sábado, 28 de novembro de 2009

ILHA

Pântano,
Dotado da malícia
Que a todos atrai.
Estiar-se em tédio
- Arisca espera -
Dúbio, majestoso...
Dotado da malícia
Que a todos atrai.


Ilha,
Nudez soberana
Que a todos seduz.
Por expor-se inteira
- Altiva, sábia -
Em solene solidão...
Nudez soberana
Que a todos seduz.

 
Farol,
Ferindo a plena noite
Que a todos possui.
Em densa, pura, chama
- Tonto, extasio êxtase -
A inebriar os abismos...
Ferindo a plena noite
Que a todos possui.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

PAULO FREIRE E A AÇÃO PELA LIBERTAÇÃO



(Foto de Lidia Amaral)

Todo ensino é fascista, pois todo ensino impõe verdades. Ou: todo ensino será fascista enquanto servir para veicular uma visão de mundo não comprometida com o desenvolvimento individual, com o crescimento individual, e, consequentemente, com o aperfeiçoamento social. Todo ensino será fascista enquanto for objeto de manipulação das classes possuidoras, dominantes; manipulação voltada para a preservação do status quo, para a perenidade do estabelecido.
        O verdadeiro ensino é aquele que não manipula, não se impõe como verdadeiro e único, mas é aberto a todas as possibilidades, e tem como premissa principal a crítica constante.
        Estas são algumas das colocações de Paulo Freire em “Pedagogia do Oprimido”, livro sempre atual onde procura analisar a estrutura do ensino nos países capitalistas, marcadamente o Brasil.
        O Brasil, apenas como ponto de referência, pois a realidade sócio-cultural revista por Paulo Freire diz respeito a todo o contexto latino-americano, e, por extensão, aos países do terceiro mundo.
        Para essa análise é necessário rever os pontos de encontro da relação opressor-oprimido.
        Do ponto-de-vista do oprimido, Ser é igual a Parecer, e parecer é “parecer com o opressor”. Aceitar o opressor. É claro que do ponto-de-vista do oprimido alienado, bitolado, cúmplice do opressor, a quem aprendeu a reverenciar e temer. Aprendeu, também, a admirar e aceitar os valores da classe burguesa como únicos, verdadeiros e absolutos.
        Essa aceitação é tão forte que, quando o oprimido consegue “libertar-se” – por lhe ser facilitada alguma ascensão social – assume os valores burgueses que combateu; torna-se, por sua vez, opressor.
        O medo da liberdade concorre para a formação “prescrita” da consciência do oprimido, ou “de” oprimido. E aí entra outro fator: a Prescrição.


“Toda prescrição é a imposição da opção de uma consciência a outra”.


        A consciência recebedora da prescrição é a consciência hospedeira da consciência opressora. “Por isso, o comportamento do oprimido é um comportamento prescrito”.
        Por isso o medo da liberdade. Pois a liberdade, de acordo com a consciência que prescreve, é apenas a liberdade de usar calças de brim, desde que estas estejam na moda. O que fugir disso, qualquer tentativa de especulação supra, é imediatamente desestimulada e qualificada de utópica. A não ser que realmente seja uma especulação utópica, como a tentativa de provar a existência de Deus, de classificar o sexo dos anjos. Isso pode.
        A primeira luta pela liberdade, pelo “Ser Mais” é a luta consigo mesmo. Contra si. Contra a alienação que resulta da prescrição. O oprimido é um castrado no seu poder de recriar o mundo.
O oprimido também é um opressor, e sua libertação consiste em superar essa contradição, em se desalienar, em superar-se.
        É necessário o reconhecimento do limite que a sociedade opressora impõe ao oprimido. E esse reconhecimento deve servir como motor de sua ação libertadora. A contradição somente pode ser superada “quando o reconhecer-se oprimidos os engaja na luta por libertar-se”.
        Ser Mais, para Paulo Freire, é a primeira meta de todo indivíduo. Para o oprimido, Ser Mais consiste, primeiro, em se desvincular da estrutura opressora. E essa desvinculação só acontecerá quando houver uma exigência radical da transformação da situação concreta que gera a opressão. A realidade opressora, sendo “funcionalmente domesticadora”, deve ser suprimida e dar espaço a uma nova realidade, sem opressores e oprimidos.


