sábado, 30 de abril de 2016

O GOLPE É CONTRA O POVO – TEMER É USURPADOR




O golpe de Estado apelidado de impeachment pela imprensa vendida e instrumentalizado pelo Congresso Nacional e pelo Judiciário, com o apoio da força da Polícia Federal, Polícia Civil e Polícia Militar é claramente um golpe contra as conquistas populares dos últimos 13 anos e meio, contra os movimentos sociais, contra os partidos de esquerda, contra o movimento estudantil, contra a reforma agrária e reforma urbana. É um golpe para entregar as riquezas do Brasil às empresas estrangeiras. É um golpe contra o povo. 

   Derrubar o governo de Dilma Roussef e colocar o usurpador Michel Temer em seu lugar é somente um pretexto para a volta ao poder das oligarquias que se acostumaram a mandar no Brasil e que não aceitam um governo apoiado no povo, ao qual dão eleições rotineiras a cada dois anos para que acredite que vivemos uma democracia quando, na verdade, o povo de nada participa e já está desconfiando da farsa da democracia representativa que elege demagogos, piratas, traficantes e corruptos. 

   É claro que a culpa é também do povo que saiu às ruas pedindo o golpe. Do povo idiotizado pela mídia entreguista. Do povo que pertence às classes mais altas e que tem medo de perder os seus privilégios. Do povo domado, vil, novelizado, que adora a rede Globo e lê a Veja. Do povo induzido a ser individualista, consumista, a cultivar valores medievais. Do povo dominado pela cultura norte-americana. Do povo minoria que se encerra em grades dentro das suas casas com medo do povo maioria. Do povo adepto da polícia de choque, que reprime o povo usurpado em seus direitos. Do povo servil e temeroso de mudanças. Do povo que venera as tiranias que lhe dão a segurança dos desprezíveis, à custa da opressão dos famintos. 

   Para este povo o golpe de Estado está sendo arquitetado pelos seus iguais do Congresso e do Judiciário. Pelos seus cães amestrados das polícias. E este triste povo que representa o que existe de mais retrógrado e que se ufana de ser chamado ‘de direita’ mesmo sem defender qualquer ideologia, sem entender nada de política, que deseja o fascismo e a volta de um regime que promova o seu bem-estar e garanta a eternidade das suas benesses, este povo encolhido, acovardado, escudado na força de seus imbecilizados policiais, espera em casa o resultado do que preferiu apelidar de impeachment para depois alardear a sua força apoiada por cassetetes. 

   O golpe de Estado é contra o verdadeiro povo, o povo que não se intimida, que sai às ruas e não desiste de lutar, que sabe que a força consiste no seu grito de guerra que poderá derrubar a falsidade de um Judiciário suspeito de leniência, um Congresso formado, em sua maioria, por viciosos e corrompidos.

   Este povo, o verdadeiro, que é morto nas estradas quando pede um pedaço de terra para trabalhar, ao qual é negado um teto para se proteger, que cansou de ser explorado e reprimido, que não aceita mais a falsa ‘democracia’ da injustiça e que deseja participar das decisões que somente a si dizem respeito, não aceitará mais uma ditadura legalizada pelos togados.

  Este verdadeiro povo que cansou de ser discriminado, aviltado, e prefere a luta à subserviência, com a sua força evitará a continuidade do golpe e a usurpação do poder por um bando de ladrões e promoverá as mudanças que transformarão o Brasil.

quarta-feira, 27 de abril de 2016

ENTREVISTA COM ALEKSI LÁZARO




Em entrevista à revista Zêuxis, de circulação dirigida somente ao empresariado internacional, Aleksi Lázaro, que prefere não revelar seu verdadeiro nome, faz algumas observações, aqui reproduzidas, sobre a política brasileira.

Z - Agora que o processo de impeachment da presidente Dilma Roussef está em andamento no Brasil, quase no final, qual a sua análise a respeito?

A. L. – Não pode haver análise enquanto não houver um resultado. Mas, como você disse, é um processo em andamento, esperemos que ande depressa porque toda morosidade é ruim para o mercado.

Z - O senhor acha que o impeachment será aprovado no Senado?

A. L. - Eu não daria um tostão furado pelo Senado brasileiro! Não se pode pagar por um produto onde existem forças conflitantes. E o mundo inteiro está de olho nesse produto. Caso o impeachment for aprovado haverá uma natural retração do mercado no Brasil, devido ao alto grau de instabilidade. Dilma será afastada e acontecerá o quê, no momento seguinte? Venda de ações a preços aviltantes. Somente os inexpertos se arriscarão a investir no produto Brasil enquanto persistir a bolha de insegurança. Uma bolha que poderá murchar ou explodir e em nenhum dos casos será favorável aos negócios. O ideal é que essa bolha sumisse e, para sumir, não poderia haver nenhum processo, e muito menos um processo de impedimento.

