quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

HÁ QUADRILHA NO STF?






Com os votos dos novos ministros (Teori Zavasck e Luís Roberto Barroso) indicados por Dilma ao Supremo, nós, brasileiros, ficamos sabendo que o preto é branco e que o branco, ao contrário do que dizem nossos olhos, poderá ser preto, dependendo sempre dos interesses e do ponto de vista de quem determina as cores.

     Assim, agora temos a certeza de que a lei, mesmo que seja igual para todos, conforme a boa ou má vontade do(s) juiz(es) e a qualidade ou força política e monetária do(s) réu(s) será mais ou menos branda, e haverá momentos em que nem pena existirá, caso o réu ou os réus sejam amigos daqueles que os julgam, sofistas com imaculadas togas prontos a defender os seus amigos, argumentando que os réus, mesmo que tenham assaltado os cofres públicos, não oferecem perigo à sociedade e, por isso, quem sabe não seria melhor deixá-los soltos e usufruindo do dinheiro roubado?

    Não pode o governo que alberga criminosos e compra juízes queixar-se da sociedade quando esta sai às ruas em protesto contra a impunidade e a corrupção, pois está claro que a credibilidade nas instituições estatais é nula – o Executivo governa para os empresários, o Legislativo legisla para seus próprios bolsos e o Judiciário, com honrosas exceções, revela-se leniente e cúmplice do Executivo e do Legislativo.

     Com o “julgamento” dos embargos infringentes, que favoreceram notórios criminosos, o mensalão deixa de ser crime para se transformar em exemplo a ser seguido, porque roubar o povo não se constitui em crime contra a paz pública, ninguém atirou alguma bomba ou feriu outras pessoas; ao contrário, tudo foi feito em silêncio e se não houvesse a denúncia de Roberto Jefferson os criminosos continuariam soltos, considerados como pessoas virtuosas e cheias de zelo pelo Estado que os protege.

   Os juízes defensores dos réus buscaram minudências jurídicas, sofismas ridículos e frágeis argumentos para justificarem seus votos que lembram a mendacidade de truões que vendem o Cristo Redentor a turistas desavisados.

    Fica-se sabendo, também, que a reunião de pessoas para práticas criminosas não é crime de quadrilha ou bando, embora essas reuniões ocasionem crimes, quem sabe crimes aleatórios como dão a entender os ministros defensores dos réus do mensalão e que os desejam soltos e em ação. Na compreensão desses juízes, os réus do mensalão, já condenados por peculato, corrupção e outros crimes, juntaram-se inconscientemente, talvez durante seus sonhos ou em estado de loucura transitória, e resolveram, subitamente, assaltar os cofres públicos. São criminosos surrealistas.

     Pergunta o povo - que não tem acesso aos alfarrábios e sagrados escritos dos juízes defensores dos réus do mensalão – se há uma quadrilha ou bando no Supremo Tribunal Federal, reunida especialmente para proteger petistas e comparsas de outros partidos, e deve ser informado que não constitui crime de quadrilha ou bando a mera reunião de algumas pessoas com muito poder para defender criminosos amigos. E não há crime quando juízes lenientes consideram que crimes de amigos devem ser tidos como não crimes em nome da lei. E assim ficam as instituições salvas para o bem e a felicidade de alguns famosos e influentes criminosos. 

(Lembremos os ministros do STF amigos dos réus do mensalão: Luís Roberto Barroso, Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski, Carmen Lúcia, Teori Zavascki e Rosa Weber. Ficarão famosos.).

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

VIOLÊNCIA




Fala-se muito em combate à violência e é bom que essa discussão seja retomada, e, mais que isso, que algo de prático seja feito a respeito, desde que a ação também não se configure como violência. Pois não é de boa didática combater-se um erro com um maior erro que poderá redundar em conseqüências ainda mais graves, num absurdo círculo vicioso que não terá fim enquanto não se verificar quem tem razão: se o cidadão que protesta ou o governo que reprime.

   É prática comum das ditaduras, mesmo quando se autodenominam “democracias”, a cega repressão ao povo que questiona e rejeita políticas geradoras de violência, muitas vezes sob o amparo de leis constrangedoras que somente beneficiam pequenos grupos aliados do poder e arrojam a grande maioria da população à solidão dos desamparados. E quando essa solidão se transforma em consciência geradora de movimentos sociais, o clamor das multidões o mais das vezes é reprimido pela voz das armas oficiais, atrás das quais se escondem governantes que já perderam toda a credibilidade.

