sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

brasileiríadas - GUSTAVO ADOLFO E DRICA DE BENFICA (2)


- Gustavo Adolfo!

- O que é, Drica? Agora não, eu tô dirigindo!

- Estaciona que eu quero te contar uma coisa.

- Tá bem... O que é?

- Imagina o que o motorista me perguntou?

- Pediu dinheiro pra botar gasolina? Haha!

- Não brinca, Gustavo Adolfo! É coisa séria! Ele ousou me perguntar porque o meu nome é “De Benfica”, olha só. E eu expliquei pra ele que o “De” é designativo de nobreza; que eu sou “De Benfica” porque o meu avô foi o conde Reginaldo De Benfica, que herdou o nome do seu pai e que eu teria direito ao título de condessa se o Brasil fosse uma monarquia.

- E o que ele respondeu?

- Ficou quieto. Mas isso me lembrou uma coisa, Gustavo Adolfo.

- O que, Drica?

- Será que não dá pra transformar o Brasil numa monarquia?

- Sem querer você bateu no ponto, Drica.

- Como assim, Gustavo Adolfo?

- Pra gente se livrar desses bolcheviques que estão ameaçando ficar no poder eternamente o ideal seria fazer outro plebiscito entre República e Monarquia.

- Mas naquela vez não deu certo, Gustavo Adolfo...

- Aquela vez foi aquela vez. Agora eu acho que daria. Olha só, o nosso povo adora reis e rainhas. Já temos o Pelé – Rei do futebol -, a Xuxa que é a Rainha dos Baixinhos e, se você procurar por aí vai achar outros “reis” e “rainhas”, hehe...

- E com outro plebiscito agora, a gente ganharia?

- Com certeza. Difícil é arranjar uma maneira de fazer esse outro plebiscito. Nós temos pensado bastante nisso...

- Nós quem, Gustavo Adolfo?

- Ora, nós, Drica! Você sabe que eu não posso lhe dizer quem somos “nós”. Ficaria uma monarquia parlamentarista. Qualquer problema, muda o Gabinete e tudo continua a mesma coisa, mas com gente nossa.

- E ainda por cima, um Rei e uma Rainha? E uma corte bem linda, e eu seria condessa, Gustavo Adolfo!

- Condessa Drica de Benfica!

- E o motorista iria entender, afinal, porque o “DE”.

- O motorista e todos eles, Drica, todos eles, hehe...

- Que bom, Gustavo Adolfo. Ainda bem que eu não nasci um deles. Eu não agüento essa gente.

- Ainda bem que nós somos nós, Drica! Hehe...

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

DESERTOS



Quando todas as luzes se apagaram

E a solidão venceu o riso e a alegria...



Quando o medo, incontrolável, tomou conta
E todos os poetas desistiram de louvar a Rosa
E se refugiaram em versos roucos de desilusão...

Quando, depois de séculos de busca,
Aos filósofos só restou a apatia e o desespero...

Quando o último gesto foi contido
E o último ideólogo, perplexo,
Sentiu que ia morrer...

... Ouviu-se, ainda,
Um grito-murro de revolta
( Talvez de um Prometeu ressuscitado )

E a derradeira palavra,
A mais humana,
A semente da contradição
- O positivo Não –


Foi pronunciada.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

FORÇA DE PAZ NO HAITI



Desconfio muito da expressão “Forças de Paz da ONU”. Geralmente são forças da guerra, e não são da ONU; geralmente são dos Estados Unidos, liderando um exército da OTAN. É claro que a ONU dá o seu aval e o seu nome a essas forças. Afinal, há muito que a ONU não passa de um instrumento estadunidense.