Z - O senhor é contra o impeachment? Acha que é um golpe?

A. L. - Palavras, somente palavras. Esse tipo de coisas acontece em pequenos países, em repúblicas de bananas, e não em países em desenvolvimento. Conhece algum processo de impeachment em países como Estados Unidos, Grã-Bretanha, Alemanha?

Z - Nixon foi derrubado, Kennedy foi assassinado.

A. L. - Afastamentos necessários. Não é a mesma coisa. Um estava roubando demais e o outro desejava o fim de uma guerra lucrativa. O mercado não suporta pessoas assim.

Z - Como pode haver guerras lucrativas, com milhares de pessoas morrendo?

A. L. – Pessoas morrem todos os dias, às centenas, e não existiriam guerras se não fossem lucrativas. Qual o maior mercado em expansão? O da indústria bélica da Rússia. Se não fossem as inúmeras sanções do Ocidente, é lá que eu arriscaria uma parte segura do meu dinheiro.

Z - O senhor fala como se fosse tudo um jogo.

A. L. – É um jogo. E o mais importante desse jogo, o que mais fascina, é o jogo em si. É claro que, se não houver lucros, o jogo acaba e perdemos. Mas sempre haverá uma segunda chance para quem sabe jogar. Conheço alguns investidores que acreditaram no canto das sereias e foram para o fundo do poço. Possuíam bilhões num dia e no dia seguinte apenas alguns milhões de dólares. Mesmo assim, não desistiram e hoje são donos de federações de indústrias. O que não chega a ser um bom negócio, segundo entendo.

Z - O senhor está falando do Sacks, presidente da FIESP?

A. L. – Do Sacks e de todos os outros. Nada contra o Sacks, é um bom parceiro, mas, neste momento, eu não daria um tostão furado pela FIESP! Ela defende uma das facções em luta e não podemos investir enquanto houver luta de facções.

Z - O senhor se refere à luta a favor e contra o impeachment? É uma luta partidária e não luta de facções.

A. L. – É tudo a mesma coisa, apenas uma questão de nomenclatura. Eles querem o Temer no poder, e quem é o Temer? Eu não daria um tostão furado pelo Temer! Pelo menos, a Dilma a gente conhece, o PT, ou parte dele, a gente conhece. Eles facilitam os negócios, sempre facilitaram. Agora, por uma questão de uns bilhões a mais ou a menos o pessoal do Sacks e do Temer querem o poder. Vai dar certo? Ninguém sabe, e não se pode investir na incerteza. A incerteza faz parte do jogo, mas não a total incerteza. Deve haver um mínimo de garantia. E se o governo do Temer ficar ingovernável? E se o Temer morrer e entrar o Eduardo Cunha, que é tão burro que deixou em aberto os seus investimentos no exterior? Tiram o Cunha, e aí, quem vem? O Lewandovski? Não conhecemos o Lewandovski. E o Lewandovski marca eleições e quem vai vencer? O Lula? Resolveram mexer no vespeiro e ressuscitaram o Lula. O Lula não é a mesma coisa que a Dilma. Foram direto ao pote e se queimaram, não sabem comer pelas beiradas.

Z - Tem alguma coisa contra o Lula?

A. L. - Absolutamente. Até respeito muito. Foi uma pessoa que veio do nada e conseguiu alguns milagres políticos. Precisamos de milagres políticos, isso aquece o mercado. Mas quem é o Lula hoje? Você sabe? Eu não sei. Se for eleito, vai privatizar ou não? Não que precisemos tanto assim de privatizações. Pode-se investir em empresas nacionalizadas. Às vezes, é até melhor. Há países, como a Rússia, em que o Estado domina 40% do capital das empresas públicas e o resto é privatizado. No Brasil, querem 100% ou nada. É burrice. Misturar política com negócios é burrice.

Z - O senhor estava falando no Lula. Acha que vão deixá-lo tomar posse, se for eleito?

A. L. - Não vão deixar, é claro. Não vão deixar nem se eleger. Vão fazer o mesmo jogo da época em que o Collor foi eleito. Vai até o segundo turno e perde por meio ponto ou um ponto. O que me preocupa não é isso, mas as próprias eleições. Pra que novas eleições agora? Só pra agitar ainda mais. E isso é péssimo para os negócios. Quem vai investir num país em constante agitação social?

