quarta-feira, 26 de agosto de 2015

AÉCIO TAMBÉM É CUNHA




Aécio Neves da Cunha é o nome completo. Provavelmente por razões políticas, adotou só o sobrenome Neves e omite o nome do pai: Cunha. Será parente do Eduardo Cunha? Eu estava pesquisando sobre a possível repercussão das declarações de Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef na CPI da Petrobrás, no dia 25, ocasião em que incriminaram Aécio Neves por recebimento de propina, assim como Sérgio Guerra, então presidente do PSDB, morto em 2014. E descobri que o Aécio também é Cunha. Curioso como existem pessoas que não gostam de usar o nome do seu pai. Algumas por interesse, outras também. Interesses os mais variados. No caso do Aécio, o interesse é político. O sobrenome Cunha não tem qualquer destaque. Neves lembra Tancredo Neves, avô materno de Aécio. 

    Quanto à repercussão – pasmem! -, nenhuma. Ao menos nas edições virtuais dos jornais da oposição, como Globo, Folha de São Paulo e Estado de São Paulo. Para esses jornais – e tantos outros que compõem a mídia vendida a interesses não exatamente nacionais – o nome Aécio não pode ser vinculado a corrupção. Tampouco a sigla PSDB.

    O Portal UOL chegou a trocar o título da mesma matéria em menos de 24 horas. O primeiro título era: “Youssef e Costa confirmam repasse de propina a Aécio Neves e Sérgio Guerra”. Mudaram rapidamente para: “Em CPI, Youssef e Costa citam repasse de propinas a tucanos”. O Jornal Nacional deu uma breve nota sobre o assunto e preferiu enfatizar a defesa de Aécio Neves da Cunha. 

    Rodrigo Janot, Procurador-Geral da República, preferiu não indiciar Aécio Neves (da Cunha?) na Operação Lava jato, desconhecendo denúncia da promotora Andréa Bayão Pereira sobre caixa 2 na chamada “Lista de Furnas” – relação que contém nomes de mais de 150 políticos de diferentes partidos. Aécio diz que a “Lista de Furnas” é fraude, mas uma perícia da Polícia Federal confirmou que ela não foi forjada.

    Segundo o delator Youssef, a propina era paga pelo empresário Airton Daré, dono da empresa Buruense, fornecedora de Furnas. PP (Partido Progressista, ex-ARENA) e PSDB compartilhavam uma diretoria de Furnas. Segundo Youssef, os pagamentos mensais eram de 100 mil dólares entre 1996 e 2000. (http://www.viomundo.com.br/). 

     Ninguém acredita que o ministério público, muito menos o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, indicie Aécio. Neves da Cunha. Ao contrário do ditado mineiro, pau que dá em Chico não dá em Francisco. Chico é somente um Chico-Ninguém, Francisco é gente fina. E gente fina, todos sabem, é outra coisa. Gente fina tem nome e sobrenome. Como o Aécio Neves da Cunha, ou só Aécio Neves.

E quanto ao Sérgio Moro, que já está virando piada na internet como o inquisidor-mor da oposição, vai determinar abertura de inquérito contra Aécio Neves da Cunha? Na sua tentativa de deslegitimar a política – o que daria espaço a um golpe de Estado, por supuesto -, Moro tem sido claramente seletivo e nessa seleção não entra ninguém do PSDB. Muito menos o Aécio Neves. Da Cunha.

domingo, 23 de agosto de 2015

GETÚLIO VARGAS




A república declarada em 1889 foi uma cópia golpista dos Estados Unidos até no nome: Estados Unidos do Brasil. A primeira bandeira republicana, criada por Ruy Barbosa era igualzinha á bandeira norte-americana: listras e estrelas. Os republicanos de primeira hora já nasceram elitizados e entreguistas, reconhecendo a dívida externa com a Inglaterra e dividindo o país em estados onde governavam famílias de oligarcas, todos ligados ao exército. Ao contrário dos demais países sul-americanos onde o povo participou de cruentas guerras contra os espanhóis para conquistar a sua liberdade, destacando-se líderes como Bolívar e San Martín, no Brasil o povo ficou sabendo que a república tinha sido instaurada, ou decretada, no dia seguinte ao golpe militar. 