   É nesses momentos que se desconfia da política e dos políticos: quando o povo sai às ruas contra uma gélida estrutura que o espezinha e explora, e não mais adianta buscar supostos representantes eleitos, que se revelam corruptos; torna-se inútil a tentativa do amparo em leis que sempre podem ser interpretadas a favor dos opressores. Restam as ruas e os brados; algumas vezes rojões e bombas que podem ferir e matar contra balas e bombas que sempre ferem e matam.

   Ruge a afetada sociedade contra a morte de Santiago Andrade, cinegrafista da TV Bandeirantes atingido por um rojão no Rio de Janeiro, como se fosse o único caso de violenta agressão seguida de morte em nosso pacífico e anacrônico Brasil de todos os sambas, onde pessoas morrem de fome todos os dias e as mais terríveis violências são perpetradas contra o povo. Clamam os defensores da paz pública contra os agressores do jornalista que apenas cumpria a sua missão de informar, destacando o caso como inédito no país onde se mata mais jornalistas por ano nas Américas.

    Desde junho de 2013, 114 jornalistas foram feridos durante os protestos, muitos deles por forças policiais, segundo a ONG Repórteres Sem Fronteiras, que ainda destacou que somente em 2013 quatro jornalistas foram mortos quando exerciam as suas funções. De acordo com o Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ). Falando para a Rádio ONU, Carlos Lauria, coordenador do CPJ para as Américas, disse que o Brasil é um dos países mais perigosos para o exercício da profissão. Onze jornalistas foram assassinados nos últimos três anos, quatro somente em 2013. Os jornalistas que divulgam informações sobre política, guerra e corrupção são os mais perseguidos, e os principais responsáveis são grupos políticos e grupos criminosos. Em 88% dos casos nenhuma medida judicial foi tomada. 

   Também em 2013 foi dado a conhecer o novo genocídio brasileiro: o da etnia Guarani-Kaiowá, que ainda resiste no Mato Grosso do Sul. Ameaçados de despejo por ordem judicial, declararam: “Pedimos ao Governo e à Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas decretar nossa morte coletiva e enterrar nós todos aqui”. Somente na reserva indígena de Dourados, a taxa de homicídios ultrapassa a de países em guerra e é 495% maior que a média brasileira.

     Os Guarani-Kaiowá continuam sendo mortos pelos fazendeiros, e muitos deles se suicidando e o governo brasileiro, como de hábito, nada faz a respeito, porque indígena não dá lucro e temos um governo muito capitalista, interessado na expansão do que apelidou de agro-negócio, uma óbvia cópia da expressão “agrobusiness”, e no mundo do capital o valor das pessoas é medido pelo que produzem e consomem. Assim como os fazendeiros e seus assassinos pagos, o governo é cúmplice por omissão desse genocídio.

    Tem medo o governo de Dilma, assim como teve medo o governo de Lula, de enfrentar a extrema-direita que incita a violência contra o povo. Ao contrário, facilita a ação de latifundiários contra trabalhadores rurais, através de leis antiecológicas e predadoras votadas por seus partidos aliados no Congresso para satisfazer ruralistas, latifundiários e grandes empresas madeireiras.

É um governo medroso, omisso em relação à violência no campo, que permite o desmatamento de grandes extensões de terra para dar lugar a imensas plantações de grãos híbridos modificados geneticamente que provocam a desertificação do solo. É uma gigantesca violência contra a natureza, que se torna corrompida, à semelhança daqueles que a defraudam de maneira torpe e vil.

Violência inominada contra os indígenas e pequenos produtores rurais que, cada vez mais, tem as suas terras roubadas ou são obrigados a vendê-las ante a pressão do latifúndio e vivem de promessas de uma reforma agrária que nunca acontecerá em um governo que se diz de esquerda, mas está inteiramente comprometido com o capital.

Violência urbana, alimentada pela cultura da violência acintosamente patrocinada pela mídia que inspira um governo que deseja fazer tabula rasa de todos os valores morais e transformar uma geração já imbecilizada pelos brinquedos eletrônicos, futebol e carnaval em enorme multidão de robôs amestrados que só pensa no prazer e na próxima festa.

