quarta-feira, 27 de julho de 2011

A CRISE DELES E A GERAÇÃO Z


Estamos acostumados em demasia com os filmes norte-americanos, com as manias norte-americanas, com o modo de pensar norte-americano, com os costumes e hábitos dos norte-americanos e com todo o lixo da cultura norte-americana que é jogada sobre nós via governo, multinacionais, fundações pseudo-culturais, ONGs e estamos ficando tão aculturados que o Brasil já assumiu que realmente é uma filial dos Estados Unidos.

     Dia desses passei por um grupo de três jovens, desses que dizem pertencer à “geração Z” e um deles vestia uma camiseta onde estava escrito: “I Love USA”. Aquele que ia ao lado dele vestia uma camiseta onde estava escrito “Yes, We Can” e o terceiro, que vinha um pouco atrás vestia uma camiseta que dizia em português: “Eu Também”.

     O povo brasileiro é o “Eu Também” da História. Acredita em tudo que venha lá do Norte das Américas e, de preferência, que traga um “made in USA”.

     Tenho assistido os noticiários nos canais de televisão que se dizem brasileiros, mas que são todos do tipo “Yes”, porque outros não existem no Brasil, que eu saiba, e todos eles se mostram extremamente preocupados, porque os Estados Unidos poderá “quebrar”. Guido Mantega é entrevistado para dizer que se isso acontecer será muito ruim para todos. Péssimo para a economia mundial. E todos os economistas fazem figa para que tal não aconteça. Façamos figa.

     Como o dólar está desvalorizando, Mantega e seus amigos responsáveis pelos negócios do governo e pelos negócios que não são exatamente do governo, mas que interessam ao governo, tem comprado diariamente milhões de dólares, ou seja, tem gastado bilhões de reais para comprar uma moeda que está apodrecendo artificialmente para garantirem as exportações dos grandes empresários brasileiros. Afinal, temos acordos comerciais com os Estados Unidos, que é nosso parceiro de negócios preferencial desde antes da devassa época do Lula e se eles forem para o brejo devemos acompanhá-los e coaxar juntos.

     São coisas assim que esses noticiários “Yes” noticiam. Que os Estados Unidos poderão ficar insolventes devido à falta de dinheiro para pagarem a dívida pública. A dívida pública: este é o ponto. É por isso que os Republicanos, que representam os grandes investidores e banqueiros norte-americanos pouco estão ligando para a provável crise financeira do seu próprio país.

     Não é com eles. Quem vai pagar o pato é o povo, como sempre. Os aposentados e pensionistas, os trabalhadores de todos os setores, os pequenos investidores que caíram no canto de sereia de que comprar títulos do Tesouro dos Estados Unidos seria um bom negócio, a classe média deslumbrada, que perderá um pouco o seu poder de compra – e comprar é tudo para eles. Tanto que se perguntarem para alguém da classe média norte-americana qual é o seu sonho de consumo, com certeza esse alguém responderá que é consumir o que aparecer. Todos os dias.

     Mas, principalmente aposentados, pensionistas e trabalhadores sofrerão. Assim com está acontecendo na Grécia, na Irlanda, na Itália, na Espanha, em Portugal... O capitalismo, para sobreviver enquanto capitalismo, necessita dessas fases de aparente recessão para “limpar o mercado”. E “limpar o mercado” significa deixar somente os grandes bancos com todo o capital. Para depois voltarem ao crescimento acelerado tão necessário a um verdadeiro país capitalista. Não se preocupem os que amam “Yes”: não haverá perigo de quebrar enquanto houver guerra na África, Oriente Médio e outras frentes de batalha que deverão ser abertas para que a indústria bélica, em todos os seus setores, seja a grande alavanca do progresso.

     Por falar em guerra, um dos principais compradores de títulos do Tesouro norte-americano tem sido a China. A China, que acreditando nas antigas leis de mercado, principalmente na lei de oferta e procura, procura vender os seus produtos mais baratos que os de outros países e conquista mercados por todo o mundo. Inclusive no Brasil, apesar do esforço do governo brasileiro em evitar que o seu povo compre produtos baratos. Afinal, estamos presos comercialmente aos Estados Unidos e à Europa. Temos alguns acordos comerciais com a China, mas somente alguns.

     A crise deles será ótima para eles. Não para o povo deles, que sempre é colocado em último plano, mas para s grandes empresários e banqueiros. Alguns quebrarão, mas somente os mais fracos. Além disso, é a grande chance para os republicanos – aquele partido que realmente manda nos Estados Unidos – mostrarem ao povo ignaro que Obama não é o cara, como se pensava e, assim, evitarem a sua reeleição.

     Aqui, os noticiários do tipo “Yes” – que são todos, que eu saiba – continuarão a falar tristemente da crise norte-americana, teremos entrevistas e mesas-redondas a respeito do palpitante assunto e o povo talvez coloque velas nas janelas e reze para que os Estados Unidos se recupere logo; a presidenta dirá célebres frases e Mantega se mostrará duro para conter a guerra fiscal. E a “geração Z” continuará consumindo os produtos deles e dizendo: “Eu Também”.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

O PARADOXO DE SHYLOCK







Para quem leu “O Mercador de Veneza”, de Shakespeare, o tema não será estranho. Para quem não leu, faço um resumo.

     Antônio é um mercador que está com todos os seus navios e, portanto, todo o seu capital, no mar, e espera o retorno desse capital, talvez dobrado ou triplicado devido aos negócios. Nesse meio tempo, um amigo dele pede um empréstimo, mas como Antônio não dispõe de dinheiro, no momento, vai à casa de Shylock (um judeu agiota que odeia Antônio) e consegue a quantia desejada, mas, em troca, Shylock estabelece um prazo para o pagamento e no caso desse prazo acabar, ele, Shylock, terá direito a cortar uma libra de carne do peito de Antônio “perto do coração”. O acordo é feito e assinado em cartório.

     Passa o tempo e, depois de muitas peripécias, chega o dia em que Antônio é cobrado por Shylock. Os navios de Antônio ainda não voltaram e ele é obrigado a ir a juízo. Naquele dia, chega uma pessoa para julgar a causa - Pórcia, considerada pelos especialistas na literatura de Shakespeare uma das suas melhores personagens femininas, ao lado de Lady Macbeth. Vestida de homem e passando por célebre jurista, Pórcia dá ao judeu o direito de cortar uma libra de carne do peito de Antônio, “perto do coração”, conforme está estipulado no acordo. Mas alerta Shylock que não poderá cortar mais que uma libra, não poderá tirar sangue de Antônio, porque isso não está estipulado no contrato e, tampouco, provocar qualquer dano à saúde de Antônio.

     O restante da estória vocês podem adivinhar, mas seria melhor que lessem: Shylock desiste de cortar a libra de carne do peito de Antônio e acaba sendo penalizado pelo Doge de por desejar o mal de uma pessoa da República de Veneza. Os navios de Antônio regressam a salvo, os pares se encontram, casamentos são realizados e tudo fica bem.