Z - O senhor teme que no Brasil assuma um governo de esquerda?

A. L. - Qual a diferença? Dizem que o governo da Dilma é de esquerda e, no entanto, nunca favoreceu tanto os negócios. Até nos governos comunistas se pode investir. É o que o Obama está tentando fazer com Cuba: abrir um novo mercado, e, depois de aberto, o povo se acostuma a consumir e não tem quem segure. O único país totalmente fechado é a Coréia do Norte e, ainda assim, apresenta peculiaridades muito atrativas.

Z - O Kim Jong-Un jamais deixaria a Coréia do Norte se abrir para uma economia de mercado.

A. L. - O Kim Jong-Un? Não dou um tostão furado pelo Kim-Jong-Un! Pessoas morrem e são substituídas e eu diria que, devido à sua gordura, o Kim Jong-Un tem um alto grau de colesterol.

Z - O senhor acredita que os movimentos sociais do Brasil podem obstaculizar o novo governo? Surgiram novas lideranças muito ativas, como o Boulos e o Stédile.

A. L. - O Boulos? O Stédile? Não dou um tostão furado por nenhum dos dois! O que eles querem é se eleger para deputado ou senador. Deixem que se elejam. Depois que estiverem lá terão que aceitar as regras. Com a idade, as pessoas se acomodam. Quando ao MST e outro movimentos, não serão mais perigosos assim que empresários inteligentes percebam o potencial de investimento que existem nesses movimentos. Querem terra? Dêem terra a eles e indenizem adequadamente os proprietários pela desapropriação das terras. Um pedaço aqui, outro lá e formamos grandes cooperativas, até mesmo pequenas cidades e esvaziam-se os movimentos, perdem a sua razão de ser e logo teremos novos empresários administrando cooperativas de agricultores e pecuaristas que, em pouco tempo, passarão a ser lucrativas.

Z - Então, não seria o caso de derrubar a Dilma pelo impeachment?

A. L. - Só se quiserem voltar à estaca zero.

segunda-feira, 25 de abril de 2016

A REVOLUÇÃO DOS CRAVOS E MORUS O IMPOLUTO




A 25 de abril de 1974 aconteceu a Revolução dos Cravos, em Portugal, dia em que as Forças Armadas derrubaram o governo de Marcelo Caetano, que sucedera a Salazar, instaurando um regime democrático e revolucionário que, por sua vez, foi golpeado em 25 de novembro de 1975 pelas forças mais reacionárias das Forças Armadas, aliadas a partidos de direita e de centro que elegeram presidente a Mário Soares, um político oriundo do salazarismo. Apesar de frustrada em seus objetivos maiores, a Revolução dos Cravos, durante aquele breve período, conseguiu a reorganização das forças populares e deu liberdade às antigas colônias, então insurgentes, de Moçambique, Angola e Guiné. A Revolução dos Cravos não se limitou a uma data, porque uma revolução de verdade é um processo em que está envolvida toda a população em seus diversos segmentos sociais, e não termina, mas evolui, apesar dos altos e baixos, das idas e vindas. 25 de abril é a grande data do começo dessa revolução em Portugal. No Brasil... 

   Conta-se que no período que antecedeu à revolução, a polícia política do regime, ou Polícia Federal, fazia o que bem entendia, prendendo, invadindo as casas de todos que desejava incriminar, vasculhando tudo, levando objetos pessoais dos detidos para forjar provas e intimidando os presos de tal maneira, através de métodos de tortura psicológica aprendidos com a Gestapo e a CIA, de tal maneira que obrigava a muitos a praticar o que, então, foi denominado de “delação premiada”, que consistia no direito de voltar a comer alimentos saudáveis e beber água não contaminada. Todas as celas eram vigiadas com modernos aparelhos eletrônicos de espionagem e profissionais da rede Obolg, que serviam ao regime fascista, passavam horas em frente às câmeras de vigilância tentando decifrar, por leitura labial, o que os presos políticos murmuravam. 

   Diz-se que a Polícia Federal, também conhecida como PIDE (Poder Intervencionista Discriminatório de Exceção), mas apelidada pelo povo sofrido de PIG (Perversão de Indícios Gerais), era dominada pelo famoso juiz Régulus Morus, que mandava no STF, intimidava o Ministério Público, nomeava indiretamente o Procurador-Geral e contava com o apoio de todos os farsantes do Congresso, também apelidados de deputados e senadores. 