Violência contra a grande maioria de marginalizados, aos quais querem fazer acreditar que a marginalização é glamurosa e que a vida se resume em bailes funk e rolezinhos, porque pensar pode doer, e quem sabe um dia o catador de lixo não será eleito vereador, deputado ou Presidente?

Violência que criminaliza a marginalização, quando esta não é bem comportada e se revolta ou toma consciência de que está sendo manipulada. Violência que constrói quartéis em bairros pobres e favelas, porque a pobreza sempre é suspeita, independente de cor ou sexo, e deve ser vigiada e controlada da mesma maneira como se cuidam os grandes rebanhos de ovelhas, prontos para a tosquia e abate.

Violência que atinge 80% da população que deseja bancar um padrão de vida inexistente, gastando imoderadamente, porque assim exige o mercado, tornando-se medrosa e apreensiva quanto ao dia seguinte, o próximo mês, próximo ano, porque lhe foi dito que a razão de ser da existência relaciona-se com a voracidade do consumo, e o que fazer se a morte está sempre à espreita?

Violência que deseja tornar essa população tão neurótica quanto aqueles que patrocinam a violência, para que seja mais habilmente manobrada entre sustos e novelas, inquietações e gritos de gol, e acabe acreditando que a vida é assim mesmo, tudo passa, tudo passará.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

O MINISTRO, O SENADOR E O GATO





O ministro Gilmar Mendes, novo alvo do PT (além de Joaquim Barbosa) dentro do Supremo Tribunal Federal, por suspeitar de lavagem de dinheiro nas doações aos apenados do Mensalão e propor que fosse investigada a origem do dinheiro, teve uma excelente idéia. Em carta enviada ao senador Eduardo Suplicy (aquele mesmo que promoveu a vinda ao Brasil da ultra-reacionária blogueira cubana Yoani Sánchez), que se queixava das suspeitas do ministro a tão venerado e, como dizer... incorrupto?... honesto?... partido ao qual pertence o senador, sugeriu que o PT, através de Delúbio Soares – ex-tesoureiro do PT e que cumpre pena por roubo aos cofres públicos –, usasse a sua reconhecida capacidade de angariar fundos para recuperar “pelo menos parte dos R$100 milhões subtraídos dos cofres públicos”.

   Não é uma excelente idéia? Afinal, onde está o dinheiro que os petistas nos roubaram? Em algum paraíso fiscal? Foi dividido entre os membros do partido? Faz parte do caixa 2 da Dilma para, talvez, comprar a sua reeleição? Foi dado para o Corinthians do Lula? Para o Fluminense? Para o Pequeno Príncipe? Para comprar a Copa do Mundo? Para as obras da FIFA? O gato comeu? Quem é o gato?

   Há quem diga que conhece o gato, que todos sabem quem é o gato, o bem alimentado gato, o safado do gato. E há quem pense que a multa que os mensaleiros presos são obrigados a pagar corresponde ao dinheiro roubado, quando faz parte da pena. O dinheiro? Alô, alô Delúbio, Dirceu, Genoíno e comparsas: onde está o dinheiro?

    A culpa é do gato. Sumiu com o dinheiro. Alegando pobreza, os coitados dos ladrões estão pedindo doações pela internet. O PT é um partido muito rico: choveu dinheiro. A tal ponto que Gilmar Mendes - e não somente ele – desconfiou. Não será lavagem de dinheiro? De acordo com a Wikipédia, “lavagem de dinheiro é uma expressão que se refere a práticas econômico-financeiras que tem por finalidade dissimular ou esconder a origem ilícita de determinados ativos financeiros ou bens patrimoniais, de forma que tais ativos aparentem uma origem lícita ou a que, pelo menos, a origem ilícita seja difícil de demonstrar ou provar. É dar fachada de dignidade a dinheiro ilegal.

   Lavagem de dinheiro rima com brasileiro. O que mais funciona no Brasil são as lavanderias especializadas em dinheiro. Todos os dias os banqueiros do jogo do bicho passam para outros banqueiros que não são do jogo do bicho o dinheiro das suas “atividades ilícitas”, que volta branquinho no dia seguinte. Com o devido desconto pelo trabalho. É o que dizem os especialistas, e como o jogo do bicho é uma atividade ilegal “legalizada”, nada acontece, porque bicheiros são pessoas de bens (alheios?) que patrocinam escolas de samba, além de outras atividades beneméritas – como todos sabem.