     Esta a estória. Mas ela revela uma interessante verdade que poderá ser chamada de “Paradoxo de Shylock”. E essa verdade diz respeito às penas infligidas às pessoas pelo Estado e até a conclusões de juízes em causas cíveis que, na aparência, não são penas, mas em seus efeitos atuam como tais.

     Atualmente, o poder dos juízes, no Brasil, é imenso e eles podem suavizar a vida das pessoas ou complicar de tal maneira a ponto de provocar trágicas consequencias.

     O Paradoxo de Shylock consiste em que toda pena aplicada traz em si, implicitamente, outras penas, o que faz com que a primeira pena, a pena oficial, seja responsável por outros danos ao apenado.

     Um exemplo. Uma pessoa é presa por um crime grave, é julgada e condenada e um determinado número de anos na prisão. A pena é a de prisão, somente isso. No entanto, na prisão, a pessoa estará sujeita a violações, maus tratos, péssima alimentação, superlotação das celas e toda uma série de “outras penas” não explicitadas na pena oficial. O que torna o Estado – que, pela Constituição, é responsável por todos os cidadãos, presos ou não, – infrator.

     É um paradoxo. O próprio Estado que condenou aquele que infringiu a lei torna-se, igualmente, passível de ser julgado e condenado. No entanto, o Estado, que é uma palavra que foi usada inicialmente por Maquiavel, segundo o jurista Norberto Bobbio, e que designa aquele conjunto de instituições que controlam e administram uma nação – segundo o dicionário Houaiss – não pode ser julgado ou penalizado, porque teoricamente está acima de todos.

     Mas aqueles que representam o Estado podem e devem ser julgados pelos seus atos.

     Assim, voltando ao mesmo caso da pessoa aprisionada e sofrendo maus tratos, ou simplesmente aprisionada – porque a sua pena foi apenas de prisão – mas não tendo direito a levar uma vida minimamente confortável ou em acordo com a vida que levava anteriormente, antes de ser aprisionada, terá ela direito de mover uma ação contra o juiz ou contra o representante da instituição que não só a aprisionou, mas mudou a sua vida para pior, além do fato de estar aprisionada? O que vale mais para o Estado: as suas instituições ou as pessoas que o compõem?

     Um outro caso que conheço, bem simples e bem comum. Um juiz nega AJG (Assistência Judiciária Gratuita) para uma pessoa que não tem dinheiro, comprovadamente, mas que é herdeira de bens imóveis que estão sendo inventariados. O juiz vai mais além: nega alvará para que um dos bens seja vendido para pagar as dívidas do inventário e obriga a pessoa a prestar contas dentro de cinco dias.

     Acrescenta o juiz que caso as suas ordens não sejam cumpridas, os bens que a pessoa ainda não recebeu e aos quais tem direito por testamento irão a leilão.

     Quais as conseqüências de um caso assim, caso a pessoa não tiver um bom advogado, ou advogada, que prove que a decisão do juiz não só é irregular, mas ilegal?

     As conseqüências poderão ser muitas, porque o juiz, num caso como o exemplificado acima estará atentando contra a moral da pessoa, ameaçando-a materialmente, fazendo tanta pressão que a pessoa poderá perder o controle. Poderá pensar em suicídio e, até, em homicídio. Poderá infringir leis e será julgada e penalizada pelo Estado que a levou a infringir as suas leis.

     E novamente temos o Paradoxo de Shylock – o Estado, através de um juiz – agindo contra o cidadão, mas “em nome da lei”.

     O que vale mais: o cidadão, ou o conjunto de cidadãos que compõem o Estado ou o Estado, através das instituições que o representam, que atuam através de pessoas, muitas vezes imbuídas de um poder demasiado e que confundem conciliação com devastação?

     As instituições do Estado devem ser repensadas, principalmente no que tange às suas relações com os cidadãos. Urgentemente. Ou o que é chamado de “máquina estatal” fará de todos nós passivas e pequenas máquinas que poderão ser montadas e desmontadas ao bel-prazer de pessoas demasiado poderosas, mas também demasiado maquiavélicas.

domingo, 24 de julho de 2011

MARTA NA SELEÇÃO!


Agora entendo porque o time de futebol do Brasil – o time masculino – perdeu aqueles quatro pênaltis contra o Paraguai: medo. Talvez um medo subconsciente, não admitido, mas medo. Quando viram o Uruguai vencer a Argentina na partida anterior, as pernas tremeram. Não por medo do Paraguai, mas do Uruguai. Alguma coisa lhes dizia, mesmo que no subconsciente de jogadores midiatizados, que se vencessem o Paraguai, inevitavelmente teriam que enfrentar o Uruguai em uma próxima partida. E seriam goleados.

     Também estou começando a entender porque em uma dessas insossas partidas amistosas daquela seleção dita brasileira, a torcida começou a pedir a Marta na seleção. É que a seleção de futebol masculino do Brasil está mais pra feminina que pra masculina. E desde já peço que as jogadoras de futebol feminino do Brasil não me entendam mal. É claro que elas jogam melhor que a seleção masculina, isso é inegável. Pelo menos, quando perdem uma Copa do Mundo, perdem de cabeça erguida, mesmo que tenham cometido algum erro aqui e ali, porque sabem que fizeram tudo o que puderam. E quem faz o que pode faz o que deve.

     Mas a seleção brasileira dita masculina de futebol é só penteado. Penteado e aves raras. Algumas, não tão raras, que ficam só no penteado. E talvez por isso, a torcida, que não é boba, tenha pedido Marta na seleção. Sem dúvida, ela joga muito melhor que o Ganso, o Neymar e outros menos midiatizados e, até onde eu sei, não existe nenhuma lei no futebol que impeça seja feita uma seleção mista, com homens e mulheres. Se existe, seria uma estupenda discriminação.

     Até no jogo de xadrez não existe mais essa discriminação e lembro que Mequinho, há dois ou três anos, levou uma bela surra de uma chinesinha que ainda não tinha vinte anos. E não foi só o Mequinho. Então, porque não convocar a Marta? Lembro da Marta, porque é a que se destaca mais, mas existem outras jogadoras que mereceriam ser convocadas pelo Mano. Ou pelo próximo treinador.

     Mas há quem diga que as convocações são feitas através dos empresários dos jogadores, que informam os treinadores quais os jogadores que deverão ser convocados, ao mesmo tempo em que fazem uma gigantesca campanha na mídia para que os jornalistas não cansem de falar os nomes dos seus jogadores, até o povo torcedor acreditar que realmente eles empresariam craques excepcionais.

     Ocorre que os jogadores acabam também acreditando que jogam alguma coisa, são contratados para fazer caras e bocas em propagandas de televisão e avisados de que são craques – mesmo que fiquem desconfiando lá no seu íntimo. Finalmente, são convocados para a seleção, momento em que passam a acreditar que talvez seja verdade.

     Então, porque não a Marta na seleção? Por machismo? Mas é justamente por essa razão que estou pedindo a convocação da Marta. A Marta é muito bonita, sensual e feminina, mas é muito “macha” quando joga futebol. Divide, vai atrás da bola, faz belos passes, corre, conclui, não tem medo de encontrões ou caneladas – exatamente o contrário dos jogadores da seleção dita masculina de futebol que, na primeira dividida pedem para sair do jogo, porque valem muitos milhões de euros e não podem se machucar sob pena de não serem bem vendidos.