   Em 18 de novembro de 1889 três dias após o golpe da república, Aristides Lobo escreveu no Diário Popular, de São Paulo: “Por ora, a cor do governo é puramente militar e deverá ser assim. O fato foi deles, deles só porque a colaboração do elemento civil foi quase nula. O povo chorou com aquilo tudo, bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava. Muitos acreditaram seriamente estar vendo uma parada! 

   Várias décadas depois, em 1930, Getúlio Vargas liderou a única verdadeira revolução brasileira, acabando com a república dos generais e dos empresários vendidos e reconstruindo o Brasil. Em 1994, Darcy Ribeiro escreveu:

   “Getúlio Dornelles Vargas (São Borja, RS 1883-1954) foi o maior dos estadistas brasileiros. Foi também o mais amado pelo povo e o mais detestado pelas elites. Tinha de ser assim. Getúlio obrigou nosso empresariado urbano de descendentes de senhores de escravos a reconhecer os direitos dos trabalhadores. Os politicões tradicionais, coniventes, senão autores da velha ordem, banidos por ele do cenário político, nunca o perdoaram. 

   “Os intelectuais esquerdistas e os comunistas não se consolam de terem perdido para Getúlio a admiração e o apoio da classe operária. Com eles, o estamento gerencial das multinacionais. Getúlio foi o líder inconteste da Revolução de 1930. Tendo exercido antes importantes cargos, Getúlio pôde se pôr à frente do punhado de jovens gaúchos que, aliados a jovens oficiais do Exército, os tenentistas, desencadearam a Revolução de Trinta. A única que tivemos digna desse nome, pela profunda transformação social modernizadora que operou sobre o Brasil.

   “No plano político, a Revolução de 30, proscreveu do poder os coronéis-fazendeiros com seus currais eleitorais e destituiu os cartolas do pacto "café-com-leite", que faziam da República uma coisa deles. Institucionalizou e profissionalizou o Exército, afastando-o das rebeliões e encerrando-o dentro dos quartéis. 

   “No plano social, legalizou a luta de classes, vista até então como um caso de polícia. Organizou os trabalhadores urbanos em sindicatos estáveis, pró-governamentais, mas anti-patronais.

   “No plano cultural, renovou a educação e dinamizou a cultura brasileira. Getúlio governou o Brasil durante 15 anos sob a legitimação revolucionária, foi deposto, retornou, pelo voto popular, para mais cinco anos de governo. Enfrentou os poderosos testas-de-ferro das empresas estrangeiras, que se opunham à criação da Petrobras e da Eletrobrás, e os venceu pelo suicídio, deixando uma carta-testamento, que é o mais alto e mais nobre documento político da história do Brasil. (...)” 

   Hoje, no momento em que o Brasil está novamente sendo dilacerado por aves de rapina de todos os partidos, quando o povo não sabe onde está a verdade, pois é manipulado pela mídia dos empresários ligados ao capital estrangeiro, quando ressurge o fascismo que se evidenciou em 1954 e 1964, Getúlio Vargas faz uma imensa falta. Ou por outra: faz grande falta o espírito nacionalista que ele encarnou e que se reflete na sua carta-testamento.

Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.
Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre.
Não querem que o povo seja independente. Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder.
Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.
Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão.
E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História.”

