Em entrevista à
revista Zêuxis, de circulação dirigida somente ao empresariado internacional,
Aleksi Lázaro, que prefere não revelar seu verdadeiro nome, faz algumas
observações, aqui reproduzidas, sobre a política brasileira.
Z -
Agora que o processo de impeachment da presidente Dilma Roussef está em
andamento no Brasil, quase no final, qual a sua análise a respeito?
A. L. –
Não pode haver análise enquanto não houver um resultado. Mas, como você disse,
é um processo em andamento, esperemos que ande depressa porque toda morosidade
é ruim para o mercado.
Z - O
senhor acha que o impeachment será aprovado no Senado?
A. L. -
Eu não daria um tostão furado pelo Senado brasileiro! Não se pode pagar por um
produto onde existem forças conflitantes. E o mundo inteiro está de olho nesse
produto. Caso o impeachment for aprovado haverá uma natural retração do mercado
no Brasil, devido ao alto grau de instabilidade. Dilma será afastada e
acontecerá o quê, no momento seguinte? Venda de ações a preços aviltantes.
Somente os inexpertos se arriscarão a investir no produto Brasil enquanto
persistir a bolha de insegurança. Uma bolha que poderá murchar ou explodir e em
nenhum dos casos será favorável aos negócios. O ideal é que essa bolha sumisse
e, para sumir, não poderia haver nenhum processo, e muito menos um processo de
impedimento.
Z - O senhor é contra o
impeachment? Acha que é um golpe?
A. L. - Palavras, somente palavras.
Esse tipo de coisas acontece em pequenos países, em repúblicas de bananas, e
não em países em desenvolvimento. Conhece algum processo de impeachment em
países como Estados Unidos, Grã-Bretanha, Alemanha?
Z - Nixon foi derrubado, Kennedy
foi assassinado.
A. L. - Afastamentos necessários.
Não é a mesma coisa. Um estava roubando demais e o outro desejava o fim de uma
guerra lucrativa. O mercado não suporta pessoas assim.
Z - Como pode haver guerras
lucrativas, com milhares de pessoas morrendo?
A. L. – Pessoas morrem todos os
dias, às centenas, e não existiriam guerras se não fossem lucrativas. Qual o
maior mercado em expansão? O da indústria bélica da Rússia. Se não fossem as
inúmeras sanções do Ocidente, é lá que eu arriscaria uma parte segura do meu
dinheiro.
Z - O senhor fala como se fosse
tudo um jogo.
A. L. – É um jogo. E o mais
importante desse jogo, o que mais fascina, é o jogo em si. É claro que, se não
houver lucros, o jogo acaba e perdemos. Mas sempre haverá uma segunda chance
para quem sabe jogar. Conheço alguns investidores que acreditaram no canto das
sereias e foram para o fundo do poço. Possuíam bilhões num dia e no dia
seguinte apenas alguns milhões de dólares. Mesmo assim, não desistiram e hoje
são donos de federações de indústrias. O que não chega a ser um bom negócio,
segundo entendo.
Z - O senhor está falando do
Sacks, presidente da FIESP?
A. L. – Do Sacks e de todos os
outros. Nada contra o Sacks, é um bom parceiro, mas, neste momento, eu não
daria um tostão furado pela FIESP! Ela defende uma das facções em luta e não
podemos investir enquanto houver luta de facções.
Z - O senhor se refere à luta a
favor e contra o impeachment? É uma luta partidária e não luta de facções.