     Marta nem pensa nisso. Ela quer é mostrar o seu futebol, que extasia a todos. Mas, se tiver que dar algum encontrão nem pensa duas vezes.

     E os jogadores que tem atuado na seleção – os favoritos da imprensa e os nem tanto – não mostram nenhum machismo, melhor dizendo, nenhuma macheza. Vá lá que a desconfiança íntima deles tenha fundamento e descubram que realmente não são craques e que somente as suas presenças não resolvem as partidas, mas poderiam ser um pouco mais machos, por favor!

     Essa coisa de penteadinho, coraçãozinho e beijinho na camisa quando, por acaso, conseguem fazer gols contra seleções de pescadores, como a da Costa Rica, não cheira muito bem. Talvez até cheire bem, porque devem usar perfume, mas não cai bem. Ou talvez caia bem, porque são especialistas em cair, mas não pega bem. É isso: não pega bem. Eles são tudo, menos “pegadores”. Na hora da dividida, preferem cair antes.

     E caíram antes na decisão por pênaltis contra o Paraguai. Uns dizem que devido ao excesso de comida transgênica, mas a minha intuição é que foi por medo de enfrentar uma seleção como a do Uruguai.

     Mano Menezes disse que “não tenham medo que a seleção não vai chegar cambaleante em 2014”. Já é uma esperança. Atualmente existem cadeiras de rodas especiais. Mas, mesmo com cadeiras de rodas ou muletas e mesmo sendo a Copa do Mundo de 2014 no Brasil, o que já lembra cambalacho, porque este é o país da corrupção, mesmo com todas essas vantagens antecipadas, Marta na seleção!

sexta-feira, 22 de julho de 2011

ESTORINHA


Era uma vez dois reinos inimigos. Tinham, já, se enfrentado em várias batalhas, que sempre ficaram indecisas e só provocaram morte e destruição. Resolveram, então, competir de outras maneiras. Um dos reinos era governado pelo rei El; o outro pelo rei Al. Este, o rei Al, depois de conferenciar com os seus ministros e ouvir o povo (naquele tempo os reis ouviam o povo) decidiu construir grandes avenidas. O rei El fez o mesmo e acrescentou à margem das avenidas, belíssimos jardins.

     Sabendo disso, o rei Al não só acrescentou belíssimos jardins à margem de suas avenidas como, também, mandou plantar árvores frutíferas, para que todo o povo pudesse aproveitar a natureza e nutrir-se com ela.

     O rei El não deixou por menos; plantou árvores frutíferas nos jardins e acrescentou belas moradias para todos os seus súditos que ainda não tinham casa própria. O rei Al construiu bela casas para todos os que não as tinham ainda, e acrescentou terrenos onde os súditos poderiam plantar de tudo e terem uma vida mais folgada. O rei El fez o mesmo, e, para não parecer que estava apenas imitando os feitos do rei Al, deu ao povo isenção de impostos sobre as moradias e terrenos que doou. O rei Al também isentou os seus súditos de impostos sobre as casas e terrenos dados ao povo, acrescentando água e luz elétrica para todos. O rei El fez o mesmo.

     E assim os reinos cresciam a prosperavam e tudo o que os súditos de ambos os reinos mais desejavam era que essa rivalidade não terminasse nunca.

     Mas eis que, certo dia, quando os dois reis estavam justamente festejando a festa de casamento dos seus filhos – a filha do rei Al com o filho do rei El – e os dois reinos estavam em festa e chegavam congratulações e presentes de todos os reinos da Terra, o Rei do Norte, que tinha sérios problemas biliares e não gostava de festas, mandou um e-mail para os dois reis, extensivo aos noivos, que dizia: “EU SOU UM IMPERADOR”.

     Os reis Al e El receberam o e-mail, acharam graça e enquanto tomavam mais uma taça de champanhe, pois estavam felizes e a felicidade costuma atrair taças de champanhe, responderam em conjunto para o Rei do Norte: “PARABÉNS PELO NOVO TÍTULO, MAJESTADE!”.

     O Rei do Norte não se deu por satisfeito com a resposta recebida e enviou um novo e-mail: “EU SOU UM IMPERADOR PORQUE TENHO MUITAS TERRAS!”. Os dois reis, que já estavam agastados com os e-mails do Rei do Norte, novamente responderam em conjunto: “QUE BOM! ESPERAMOS QUE SEJAM TERRAS FRUTÍFERAS E COM CIDADÃOS FELIZES”.

     O Rei do Norte recebeu aquele e-mail e ficou furioso. Com que então aqueles pequenos reizinhos desejavam que ele tivesse terras frutíferas e cidadãos felizes?! Que desaforo! E enviou um novo e-mail, porque naquela época as pessoas trocavam muitos e-mails por qualquer razão. E escreveu o seguinte: “ISSO NÃO INTERESSA. O IMPORTANTE É QUE ALÉM DE MUITAS TERRAS EU TENHO MUITAS ARMAS E MUITOS SOLDADOS”.

     O rei Al e o rei El começaram a achar estranhos os e-mails do Rei do Norte. Que atraso! Todos sabiam que o Rei do Norte sofria de ataques de bílis e tinha Complexo de Édipo, mas achar que muitas terras, muitos soldados e muitas armas era melhor que muita felicidade revelava um atraso imenso... Será que o Rei do Norte, além de todos os seus problemas estava ficando debilóide? Tudo era possível...

     Viajantes que tinham visitado o reino do Norte diziam que lá existiam pessoas as mais estranhas. Alguns chegavam a dizer que naquele reino não havia mais casamentos, porque tinham horror ao amor. Outros afirmavam que as poucas crianças que restavam passavam o dia inteiro jogando joguinhos eletrônicos; outros, ainda, afirmavam que até aqueles cientistas loucos de antigamente que tinham construído armas terríveis, devido à sua loucura, armas que tinham destruído grande parte da terra e a transformado em desertos que somente agora, depois de séculos, começavam novamente a frutificar, porque a natureza é paciente e sábia, aqueles cientistas estavam de volta no reino do Norte. Não aqueles de antigamente, é claro, que tinham se suicidado logo após lançarem as suas armas contra povos indefesos, mas sucessores deles, que tinham descoberto antigos escritos, ocultos por muito tempo em mosteiros, e que ensinavam como fabricar novamente aquelas armas.

     O rei Al e o rei El lembraram daqueles comentários dos viajantes e os comentaram novamente entre si, mas não ficaram demasiado alarmados. O mais importante era a alegria dos seus filhos recém casados e a felicidade de todos os cidadãos, que prosperavam em harmonia com a natureza. Pensar em guerras até fazia mal. Eles mesmos não tinham cometido esse mal há alguns anos? Resolveram jogar uma partida de xadrez e tentar esquecer o Rei do Norte.

     Foi quando receberam mais um e-mail do Rei do Norte: “VOCÊS ESTÃO JOGANDO XADREZ, É? ESTÃO FELIZES, É? POIS FIQUEM SABENDO QUE EU TENHO ARMAS ATÔMICAS, HEHE”.