    O golpe do Mensalão deixou até bicheiro que dá aula pra máfia italiana de queixo caído. Ficaram embevecidos. Que coisa esse tal de poder! Como se faz boas relações! O dinheiro saía por um banco, entrava pelo outro, ia até Portugal, voltava, viajava de novo e acabava branquinho nas mãos do Marcos Valério que repassava para os ilustres defensores do povo. Perfeição! Ou quase. Quando alguém dedurou foi um Deus nos acuda e até hoje o PT está de mal com a rede Globo e outras redes não tão globais.

    Não era pra dizer nada, mas disseram. Tentaram engavetar o processo que ficou sete anos na berlinda e, quando foram a julgamento os indiciados acreditaram que os ministros do STF nomeados por Lula e Dilma corresponderiam à camaradagem. Corresponderam até certo ponto. A maior parte da culpa recaiu sobre o distribuidor Marcos Valério, enquanto os chefes estão praticamente soltos, cumprindo quase simbólicas penas.

   E agora, os pobres coitados dos apenados, políticos presos que querem fazer acreditar que são presos políticos - indiretamente acusando a Dilma de ditadora, pois não há presos políticos em uma democracia -, pedem dinheiro. E o dinheiro aparece. Para eles, só para eles. Não para instituições de caridade ou para ajuda aos indígenas que estão sendo mortos e despejados das suas terras com a complacência do Governo; não para ajudar na construção de casas aos favelados que estão sendo expulsos de perto dos grandes estádios de futebol; não para acabar com Belo Monte, obra grotesca e monstruosa. Não. Arrecada-se dinheiro para os ladrões. Como têm cúmplices esses ladrões!

    Por essas e outras razões o ministro Gilmar Mendes – e não somente ele – suspeita do dinheiro das doações. E essa suspeita já resultou em um ataque furioso do iludido MST ao STF e em injúrias as mais diversas na internet. Neste momento, Gilmar Mendes divide com Joaquim Barbosa o título de inimigo nº1 do PT. Como é notório, o PT se acreditava o partido dos intocáveis. Foi tocado.

    Em resposta ao ministro, o senador Suplicy, amigo de Yoani Sánchez e da oposição cubana, preferiu dar conselhos sobre comportamento e noções de filosofia do “bom-mocismo”. O que não responde à pergunta de Gilmar Mendes (e não somente dele): de onde sai o dinheiro das doações aos ladrões mais famosos do Brasil? Abaixo, ressalto um trecho da carta do ministro do Supremo ao senador petista:

     “(...) Ademais, não sou contrário à solidariedade a apenados. Ao contrário, tenho a certeza de que Vossa Excelência liderará o ressarcimento ao erário público das vultosas cifras desviadas – esse sim, deveria ser imediatamente providenciado. Quem sabe o ex-tesoureiro Delúbio Soares, com a competência arrecadatória que demonstrou – RS600.000,00 em um único dia, verdadeiro e inédito prodígio! -, possa emprestar tal expertise à recuperação de pelo menos parte dos R$100 milhões subtraídos dos cofres públicos. Doravante, porém, sem subterfúgios que dificultem a fiscalização, como esse de usar sites hospedados no exterior para angariar doações moralmente espúrias, porque destinadas a contornar efeitos de decisão judicial.  (...)”

domingo, 9 de fevereiro de 2014

O GÊNIO CIBERNÉTICO E OS PRIMEIROS CAMPEÕES DE XADREZ




O norueguês de 22 anos, Magnus Carlsen, é o novo campeão mundial de Xadrez, após vencer, em novembro de 2013, o indiano Anand por 6,5 a 3,5 em um match que poderia chegar a 12 partidas. Anand era o campeão mundial desde 2007, tendo enfrentado, até então, cinco matches de desafio pelo título e vencido todos. A vitória do norueguês, no entanto, não foi surpresa; ao contrário, era muito esperada, principalmente pelos empresários da Microsoft, que patrocina o novo campeão de Xadrez. Desde 2002, Carlsen também é garoto-propaganda da empresa de computadores norueguesa Artic Securities. Além disso, junto com a atriz Liv Tyler, participou de diversas campanhas publicitárias e foi considerado pela revista Cosmopolitan como um dos homens mais sexy de 2013. 

