vez maiores entre as classes sociais. A
direita ocidental, o “establishment”, necessitava de um aperfeiçoamento urgente
ou corria o risco de ser suprimida pela ascensão do marxismo em todos os
países. A Nova Esquerda, diferente do que classificava como “Velha Esquerda” (a
esquerda marxista), teve origem nas universidades e não dentro de sindicatos ou
devido à luta dos trabalhadores.
Não se tratava,
portanto, de luta de classes, mas do seu contrário: protestos de jovens dentro
das classes dominantes objetivando reformas nos costumes burgueses, uma nova
sociedade deveria emergir do pós-guerra, aparentemente tentando derrubar todas
as formas de opressão social, desde que as estruturas do poder não fossem
tocadas. Ao mesmo tempo, as novas tecnologias do chamado “primeiro mundo”
auspiciavam a essa juventude supostamente rebelde uma vida cheia de
facilidades. A geração que deveria assumir o poder alguns anos depois dos
movimentos estudantis disporia de melhores meios para continuar alienando e
subjugando os operários.
No Brasil, por falta
de um programa político claro, principalmente na área econômica, o PT assumiu a
Nova Esquerda – uma mistura de misticismo New Age com dieta vegetariana,
pensamentos ecológicos e algumas pinceladas do pensamento de Gramsci e Foucault
– somente os pensamentos. E a reforma agrária no papel. Ao lado desse nada -
que era muito para uma nação que nunca teve uma tradição socialista e que, em
sua maioria, continuava a acreditar que comunistas são pessoas muito más que
desejam escravizar os povos – o PT assumia-se como anti-nacionalista, namorava
o neo-liberalismo econômico (para depois assumi-lo completamente) e demonstrava
uma grande inveja de oligarcas como Sarney, Collor e Maluf, que, com o tempo,
tornaram-se grandes aliados dos petistas. Principalmente em época de eleições.
Enquanto a verdadeira
esquerda brasileira saía em massa do PT, que preferira tornar-se um partido
menchevique, os novos partidários petistas – em sua grande maioria pessoas que
poderiam participar de qualquer partido de direita, como PMDB, PP ou, mesmo,
PDT – tornou-se massa de manobra partidária, acreditando em mitos como “Lula
salvador da pátria” e aceitando a idéia de que ser de esquerda é o mesmo que
lutar pela emancipação das mulheres, patrocinar o movimento LGBT, dar mesadas
para o povo miserável e cotas para os negros.
O PRC, que já havia
mudado de nome, dava à Articulação, que também se tornava camaleônica, o norte
ideológico. A nova esquerda deveria promover a inclusão social das minorias
discriminadas dentro do sistema capitalista. Como as empresas necessitam de constante
rotatividade de trabalhadores para que o salário mínimo continue baixo e os
lucros aumentem, a educação deveria ser sistematicamente facilitada para que
todos tivessem condições de passar de ano e entrar para o mercado de trabalho,
mesmo que isso implicasse no aviltamento da cultura e do sistema educacional.
O operariado,
seguindo a ilusão de “progressismo” e reforma petista tem sido alienado
progressivamente da sua realidade de classe que poderia ser transformadora,
ainda que no país do carnaval, e aceita a submissão e o peleguismo ditados
pelos líderes petistas como atitudes ‘politicamente corretas’. Dominados pelo
petismo anti-marxista, a maioria do operariado baixa a cabeça servilmente,
aceitando o redil proposto pelo PT.
Na política internacional,
o PT serve aos Estados Unidos e seu império. Em algum momento da ascensão de
Lula ao poder, foi-lhe acenada a possibilidade de dominar política e
economicamente a América do Sul, como autêntica filial dos Estados Unidos. Não
fosse Hugo Chávez ter liderado um movimento de países anticapitalistas, o
Brasil de Lula teria aderido à ALCA (Área de Livre Comércio da Américas), que
proporcionaria aos Estados Unidos dominar toda a economia da América Latina. Em
contrapartida, os governos do PT (Lula e Dilma) não aderiram à ALBA (Aliança Bolivariana
das Américas), deixando claro que seu projeto de governo é capitalista e
neo-liberal.
A aceitação do
capitalismo sob uma fachada de “nova esquerda” que atrai multidões
desinformadas tornou mais fácil para a cúpula petista aderir às práticas
capitalistas; entre outras, a corrupção desenfreada. Curiosamente, os petistas
acreditaram que roubar a nação não era corrupção, uma vez que governos
anteriores, como o de FHC, tinham feito o mesmo. Ou, como disse Paulo Maluf
quando foi convidado a apoiar a campanha do petista Fernando Haddad para a
prefeitura de São Paulo: “Agora somos iguais”.
Com o “Mensalão”, o “Petrolão”
e outras ações ilegais que ainda poderão vir à tona, o PT não só tornou-se
igual à oposição que antes condenava como conseguiu superá-la em muito no que
concerne ao montante roubado ao povo. Adotando o capitalismo pseudo-reformista
o PT caiu em todas as suas armadilhas. E gostou. Até o momento em que alguns de
seus principais líderes começaram a ser presos pela Polícia Federal.
Descaracterizou-se
tanto o PT de seu projeto anterior de partido que a Presidente Dilma, em seu
segundo mandato, preferiu formar um ministério pautado todo ele por uma política
entreguista de direita, na contramão da História, justamente no momento em que as
nações de alguns países, como Grécia e Espanha, estão a repudiar o capitalismo.
E Lula, segundo consta, anda tão desarvorado com a possibilidade de, cedo ou
tarde, vir a ser indiciado por algum crime que, como a avestruz, não sabe onde
esconder a cabeça.
Pior que todas essas
ridicularias é o fato do PT ter deixado aberta uma imensa brecha política por
onde estão a penetrar os partidos da direita oficial, além de favorecer a
propaganda paranóica golpista que, mesmo não surtindo qualquer efeito na
prática – porque as Forças Armadas estão muito felizes com o PT no governo - passa às multidões que adoram futebol e
carnaval e mais nada que a esquerda é corrupta, quando é exatamente o contrário:
foi por ter assumido o papel de partido direitista fantasiado de esquerda que o
PT, juntamente com seus aliados, passou a adotar a corrupção como prática de
governo.
A ideologia da
reforma dentro do capitalismo que já havia sido explicada ad nauseam como um equívoco político, entre outros autores por Rosa
Luxemburgo em seu livro “Reforma ou Revolução?”, ao ser adotada pelo PT
enquanto ainda era uma frente de esquerda, agora que está sendo desmascarada
também no Brasil faz do partido que já foi uma esperança para a nação, autor de
um desmoronamento de expectativas principalmente naquela parte da população mais
desavisada e que está acostumada às benesses do governo em troca de votos.
Por outro lado,
coloca em pauta o debate ideológico, que tanto o PT tem desejado abafar.
Sabe-se que no país de Rosa Luxemburgo, a Alemanha, a socialista e reformista “República
de Weimar” foi destroçada com o advento do nazismo. Mas a Alemanha sempre foi
um país de pensadores. Infelizmente, não acredito que no país do carnaval e da
preguiça mental, após o retrocesso histórico da revolução brasileira representado
pelos governos do PT, as esquerdas se unam deixando de lado pequenos desacordos
ideológicos, para combater a imensa vaga direitista que se avoluma no
horizonte. No entanto, não convém desacreditar de todo.