     Os dois reis pararam a partida e disseram, quase ao mesmo tempo: “Espiões!”. “Ó céus - disse o rei El – quantas vezes eu disse ao meu povo que espionar os outros é coisa muito feia!”. O rei Al acrescentou – “Mas sempre existem aqueles que preferem fazer coisas feias, majestade. Parece ser um hábito muito antigo...”. – “Penso que deveremos escrever ao Rei do Norte. Parece que ele precisa do nosso auxílio” – disse o rei El.

     Então começaram a mandar e-mails para o Rei do Norte. O rei Al escreveu, desta vez em letras minúsculas:

     - Majestade, se lançar seus mísseis atômicos sobre nós ou contra qualquer outro povo somente receberá desertos e pesadelos.

     O rei El acrescentou:

     - Observe a beleza do por do sol, o cantar dos pássaros e os jovens se amando. Lembre da sua juventude e da sua infância.

     E continuaram.

     - Conte piadas para os amigos.
     - Adote um gato ou um cachorro, ou ambos. De preferência os vira-latas, porque são os mais espertos.
     - Venha jogar xadrez conosco.
     - Dê ao seu povo as armas da paz.
     - Desenhe, pinte, escreva poesias.
     - Despeça os seus cientistas nucleares ou os mande construir estradas.
     - Estradas com belos vinhedos às margens.
     - E pomares com todo o tipo de árvores frutíferas.
     - Aos que continuarem a brincar com o átomo e a natureza, coloque pó-de-mico em suas roupas.
     - Ou os faça jejuar 40 dias no deserto até alcançarem a iluminação.
     - Que poderá ser o uso da energia solar. É muito mais barato que construir reatores nucleares.
     - Lembre-se do amor.
     - Não tenha medo da vida nem de ninguém.
     - Nós gostamos de você.

     Lá no Reino do Norte, o Rei do Norte recebeu aquela enxurrada de e-mails e, no início, não entendeu nada. Depois, começou a pensar... Escrever poesias... Há quanto tempo ele não escrevia uma poesia! Pintar, desenhar, construir...

     Desceu as escadas do seu palácio e encontrou alguns servos que tinham capturado um gato. – Por que vocês pegaram esse gato? – perguntou, demonstrando seriedade.

     - Ele estava miando muito alto e pensamos que poderia perturbar Vossa Majestade – disse um deles.

     - Mas vocês não percebem que se ele estava miando alto é porque precisa de alguma coisa? Talvez esteja com fome, com frio, com sede. Comprem ração especial para ele, dêem água e depois o coloquem nos meus aposentos. Imediatamente!

     Os servos saíram correndo para cumprir as ordens do Rei do Norte, mas ele os chamou e disse:

     - Por que vocês saíram correndo?

     - Porque Vossa Majestade ordenou e suas ordens devem ser cumpridas imediatamente, conforme já nos ordenou muitas vezes com a sua poderosa voz – disse o servo que estava mais perto.

     - Que bobagem! Peçam ração pelo telefone, dêem água aqui mesmo do palácio, de preferência filtrada. Não precisam correr para fazer isso. Agora me respondam: “Quantos patinhos cabem numa canoa?”

     Os servos estavam surpresos. Um deles atreveu-se: - Dois, Majestade?

     O Rei sacudiu a cabeça. – Serão três?- disse outro. Novamente o Rei disse que não. – Quem sabe quatro? – perguntou o terceiro.

     - Seus bobos! A resposta correta é: “Depende do tamanho da canoa!”. E riu-se como há muito tempo. Os servos também se riram, ainda um pouco tímidos, e foram cumprir as suas funções. Foi quando o Rei saiu para o pátio e percebeu que o dia estava findando. Olhou para o horizonte, viu o sol se pondo e sentiu a beleza daquele momento. Mas alguém o chamou para avisá-lo que os cientistas nucleares já estavam começando a contagem regressiva e só esperavam a sua presença para que desse a ordem de disparar. Correu para lá e, quando chegou, gritou para os cientistas:

     - Parem com isso, seus cabeças de abóbora! Desliguem os reatores, destruam os mísseis e as ogivas!

     Alguns tentaram sublevar-se e foram presos, por desacato. Mandou os demais, para as masmorras do reino para que rezassem por 40 dias e pedissem perdão pelos seus pecados mortais. A pão e água.

     Depois, mandou que o seu grande exército fosse desfeito e que os soldados se transformassem em trabalhadores e construíssem estradas e casas para todos e plantassem árvores frutíferas por todo o reino.

     De noite, pouco antes de dormir, acariciou o gato que se aconchegava em seu colo e pensou no amor. Como era mesmo o amor? Ligou o computador real e mandou mais um e-mail para os reis Al e El. Dizia assim:

     “Obrigado. É muito difícil aprender a jogar xadrez? Um abraço do amigo.”

terça-feira, 19 de julho de 2011

NADA DE NOVO NO GALINHEIRO


Chegamos ao máximo da frivolidade em nossa sociedade. Homens e mulheres brasileiros estão muito preocupados porque a seleção de futebol não se classificou para as semifinais da Copa América. Debatem, como se isso fosse vital para todos, se o treinador da seleção deverá continuar treinando a seleção, se o jogador “a” ou o jogador “b” é tudo aquilo que a mídia diz e o que deverá ser feito para que a seleção de futebol volte a vencer, para alívio dos corações canarinhos.

     É o máximo da frivolidade. É como se todo o resto estivesse perfeito no Brasil, com exceção do futebol. Pessoas esbravejam, colunistas de futebol colunizam a sua indignação, mesas redondas são formadas para que se verifique, talvez através de uma comissão parlamentar mista de inquérito, formada por aqueles ilibados senhores que nos representam na Câmara e no Senado, o que houve de errado com a seleção de futebol. Socialites cobrem a boca com a mão e exclamam: “mas quem diria?!”

     Dilma Roussef perde o sono, a Bolsa de Valores despenca, os estudantes não mais estudam, os trabalhadores esquecem de trabalhar, todos os segmentos sociais estão aparvalhados porque perdemos para o Paraguai. Logo o Paraguai! E nos pênaltis! Será que ninguém sabe chutar bolas da marca de pênalti neste Brasil? Ora, bolas! Os jogadores supervalorizados que desejam logo ser vendidos para o exterior temem que o valor dos seus passes diminua drasticamente, empresários de futebol pensam na possibilidade do suicídio, nos quartéis as marchas forçadas não são tão forçadas porque os sargentos caem em súbita inércia e os soldados jazem em profunda tristeza, aventa-se a possibilidade de um duro golpe militar no futebol e os mais radicais desejam raspar os cabelos do Neymar.