A. L. – É tudo a mesma coisa, apenas
uma questão de nomenclatura. Eles querem o Temer no poder, e quem é o Temer? Eu
não daria um tostão furado pelo Temer! Pelo menos, a Dilma a gente conhece, o
PT, ou parte dele, a gente conhece. Eles facilitam os negócios, sempre
facilitaram. Agora, por uma questão de uns bilhões a mais ou a menos o pessoal
do Sacks e do Temer querem o poder. Vai dar certo? Ninguém sabe, e não se pode
investir na incerteza. A incerteza faz parte do jogo, mas não a total
incerteza. Deve haver um mínimo de garantia. E se o governo do Temer ficar
ingovernável? E se o Temer morrer e entrar o Eduardo Cunha, que é tão burro que
deixou em aberto os seus investimentos no exterior? Tiram o Cunha, e aí, quem
vem? O Lewandovski? Não conhecemos o Lewandovski. E o Lewandovski marca
eleições e quem vai vencer? O Lula? Resolveram mexer no vespeiro e
ressuscitaram o Lula. O Lula não é a mesma coisa que a Dilma. Foram direto ao
pote e se queimaram, não sabem comer pelas beiradas.
Z - Tem alguma coisa contra o
Lula?
A. L. - Absolutamente. Até
respeito muito. Foi uma pessoa que veio do nada e conseguiu alguns milagres
políticos. Precisamos de milagres políticos, isso aquece o mercado. Mas quem é
o Lula hoje? Você sabe? Eu não sei. Se for eleito, vai privatizar ou não? Não
que precisemos tanto assim de privatizações. Pode-se investir em empresas
nacionalizadas. Às vezes, é até melhor. Há países, como a Rússia, em que o
Estado domina 40% do capital das empresas públicas e o resto é privatizado. No
Brasil, querem 100% ou nada. É burrice. Misturar política com negócios é
burrice.
Z - O senhor estava falando no
Lula. Acha que vão deixá-lo tomar posse, se for eleito?
A. L. - Não vão deixar, é claro. Não
vão deixar nem se eleger. Vão fazer o mesmo jogo da época em que o Collor foi
eleito. Vai até o segundo turno e perde por meio ponto ou um ponto. O que me
preocupa não é isso, mas as próprias eleições. Pra que novas eleições agora? Só
pra agitar ainda mais. E isso é péssimo para os negócios. Quem vai investir num
país em constante agitação social?
Z - O senhor teme que no Brasil assuma
um governo de esquerda?
A. L. - Qual a diferença? Dizem que
o governo da Dilma é de esquerda e, no entanto, nunca favoreceu tanto os
negócios. Até nos governos comunistas se pode investir. É o que o Obama está
tentando fazer com Cuba: abrir um novo mercado, e, depois de aberto, o povo se
acostuma a consumir e não tem quem segure. O único país totalmente fechado é a
Coréia do Norte e, ainda assim, apresenta peculiaridades muito atrativas.
Z - O Kim Jong-Un jamais
deixaria a Coréia do Norte se abrir para uma economia de mercado.
A. L. - O Kim Jong-Un? Não dou um
tostão furado pelo Kim-Jong-Un! Pessoas morrem e são substituídas e eu diria
que, devido à sua gordura, o Kim Jong-Un tem um alto grau de colesterol.
Z - O senhor acredita que os
movimentos sociais do Brasil podem obstaculizar o novo governo? Surgiram novas
lideranças muito ativas, como o Boulos e o Stédile.
A. L. - O Boulos? O Stédile? Não dou
um tostão furado por nenhum dos dois! O que eles querem é se eleger para
deputado ou senador. Deixem que se elejam. Depois que estiverem lá terão que
aceitar as regras. Com a idade, as pessoas se acomodam. Quando ao MST e outro
movimentos, não serão mais perigosos assim que empresários inteligentes
percebam o potencial de investimento que existem nesses movimentos. Querem
terra? Dêem terra a eles e indenizem adequadamente os proprietários pela
desapropriação das terras. Um pedaço aqui, outro lá e formamos grandes
cooperativas, até mesmo pequenas cidades e esvaziam-se os movimentos, perdem a
sua razão de ser e logo teremos novos empresários administrando cooperativas de
agricultores e pecuaristas que, em pouco tempo, passarão a ser lucrativas.
Z - Então, não seria o caso de
derrubar a Dilma pelo impeachment?
A. L. - Só se quiserem voltar à
estaca zero.