   Mas desconfio muito dessas “forças de paz”. Geralmente, entram em um país para golpear o seu governo, massacrar o seu povo e impor a sua política. São tantos os exemplos que talvez não valha a pena citar, mas vamos a alguns.
   Quando, nos anos ’90, decidiram invadir a, então, Iugoslávia e dividir o país em vários pequenos países – é mais fácil para dominar – em uma guerra que destruiu totalmente o sentido de nacionalismo dos – então – iugoslavos, levada a cabo por um exército da OTAN, segundo dizem movido a heroína.   
   Quando invadiram o Afeganistão. Quando invadiram o Iraque. E preparem-se para ver a próxima invasão do Irã. Tudo a cores, mostrado pelos canais globais, com bombas bem coloridas.
   Pois em 2004, Jean Aristide venceu mais uma eleição no Haiti. Ele é um padre ligado à Teologia da Libertação. Foi o suficiente para que o seu governo fosse golpeado – assim como fizeram recentemente também em Honduras -, deposto e, em seu lugar, a mando dos Estados Unidos, é claro, fosse enviada para o Haiti uma “Força de Paz da ONU”.
   Mas o mais incrível é que essa “força de paz” é liderada pelo Brasil. O que já mostrava, naquela época, para onde ia a política externa do governo Lula. Disseram que iam para o Haiti para construir pontes e hospitais e caçar “bandidos”. Isso, porque o governo fantoche do Haiti não tem autonomia. Óbvio, é um governo fantoche.
   Agora, com o terrível terremoto que transformou o país em terra de ninguém e matou cerca de 200 mil pessoas, Obama e seus confrades já devem estar planejando o envio de uma “força de paz” bem maior que a atual. É claro, para ajudar o povo haitiano, mas, principalmente, para fincar as botas definitivamente no país, que faz fronteira com a República Dominicana e está a um tiro de canhão de Cuba.
   Já se fala em cerca de 10.000 soldados dos Estados Unidos, para começar.
   Quanto a Jean Aristide, ou qualquer de seus amigos, se pisar no seu país poderá ser preso e deportado para ainda mais longe. Caso não seja “suicidado”.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

brasileiríadas - GUSTAVO ADOLFO E DRICA DE BENFICA (1)



- Gustavo Adolfo!

- O que é Drica? Tu sabes que eu não gosto que me ligue esta hora. É a minha hora de descanso. Eu sempre te peço...

- Só um momento, Gustavo. Adivinha o que a empregada me pediu?

- O quê? Um novo espanador, hehe...

- Não. Ela quer aumento de salário e seguro saúde, olha só!

- O quê!! Tá brincando... Mas bota pra rua!

- Não dá, Gustavo, se botar pra rua agora ela entra com processo.

- Mas ela já não tem o SUS?

- Todos eles tem o SUS, Gustavo, não banca o engraçadinho. Ela diz que tem direito a um plano de saúde pessoal.

- Ora veja!, E de onde ela tirou essa idéia?

- Não sei. O que que eu faço?

- Dispensa ela hoje, paga o resto do mês, pede pra ela assinar o recibo e depois eu te consigo outra bem melhor.

- Mas ela vai entrar com processo!

- Eu conheço todo mundo, Drica. Tu acha que algum juiz vai me condenar?

- Sei lá, nunca se sabe...

- Qualquer coisa a gente faz um acordo, a longuíssimo prazo.

- Dá pra fazer isso?

- É claro! O que que não dá pra fazer? Quem tem, pode!

- Ainda bem!... Olha, não é pelo dinheiro, Gustavo Adolfo, é pelo desaforo! Com tanta gente esmolando por um trabalho qualquer e ela ainda quer direitos! Teve sorte de conseguir emprego aqui em casa. Eu não agüento essa gente!

- Nem eu, Drica, mas o que é que a gente vai fazer? Eu é que não vou ficar limpando banheiro, nem você! Hehe...

- Esse tipo de coisa me deixa numa irritação, Gustavo Adolfo... Ainda bem que eu não nasci um deles.

- Ainda bem que nós somos nós! Hehe...

brasileiríadas - GETÚLIO E JANDIRA (1)



- Oi amor. Dá um beijo... Como foi o trabalho?

- Foi bom, mas peguei um auxiliar que não quer saber de nada.

- Um guri daqueles?

- Um daqueles. Mas que fazer? Alguém tem que me passar os tijolos, cuidar o cimento, essas coisas... E você?