     A mídia minimiza o drama. Diz que ganhar ou perder a Copa América tanto faz, que tudo o que falaram antes deve ser tomado como força de expressão, que o que importa é o campeonato brasileiro – a verdadeira guerra para a qual todo o povo deverá estar atento – e que perder ou ganhar é quase a mesma coisa em se tratando de América do Sul, porque bonito mesmo é a América do Norte. Insistem que a culpa não é do penteado do Neymar ou do cabeleireiro do Neymar, que lembra um pica-pau, ou um galinho, dependendo da preferência e do ponto de vista e que, além disso, o fato de termos um ganso e um pato no time nada significa e não traz mau agouro. O que queria o povo? Um pavão? Ou, quem sabe, um quero-quero, que é mais afeito aos gramados? Que ninguém se preocupe, porque foi apenas um acidente de percurso e o Brasil continua sendo o país do futebol, mas apenas o país do futebol, o que se pode fazer?

     A mídia luta pelo seu ganha-pão e lembra que deveremos ter um grande time e vencer as Olimpíadas de Londres, em 2012, mesmo que seja o ano do fim do mundo, mas o que importa? E se não vencermos em 2012 – o que é uma Olimpíada, senão um evento menor? – com certeza venceremos a Copa do Mundo, em 2014.

     Essa ninguém nos tira! Afinal, vai ser no Brasil e nós é que vamos dar um Maracanaço neles! De um jeito ou de outro! De preferência, de outro. Vejam o que a Dilma já está fazendo, desde agora, com o caso das licitações que poderão ou não ser licitações. Tudo de acordo com o jeitinho brasileiro. Se for necessário gastarmos alguns bilhões a mais para que a seleção vença, gastaremos. Não temos o dinheiro do pré-sal do Sérgio Cabral? Não atraímos todas as multinacionais para devastarem o nosso pais quase gratuitamente?

     Alguma coisa temos que ter de volta e essa alguma coisa tem que ser a Copa do Mundo. Que todos entendam desde agora – construiremos estradas, aeroportos, afastaremos as favelas para bem longe, mataremos todos os suspeitos de serem suspeitos, entregaremos a Amazônia e faremos até um trem-bala, mas a Copa do Mundo tem que ser nossa! Os outros países participantes que saibam desde já que serão apenas coadjuvantes em 2014. Mesmo que o mundo tenha acabado antes, seremos hexa-campeões, porque é só isso que o povo brasileiro deseja: o hexa. E se o povo tiver o hexa aceitará qualquer outra coisa sem resmungar.

     Frivolidade? Ai dos frívolos que pensarem assim! É uma questão de política, de estratégia bem organizada a médio prazo, da busca da perfeição no trato do poder, da sublime arte da manipulação das massas. E quem for contra que se mude. “Brasil – ame-o ou deixe-o!”.

sábado, 16 de julho de 2011

NÃO TEM COMENDA DA ARTE?



                              (para Elvira Nascimento e para os malasartes de Bagé)

Não tem comenda a Mercinha,
De todos nós a primeira
A bradar com o Ecoarte?

Nem a Norma Malasarte,
Nem o Ernesto, entre os Waynes...
Não tem Comenda da Arte?

Arte não tem protocolo
- Sempre tropeça na escada.
Corre, sua, se atrapalha,
Não sabe ser educada.

(Só mercadores, políticos,
Capitães do mato, analistas...
Não tem Comenda da Arte?)

Arte que é arte se espalha
Em eterno nascimento,
Seu amante é o redemoinho
E tem seus filhos no vento.

(E os Tabordas, que nos deram
Nossa fonte de cultura?
Não tem Comenda da Arte?)

Arte é filha da anarquia,
Anda sempre despenteada,
Não sorri, dá gargalhada
E faz dos seus ecos poesia.

Ó cidade de autarquias!
De banqueiros, vilanias...
Esqueceste a maior parte?

Não tem comenda a Mercinha,
A mais profunda e sensível
Embaixadora da Arte?

quinta-feira, 14 de julho de 2011

A FAMÍLIA E A CIDADE


     A família Brignole - no Brasil, Brignol - chegou aqui em 1830, talvez devido às incessantes guerras no continente europeu, como ramo da família genovesa Brignole, que teve alguns dos seus no cargo de Doge, em Gênova, na época em que aquela cidade era um estado independente. Dois dos Doges de Gênova foram Gian Francesco Brignole (1695-1760) e Rodolfo Giulio Brignole (1708-1774).

     Giuseppe Brignole, marquês de Groppoli (1703 - 1769), foi um nobre genovês e pai de Maria Caterina Brignole, Princesa de Mônaco e depois Princesa de Condé. Albert II, príncipe de Mônaco, é um descendente direto de Maria Caterina.

     A história de Maria Caterina poderia resultar em uma novela de folhetim. Filha de Giuseppe Brignole e de Ana Maria Balbi, quando jovem morava em França, onde seu pai era embaixador de Gênova. Freqüentando os salões da nobreza, se apaixonou por Louis Joseph de Bourbon, príncipe de Condé, mas foi obrigada a contrair matrimônio com Honorato III, Príncipe de Mônaco, em 1751, quase 17 anos mais velho que ela e a quem nunca amou. Apesar disso, tiveram dois filhos - Honorato IV, príncipe de Mônaco (nascido em 17 de maio de 1758) e Joseph Grimaldi (nascido em 1767).

     Quando do casamento com Honorato III, Maria Caterina foi a Mônaco de navio junto com a nobreza genovesa. Ao chegar, no entanto, Honorato não foi a bordo receber a noiva. Alegou que o seu status como monarca exigia que ela viesse a ele em primeiro lugar. A comitiva genovesa respondeu que Maria Caterina era membro de uma família governante da República de Gênova e se recusou a permitir que ela fosse encontrar Honorato . O navio ficou, portanto, ancorado no mar durante vários dias, até que a situação foi resolvida na reunião do casal a meio caminho em uma ponte entre o barco e a costa.

     Mesmo tendo dois filhos com Honorato, a sua paixão por Louis Joseph continuava. Maria Caterina vivia em Matignon, onde ela passava os seus dias com o príncipe de Condé, e raramente participava da vida na corte. Quando a esposa de Louis Joseph - Charlotte Élisabeth Godefride de Rohan – faleceu em 1760, a sua relação com Maria Caterina tornou-se mais estreita e ela passou a morar no Hôtel de Lassay, um anexo do Príncipe da residência principal Condé, em Paris, o Palais-Bourbon.

     Em 1770, o seu marido, enciumado, ordenou fechar as fronteiras de Mônaco, em uma tentativa para impedir que ela escapasse. Naquela mesma noite, ela saiu e não retornou. Foi descoberto que ela tinha conseguido cruzar a fronteira para França e tinha viajado todo o caminho até Le Mans, a sudoeste de Paris, onde tinha se refugiado num convento nas proximidades. Posteriormente, ela conseguiu voltar para Paris.

     Caterina passou a ser hostilizada na corte, principalmente pela rainha Maria Antonieta. E Condé começou a construção do Hôtel de Monaco para ser seu lar permanente em Paris. Foi na rue Saint-Dominique, perto do Palais Bourbon, e foi concluído em 1777.

     Honorato III, finalmente, percebeu que seu relacionamento com Maria Caterina estava completamente acabado e voltou sua atenção para suas prórias amantes. Maria Caterina escreveu a seu esposo que o casamento poderia ser resumido em três palavras: ganância, coragem e ciúme.

