domingo, 25 de janeiro de 2015

SEU CHICO, NICOLAU I E O PAÍS DO FAZ-DE-CONTA





- Seu Chico, o senhor já ouviu falar no imperador Nicolau I? 

- Assim-assim não dá pra lembrar, esse menino, mas imperador é que não faltou na Europa. 

- Não é europeu, seu Chico, é aqui dos pampas. 

- Mas não me diga! E quem seria esse imperador dos pampas? 

- Nicolau Nheenguiru. 

- O chefe guarani que deu combate aos mamelucos e espanhóis? 

- Esse mesmo. 

- Me conte essa novidade. 

- Lhe conto. Pois eu estava lendo um livro sobre a história de Bagé e entre umas e outras coisas me deparo com a afirmação de que Nicolau Nheenguiru – que no livro é chamado de Lenguiru – se autodenominou Nicolau I, imperador dos guaranis, pois o autor, Eurico Salis, afirma que os guaranis eram imperialistas, formavam um império. 

- Mas olha só!... E eu que acreditava que a República Guarani foi uma república, como o nome está dizendo e como afirma Clóvis Lugon no seu livro que trata especificamente dos guaranis. E agora essa... Mas então era um império? 

- Pois é. E tem mais. Fiquei sabendo que aqui em Bagé era uma redução guarani. Redução que durou pouco tempo, porque não existiam índios guaranis nesta região, que era povoada por guenoas, charruas, minuanos... Índios nômades que foram todos assassinados. O senhor conhece algum índio guenoa, minuano ou charrua, seu Chico? 

- Só de ouvir falar. Mataram todos. Não restou nem um pra remédio. Um verdadeiro genocídio! Mas esse autor cita as fontes? 

- Ele diz lá que tem os seus documentos particulares. Fala até de dois padres jesuítas que teriam vindo pra cá lá de Buenos Aires, veja só a distância! - especialmente para fundar essa redução que não deu certo. 

- Mas não é de espantar? Então eram dois padres meio desgarrados. Os outros padres que fundaram as verdadeiras reduções guaraníticas tinham como apoio o vice-rei de Assunção, no Paraguai, e fizeram as reduções, também chamadas de Missões, para tentar salvar os guaranis da sanha escravagista dos mamelucos de São Paulo. O senhor deve saber que todas aquelas entradas e bandeiras eram para caçar índios, que eram vendidos a peso de ouro para os latifundiários. É claro que os historiadores oficiais enfeitaram a coisa escrevendo que os bravos bandeirantes estavam atrás de ouro e pedras preciosas. Na verdade, eram escravagistas. A pior espécie de gente! 

- Ensinam tudo errado para as crianças, seu Chico. 

- Um erro fabricado, o senhor há de convir. Fizeram de bandidos - como João Ramalho, Raposo Tavares, Fernão Dias Paes Leme –, heróis. A História é fabricada de acordo com os interesses dos donos do poder e a história da escravidão indígena é pura mentira! Eu fico indignado só de pensar no que aconteceu. Sabe qual é a desculpa que dão para as crianças de escola, e para outros que não são tão crianças assim? Pois dizem que graças aos bandeirantes os portugueses aumentaram o Brasil devido ao desbravamento de novas terras que seriam dos espanhóis. Mas não é o mesmo que justificar o assassinato pelo roubo? E passam subliminarmente para esses alunos que recém estão formando a sua personalidade a idéia de que é justo matar para roubar. Sem contar o racismo: dão a entender que os indígenas eram inferiores aos brancos e mereciam ser mortos e escravizados. 

- Pois esse autor, que já morreu e escreveu um livro bem interessante, principalmente devido às fotografias, acreditava ou queria acreditar que os indígenas eram imperialistas e até deu o título de Nicolau I para o Nheenguiru. 