- Estafante. Assaltaram mais uma vez a escola, levaram os computadores. Os alunos só querem ficar usando os celulares, não querem aprender e depois as mães ainda vem reclamar. E a diretora sempre dá razão pra elas. Sabe como é, a escola recebe mais se tiver mais alunos aprovados.

- Não fica triste. Ainda bem que você tem consciência disso. Pior são aquelas tuas colegas que só querem saber de receber o dinheiro no fim do mês.

- E ainda falam no Paulo Freire. Mas nunca leram ele, nem querem ler.

- E o que elas lêem?

- Elas não lêem: assistem televisão. Ou então, lêem aquelas revistas tipo Veja, Isto É... Que ensinam elas a pensar daquele jeito.

- Daquele jeito zero, você quer dizer.

- Não fala assim, Getúlio, afinal elas são minhas colegas e não tem culpa de serem assim.

- Não teriam culpa se fossem totalmente ignorantes, mas elas preferem ser manipuladas. É mais cômodo.

- É o jeito como elas foram criadas. Tem a ver com a educação delas, medo de engajar-se, medo do que os outros irão pensar delas se não corresponderem ao padrão estipulado... Você sabe...

- As educadoras... Ou melhor, as repetidoras. Devem estar vendo novela, agora?

- Com certeza!

- Me dá um beijo, Jandira. Ainda bem que eu conheci você.

- Amor, você deve estar cansado com tanto trabalho, construindo as casas deles.

- Eu nunca estou cansado para você e uma coisa eu tenho certeza: ainda bem que eu não nasci um deles.

- Ainda bem que nós somos nós.

domingo, 10 de janeiro de 2010

AMA BROOKS

É um Hotel.
Dentro dele tem um gato
No colo de Ama Brooks,
Espiã da CIAIEI.

                                            na espreita
                            olhos independentes
                            desorbitados
                            invadem

O gato pula do colo
Quando Ama Brooks atira
(Espiã da CIAIEI)
Seu rosbife na vidraça

                                          do olhar terceiro mundo
                            colonizado
                            à espreita...

É um Hotel.
Dentro dele tem um gato.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

DIREITOS HUMANOS



Agora é a Igreja que está criticando o plano de direito humanos do governo – PNDH-3. Nada de aborto e casamento entre homossexuais, nem pensar!


   Primeiro foi o Nelson Jobim, o ministro das Forças Armadas, também chamado de Ministro da Defesa. Transmitiu ao Governo a aversão dos seus amigos militares ao PNDH, e ameaçou renunciar. Criou-se um clima de revolta e não está afastada a possibilidade de golpe militar, que só não acontece agora porque seria muito ruim para os negócios. Mas se a Dilma for eleita, não sei não...
  
 Eles, os militares, não gostam que se fale em

“Promover a apuração e o esclarecimento público das violações de Direitos Humanos praticadas no contexto da repressão política ocorrida no Brasil no período fixado pelo artigo 8º do ADCT da Constituição, a fim de efetivar o direito à memória e à verdade histórica e promover a reconciliação nacional.”

    “Esclarecimento público, olha só!” – Imagino eles conversando – “O povo já tem direitos demais!”

    Os latifundiários aproveitaram a onda da indignação jobínica para também protestarem. A nova Lei de Direitos Humanos prevê a possibilidade dos trabalhadores sem terra se apropriarem das terras improdutivas. E falar em Reforma Agrária no Brasil é tabu. Motivo suficiente para golpes militares - sempre com o apoio do Super-Homem, é claro.

   Depois foi a imprensa marrom, aquela que só noticia “informações” sobre desastres, futebol e Barak Obama & Cia. Para eles, a América Latina não existe, o brasileiro é preguiçoso e só gosta de futebol e carnaval e o único povo que presta é o dos Estados Unidos. Os seguidores passivos desse tipo de mídia passam a vida pensando em aprimorar o seu inglês, passar novas férias nos Estados Unidos e... que mais? Ah, promover a volta do Regime Militar.