     Maria passou a morar com Condé, na França, até a Revolução Francesa, quando o casal partiu para a Alemanha e, em seguida, para a Grã-Bretanha . Em 1795, Honorato III morreu, e em 24 de outubro de 1798 ela e Condé se casaram em Londres. Lá, ela usou sua grande fortuna para ajudar a financiar o exército contra-revolucionário de franceses exilados. Maria Caterine morreu em Wimbledon, aos 60 anos de idade.


A FAMÍLIA

     Mas nada disso pensava um dos ramos pobres da família Brignol (ou Brignole) quando acampou naquela noite fatídica às margens do rio Negro e perto daquela pequena cidade que estava sendo construída logo ali na fronteira com o Uruguai. Ainda havia o medo dos índios, principalmente dos minuanos guaicurus que habitavam a região. Mas, principalmente, temiam os bandoleiros que enxameavam tanto no Brasil como no Uruguai. Provavelmente vinham do Uruguai ou da Argentina – depois de uma longa viagem de navio desde a Itália - em busca de melhores terras e de um espaço para viver. E Bagé era uma cidade que estava nascendo e acolhia a todos.

     Antes de cair a noite, o pai da família chamou um dos seus filhos, deu-lhe algum dinheiro e pediu que atravessasse o rio para comprar alimentos do outro lado, onde parecia haver um bolicho. Giovanni Baptista aprestou-se, montou no seu cavalo e foi cumprir a sua missão. Atravessou o rio Negro, chegou à casa indicada e quando fazia as compras, já pensando em voltar, junto com a noite caiu um temporal. O rio transbordou, porque era chuva para ninguém botar defeito e os donos do bolicho, apesar da insistência do guri, não deixaram Giovanni voltar naquela noite.

     De manhã, depois que as águas baixaram, Giovanni tomou coragem e resolveu-se a voltar. Ao chegar no acampamento percebeu que havia algo errado. Demasiado silêncio. Caminhou mais um pouco e encontrou os corpos. Todos tinham sido degolados e o acampamento assaltado e arrasado. Tinham morrido, mas não sem lutar – alguns bandidos jaziam mortos aqui e ali.

     Depois que diminuiu o desespero, voltou para o bolicho e contou o que tinha acontecido. Era ainda um guri que falava italiano e balbuciava o português. Mas todos entenderam. Naquela época não era nenhuma novidade o assalto a acampamentos.

     Depois de alguns dias, Giovanni decidiu-se a ir para Bagé e aqui a cidade que crescia junto com ele o adotou. O seu nome, aos poucos, foi trocado de Giovanni para João e de Baptista para simplesmente Batista. O sobrenome Brignole perdeu a última vogal. E assim ele se tornou João Batista Brignol. Trabalhava no que sabia e no que podia. Aprendeu a camperear, comprou algumas terras. Cresceu, e depois que se sentiu mais forte e seguro, casou com Josefina Andrada, com quem teve dezessete filhos.

     Esta foi a origem da família Brignol em Bagé e a origem da família Brignol no Brasil, porque todos os brasileiros que usam o sobrenome Brignol, tem sua origem em João Batista Brignol e em Josefa Andrada.

     Todos os dezessete filhos daquele casal moraram em Bagé e aqui construíram as suas casas e aqui trabalharam, ajudando a construir a nossa cidade. Com o passar do tempo, alguns, descuidadamente, passaram a assinar Brinhol, talvez devido à pronúncia do nome, assim como na Itália, muito assinam Brignoli e não Brignole. Mas somos todos parentes e orgulhosos desse parentesco.

     A cidade nos acolhe e nos protege e devido às suas terras, à sua sombra benigna e à seiva que nos alimenta, mesmo nos tempos de seca e desesperança, é que conseguimos frutificar, a partir de Bagé, o nome Brignol, que se espalha pelo Brasil.

     Nestes duzentos anos de existência de Bagé a família se engalana. Mais que isso, orgulha-se, junto com as demais famílias bajeenses, desta data tão feliz.

     E no momento em que um dos nossos membros – meu pai, Palmor Brignol – recebe uma comenda da Câmara Municipal, assim como vários outros bajeenses merecedores da mesma honra, tenho certeza de que se meu pai fosse vivo diria que a honra não deveria ser dada somente a ele, mas a toda a família Brignol. Porque ele costumava dizer que, em primeiro lugar, está a família. E eu me atrevo a dizer que em primeiro lugar está a família, sim, mas em íntima união com a terra que a alimenta e fortalece.


terça-feira, 12 de julho de 2011

SEU CHICO E O SENADO


Estava passando os canais para tentar descobrir alguma coisa para ver por breves momentos, lá pelas duas da tarde do dia 12, antes de sair para as lides que a vida obriga quando, na TV Senado aparece o senador Paulo Paim falando de Bagé. Parei por ali, para ouvir o que o Paim dizia, pensando que tinha a ver com os aposentados da minha cidade.

     Para surpresa minha não era nada disso. Meio que titubeando, o Paim estava lembrando aos poucos senadores presentes naquela casa, que deveria ser do povo, que Bagé completa duzentos anos de existência esta semana, precisamente no dia 17. E advertia os sonolentos senadores que estavam presentes no Senado o prefeito de Bagé, Luiz Eduardo Colombo, a primeira dama e o presidente da Câmara de Vereadores, Sílvio Machado. E entre outras frases bonitas e desejos de que Bagé tivesse mais duzentos anos e muitos outros duzentos anos, o Paim propôs à mesa do Senado um voto de aplauso para Bagé.

     Fiquei imaginando o que seria um voto de aplauso e cheguei a pensar na minha inocência que todos os senadores iriam se levantar e aplaudir. Que nada! Voto de aplauso é um requerimento que é apresentado à mesa do Senado. E o Paim apresentou o tal requerimento. Mas a presidente do Senado naquele momento, que era a Marta Suplicy, disse que não poderia colocar em votação o requerimento porque não havia quórum. Não havia quórum! Mesmo assim, ela disse que poderia quebrar o protocolo e chamou o Dudu à mesa do Senado e entregou a ele o requerimento, que agradeceu educadamente e disse que aqui estamos às ordens.

     À noitinha, quando fui dar uma volta para espichar as pernas, encontrei o seu Chico e parei para um dedo de prosa. Comentei com ele o que tinha visto mais cedo e ele me disse que tinha assistido ainda mais.

     - Mas vivente, eu assisto à TV Senado só para passar o tempo, porque, no mínimo é engraçado e isso de não ter quórum é todo dia. Mas fiquei sabendo que mais cedo houve uma sessão solene na Câmara de Deputados em homenagem a Bagé.

     - Não me diga, seu Chico! E eu que não assisti...

     - Pois lhe digo sim, e lá eles honraram a nossa terra e o Dudu até que estava garboso. Foi o que me disseram.

     - Ainda bem que alguma coisa se salva, porque no Senado...

     - É uma vergonha, concordo com o senhor. Nunca tem ninguém e só aparecem quando o governo manda votar alguma coisa urgente. Aí enche de senadores fazendo aqueles discursos pomposos, olhando para as câmeras da tevê e falando que vão ajudar o povo e salvar o Brasil.