- Quanto ao título deve ter sido imaginação, por supuesto. Mas não é de descartar que ele tenha sido influenciado pela propaganda paulista. Todo sistema político, por mais podre que seja, tem os seus defensores e até ideólogos. Recentemente eu li um livro sobre história do Brasil, escrito pelo Eduardo Bueno. “Li” é força de expressão, porque me decepcionei quando chegou justamente nas Missões dos guaranis, que ele passa por alto ou se omite da denúncia. Os guaranis foram criteriosamente massacrados durante séculos, e o que resta da nação guarani está no Paraguai ou morrendo pelos cantos em pequenas reservas que são uma vergonha. 

- Eu acho que se ficarem no Brasil eles correm o perigo de extinção, seu Chico. A política indigenista do Governo é a pior possível. 

- Principalmente agora que a Dilma obedece a tudo que os donos das terras disserem e fizerem. Nunca vi um governo tão reacionário no Brasil! Nem tão entreguista. E quem sofre mais com isso são os mais pobres, os índios, com as suas terras sendo tomadas pelos ruralistas e companhias mineradoras. A mentalidade é a mesma da época do Brasil colônia. 

- E a escravidão indígena continua, seu Chico. Já foram descobertos casos de trabalho análogo à escravidão aqui mesmo, no Rio Grande – em Itaimbezinho e Bom Jesus. E no Mato Grosso do Sul todos sabem que existe escravidão indígena e ninguém faz nada a respeito. 

- Mas este não é o país do faz-de-conta, esse menino? Faz de conta que não há desmatamento, faz de conta que vivemos em uma democracia, faz de conta que existe paz e liberdade, faz de conta que há justiça social, faz de conta que não temos inflação – e até faz de conta que aqui se joga o melhor futebol do mundo. Também faz de conta que não há escravidão, faz de conta que a usina de Belo Monte vai trazer progresso e não devastação ambiental e faz de conta que não estão nos roubando diariamente. O país do faz-de-conta é um país de fantasia, que só existe como realidade para uma turma de corruptos, e para o povo continua sendo o país do futuro. Falta sangue neste povo! 

- Sangue, seu Chico? 

- Sangue, força, bravura, destemor. É um povo anestesiado, cheio de melindres, com medo de tudo. 

- E os que não se melindram são perseguidos de uma maneira ou de outra, seu Chico. Perdem emprego... 

- Mas não é preferível lutar que ficar parado, gemendo e se queixando? Quando é que os brasileiros vão aprender a ser gente, como outros povos que vão pra rua ao primeiro sinal de despotismo?

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

JE NE SUIS PAS CHARLIE




A mídia do sistema afirma que o jornal “Charlie Hebdo” faz críticas de tudo e de todos – o que é, no mínimo, uma inverdade. O “Charlie Hebdo” especializou-se em sátiras infamantes contra o Cristianismo e contra o Islamismo, e uma ou outra crítica ao governo francês ou em relação a temas menores, para disfarçar. Criado em 1960, com o objetivo de atacar o crescente nacionalismo francês do pós-guerra, representado pelo presidente Charles de Gaulle que buscava livrar-se das influências norte-americana e britânica, o jornal, que então se chamava “L’hebdo Hara-Kiri”, foi fechado por ordem do então presidente Georges Pompidou, após uma publicação que ridicularizava a morte de De Gaulle em 1970. 

  Renasceu com o nome “Charlie Hebdo” (Hebdomadário = semanal), derivado de uma revista de histórias em quadrinhos, chamada Charlie Mensuel, (Mensuel = mensal) e “Charlie” também serviu como piada interna sobre Charles de Gaulle. Não tem nada a ver com a personagem Charlie Brown, criada pelo desenhista Charles Schulz, como alguns querem dar a entender. Também tem muito pouco a ver com O Pasquim, que foi um jornal satírico sem ser apelativo ou ofensivo. 

   O “Charlie Hebdo” notabilizou-se como um jornal que ataca o Cristianismo e o Islamismo. É claramente xenófobo, racista e, naturalmente, fascista. A xenofobia e o racismo são características do fascismo. A insolência também.  

   O projeto de globalização promovido por aqueles que desejam impor uma nova ordem mundial exclui as grandes religiões. Em matéria datada de 23 de junho de 2011 (“A licenciosidade como meio, o neo-paganismo como meta” - http://fausto-diogenes.blogspot.com.br/2011/06/licenciosidade-como-meio-o-neopaganismo.htm) escrevo a respeito do plano, ou agenda global, que tem como objetivo manipular emocionalmente as pessoas, logo após a extinção das duas grandes religiões: o Cristianismo e o Islamismo. A seguir, um pequeno trecho. 