        A pedagogia do opressor “é instrumento de desumanização”. Sua única finalidade é manter a própria opressão.


        A Pedagogia do Oprimido consiste em enfrentar, culturalmente, a cultura da dominação. De duas maneiras:


1. Percepção do mundo opressor;


2. Expulsão dos mitos criados e desenvolvidos na estrutura opressora, e que se preservam como espectros míticos na estrutura nova que surge da transformação revolucionária.


        O opressor consciente de sua situação como tal, deve solidarizar-se, não de maneira paternalista, mas engajando-se na mesma luta de libertação dos oprimidos, na mesma práxis – procurando transformar a realidade objetiva.
        A supressão da contradição opressor-oprimido só se pode verificar objetivamente. Esta é uma exigência radical: a da transformação objetiva da situação opressora. Radical, porque combate um imobilismo subjetivista que transforma o ter consciência da opressão “numa espécie de espera paciente de que um dia a opressão desapareceria por si mesma...”.
        A ação pela libertação, para a Revolução, não poderá ser puro ativismo, porque a Revolução possui caráter eminentemente pedagógico. Ao se transformar a realidade opressora, o homem que participa dessa transformação, transforma também a si mesmo, liberta-se do opressor que até então conduzia dentro de si.
        Daí o caráter pedagógico, dialético, da transformação, da Revolução, que deve constituir-se, fundamentalmente, em duas distintas etapas.
        A primeira, “em que os oprimidos vão desvelando o mundo da opressão e vão comprometendo-se, na práxis, com a sua transformação”.
        A segunda, em que, “transformada a realidade opressora, esta pedagogia deixa de ser do oprimido e passa a ser a pedagogia dos homens em processo de permanente libertação”.

domingo, 22 de novembro de 2009

GATOS

enrodilhados
enrolados enlaçados
olhos olhos olhos olhos
corpo maciez ronronar
independência



a solene solidão de sonhar
o olhar esguio lânguido solerte
o desafio a sedução a dúvida

GATOS

esguio-me intenso
eriçados pelos pele morna
sou
somente olhar em meu escuro espelho
volátil denso titubeante alerta
luto as lutas da saudade
sinto
meu sereno espreitar felino