 Getúlio Vargas

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

O GOLPE DE DILMA ROUSSEF




A esquerda brasileira começa a acordar do seu sono metafísico que provoca sonhos reformistas e revela o capitalismo com uma aura de bem-estar para os bem alimentados, e piedade para os “desamparados”. Não, não pensem que o Lula anda lendo Marx. Ele já afirmou que não é socialista, mas sindicalista. Eu não me refiro ao pessoal do PT quando escrevo a palavra “esquerda”. Todos sabem que o PT morreu dormindo nas palhas, induzido pelo medo de que suas reformas fossem além do permitido, e acordou temeroso de perder o poder que desapareceu enquanto sonhava. Esse tipo de “esquerda”, como o PT, Psol, PPS, PCdoB, PSB e outros que tais tende a sumir dentro das suas próprias contradições e só atrai oportunistas, que poderiam sentir-se bem em partidos como PMDB ou PDT. 

   Com Dilma Roussef o PT tirou a máscara: é um partido que disputa espaço com o entreguista PSDB, tornando-se igualmente entreguista e antinacionalista. O PT mostrou-se um partido que ignora os trabalhadores e a grande massa de brasileiros enlouquecidos pela fome e pela miséria. O PT entregou a Mata Atlântica e a Amazônia aos latifundiários. O PT entregou todo o país aos oligarcas e aliou-se a conhecidos corruptos, como Paulo Maluf e José Sarney. Igualzinho ao PSDB do Fernando Henrique. 

   Não se pode considerar o PT como um partido de esquerda. Ao contrário, o PT tentou acabar com a esquerda ao propor um sindicalismo de resultados feito de alianças com os patrões, que beneficiou somente um setor trabalhista. Pessoas como Lula e outros demagogos conquistaram um espaço que tradicionalmente pertenceu à verdadeira esquerda contando com o apoio da grande mídia que enfatizava as greves do ABC e faziam de Lula “um grande líder”, a exemplo do direitista Lech Walesa que fundou o sindicato Solidariedade na Polônia para se opor à União Soviética, com o apoio da CIA, e depois se tornou presidente daquele país que hoje é uma das pontas-de-lança da OTAN contra a Rússia. Sem a mídia o PT não existiria como grande partido. 

   O PT foi aparelhado pela direita inteligente – pois, acreditem ou não, existe uma direita inteligente – com o objetivo de diluir os movimentos populares agrupando-os em um partido de massas e, principalmente, evitar que o antigo PTB de Getúlio Vargas e João Goulart – o verdadeiro partido dos trabalhadores que foi golpeado em 1964 – voltasse a ter uma forte influência depois de 25 anos de ostracismo político.  

   O grande medo dos donos da ditadura militar que fizeram um pacto político para entregar o poder aos civis aliados era que o PTB voltasse com força à cena política brasileira. Para impedir que isso acontecesse foi criado o PT. Lula e o PT surgiram na hora certa para fazerem o contraponto, a necessária antítese que leva à síntese do capitalismo reformista. 

   Como produto do capital, o PT tornou-se descartável no momento em que se imaginou dono do poder e não concordou em fazer o revezamento com o PSDB, conforme estava implicitamente proposto no acordo de elites que recriou a república. A política é bem mais do que aquilo que é veiculado pelos meios de comunicação. É provável que esse acordo determinasse dois mandatos para cada partido – a exemplo dos partidos Republicano e Democrático, dos Estados Unidos. Sendo assim, Lula poderia governar por oito anos, ou dois mandatos, e depois “perderia” para algum candidato do PSDB. Não por acaso as suspeitas urnas eletrônicas foram adotadas no sistema eleitoral brasileiro. O voto virtual é realmente virtual. 

   Não interessa ao Sistema um grande partido dominando a cena política. A receita capitalista do que eles chamam de “democracia” propõe dois partidos alternando-se no poder: um supostamente mais à direita, outro supostamente mais à esquerda. Ambos governam para dez por cento da população e enganam o povo. E o povo enganado sente-se feliz acreditando que está em um país livre e democrático. 