   “(...) há todo um plano do atual sistema para impor aos povos um governo mundial. E esse plano inclui a destruição das grandes religiões – Cristianismo e Islamismo.
   “O Islamismo está sendo derrotado aos poucos, através de guerras, da mídia e da cooptação de supostos líderes árabes. A guerra da internet ou Guerra do Facebook, que tem jogado multidões iradas e provavelmente drogadas contra as armas dos seus governos – suicidas sem causa – para provocar uma intervenção da ONU, como aconteceu na Líbia e provavelmente venha a acontecer na Síria, tem sido a grande estratégia do imperialismo para derrotar líderes islâmicos, desacreditar aquela religião e confundir as massas. (...)”

   Não só através do Facebook ou de outras redes sociais. O episódio do atentado ao “Charlie Hebdo” é muito parecido ao 11 de setembro de 2001 devido à programada repercussão, com uma passeata gigante justamente no dia 11 de janeiro. Na matéria “O lado oculto dos atentados de 11 de setembro de 2001” (http://fausto-diogenes.blogspot.com.br/2010/09/o-lado-oculto-dos-atentados-de-11-de.html) revelo a importância do número 11 para determinadas organizações secretas.

   “(...) No Tarô, a carta-arcano 11 tem o nome de A FORÇA. Na Numerologia, a vibração 11 é considerada um número-mestre, que significa evidência, força, intuição.

  “Para algumas ordens iniciáticas de cunho luciferiano, o número 11, uma oitava acima do número 2, simboliza a ação sobre a natureza, que pode ser manipulada pelo ser humano “superior”; as duas faces de uma mesma moeda; o equilíbrio entre Bem e Mal. E, portanto, a negação de Bem e de Mal: a liberdade para agir e a total ausência de valores. A impiedade.

    “Não só o número 11, como também os números 2, 20 e 29. Quando ocorre algo importante em um desses dias é como se fosse um sinal, um código, para que os demais irmãos saibam que é obra do mesmo grupo e que as “verdades” enunciadas após o ocorrido, as explicações oficiais sobre o fato, devem ser aceitas e corroboradas.

   “Alguns detalhes interessantes:

• “911 é o número para emergências nos Estados Unidos.

• “Os atentados de 11 de setembro ocorreram exatamente 11 anos após George Bush (pai) declarar guerra ao Iraque, em 11 de setembro de 1990.

• “O dia da independência dos Estados Unidos é 4 de julho. Ou seja: 4+7 = 11.

• “O primeiro avião que bateu nas Torres Gêmeas era o vôo AA (American Airlines)-11 e o segundo levava a bordo 65 pessoas (6+5 = 11).

• “A partir de 11 de setembro faltavam 111 dias para terminar o ano.

• “Cada uma das Torres Gêmeas tinha 110 pisos e, se fossem contempladas de longe, pareciam dois números 1 juntos...

• “No primeiro aniversário do 11 de setembro, os números que ganharam a loteria de Nova Iorque foram 9-1-1.

• “O atentado de Madri ocorreu em 11 de março de 2004. O ataque ocorreu três anos depois, ou 911 dias depois.

• “O golpe que matou o socialista Salvador Allende, derrubando o seu governo e colocando no poder o general Augusto Pinochet ocorreu em 11 de setembro de 1973.

   “Pergunte a si mesmo(a) se tudo é mera coincidência.”