sábado, 21 de novembro de 2009


CAMINHANTE DA GALILÉIA

- Não há a menor dúvida quanto a isso, companheiro: eu ainda sofro da “doença infantil do esquerdismo”. A única vantagem é que sei disso. Quer dizer, nem tudo está perdido.
- E como, com esses vícios, pretendes contribuir para o movimento?
- Tendo consciência dos vícios, procurando comportar-me a cada dia melhor...
- Tu falas como um budista, um seguidor ortodoxo dos Oito Caminhos à procura da perfeição, pretendendo alcançar o Budhi através do estado de Nirvana, mas tendo antes de atingir o estado de Nirvana e para isso é preciso seguir os Oito Caminhos e para seguir os Oito Caminhos é preciso, etecetera, etecetera e tal. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra, cara. Toma um mate. Desculpa a mão: é a do coração.
- Tudo bem, mas é o ;ultimo, porque já estou verde por dentro.
- Ou vice-versa, como a piada da abóbora que os integralistas tanto gostam de contar, não é? Eu sei que tô parecendo um inquisidor te fazendo tantas perguntas, mas é preciso, tu sabes, a vida de vez em quando é coisa séria. Sabe aquela canção do Chico: “Canta a canção do homem/canta a canção da vida...”- algo assim. Mas sem ufanismo, sem frescura, sabendo porque cantar. Não sei se tô conseguindo me explicar; até parece que tô tentando me desculpar, mas não é isso.
- Eu sei, entendo, vai firme.
- Por quê essa fixação na postura correta? O que é a postura correta para ti?
- Tentar extirpar os vícios burgueses e tudo o mais, em resumo.
- E que são vícios burgueses?
- Ora, o espírito de competição.
- E como pensas acabar com o teu espírito de competição se não competires contigo mesmo nesse sentido?
- Não tinha pensado nisso. Mas acho que dá. Não é bem uma competição comigo mesmo...
- Mas é o sobrepujamento, o esmagamento de um lado por outro, ainda incipiente.
- Que está nascendo, mas com muita força.
- Mas, por estar nascendo, não é mais forte que o outro.
- Nem menos forte, pois possui a força do imaculado.
- Tu percebeste a palavra que dissestes?
- Que palavra?
- Imaculado.
- E daí?
- Daí, que é uma palavra de clara influência religiosa.
- É mesmo, eu não tinha percebido, tu vê! O meu subconsciente é mesmo mal-educado.
- Por quê? Tu tá com algum sentimento de culpa?
- Bem, não é mesmo um sentimento de culpa, mas sim a percepção de um detalhe não muito abonador.
- Por quê não? É apenas uma palavra, e o vocábulo, em si, não é mau nem bom. Nada “em si” é bom ou mau. A manipulação do vocábulo é que faz com que ele seja mais ou menos fascista.
- Eu sei. Eu também li Barthes.
- Parabéns. Daí, porque tu não precisa ter medo de uma palavra. A não ser que ela carregue em si toda uma carga intencional.
- E a que eu disse, carregava?
- Creio que não. Ela deve fazer parte daquele lado que queres esmagar, não? Deu pra sentir que não é fácil, não é ?
- Só não é, só não é...
- Tu não podes simplesmente dizer para ti que não és mais um competidor. Mesmo porque, se isso fosse verdade, quem seria mesmo esmagado, sem a mínima piedade, seria tu, não é?
- É. Quer dizer que eu tenho de me conservar de uma certa maneira ainda competitivo, embora sabendo que é um modo de pensar e agir manipulado, que atende aos interesses burgueses?
- Mais ou menos isso. Mas sem máscaras, meias-verdades. Tu tens que ser sincero contigo mesmo. Aquela história de César e de Deus, que já foi explicada por aquele tal caminhante da Galiléia, ou da Judéia, não sei, ou das duas, ou de tantas outras, tanto faz!...Aliás, um cara que eu respeito muito; nada contra a pessoa dele: seria um excelente companheiro. Mas tem mais uma coisa, que talvez seja o principal: e os pequenos luxos, os pequenos confortos?
- Mas eu vivo em um mundo capitalista. Não posso negar a realidade que me cerca. É claro que sempre estarei à disposição dos companheiros e tudo mais...
- Não é o suficiente. Tu tens que te entregar todo. Ficar completamente disponível. Livre de qualquer relação mais íntima que possa te tolher, sem preocupações materiais de qualquer espécie. Tu te entregas todo e nós cuidamos de ti. É a única condição.
- Mas eu não tenho todo esse preparo. Não posso me dispor inteiramente. Tenho pais, mulher, filhos, emprego, compromissos sociais, diversos vínculos, amigos - alguns alienados, mas amigos, enfim - toda uma gama de relações que me seria impossível cortar de repente - nem eu desejaria. Eu posso, é claro, dar minha colaboração de acordo com as possibilidades.
- Não dá. Nós estamos falando da parte séria da vida. A vida verdadeira. E quando se descobre esse lado, ou é a entrega total ou não é nada. A teoria é a prática total.
- Assim é duro demais.
- A vida verdadeira é dura demais.
- Pois é...assim já fica difícil...mas eu não tô desistindo não. Me dá um tempo pra falar com o pessoal, pensar...
- Não há mais tempo. Eu já estou de partida. Ou vem ou fica.
- Bem, eu fico então. Não dá pra sair assim correndo. Tu entende, não é?
- Entendo. A gente se vê.
- Espero que sim. Até. Não leva a mal.
- Até.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O TEMPO


O Tempo veio e não disse nada.
Não avisou,
não sentenciou,
não corrigiu.
Veio.