Os enxadristas dizem que ele é o novo Capablanca, mesmo que o cubano, no seu tempo, não tivesse o auxílio da ciência da computação e, de fato, seja muito contestado quanto a ter sido o melhor enxadrista da sua geração.

Como Capablanca, Carlsen aprendeu Xadrez quando tinha apenas 4 anos de idade, como convém aos gênios, e logo se descobriu a sua prodigiosa memória. Aos cinco anos, Magnus Carlsen recitou o nome, extensão e população das 430 cidades da Noruega e o auxílio das empresas de computação, às quais é ligado, desenvolveu ainda mais a sua memória que atua como um gigantesco banco de dados. Atualmente, ele é capaz de antecipar 20 lances no tabuleiro e suas ramificações ou variantes, independente do que o adversário fizer, e não se sabe ao certo se essa capacidade deriva de criatividade ou da excepcional memória com que foi dotado. 

O ex-campeão mundial Kasparov afirmou, certa vez, que Magnus Carlsen, ao jogar, lembrava muito o programa de computador Fritz 13, que ajuda a treinar jovens e promissores enxadristas. Jogar contra a memória de Magnus Carlsen é o mesmo que enfrentar o mais forte computador. Quando perde (pois ainda é humano) é por desatenção. Ao mais das vezes, costuma empatar ou vencer no erro do adversário.

DE RUY LÓPEZ A EMMANUEL LASKER

A história do jogo de Xadrez resgata como melhores jogadores do mundo, considerados campeões mundiais até o curto reinado de Capablanca, os seguintes enxadristas.

Ruy López de Segura, por cinco anos (1570-1575).
Padre e enxadrista espanhol que estudou e viveu em Salamanca, sendo considerado por muitos como o primeiro campeão de Xadrez não-oficial. Escreveu um dos primeiros livros sobre os fundamentos do Xadrez: “Libro De La Invención Liberal Y Arte Del Juego Del Ajedrez”. É o autor da Abertura Ruy López, também conhecida como Abertura Espanhola e considerada a mais perfeita de todas as aberturas abertas, de uma extraordinária complexidade estratégica e tática em suas diversas variantes.

Gioacchino Greco, durante 12 anos (1622-1634).
Natural da Calábria, Greco aprendeu a jogar sem que ninguém o ensinasse, lendo os escritos de Ruy López e de Alessandro Salvio.
Protegido do cardeal Saveli percorreu a Europa vencendo inúmeras partidas e impondo um jogo essencialmente tático, muitas vezes jogando contra vários adversários ao mesmo tempo. Segundo Salvio, o único que conseguiu vencer Greco seguidamente foi o padre siciliano Mariano Marano. Atribui-se a Greco a criação da Defesa Siciliana, a mais famosa das defesas semi-abertas, mas não é improvável que Mariano Marano tenha sido o verdadeiro autor.
Mesmo assim, Greco foi aclamado como o melhor enxadrista do século XVII. Deixou o tratado de Xadrez “Primo Modo Del Gioco De Partito”, de que se conservam 15 exemplares na atualidade.

 François-André Danican Philidor, durante 50 anos (1745-1795).
Músico, criou a ópera-cômica na França e diversas outras óperas, como “Tom Jones”, “Le Maréchal-Ferrant e Themistocle. Foi o principal músico da corte de Luís XV. Entre os anos 1750 e 1770 compôs uma ópera e 21 óperas-cômicas.
Superou a todos os adversários da sua época e foi o primeiro enxadrista a jogar partidas simultâneas às cegas. Era tão superior aos demais, que costumava dar vantagem material aos oponentes, para tornar o jogo mais interessante. Em 1749, escreveu “Analyse Du Jeu Des Échecs” (“Análise Do Jogo De Xadrez”), um dos primeiros tratados sobre Xadrez. No livro aparece a sua Defesa Philidor, situações de final de jogo, conhecidas como “Posições de Philidor”, além do famoso “Mate de Philidor” que, recentemente, foi descoberto que pertence a Gioachino Greco e passou a ser chamado “Mate de Greco” (sacrifício da Dama com mate afogado de Cavalo na sétima do Bispo). È famosa a sua frase: “Os peões são a alma do Xadrez”.