         A França é um país racista. Em 2010, mais de 8000 ciganos foram expulsos daquele país durante o governo de Nicolas Sarkozy. Não sei de nenhuma passeata de protesto contra esse péssimo exemplo de segregacionismo e mentalidade medieval. Eram ciganos, e os franceses achavam-se superiores aos ciganos. A expressão usada pela imprensa, na época, foi “repatriação”. Os ciganos que moravam na França foram obrigatoriamente “repatriados” para Romênia, Bulgária e outros países. O Papa Bento XVI, em 22 de agosto de 2010 condenou a expulsão dos ciganos: “Os textos litúrgicos de hoje reafirmam-nos que todos os homens são chamados à saudação. É também um convite a saber acolher a diversidade humana, tal como Jesus representou os homens de todas as nações em todas as línguas”. A campanha difamatória contra a Igreja (incluindo o “Charlie Hebdo”) já estava em andamento, mas um fato interessante aconteceu na França, em agosto de 2012, alguns meses antes de Bento XVI renunciar. Uma simples oração no santuário de Lourdes, que fazia referência à família formada por um pai e uma mãe foi objeto de ataques da imprensa francesa, que classificou a Igreja de “intolerante”.
  
    Islamismo e Cristianismo são os alvos. Ninguém dentro do “Charlie Hebdo” pode fazer uma pequena crítica contra os judeus, ou será imediatamente demitido por “anti-semitismo”. Quando, em 2008, o caricaturista “Siné” (pseudônimo de Maurice Sinet), então com 79 anos, escreveu um comentário satírico no “Charlie Hebdo” sobre Jean Sarkozy, filho do então presidente Nicolas Sarkozy, foi acusado imediatamente pelo jornalista do “Le Nouvel Observateur”, Claude Askolovitch, de “anti-semitismo”.

     No seu texto, Siné escreveu: “Jean Sarkozy, digno filho de seu pai e já conselheiro geral do (partido) UMP saiu quase sob aplausos de seu processo por fuga em uma lambreta. A Justiça o declarou inocente! Diga-se de passagem que o acusador é árabe. E não é tudo: ele declarou que vai se converter ao Judaísmo antes de casar-se com sua noiva, judia, e herdeira dos fundadores de Darty. Vai longe, esse menino!”.
  
   Siné foi demitido do “Charlie Hebdo”. Rejeitou qualquer pedido de desculpas, dizendo que preferia cortar os próprios testículos. O diretor do jornal, Philippe Vall, acabou por despedir o cartunista, sob pressão do Congresso Judaico da Europa. O caso Siné gerou muitas críticas a Vall, que se diz grande defensor da liberdade de expressão - desde que essa “liberdade” não atinja os judeus. Siné, hoje com 86 anos, recorreu aos tribunais e, em 2010, o “Charlie Hebdo” foi obrigado a pagar uma indenização de 90 mil euros.

     É muito esclarecedor o uso que a direita mundial está fazendo do atentado ao “Charlie Hebdo”. Conhecidos fascistas que se fazem passar por democratas - entre eles o genocida Benjamin Netanyahu, primeiro ministro de Israel - participaram da passeata em Paris, no dia 11, clamando pela liberdade de expressão. O “Charlie Hebdo” está sendo transformado em símbolo de uma liberdade de expressão que admite o insulto, a afronta, o desacato, a injúria, o vitupério, o abuso, a infâmia – todos os tipos de ofensas imagináveis. Desde que sejam contra o Cristianismo e o Islamismo.

    E uma parte do povo francês - aqueles que não possuem senso crítico e se deixam moldar enquanto massa - acredita que dizer “Je Suis Charlie” (“Eu sou Charlie”) é o mesmo que lutar por uma liberdade de expressão com base na gratuita ofensa contra as religiões. Os franceses que já não gostam de qualquer tipo de estrangeiro, principalmente se não pertencer à Europa branca e dominadora, agora estão sendo induzidos a detestar as religiões. Em troca, lhes é acenado o direito ao insulto e à ofensa e a total ausência de ética e de moral. Não compreendem ou não querem compreender que esse tipo de atitude constitui uma afronta á mais antiga forma de liberdade de expressão, que é a liberdade de expressão religiosa.

    Alguns que se imaginam mais cultos e eruditos chegam a citar a famosa frase "I disapprove of what you say, but I will defend to the death your right to say it" ("Eu discordo do que você diz, mas vou defender até a morte seu direito de o continuar dizendo", em tradução livre) para justificar as ofensas contidas no “Charlie Hebdo”. Atribuída erradamente a Voltaire, a frase pertence à escritora Evelyn Hall, que também fez uma biografia de Voltaire e confessou que errou ao colocar a frase entre aspas, inadvertidamente na primeira pessoa.