     - E ganham mais de cem mil por mês, seu Chico, para isso!

     - Pois fiquei sabendo que eles ganham até para a roupa, motorista, viagens de avião, casa, gabinete – além daquele salário!

     - Dá mais de cem mil, seu Chico. Não só os senadores como também os deputados. Olha o nosso dinheiro para onde vai...

     - E para não fazerem nada, porque são uns concordinos. Só votam o que o governo manda.

     - Não tem um que faça alguma coisa, seu Chico! Eu chego a ficar envergonhado por eles.

     - Pois aí eu discordo do senhor. Há pouco, eu ainda estava vendo o resto da sessão do Senado, para passar o tempo, o senhor sabe, porque às vezes é melhor que ver aquelas novelas meladas, e me apareceu uma senhora lá, uma tal de Marinor Brito, senhora distinta, nome antigo, que fez sérias denúncias e disse que iria cobrar investigações.

     - Mas pra mim é surpresa, seu Chico. Investigar o que?

     - É que os estados da Federação recebem verbas para a saúde, dizem que usam todo o dinheiro, mas ela descobriu que no mínimo, no mínimo, onze bilhões sumiram.

     - Onze bilhões! Mas foram pra onde?

     - Olha, agora mesmo eu estava dobrando a esquina e vi um desses bilhões passar correndo pro bolso de um daqueles cupinchas lá do Planalto, hehe...

     - Será, seu Chico?

     - Não lhe duvido nada. Mas o pior não é isso: o tal de Senado parece uma casa de loucos. Pois uma denúncia dessas não era para provocar um debate de saltar faíscas?!

     - E não provocou, seu Chico?

     - Mas...! Como eu lhe disse, aquilo parece uma casa de loucos. Um diz uma coisa e outra fala coisa bem diferente.

     - Mas ninguém reagiu, não houve nenhuma explicação...?

     - Que explicação que nada! Depois subiu lá no palanque deles, na tribuna ou o que seja, adivinha quem? - pois o Simon!

     - Ah, bueno! Deve ter apoiado o pedido de investigação da Marinor.

     - Olha só: apresentou um texto dele lá, que apóia a presidenta Dilma e que, segundo deu pra entender diz pra ela resistir às pressões dos corruptos.

     - Quer dizer que o Simon deu a entender que se houver corrupção no governo a culpa não será da Dilma, não é isso?

     - Indiretamente. E ainda elogiou a presidenta dele, apoiado pelos outros poucos senadores que ainda restavam lá, porque ela botou pra fora o Palocci e o cara dos Transportes...

     - Mas foram eles que se demitiram, seu Chico!

     - Pois é, mas o que eu lhe pergunto não é isso. O que me deixa pensando é porque ela admitiu nos ministérios dela gente reconhecidamente corrupta - e diga-me com quem andas...

     - Dá o que pensar, seu Chico. E o Simon lá, defendendo ela.

     - Defendendo e fingindo que nem tinha ouvido a fala da senadora que denunciou o desvio dos onze bilhões da saúde. Faz de conta que ela nem tinha dito nada. E olha que onze bilhões são onze bilhões, não é qualquer miséria de pilas que se aposta em jogo de osso ou de truco.

     - Essa é de não dormir, seu Chico. Como o Simon mudou!

     - Ele tem lá os interesses dele, não se pode culpar tanto. Mas, em outros tempos, qualquer acusação deste porte faria com que um se levantasse e dissesse na hora: prove! E já com a mão no coldre. E quem cala consente.

     - Em outros tempos, seu Chico, o Senado não seria engraçado, mas coisa séria.

     - E hoje é isso que se vê!

     - É triste, seu Chico...

     - É mais que triste... Às vezes eu penso se não seria o caso...

     - Eu também penso, seu Chico. Eu também penso...

     - É, mas vamos deixar pra lá. Por enquanto... E sabe o que mais? Vamos festejar. São duzentos anos e não é pouca coisa.

     - Não é todo dia que se faz duzentos anos, não é, seu Chico? E eu estava lembrando...

     - Pois diga, vivente!

     - Quando Bagé foi fundada, em 1811, a maioria da América do Sul e Caribe, senão toda, menos o Brasil que ainda pertencia a Portugal, estava se libertando da Espanha e este ano também estão comemorando duzentos anos. Só que duzentos anos de independência.

     - Pois é uma feliz coincidência. Lembra aqueles bons tempos em que havia homens de verdade e mulheres que os empurravam para a luta.

     - Bons tempos, seu Chico! Lá se vão duzentos anos...

sexta-feira, 8 de julho de 2011

A LISTA DO MENSALÃO E A IGNORÂNCIA DE LULA E DILMA


Tenham pena do PT. Não foi o único partido envolvido no mensalão. Também participaram o PP, PL, PMDB e PTB. E não foram somente “quarenta ladrões”. Foram 45 os acusados inicialmente. Mas o Procurador Geral da República, Roberto Gurgel, deixou por 36. Gushiken escapou desta vez.

     Lula não sabia de nada, conforme todos sabem. Lá do alto do governo, pairando nas nuvens da sua conhecida alienação, como Zeus, Lula apenas voava de um país para o outro e deixava para o Zé Dirceu e outros “zés” o direito à corrupção. O PT é feito de “zés”. Afirmam os militares saudosistas que o Genoíno traiu a guerrilha do Araguaia. Afirma o Procurador da República que José Dirceu era o chefe da quadrilha do mensalão.

     Todos os 36 acusados terão excelentes advogados a representá-los e muito provavelmente serão absolvidos pelo Supremo Tribunal Federal. Se algum deles for condenado, será suprema surpresa para todos nós. Os ministros do STF são indicados pelo Executivo e Lula não sabia de nada.

     Pobre do Lula! Tudo era feito às suas costas e às nossas custas. Nunca soube de nada; jamais imaginou que estava envolvido com um partido extremamente corrupto. Mas continuou no partido, talvez acreditando na inocência dos seus amigos. Afinal, o partido o sustentava e ainda o sustenta. Às nossas custas, claro, mas que fazer? É o “filho do Brasil”. Um filho caro, muito caro, ao qual pagamos uma gorda mesada para que continue na sua santa ignorância.

     Assim como Dilma, aquela que fala uma estranha língua – o dilmês – e que em pouco mais de seis meses de governo já teve dois ministros demitidos por suspeita de enriquecimento ilícito. Dilma também nada sabe. É uma coitada que tentou ser guerrilheira e acabou sendo presa e torturada nos porões da ditadura, segundo a sua própria versão de alguns fatos daquela época e que foi eleita presidente porque os brasileiros sentiram pena dela.

     O chefe da quadrilha do mensalão – José Dirceu – é membro do seu ministério justamente porque ela nada sabe a respeito do mensalão, que deve ter sido coisa inventada pelo Jô Soares e suas meninas jornalistas. Talvez por isto aquele impoluto ministro do STF tão amigo do Executivo – aquele que soltou o Daniel Dantas – tenha tentado acabar com os jornalistas. Despeito. E adivinhem como ele vai votar no caso do mensalão? E como os outros ministros irão votar?