Fez, então, as diabruras
que lhe estavam destinadas.


Depois, foi indo, devagar,
sem dizer nada.


Sem avisar,
sem sentenciar,
sem corrigir.


Foi.

ALIENAÇÃO


Usa-se a palavra alienação, vulgarmente, para designar o estado de auto-reclusão em que determinadas pessoas, ou grupos de pessoas, se colocam em relação às questões sociais, como se existissem fora da sociedade ou formassem uma sociedade à parte, independente da grande maioria.
    O alienado social não é encontrado apenas dentro de uma classe ou estrato social. Há alguns tipos, que poderiam, a fortiori, ser assim classificados:


A MASSA (ou mass-media)


          Incluindo todas as pessoas massificadas, pessoas manipuladas, geralmente pela mídia, que seguem determinado padrão de comportamento em cada momento de suas vidas, acreditando que o fazem de plena consciência. Para essas pessoas, que perpassam as diversas classes sociais, o outro (e as questões sociais) é apenas uma questão de competição, ou seja, o outro é visto como aquele que pode tirar o seu lugar, e, portanto, deve ser derrubado, anulado.




O ALIENADO INDIVIDUALISTA


          Geralmente pertence a uma classe social mais culta, que se pretende mais esclarecida. Pessoas que tem acesso à cultura oficial e que a repassam sem discussão. Recebem um determinado tipo de cultura – a cultura oficial, academicista – a assimilam e a repetem, como se somente dentro de seu meio acadêmico existisse o que entendem como verdade. São repetidores – também chamados de professores - que formam novos repetidores. Caracterizam-se por evitar a discussão social, fugindo de todo e qualquer envolvimento que não seja o acadêmico. Criam o seu próprio mundo, compartimentando-o, delimitando-o de maneira natural e clara, e dentro dele interagem com aqueles que consideram seus iguais.




O ALIENADO MANIPULADOR


          Geralmente são pessoas que pertencem aos meios de comunicação social – jornalistas e publicitários. São alienados na medida em que se distanciam do apelo das grandes massas populares. Ao contrário, trabalham no sentido de minimizar esse apelo, procurando maneiras de tornar as pessoas mais dóceis, mais acomodadas à própria situação social, por pior que seja, fazendo com que acreditem que as coisas nunca vão mudar e que o que interessa é aproveitar os raros momentos em que é possível “gozar a vida”. Com esse objetivo, fazem a apologia de todos os prazeres e vendem a ideologia da liberdade sem freios.
              A esse tipo de alienado manipulador, mas sob um outro prisma, uma outra forma de atuação, também pertencem todos aqueles que se dizem donos da verdade, de alguma religião ou seita, fazendo com que as pessoas – seus adeptos – vejam a vida de forma exclusivamente maniqueísta, emudecendo sua capacidade de crítica e sua força criativa.
              Os três tipos de alienados citados acima, são, aparentemente, os principais, aqueles que atuam mais claramente dentro da sociedade, ou como massa de manobra, ou como formadores da inteligência conservadora ou como elementos predadores e claramente desagregadores.
              Mas todos os três são, por sua vez, consciente ou inconscientemente, manipulados maquiavelicamente pela classe que os gerou e que procura alimentá-los: os donos dos meios de produção que formam a grande burguesia. É essa classe, que, devido à sua necessidade estratégica de contínua sobrevivência, faz com que a Sociedade se subdivida em estamentos, que, mesmo móveis, se sobrepõem uns aos outros, formando a pirâmide social que tem em sua base uma imensa maioria de miseráveis, em seu meio uma classe média que se dessangra para alcançar um grau mais alto enquanto perde o último resquício de consciência e capacidade crítica.
              No cimo da pirâmide, os representantes da oligarquia que governa o mundo e que manipula os cordéis da alienação social em seu proveito.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

GERMAN. ALBION.