     De qualquer maneira, a frase serve como exemplo de discussão democrática entre pessoas com idéias divergentes, onde se inclui um mínimo de educação e respeito ao próximo – estando pressuposta, nessa discussão, aquela outra frase: “O meu direito acaba quando começa o do meu vizinho”.  Jamais poderá ser atribuída como o direito à ofensa, calúnia ou difamação – conforme tem feito o “Charlie Hebdo”, sob pretexto de “liberdade de expressão”. O “Je Suis Charlie” traz subliminarmente a possibilidade do “direito” ao ultraje e à humilhação, confiando que os ultrajados e humilhados não terão como se defender, pois o seu poder político é mínimo. Trata-se, portanto, de provocação, com o claro intuito de gerar um revide violento que levará à criminalização do ofendido.

     É o que está acontecendo na França e em grande parte da Europa, que se pensa “civilizada”. Desde o atentado ao “Charlie Hebdo”, no dia 7, foram constatados mais de 80 casos de agressões contra muçulmanos, como ataques pessoais, tiros e insultos. Uma verdadeira explosão de islamofobia. A própria perseguição aos suspeitos do atentado resultou nas mortes dos perseguidos - óbvios crimes do Estado francês, que lembram “queima de arquivos” e levantam dúvidas a respeito dos verdadeiros autores do atentado, uma vez que o objetivo, que foi o de levantar os franceses e parte do mundo domada pela mídia, contra o Islã, foi alcançado.

    Mais que um protesto, o “Je Suis Charlie” está se transformando em uma senha que se espalha pela França, pelo restante da Europa e demais países vassalos do imperialismo, significando “Abaixo o Islã!” e, nas entrelinhas, “Abaixo a Igreja Católica!”. Não será de estranhar se os muçulmanos, assim como aconteceu com os ciganos, forem expulsos da França e de muitos outros países europeus. O “Je Suis Charlie” poderá se revelar como a senha do ódio e da intolerância em um mundo que, cada vez mais, é levado por indução e convencimento midiático a abdicar de todos os valores morais e éticos para dar lugar à globalização de um carnaval de mentiras e torpezas que visa domesticar as pessoas através do vazio das suas emoções. Com esse mundo e com essa senha eu não concordo, a exemplo de milhões que ainda resistem. Eu não sou Charlie. Je Ne Suis Pas Charlie.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

O ATENTADO AO CHARLIE HEBDO E A ISLAMOFOBIA



Ninguém em sã consciência pode aprovar o ataque ao jornal francês “Charlie Hebdo”, especializado em satirizar o Cristianismo e o Islamismo. Principalmente o Islamismo. No entanto, o ódio ao Islã, destilado continuamente pelo jornal, provocou a reação que hoje o mundo inteiro condena. O jornal sofria ameaças de muçulmanos desde 2006, quando publicou charges satíricas de Maomé, sob protestos do mundo islâmico ao perceber na publicação mais uma arma da Nova Ordem, que tem como um dos seus principais objetivos destruir as grandes religiões. Mais do que um jornal satírico, meramente “libertário”, o “Charlie Hebdo” coloca-se a serviço do sistema que o gerou ao apoiar as ações do novo iluminismo que invade países muçulmanos não só para roubar suas riquezas, mas para impor uma visão atéia e materialista do mundo.


    No ano 2000, o jornal publicou um artigo, assinado pelo então editor Phillipe Vall, que chamava os palestinos de “não-civilizados”. A matéria foi criticada até dentro da redação e, na época, a jornalista Monica Chollet protestou contra o texto e foi demitida. Em 2009, o jornal publicou em sua capa uma caricatura do profeta Maomé dizendo “É difícil ser amado por idiotas”. Muçulmanos do mundo inteiro reagiram e o jornal foi processado e, naturalmente, absolvido. Aquela edição rendeu muito para os donos do “Charlie Hebdo”, que venderam mais de trezentas mil cópias. Na época o presidente Jacques Chirac condenou a manchete, dizendo que poderia “inflamar paixões”, mas os presidentes da França que sucederam Chirac, Nicholas Sarkozy e François Hollande apoiaram o jornal em nome da “liberdade de expressão”. 