     Acredito que seja necessário que todos nós, brasileiros, usemos aquele célebre nariz de palhaço no dia do julgamento dos 36 acusados. Se forem julgados.

     Enquanto isto, a lista da turma está aí embaixo. Alguns estão na Câmara de Deputados e no Senado.


JOSÉ DIRCEU ERA O CHEFE DA QUADRILHA” – Roberto Gurgel.


Membros da antiga administração do PT

     1. José Genoíno. Ex-presidente do PT. Negociava com os partidos no Congresso com a política com corrupção. “Interlocutor visível da organização criminosa”.

     2. Delúbio Soares. Ex-tesoureiro do PT. Coordenava o mensalão com corrupção, peculato e quadrilha. “Elo com as ramificações operacionais da quadrilha”.

     3. Silvio Pereira. Ex-secretário do PT e considerado o nº2 do PT. “Função primordial” de distribuir cargos no governo, de onde saíram grandes somas de dinheiro público para PT e outros partidos. Recebeu o carro Land Rover como propina. Fez acordo com o Ministério Público e não foi denunciado.


Escaparam da cassação

     4. João Paulo Cunha. Deputado acusado de corrupção, peculato e lavagem de dinheiro.

     5. Professor Luizinho. Ex-líder do governo na Câmara. Deputado acusado pela Justiça.

     6. João Magno. Deputado acusado de falsificar o destino do dinheiro.


Deputado cassado

     7. José Dirceu. Ex-Ministro da Casa Civil e ex-deputado do PT-SP. Era chamado pelo Lula como “capitão do time” e “primeiro-ministro” em 2003. “Chefe do organograma delituoso”. Tem 3 acusações, entre essas, acusado de ser “chefe de quadrilha”.


Renunciou ao cargo de deputado

     8. Paulo Rocha. Ex-líder do PT e ex-deputado. Acusado de mandar assessora Anita Leocádia buscar dinheiro e tem vários crimes.


Ex-membros do governo Lula

     9. Anderson Adauto. Ex-ministro recebeu 1 milhão de reais pelo assessor José Luiz Alves e foi denunciado por corrupção.

     10. Henrique Pizzolato. Diretor de Publicidade do BB. Membro do PT que comandava verbas do Banco do Brasil (BB) com propina e delação.

     11. Luiz Gushiken. Ex-ministro é acusado de peculato, gerou os contratos que bancaram o mensalão. Apesar das graves acusações, Lula manteve Gushiken como assessor presidencial. Teve a acusação retirada pelo Procurador Geral da República, Roberto Gurgel.


Base aliada

Membros de outros partidos


     12. José Borba. Ex-líder do PMDB. Acusado de receber 2 milhões e não entregou nenhum deputado.

     13. Romeu Queiroz. Deputado do PTB. Acusado de vender o apoio político no esquema do PTB.

     14. José Janene. Ex-líder do PP. Distribuía 4.100.000 reais do mensalão aos correligionários. Já é falecido.


Membros de outros partidos que foram cassados


     15. Roberto Jefferson. Ex-deputado do PTB. Denunciou o mensalão. Vendeu o PTB para PT por 20 milhões de reais. Renunciou ao mandato.

     16. Pedro Corrêa. Presidente do PP. Acusado pela Justiça por corrupção.


Político que escapou da cassação

     17. Pedro Henry. Uns dos líderes do PP. Pode responder por 3 crimes.


Membros de outros partidos que renunciaram

     18. Carlos Rodrigues, mais conhecido como Bispo Rodrigues. É acusado de receber 150 mil reais.

     19. Valdemar Costa Neto. Ex-presidente do PL. é acusado de corrupção, lavagem de dinheiro e quadrilha.


Publicidade

     20. Marcos Valério. Ele tem um recorde de 6 acusações. É acusado de pagar 50 mil reais para ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha, como propina pra viabilizar a contratação da SMPB pela Casa.

     21. Duda Mendonça. Marqueteiro na campanha de Lula de 2002. Tem outras contas no exterior.


Outros

     22. Alberto Quaglia. Empresário acusado de lavagem de dinheiro e era biombo entre Valério e o PP.

     23. Breno Fischberg. É suspeito de fazer parte do grupo que lavava dinheiro para PP.

     24. Enivaldo Quadrado. Sócio de Quaglia e Fischberg na quadrilha que lavava o dinheiro do PP.

     25. Anita Leocádia. Assessora de Paulo Rocha. Ao receber o dinheiro de Rocha, foi denunciada por lavagem de dinheiro.

     26. José Luiz Alves. Ex-assessor de Anderson Adauto foi portador do dinheiro para ser endereçado para Adauto.

     27. Jacinto Lamas. Assessor de Valdemar Costa Neto. Carregava malas de dinheiro e denunciado por 3 crimes.

     28. Antônio Lamas. Irmão de Jacinto Lamas. Ajudava a buscar dinheiro de Marcos Valério em Minas Gerais. Teve a acusação retirada pelo Procurador da República, Roberto Gurgel.

     29. Zilmar Fernandes. Sócia de Duda. Tentou provar a inocência na CPI, apesar de contas secretas.

     30. Ramon Hollerbach. Sócio das agências DNA e SMPB. É acusado de 5 crimes.

     31. Cristiano Paz. Outro sócio de Marcos Valério. Tentou ocultar ou destruir provas de crimes no comando do esquema.

     32. Rogério Tolentino. Advogado que tentou destruir provas em que era o elo de Marcos Valério e o Banco Rural.

     33. Geiza Dias. Acusada de 4 crimes. Autorizava saques enviando e-mail ao Banco Rural em Brasília.

     34. Simone Vasconcelos. Esposa de Marcos Valério. Sob ordens do marido, pagava o mensalão até em carro-forte.

     35. José Roberto Salgado. Vice-presidente do Banco Rural. Ele é conhecido pela polícia por 4 crimes entre eles de lavagem de dinheiro.

     36. Ayanna Tenório. Executiva do Banco Rural. Acusada de integrar a quadrilha de mecanismo de lavagem de dinheiro.

     37. Kátia Rabelo. Dona do Banco Rural. Acusada de mentir na CPI e foi acusada de 4 crimes.

     38. Vinícius Samarane. Diretor do Banco Rural. Operava também à lavanderia do PT com crimes em série.

     39. Emerson Palmieri. Tesoureiro do PTB. Era membro do governo com corrupção e lavagem de dinheiro.

     40. João Cláudio Genu. Carregava o dinheiro para PP e foi denunciado com os chefes.


Outros acusados que não estão na lista

     41. Josias Gomes. Deputado acusado de sacar duas vezes 50 mil reais no Banco Rural de Brasília.

     42. Lúcio Bolonha Funaro. Doleiro e dono da Guaranhuns Participações. Réu confesso e acusado de repassar 6.500.000 reais ao PL a mando da cúpula do PT.

     43. Pedro Azerevo.

     44. Abreu Adauto.

     45. Wanderval dos Santos.


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Fonte: Wikipédia de Portugal.
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