Louis de la Bourdonnais, durante seis anos, de 1834 a 1840.
O jogador mais importante do século XIX e o maior da França, depois de Philidor. Não tendo adversário à altura na França, viajou para a Grã-Bretanha onde jogou uma série de 6 matches contra o irlandês Alexander Mcdonnel, com 45 vitórias, 23 derrotas e 13 empates, consagrando-se como o melhor jogador da Europa. Seu estilo era extremamente agressivo e jogava muito rápido. As partidas contra Mcdonnel pela primeira vez em um evento desse porte foram anotadas. Deixou muitas contribuições para o Xadrez, sendo memorável a sua 16ª partida do 4º match contra Mcdonnel, quando usou uma Defesa Siciliana, Variante Aberta (B32), dando uma aula sobre a força dos peões passados. Escreveu o “Nouveau Traité Des Jeu Des Échecs” (“Novo Tratado Do Jogo De Xadrez”), em 1833.

Howard Staunton, enxadrista inglês campeão do mundo não-oficial de 1841 a 1851.
Em sua juventude trabalhou como ator, fazendo o papel de Lorenzo em O Mercador de Veneza. Aos 26 anos começou a levar a sério o Xadrez, unindo-se ao Old Westminster Chess Club. Foi por essa época que enfrentou e perdeu uma partida contra o capitão William Evans (criador do Gambito Evans).
Staunton talvez tenha sido o primeiro jornalista de Xadrez. Em 1840 começa a escrever uma coluna no New Court Gazette, intitulada “Chess Player’s Chronicle”. O seu nível já tinha melhorado, a ponto de vencer o melhor jogador de Londres, H. W. Popert. Em 1842, jogou centenas de partidas contra John Cocchrane, aprimorando o seu conhecimento. Em 1843 joga um match contra Pierre de Saint-Amant, reconhecido como o melhor jogador do momento, perdendo por 3 a 2 e 1 empate. Na revanche, jogada no Café de La Regence, em Paris, consegue consagradora vitória por 11 a 6 e 4 empates. Foi naquele encontro que o lance 1.c4, posteriormente conhecido como Abertura Inglesa, foi utilizado por Staunton. Nos anos seguintes vence a Tuckett, Horwitz e Harrwitz e perde para Von der Lasa.
Em 1847 e 1849 escreve “The Chess-Player’s Handbook” e “The Chess-Player’s Companion”. Também em 1849 anuncia no Ilustrated London News um jogo de peças – o modelo Staunton - que posteriormente seria adotado pela FIDE (Federation Internationale Des Échecs – Federação Internacional de Xadrez) para disputas oficiais. No entanto, as peças foram desenhadas por Nathaniel Cook.
Além disso, Howard Staunton foi um dos maiores especialistas em William Shakespeare. Em 1856 produziu uma edição anotada das Obras Completas de Wiliam Shakespeare, publicada mensalmente de 1857 a 1860.

Adolf Anderssen – 1851 a 1858.
Brilhante jogador austríaco, considerado clássico, e que deixou duas obras-primas. Na partida contra Lionel Kieseritizky, em 1851, sacrificou um bispo, duas torres e a rainha para dar xeque-mate ao adversário e essa partida recebeu o nome de “A Imortal”. Em 1852, contra Jean Dufresne, fez uma brilhante e inesperada combinação para vencer – partida que recebeu o nome de “Sempre-Viva”. Anderssen criou a Abertura Anderssen, que consiste no lance inicial 1.a3, raramente jogado.

Paul Morphy – campeão mundial não-oficial de 1858 a 1863.
Venceu a todos os melhores enxadristas dos Estados Unidos e, na Europa, somente não jogou com Steinitz. Recebeu a coroa de campeão mundial ao vencer Anderssen por 7 a 2 e dois empates. Voltou para Nova Iorque como herói e dedicou-se a uma mal sucedida carreira de advogado. Depois de uma decepção amorosa, abandonou o Xadrez. Em razão de sua curta carreira, é chamado de “gênio efêmero”. Foi um jogador romântico, que gostava de propor aberturas abertas com rápidos ataques no flanco do rei adversário, e possuía grande conhecimento teórico. Em 1858 deixou o seu maior legado: uma partida jogada contra o duque Karl de Brunswick, com o conde Isouard como consultor, jogada no camarote do duque durante a apresentação da ópera “O Barbeiro de Sevilha”. Na ocasião, Morphy construiu uma verdadeira “Jóia de Primeira Água” – apelido que imortalizou a partida.