    Os novos cruzados do século 21, que invadiram Afeganistão, Iraque, Marrocos, Tunísia, Líbia, Egito e financiam um estranho Estado Islâmico para ajudá-los a invadir a Síria e o Irã, como primeiro passo para um ataque frontal à Rússia, mataram milhares de pessoas, destruíram sedes de redações de jornais e revistas nos países invadidos e a mídia oficial não apenas fingiu ignorar o que estava acontecendo como saudou os soldados da OTAN e dos Estados Unidos como heróis do mundo ocidental.  

    A mesma mídia hipócrita convoca passeatas em protesto contra a “liberdade de expressão” devido ao ataque ao “Charlie Hebdo”, jornal que sempre atacou a liberdade religiosa de expressão e atende aos anseios do sionismo internacional. Curiosamente, essa mesma imprensa rotula o “Charlie Hebdo” de jornal de extrema-esquerda, mesmo que ela faça o jogo da direita. Não seria necessária a reação dos fascistas líderes europeus para se ter uma idéia da linha editorial do jornal. No Brasil, a edição virtual da caolha revista Veja esbraveja porque aqui não foram realizados grandes protestos populares contra o atentado em Paris. Não é de hoje que a Veja se revela sionista e ataca despudoradamente a religião islâmica. 


    Em 2011, o “Charlie Hebdo” sofreu o primeiro atentado. Depois de publicar uma charge do profeta Maomé na capa e várias matérias criticando a Sharia (lei islâmica), durante a madrugada de 02/11/2011 um coquetel molotov foi atirado contra a sede do jornal, provocando um incêndio sem vítimas. Em 2012, o jornal voltou a publicar charges do profeta Maomé, inclusive com caricaturas do Profeta nu. Laurent Fabius, então ministro das Relações Exteriores da França, disse que a publicação estava “derramando óleo em fogo”. 

    Não adiantou. O jornal se esmerava em achincalhar não só com a religião muçulmana, como também com o Cristianismo, especialmente a Igreja Católica Romana. Contava com a proteção do Estado francês e de um povo declaradamente xenófobo. A França é um país imperialista. Grande parte da África foi invadida pelos franceses durante os séculos 19 e 20 e, em 2013 a França voltou a invadir o Mali, sob a velha desculpa de “combater o terrorismo”. Os “terroristas” seriam os muçulmanos do Mali. Em 1994, os franceses provocaram um genocídio em Ruanda, matando de 800 mil a um milhão de integrantes das etnias tutsi e hutu. Nada disso foi veiculado pela imprensa imperialista. Dizia-se que era uma guerra contra o terrorismo.


    A “Islamofobia” é uma expressão que foi cunhada a partir do ódio de determinadas pessoas ou grupos de pessoas contra o Islamismo. Nos Estados Unidos, Canadá, na maioria da Europa e notadamente na França esse ódio é gigantesco. Também no Brasil grupos de direita, especialmente na imprensa fascista, são claramente islamofóbicos, esmerando-se em atacar muçulmanos e defender países genocidas, como Estados Unidos e Israel. 

     O atentado ao “Charlie Hebdo” aconteceu nos dias em que foi publicada uma edição do jornal destacando o autor Michel Houllebecq, acusado de incitar a islamofobia ao lançar também na quarta-feira o romance “Soumission”. No cartum da capa, vestido de mago o romancista aparece fazendo previsões: “Em 2015 eu perdi meus dentes, em 2022 cumpri o Ramadã”. Uma das matérias desta última edição, assinada por Bernard Maris – uma das vítimas do atentado -, elogia o romance e o autor Houllebecq que imagina uma França dominada por muçulmanos em 2022, com a instituição da poligamia, mulheres sendo obrigadas a usar véus e todo tipo de estereótipos cultivados pelos sionistas para difamar muçulmanos. O romance também tem adversários, como o jornalista Nicolas Gary, criador da revista literária “ActuaLitté”, que afirmou que se sentiu “sujo” pelo romance que transmite “ódio e medo”. No mesmo dia houve o ataque ao “Charlie Hebdo”. 