   Pois essa imprensa ficou muito braba porque a nova Lei de Direitos Humanos prevê

“Elaborar critérios de acompanhamento editorial a fim de criar um ranking nacional de veículos de comunicação comprometidos com os princípios de Direitos Humanos, assim como os que cometem violações.”
e
“Desenvolver programas de formação nos meios de comunicação públicos como instrumento de informação e transparência das políticas públicas, de inclusão digital e de acessibilidade.”

   - “Isso é censura!” – eles esbravejam. Logo eles, que promovem a autocensura diariamente, em seus veículos de desinformação.

   Agora só faltam o Rotary, o Lions e, quem mais? Claro, a Maçonaria!


   Aí, então, o quadro estará pronto. Boris Casoy, Jô Soares e Jabor serão os encarregados de justificar o golpe, a grande parte da massa não pensante acreditará e os militares poderão sair a “caçar comunistas”, novamente, estreando seus tanques e jatinhos.

ADORNO



Fujamos para a lenda esfumaçada
E ao dicionário diremos que é tempo
- Agora que a poesia virou vento -
De receber, mais que a palma, a palmada.

Falemos de lareira, que a nortada
- Com languidez, langores e lamentos -
Faz, no poema que agora tento,
Lampejos de uma noite apagada.

Brindemos ao rococó do verso desmaiado,
Ao fácil assalto do lirismo morno,
Ao versejar padrão, emoldurado...

Eis que a fogueira da arte virou forno
De um estranho lirismo alienado.
Façamos da poesia um mero adorno.

domingo, 3 de janeiro de 2010

NA NOITE PASSADA...



Eu não posso dizer o que seja isso...Quem sabe se eu fiz algum mal pra alguém...Mas examinando a minha consciência, não fiz. É uma vingança! Ou então é roubo! Querem abrir a porta pra roubar aqui dentro.

...

Passei a noite aqui. Mas eu passo um medo que tu nem sabe. Às vezes passam a noite aí, batendo. Eu pergunto quem é, “diga quem é, porque se não der o nome eu não abro a porta - é ordem das autoridades!” - eu digo. Eu digo pra eles: “é ordem de não abrir a porta sem saber quem é!” ...Ninguém diz nada...
...

Então é crime. Desse jeito, sem dizer o nome é pra que não se saiba quem ele é.
...

Uma noite dessas, entre apelos e apelos, eu disse: “se não diz o nome é porque é ladrão e quer roubar!” Eu não entendo, não é? Tenho muito medo.
...

É. É bem fechada. Eu ponho isto, que é uma tranca, e essas madeiras eu boto tudo, tudo, tudo encostado nela.
...

Nós estamos vivendo num mundo cheio de banditismo. É só o que dá nos jornais pra ler: tem gente matando mesmo. Numa época como essa, a gente não vai ter medo? Eu tenho.
...

Não. Nada eu tenho visto. É só aqui. Que eu saiba, é só aqui.
...

Não sei. Numa dessas eu vou saber. Logo que eu vim pra cá já começou.
...

Ele nunca escutou. Tava muito doente, quase inconsciente. Eu passava essas noites sozinha com ele. Aí, empurravam a porta! Eu nunca fiquei sabendo quem era. Nunca fiquei sabendo...
...

Houve horas, na noite passada, sem ser esta, a outra, que foi uma coisa medonha!. Levaram a noite toda. Empurrando. Eu chamei, chamei...Tu não ouviste eu chamar muitas vezes à noite?
...

E se isso continuar assim, eu vou ter que tomar providências. É capaz de me arrombarem a porta, me matarem aí pra roubar. Eu precisava era arranjar uma mulher que ficasse aqui comigo, mas como? Não é uma moça, nem uma menina, pra não aumentar os perigos: é uma senhora. Tu não acha?
...

Eu te chamei pra te dizer por que é preciso tu saber!
...

Bom. Quando eu ouvir eu grito logo...Isso começa aí pelas dez, dez em diante.
...
Tu não acha que eu tenho razão de ter medo? Olha, olha aqui as escoras: aquilo tudo fica pelo canto, fora esta que fica aqui em cima.
...

Eu faço o que posso, sabe?
...

Tá. Passe bem a noite. Se precisar de mim, grita.
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