Wilhem Steinitz – Oficialmente o primeiro campeão mundial de Xadrez, de 1866 a 1894.
Deu início à era do jogo posicional. Foi campeão durante 28 anos e disputou 7 matches pelo título mundial, incluindo a apertada vitória contra Anderssen, por 8 a 6, em 1866.
Contestado por Zukertort, que se auto-proclamou campeão mundial depois de vencer o Torneio de Londres em 1883, aceitou o desafio e o venceu duas vezes: em 1872, por 9 a 3 e em 1876, por 12,5 a 7,5. Venceu Tchigorin em dois matches: 10,5 a 6,5 em 1886 e 12,5 a 10,5, em 1892. Ainda aceitou os desafios de Blackburne, a quem arrasou por 7 a 0, em 1876, e de Gunsberg, em 1890, vencendo por 10,5 a 8,5.
Foi incontestavelmente o melhor jogador de xadrez da sua geração e sobre ele contam-se várias anedotas. Certa vez, perguntado se ia vencer um forte torneio, respondeu: “De saída tenho grande vantagem, pois sou o único que não tem que enfrentar a Steinitz”.

Emanuel Lasker. Segundo campeão mundial oficial de Xadrez.
Enxadrista alemão, considerado por muitos como um dos melhores de todos os tempos. Depois de vencer Steinitz por 10 a 5 e 4 empates, em 1894, manteve o título durante 27 anos, incluindo em seu currículo a vitória em torneios como o de Londres (1899), Nuremberg (1896), São Petersburgo duas vezes (1900 e 1914), Paris (1900) e Nova Iorque duas vezes: em 1893, quando venceu todos os treze jogos que disputou, e 1924.
Foi professor de matemática, doutorado na Universidade de Erlangen-Nuremberga e filósofo. Ainda se dedicou ao Bridge, tendo publicado um livro sobre o assunto.
Além da vitória no match contra Steinitz, defendeu o título vencendo Tarrasch, Janowski, Marshal e Slechter. No match contra Tarrasch, que além de grande enxadrista era um teórico arraigado a determinados princípios estratégicos e considerava Lasker como um jogador de segunda categoria, ficou famosa a frase de Tarrasch, quando Lasker foi cumprimentá-lo na cerimônia de abertura: “Senhor Lasker, eu tenha apenas três palavras para lhe dizer: xeque e mate!” (“Mister Lasker, i have only three words to say to you: check and mate!”). Lasker respondeu vencendo as quatro primeiras partidas e terminou o confronto com 8 vitórias, 3 derrotas e 5 empates.
Lasker foi um dos responsáveis pela profissionalização do jogo de Xadrez. Valorizou muito o seu título de campeão mundial, impondo condições monetárias muitas vezes inaceitáveis para os seus desafiantes. Do desafiante Akiba Rubinstein – jogador que tinha recordes em torneios semelhantes aos de Lasker e superiores aos de Capablanca - exigiu um penhor de $2.000 (equivalentes hoje a quase $200.000), o que não foi aceito. Durante a I Guerra Mundial, Lasker investiu todas as suas economias em títulos de guerra alemães. Chegou a afirmar, mesmo sendo judeu, que a civilização estaria em perigo se a Alemanha não vencesse aquela guerra.

Em janeiro de 1920, Lasker assinou um acordo com Capablanca para a disputa do Campeonato Mundial de Xadrez em Havana, terra do desafiante. Lasker necessitava muito de dinheiro e Capablanca conseguiu um aporte de $20.000 e mais algumas condições favoráveis para o velho enxadrista. Em troca, antes do encontro Lasker renunciou ao título em favor de Capablanca e o match somente aconteceu devido à insistência de Capablanca. Finalmente, Lasker concordou em jogar, insistindo, porém, que era o desafiante e que Capablanca era o campeão. Ainda: caso derrotasse Capablanca, iria renunciar ao título. Portanto, Capablanca iniciou o match contra Emanuel Lasker como campeão mundial de Xadrez e, mesmo que perdesse, continuaria com o título.
As partidas foram realizadas entre março e abril de 1921. Capablanca venceu por 4 a 0 e 10 empates. Lasker alegou problemas com o clima de Havana para jogar de maneira tão misteriosamente caótica, segundo os críticos da época.
Lasker escreveu “O Senso Comum em Xadrez”, diversas obras sobre matemática e filosofia e uma peça teatral em coautoria com o seu irmão Berthold.



(Continua)
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