    Lula não cumpriu o acordo e quando Dilma foi eleita pela primeira vez, os conservadores ouriçaram-se e começaram a preparar o fim do PT. O processo do Mensalão foi acelerado e líderes presidenciáveis, como José Genoíno e José Dirceu, foram condenados e presos. O PT não cedeu e ameaçou reeleger Dilma Roussef. Então, aconteceram as jornadas de junho de 2013, brilhantemente articuladas para desacreditarem a política e os políticos. O mote era a corrupção, o objetivo final era desmoralizar o PT, facilitando a eleição de um político reacionário em 2014. 

    Em 2014, Aécio Neves perdeu as eleições – com ou sem a ajuda das famosas urnas eletrônicas. Reeleita, Dilma jogou-se nos braços da direita acreditando salvar o seu mandato ao cumprir uma pauta retrógrada. Em seu ministério existem pessoas como Kátia Abreu, representante das oligarquias fundiárias, e o super-ministro Joaquim Levy, que defende os interesses dos grandes bancos nacionais e internacionais e promove reformas políticas nitidamente a favor do capital e contra o povo e os trabalhadores. 

   O temido golpe já foi dado pela própria Dilma e consiste em entregar a economia para os banqueiros, a terra para os latifundiários, as empresas públicas para as multinacionais, acabar com os direitos sociais e trabalhistas e aceitar todas as alianças com os Estados Unidos e países europeus com governos de direita, como a Alemanha de Merkel. Uma guerra com a Rússia está à vista e esses países precisam da matéria-prima brasileira. De quebra, uma lei antiterrorista que segue o ditado estadunidense, permitindo incriminar legítimos movimentos sociais. 

    Um golpe branco, sem a necessidade da ostensiva presença militar. Um golpe respaldado por leis aprovadas no Congresso e pela omissão do Judiciário. Um golpe que se finge de democrático, como em 1964, e que ressuscita grupos fascistas, como o CCC (Comando de Caça aos Comunistas), que pode ter jogado uma bomba no Instituto Lula, recentemente, e o Esquadrão da Morte, que pode estar por trás dos 33 assassinatos em Manaus, no dia 17, e os 18 assassinatos em Osasco e Barueri, no dia 13. 

    Contra o golpe, que já é visível e palpável, a massa trabalhadora marchou no dia 20. Não pela Dilma, mas pelo que ela significa como Presidente: um Estado de direito cada vez menor. Os trabalhadores manifestaram-se contra a retirada dos direitos trabalhistas, contra Joaquim Levy, o golpista dentro do Planalto, a quem Dilma obedece, contra Eduardo Cunha, que simboliza o pior tipo de reacionário corrupto, contra Renan Calheiros, que deseja impor o que chama de “Agenda Brasil”: a rapinagem dos nossos recursos naturais pelo capital internacional, reduzir os gastos sociais para dar o dinheiro aos bancos, desmantelar o SUS, entregando-o ao capital privado. 

    Não foi um protesto em defesa do Lula ou do PT, que já traiu a classe trabalhadora várias vezes. Eles que morram abraçados, “que os mortos enterrem os seus mortos”. A verdadeira esquerda que tenta defender o povo e os trabalhadores está começando a acordar e a entender que o capitalismo, mesmo “reformado”, sempre será capitalismo, trazendo em seu bojo o ódio, a intolerância, o preconceito, a selvageria e a barbárie.

domingo, 16 de agosto de 2015

O FASCISMO ESTÁ NAS RUAS





Os grupos que pretendem um golpe contra a Constituição e se organizaram para, neste domingo, 16, saírem às ruas com esse objetivo, deixaram claro que não estão preocupados com os corruptos ou com a corrupção, uma vez que decidiram não atacar Eduardo Cunha (PMDB), investigado pela operação “lava jato” por suspeita de ter recebido cinco milhões de reais de propina. Ao contrário, fazem de Cunha um aliado, do qual esperam que aceite – como Presidente da Câmara – um dos vários pedidos de “impeachment” contra a Presidente Dilma Roussef. Provavelmente financiados pelo PSDB e outros setores da direita, os grupos golpistas se autodenominam “Aliança Nacional dos Movimentos Democráticos”, “Movimento Brasil Livre” e “Vem Pra Rua”. 