Chego em casa de German. Está tocando a sua velha e cansada música. "Está ficando eterna", comenta, "o problema é que eu é que não sou eterno. É a única composição não composta que conheço".
German está num daqueles intoleráveis dias de auto-piedade. "É que não sei nada de música. O piano me atrai, por isso vou até ele e tento fazer alguma coisa, alguma coisa... mas sempre sai a mesma música, esqueço todos os ritmos que conheço. Aliás, não sei executar ritmo algum, e sempre sai a mesma e entediada música (desculpa, musiquinha, eu gosto de ti). Corrijo, ela não me entedia. Ao contrário, funciona como catarse - será que a colocação está certa? - ou como elemento catalisador de meus sentimentos - mas aí fica pedagógico demais, não é? Então vamos dizer assim: eu, German, não sou o Rei dos Pirineus!"
Deixo German falar. É a única maneira de acalmá-lo, fazer-me de compreensivo, uma espécie de analista sem sofá. Se bem que German talvez seja a única pessoa que conheço que não precisa de análise. Está satisfeitíssimo com o seu mundo. Na verdade, a auto-piedade é uma maneira de justificar aos outros o seu isolamento, sua aparente ruptura com o mundo. Ele se achincalha antes que os outros o achincalhem: o que sobrar é lucro.
German se superestima. É uma espécie de Narciso moderno que faz seus próprios espelhos - bem aconchegantes, de preferência.
Descobri isso agora e digo tudo para ele sem lhe dar chance de me interromper. Ele apenas me observa, com aquele olhar analítico e desconfiado de olheiro de seleção de amadores.
German é assim. Feito de longos discursos e longas pausas. Mas desta vez não posso lhe dar a vantagem da pausa, e digo: German, eu não vim aqui para intelectuar ("intelectuar" é uma palavra que German descobriu e me fez incluir em um de meus poemas; German também faz às vezes de crítico de arte) - a gente precisa bater aquele papo.
- "Qual deles?"
- Sobre Rita.
- "Rita é incrível!" - e esse incrível bate lá dentro e volta. É mais do que eu poderia dizer.
(Ó, German!, porque tens sempre a palavra certa no momento certo?)
Mas não posso pensar. Não posso lhe dar tempo para pensar. Insisto: - tu não tens sido honesto comigo, tens saído com ela e eu não gosto disso, embora possa parecer chauvinismo. Eu sei que tem essa estória de libertação da mulher e pá-pá-pá, mas qual é?!
"Tudo bem, cara". German acende um cigarro, sorri para mim com o mais angelical dos sorrisos: "eu já disse que não sou o Rei dos Pirineus, um título que caberia melhor a ti, pela juventude, força e beleza - se queres ouvir elogios. Mas não posso me impedir de gostar de Rita, de amar Rita, de me sentir feliz por Rita existir. Mas tudo bem, eu não fui nem serei - talvez já tenha sido em priscas eras (a literatice proposital de German é o que faz com que German seja German - como odiá-lo?) - o Rei dos Pirineus, quero dizer, podes me chamar de Albion, se quiseres, mas estou aqui, com a minha eterna música não composta e com Rita, se ela me quiser - assim e apesar de - independente da tua existência ou da relação de vocês".
Nova pausa. German continua fumando, mas seu olhar, agora, é mais sincero. Levanta-se, brinca com as teclas, senta na banqueta, recomeça a tocar.
Está de costas para mim, eu poderia matá-lo. Seria o trágico e esperado fim. "Você poderia me matar. Estou de costas, não iria me defender. Seria o trágico e esperado fim, não?"
Eu me aproximo, toco-lhe o ombro em sinal de despedida, acaricio seus cabelos como quem acaricia um gato (terei ouvido German ronronar?). É impossível atingir German.
Desço as escadas com aquele som martelando, martelando. Na calçada, lembro que German não me ofereceu chimarrão.
Vou ver Rita, penso. E caminho decidido.
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