   Mesmo que a suspeita Al-Qaeda (organização financiada pelos Estados Unidos para combater a União Soviética nos anos ’80) e o estranhíssimo “Estado Islâmico” tenham ficado muito felizes com o atentado em Paris, ao contrário do que acontece quando de atentados, até agora nenhuma organização muçulmana reivindicou a autoria do ataque. Os suspeitos apontados foram rapidamente perseguidos e mortos, mas nessas ocasiões sempre existem suspeitos e, geralmente, muçulmanos, que são mortos devido à mera suspeição. O Estado de Direito é uma formalidade que sempre cede ao relativismo. Observe-se que, pelas imagens divulgadas, o ataque ao jornal foi realizado como típica ação de comandos usando roupas camufladas e armas automáticas. Fica-se a pensar de que maneira, em um país super-vigiado como a França, pessoas podem conseguir roupas camufladas e treinar com fuzis AK-47. Outra curiosidade é o fato do cartunista Stéphanne Charbounier, o “Charb” – que também morreu no atentado – em sua última charge ter “previsto um atentado durante este mês. “Ainda sem atentados na França” – aparece escrito no alto da ilustração. Mais abaixo, alguém fantasiado de terrorista diz: “Esperem! “Temos até o fim de janeiro para fazer nossos votos”. 


    O atentado ao “Charlie Hebdo” veio a propósito para açular ainda mais os grupos xenófobos e racistas contra as minorias negras e muçulmanas que são severamente discriminadas na França e na maioria da Europa. Desde quarta-feira, vários centros muçulmanos foram alvos de ataque. Na madrugada de quinta-feira, uma granada explodiu em um edifício em Le Mans, onde fica uma mesquita. Uma das paredes da mesquita também foi perfurada por uma bala. Em Port La Nouvelle uma sala usada por muçulmanos para rezar foi alvo de disparos de balas de chumbo na noite de quarta-feira. No começo da manhã de quinta-feira, em Villefranche sur Saône um restaurante próximo à mesquita da cidade sofreu um atentado a bomba. 

     Neonazistas do mundo inteiro estão muito felizes com o atentado ao “Charlie Hebdo”. A página de Marine Le Pen, líder do partido Frente Nacional aumentou quase 300% as visitas em apenas 24 horas. Le Pen defende a expulsão das minorias étnicas e a volta da pena de morte na França. Não é impossível que o apelo emocional promovido pela mídia do sistema mobilize multidões no mundo inteiro a favor de novas guerras contra países muçulmanos, como o Irã. Os Estados Unidos, que estão transferindo os armamentos que estavam no Afeganistão para a Ucrânia, onde pretendem abrir nova frente de batalha contra a Rússia, depois das derrotas no Afeganistão e no Iraque provavelmente se sintam entusiasmados para invadir de vez a Síria. 

    Anuncia-se agora uma nova edição do “Charlie Hebdo” que venderá mais de um milhão de exemplares. Os donos do jornal, que faturam com o sangue de seus jornalistas e cartunistas assassinados, devem estar muito felizes. 

     Uma pena que cartunistas reconhecidos, pessoas talentosas que poderiam ter dedicado as suas vidas a ações construtivas se tenham deixado envolver pelo sistema a ponto de morrerem por uma causa injusta e ignóbil – qual seja a discriminação racial e religiosa. O atentado ao “Charlie Hebdo”, tenha ou não sido praticado por muçulmanos furiosos, ou, como no caso das Torres Gêmeas, revele-se como uma fraude para incitar o ódio a uma raça e a uma religião, trará inevitáveis conseqüências conflituosas, somente favorecendo aqueles que se utilizam das armas para formar um império mundial onde as religiões não terão vez, crentes serão chamados de fanáticos e onde a busca espiritual será considerada um crime contra a deusa Ciência, casada com o deus Mercado.
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