   De acordo com o site brasil247 (http://www.brasil247.com/pt/247/economia/172505/Jorge-Paulo-Lemann-%C3%A9-quem-financia-o-golpismo.htm) Jorge Paulo Lemann, o homem mais rico do Brasil, com uma fortuna estimada em cerca de 29 bilhões de reais, é suspeito de patrocinar o movimento “Vem Pra Rua”, em parceria com seus sócios Marcel Hermann Telles e Carlos Alberto Sucupira. Embora negando envolver-se em política, o domínio do “Vem Pra Rua” é da Fundação Estudar que pertence aos três empresários. 

   O “Movimento Brasil Livre” recentemente foi acusado pela revista Fórum de crescer graças ao patrocínio dos milionários da petroleira norte-americana Koch Industries, interessada na privatização da Petrobrás. Fábio Ostermann, considerado o mentor intelectual do MBL, é sócio do Instituto de Estudos Empresariais e diretor do Instituto Liberal, presidido por Rodrigo Constantino, colunista da revista Veja e membro-fundador do Instituto Milenium (IMIL), apoiado por grandes grupos empresariais brasileiros ligados a multinacionais. 

    A “Aliança Nacional dos Movimentos Democráticos”, mesmo se dizendo apolítica é claramente golpista, sendo formada por 26 grupos de caráter fascista. A “Aliança” é contra a taxação de grandes fortunas e impostos sobre heranças. Há indícios de que esse grupo que reúne outros grupos está ligado à Shell. Um dos seus chefes, Colin Butterfield, é diretor da Cosan Alimentos, empresa do grupo de usineiros que controla a venda de cana de açúcar. 

    Não há certeza de que esses grupos golpistas também sejam patrocinados por Washington, mas não é improvável. Sabe-se, no entanto, que são manipulados pelas oligarquias brasileiras e pelas multinacionais que desejam a privatização da Petrobrás e da Eletrobrás. É uma tradição da extrema-direita latino-americana a aliança com o capital financeiro internacional, o entreguismo e a conseqüente subserviência aos Estados Unidos. 

    Ao contrário da direita européia que se caracteriza pelo extremo nacionalismo, muitas vezes adotando o fascismo como meta, a direita latino-americana não descarta o fascismo - principalmente quando dos golpes de Estado, ocasiões em que as forças armadas tomam o poder e impõem ditaduras -, mas desde que seja um tipo de fascismo apelidado de “democracia” e monitorado pela matriz norte-americana.

   Em 1964 foi assim. Em nome da democracia eles instalaram a ditadura. Prenderam, torturaram, mataram em nome da democracia. Em nome da democracia acabaram com as leis democráticas, rasgaram a Constituição e apelidaram o seu golpe de Estado de “revolução”. Em nome da democracia acabaram com os partidos políticos e também em nome da democracia, mais tarde fundaram dois novos partidos: MDB (Movimento Democrático Brasileiro) e ARENA (Aliança Renovadora Nacional). 

   O primeiro para fingir de oposição, o outro para apoiar todos os atos da ditadura. Depois da redemocratização a ARENA se transformou em PDS (Partido Democrático Social), mais tarde PFL (Partido da Frente Liberal) e, finalmente, DEM (Democratas). Outra facção da antiga ARENA mudou o seu nome para Partido Progressista Renovador (PPR), hoje simplesmente PP (Partido Progressista). 