   Suspeita-se que era ele quem determinava as horas de trabalho e lazer da população e os momentos em que todos podiam sair às ruas, revezadamente, para tomar um pouco de sol e conversar exclusivamente sobre futebol e novelas. Quem falasse qualquer coisa alheia a esses dois temas seria preso. Disfarçadas câmeras colocadas estrategicamente nas praças, ruas, calçadas, fora e dentro das casas, gravavam todos os movimentos e conversas do povo para eventuais análises sociológicas e futuras campanhas de ICP (Indução ao Comportamento Planificado), através da onipresente rede Obolg. 

   Morus era adorado pela direita festiva e pela direita sisuda. Pagavam-lhe um altíssimo salário e mais todos os benefícios imagináveis. Sempre que entrava em algum restaurante era aplaudido demoradamente, cantava-se o hino nacional, flores eram colocadas na sua mesa e ofereciam-lhe rapazes imberbes para eventuais festas particulares, que nunca aconteciam porque o guarda-costas de Morus, o adorador de ditas muito duras, J. J. Bolsão Hilário, ciumento de suas funções, fazia cara feia. Por isso, Morus foi apelidado de Impoluto. Ou por detestar o pólen das flores, que eram sempre jogadas no lixo. 

   Acredita-se que esta teria sido a principal razão da Revolução dos Cravos. Indignados porque as flores eram tratadas de maneira desprezível por Morus e seus asseclas, os cravos começaram a conspirar, conseguiram a adesão de outros cravos e de mais outros e outros ainda, inclusive fortes cravos das Forças Armadas, e puseram-se a revolucionar. 

   Antes disso, porém, afirma-se que Morus o Impoluto, lá pelo dia 24 de abril de 1974, após tediosos e cansativos interrogatórios foi para a sua casa, protegida por 365 pistoleiros sob a chefia de J. J. Bolsão Hilário, deitou, dormiu e sonhou que era uma ninfa perseguida por sátiros que cantavam perturbadora música. Acordou sobressaltado, chamando a mãe. Quando se acalmou, prestou atenção a um estranho ruído que vinha da rua. Vestiu-se apressadamente, saiu e encontrou J. J. Bolsão Hilário muito pálido, apontando com o dedo indicador para imensa multidão que cantava “Grândola, Vila Morena”, acompanhada por soldados com fuzis enfeitados por cravos. 

   À medida que se aproximavam o dedo indicador de J. J. ficava  duro como pedra e Morus o Impoluto sentiu-se hipnotizado com a letra da canção.

Grândola, vila morena/Terra da fraternidade/O povo é quem mais ordena/Dentro de ti, ó cidade/Dentro de ti, ó cidade/O povo é quem mais ordena/Terra da fraternidade/Grândola, vila morena/Em cada esquina um amigo/Em cada rosto, igualdade/Grândola, vila morena/Terra da fraternidade/À sombra duma azinheira/Que já não sabia a idade/Jurei ter por companheira/Grândola, a tua vontade/Grândola, a tua vontade/Jurei ter por companheira/À sombra duma azinheira/Que já não sabia a idade...”


   Régulus Morus acordou da sua passageira hipnose, e começou a gritar: - O que significa isso?! O povo é quem mais ordena? Onde já se viu? Ordena o quê? Quem ordena é o ordenamento jurídico. O que eles estão pensando?


- Vamos, chefe! – gritou J. J. Bolsão Hilário.


- Para onde? – perguntou o assustado Morus.


- Para o Brasil, onde a dita continua dura. Daqui a dez ou quinze anos, eles vão fazer uma redemocratização subversiva e tem gente que vai precisar da sua impoluta presença para por fim à anarquia. E dizem que lá é fácil ser deputado e ganhar bem por meios transversos.


- Antes, eu tenho que dar uma passadinha nos Estados Unidos para fazer um recall, receber algumas ordens e lavar bem as mãos.


- As suas mãos estão limpas, chefe.


- E nunca se esqueça disso!


   Portugal fez a sua revolução e, no Brasil, muitos anos depois...

sexta-feira, 22 de abril de 2016

A DILMA RECATADA E DO LAR








"Não posso terminar esse discurso sem mencionar o grave momento que vive o Brasil. O Brasil é um grande país, com uma sociedade que soube vencer o autoritarismo e construir uma pujante democracia, um povo trabalhador que tem grande apreço pela liberdade, que, acredito, saberá impedir quaisquer retrocessos. Sou grata a todos os líderes que expressaram a mim sua solidariedade"
 

Dilma se acovardou? Todos esperavam que ela denunciasse o golpe, o que se viu foi quase o contrário. Só faltou dizer que o impeachment é muito legal, legal demais, que ela está adorando dar entrevistas todos os dias e que na ONU preferiu falar como mulher recatada e do lar, sem ferir os adversários da oposição, que não são golpistas, não senhor, apenas gente transtornada para tomar o poder e não querem esperar terminar o prazo legal do seu mandato.

   Golpe, quem falou em golpe? Deve ser esse bando de comunistas que está nas ruas gritando ninguém sabe por que; ela, Dilma, até já foi meio que socialista, mas depois desistiu de ler Marx, que é muito complicado e não aconselhável para mulheres recatadas e do lar, já tem uma certa idade e prefere as leis do mercado capitalista, que permite ter vários cartões de crédito, carros, casas e relações sociais amigáveis na alta sociedade. Quanto à baixa sociedade, todos sabem que é baixa, bem baixinha, não tem altura para se comparar com a alta que têm tantas senhoras recatadas e do lar. Se for embora do governo amanhã ou depois, isso faz parte do jogo, afinal de contas ela já anda meio cansada de tanta complicação e já é tempo de tirar férias. De preferência na Bahia.

   O povo? Pois é, o povo... Agradecerá muito ao povo pelos 54 milhões de votos, mas que fazer se os golpistas, quer dizer, o pessoal do impeachment, gosta tanto de cantar o hino nacional e usar a camisa da seleção que levou sete a um da Alemanha? Vai ver que eles amam o Brasil, que entregarão para as multinacionais, com Petrobrás e tudo, e passará a se chamar, honrosamente, Brasil dos Estados Unidos, o que não deixa de ser um bonito nome.

   Se Dilma não chega a ser muito inteligente, pelo menos é obediente ao seu partido, o PT, que está muito assustado com o incessante movimento nas ruas do Brasil. De manhã, ouvi o senador Jorge Viana defender a tese de Tarso Genro de uma saída pela porta dos fundos, com a admissão de culpa do governo Dilma, que faria a proposta de novas eleições, depois de uma emenda à Constituição. Simples assim. O PT não perde a mania de compor, fazer alianças para salvar a pele e, principalmente, impedir a iminente ascensão da verdadeira esquerda. O PT quer continuar a vestir vermelho sem merecer a cor.

   Por seu lado, a senadora Gleisi Hoffmann propôs um plebiscito. Igualmente é a aceitação do golpe, uma declaração de derrota e absoluta falta de confiança no povo e nos movimentos populares. E medo. Como todo partido social-liberal o PT fica assustado quando o povo se manifesta e não pára de se manifestar. Mesmo que essas manifestações sejam para defender uma presidente eleita pelo seu partido. O PT prefere entregar o governo para a direita fascista, ainda que ilegalmente, a deixar o povo decidir o seu próprio destino.

   Uma provável ruptura social não seria bom para os negócios. O que diriam os investidores estrangeiros? Por isto, Dilma foi aconselhada a ser uma boa menina, recatada e do lar, e falar na ONU usando palavras agradáveis para esses senhores investidores, donos do capital. O PT, todos sabem, é um partido capitalista. Seus militantes vestem-se de vermelho por hábito, não por convicção ou ideologia.

   O outro ponto da estratégia derrotista é esvaziar os movimentos sociais. Fazer com que parem de gritar, de sair às ruas, parem de clamar por democracia, por respeito à Constituição - que pode ser rasgada, mas depois será costurada com todo o carinho e todas as alianças possíveis. E até as aparentemente impossíveis. Lula e Dilma não fizeram aliança com Paulo Maluf, em São Paulo, para eleger um prefeito? Em política, nesse tipo de política, tudo é possível, nenhuma porta está fechada. É tudo uma questão de negócios.

   Mas, primeiro, o povo tem que se acalmar. O que é isso, gente? Calminha, calminha... Dói, mas passa. O importante é resguardar as instituições. Parem de falar mal do Senado e do STF ou o acordo não sai! E quanto à Câmara, é assim mesmo, eles gritam bastante, mas depois se calam. Sejam educados, por favor! Vão embora e deixem que nós resolvemos esses problemas aqui entre nós, no alto do poder. Quando a gente precisar, chama vocês de novo, para uma ou outra manifestação. Agora, todos quietinhos e bem comportados. Já pra casa! Olha o Moro aí!... Corram!
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