   O MDB continuou o mesmo e até hoje é o mesmo. Só acrescentou o “P”, de “Partido”. Na época, o MDB, ou PMDB, foi apelidado de “Centrão” – nem lá, nem cá, muito antes pelo contrário. Sem proposta, sem ideologia, sem qualquer conteúdo. Um partido estilo quem dá mais?  Não por acaso, no país da cultura da corrupção, o PMDB é o maior partido do Brasil, dominando as duas casas do Congresso, tem sete ministérios e o vice-presidente da República, Michel Temer. Os dois presidentes do PMDB – Senado e Câmara de Deputados – estão sendo investigados pela operação “lava jato” por suspeita de corrupção. 

   Na primeira lista da operação “lava jato” o ministro Teori Zavascki, do STF autorizou a abertura de 21 inquéritos envolvendo 49 políticos. 33 do Partido Progressista (antiga ARENA), incluindo 3 senadores. Do PMDB, 9 foram indiciados, sendo dois entre eles arquivados. Do PT, 8 foram indiciados e 1 entre eles foi arquivado. Do PSDB, 2 foram indiciados: Anastasia e Aécio Neves. O processo de Aécio foi arquivado. Do PTB, somente o senador Fernando Collor de Mello, desafeto do Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot. 

    Observe-se que dentre os 49 políticos indiciados, 42 são de direita – 33 do PP, 7 do PMDB, 1 do PSDB e 1 do PTB. Do PT, apenas 7. E, no entanto, somente o PT é acusado de corrupção pela mídia golpista estilo Globo/Veja, que fez do juiz Sérgio Moro o grande herói que ajudará a derrubar o governo. 

    Não sem a ajuda da própria Dilma, que segue a cartilha fascista do seu super-ministro Joaquim Levy, representante dos banqueiros. Em poucos meses do seu segundo mandato, Dilma conseguiu a façanha de retirar direitos trabalhistas com o único objetivo de alimentar os bancos que compraram a dívida externa do FMI e agora, estrategicamente, exigem o pagamento. Foi além e obrigou o Congresso a aprovar uma lei antiterrorismo que amordaça os movimentos sociais e, se o PT e os próprios movimentos sociais se omitirem, Dilma continuará a retirar os direitos dos trabalhadores e entregará o SUS, a Petrobrás e a Eletrobrás ao capital estrangeiro. 

    Como partido revisionista e meramente reformista o PT caiu em suas próprias armadilhas. Não consegue mais avançar além das pequenas reformas sociais que conseguiu para comprar votos do povo alienado. Estancou, perdeu-se em discurso demagógico que se transformou em círculo vicioso e fez ainda pior: aliou-se aos piores setores da direita - que já é corrompida por definição - e não sabe o que fazer no instante em que esses setores se afastam do governo porque o dinheiro que comprava os seus votos no Congresso cessou. 

    Resta-lhe tentar salvar o governo. Não pela Dilma, que foi completamente absorvida pela direita. Talvez pelo Lula, ou o que ele representou algum dia, antes de aceitar o jogo da corrupção. Ou para evitar um golpe que traria novo retrocesso e total descrédito a nível internacional. Mais provavelmente, para salvar a legenda, a sigla partidária, que está se esvaindo dia a dia. 

     E não será com marchas de margaridas e pequenos protestos contra o avanço do fascismo que o PT conseguirá evitar a antecipação do final do governo Dilma. Este é um momento histórico em que todos os setores da sociedade estão mobilizados, e não somente os partidos políticos, que já tiraram suas máscaras e tomaram suas verdadeiras posições. Inclusive PSOL, PDT e PPS – que se diziam partidos de centro-esquerda – estão se colocando ao lado do reacionarismo mais prepotente. 

    Para alguma coisa está servindo este período de crise fabricada para nocautear o governo e arrochar o povo: para definições claras. Ou se é de direita e a favor do golpismo, do retrocesso e conseqüente fascismo, ou se é de esquerda e a favor das lutas sociais. Não há mais espaço para o meio-termo, para o centrismo hipócrita à espera de vantajosas alianças.
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