terça-feira, 9 de junho de 2015

ACORDO ORTOGRÁFICO: MULUNGOS E COLONIZADOS







Em Portugal entrou em vigor o Acordo Ortográfico, ou AO/90, que tem por objetivo uniformizar a ortografia da língua portuguesa entre os oito países lusófonos integrantes da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) – Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe. Moçambique e Angola não estão muito satisfeitos com essa “uniformização” e os demais países que integram o Acordo provavelmente não venham a adotá-lo de fato, ou de facto, deixando que a letra da lei se perca nos escusos bueiros oficiais, uma vez que ninguém foi consultado sobre o AO/90, com exceção, ou excepção, das academias de letras e dos governos interessados em favorecer determinadas empresas que lucrarão muito com o Acordo. No Brasil o AO/90 vigorará a partir de fevereiro de 2016 e até agora, pelo que se tem visto e ouvido, não houve qualquer manifestação contra essa anomalia fascista forjada nos gabinetes da ditadura militar. 

  Por cá, ou aqui, vez por outra ocorrem manifestações as mais esdrúxulas e risíveis, todas elas copiadas de outros países, como passeatas gays patrocinadas por prefeituras e governos estaduais igualmente gays, curiosas “marchas das vadias”, em que participam mulheres das classes altas mostrando os seios e exigindo o direito de mostrar os seios, marchas a favor da legalização da maconha e até adolescentes consumistas da classe média fazendo, ou a fazer, “rolezinhos” ou passeios em procissão aos centros comerciais onde admiram, ou ficam a admirar, os artigos mais caros e praticando, ou a praticar, o produto importado que mais idolatram: o inglês. 

   Também acontecem manifestações aparentemente mais sérias, como aquelas que, no início do ano, pediram a saída de Dilma do Governo e a volta da ditadura militar. E também aparentemente essas manifestações diminuíram o seu ardor golpista assim que o Ministro da Fazenda, ou Ministro da Recessão (não confundir com recepção), Joaquim Levy, apoiado pela direita explícita e manifesta, chamou o FMI e achou por bem retirar os direitos trabalhistas e arrochar o povo com uma inflação ditatorial. Aquietaram-se os manifestantes da direita porque o governo que desejavam derrubar já está devidamente infiltrado e aceitando as diretrizes entreguistas. 

    As manifestações dos golpistas provocaram a reação dos partidos da esquerda reformista e de alguns sindicatos pelegos, como a CUT, que foram às ruas manifestando-se, ou a manifestar-se, com faixas e cartazes escritos em sofrível português e razoável inglês, revelando a sua inconformidade com o governo que apóiam. Passeatas que terminaram depois de muitos passos cadenciados por palavras de ordem pedindo uma greve geral que dificilmente acontecerá, agora que a Dilma resolveu pedalar para preservar a saúde e o satânico Dr. No brasileiro – um certo senhor Cunha, amigo de empresários e latifundiários – decidiu governar o país.  

   Além disso, o Campeonato Brasileiro começou e o povo está vidrado nas telas de tevê, e, os que não gostam de futebol assistem novelas extremamente medíocres ou vão brincar de amizade virtual no Facebook. Ninguém fez manifestações contra o Acordo Ortográfico, também apelidado de acordês ou desacordo ortográfico. Este é o país onde todos, ficcionalmente, obedecem às leis.  

   Em determinado dia foi veiculado pela mídia oficialesca que havia um acordo ortográfico datado de 1990 que entraria em vigor brevemente e o povo deveria obedecer às novas regras de ortografia. O povo, que nada sabe de regras, de língua portuguesa ou de ortografia, concordou bovinamente. Em seguida, começou a edição de livros em acordês e os jornais de todo o país contrataram professoras e professores acomodados às novas regras para ensinar os redatores a redigir. Os donos das gráficas ficaram muito faceiros por reeditarem mesmos livros com estranhas palavras para um público muito dócil. 

   Esta nova geração de brasileiros - e não somente ela - é essencialmente submissa. Ninguém discute nada, todos aceitam tudo. É um povo alegre e cordato, dizem por aí. É verdade. A alegria é tanta que fazem anedotas da própria tristeza. Se surgisse alguma lei obrigando as pessoas a andar de pernas para cima durante uma hora por dia, teríamos um povo de acrobatas. Discute-se futebol. E a corrupção nossa de cada dia, e, assim mesmo, miudamente. É tudo muito natural no país do carnaval, onde se cultiva, ou são cultivados, transgênicos e indignações mascaradas.  

   O desmatamento aumentou? –“Que pena!” Os corruptos estão soltos? – “Olha só!” A polícia massacra professores? – “Que horror!” O Congresso aprova leis contra os trabalhadores? – “Não é uma vergonha?” O custo de vida está mais alto? – “São todos uns ladrões!” Policiais invadem as favelas matando? – “Que violência!” Indígenas são assassinados? – “Coitados!” 

    Poucos se preocupam com a língua portuguesa, e falam e escrevem por obrigação, como se fosse um grande sacrifício. É uma geração que prefere o sintático inglês, idioma utilizado por robôs e máquinas afins. De resto, não se pode culpá-los por vícios mentais adquiridos, quiçá, durante o Brasil colônia.  

    Alguns peritos dizem que a miscigenação inclui os idiomas. O Nagô-Iorubá, o Ewe-fon e o Banto teriam influenciado diretamente na formação lingüística dos brasileiros. No entanto, sabe-se que os dialetos das etnias negras foram quase totalmente extintos no Brasil. De tal maneira, que os escravos foram obrigados a falar a língua do escravagista. Perguntem a um afro-descendente qual o seu nome original e ele não saberá dizer. Os escravos tiveram que adotar os sobrenomes das famílias que os escravizavam e, com o passar do tempo, perderam quase totalmente a memória da sua cultura africana. 

    É certo que várias palavras podem ser pinçadas e expostas como “prova” da presença dos dialetos africanos no nosso vocabulário. Mas são muito poucas, e, na verdade, nada provam, a não ser o massacre cultural que sofreram os povos negros escravizados no Brasil. Dirão alguns que temos o candomblé e a umbanda, religiões em que são utilizadas palavras originárias da África. Poucas palavras, se observarmos bem, e principalmente aquelas que designam os deuses dessas religiões, ou os pratos típicos. E quase unicamente no nordeste do Brasil. 

   Quanto ao tupi-guarani, a sua influência na formação do português-brasileiro é bem maior, notadamente palavras que designam animais, plantas, cidades e acidentes geográficos. E uma ou outra expressão idiomática. Ao contrário dos demais países da América Latina, que respeitam a tradição nativa, os indígenas estão sendo exterminados no Brasil. Moram em exíguas reservas e são constantemente ameaçados e mortos por madeireiros e agropecuaristas. No sul do Brasil, os restantes guaranis moram em acampamentos quase à beira das estradas, cercados por imensas lavouras de soja transgênica. É enorme a pressão para aculturar os indígenas e poucas são as tribos que conseguem resistir. 

   Há quem afirme que o português usado pelo caboclo ou caipira, encontrado principalmente nos estados de São Paulo e Minas Gerais, é fruto da mestiçagem também na língua, o que dificilmente poderá ser provado. Mesmo o continuado uso do “r” retroflexo (em lugar do “l”) nada mais é que um vício de linguagem alimentado geração após geração. Vício proveniente da má educação naquelas regiões, provavelmente resultado da preguiça em pronunciar o “l”. Sobre a preguiça do caipira, Monteiro Lobato escreveu longas dissertações introduzidas nos seus contos, e apelidou o caipira de “Jeca Tatu”. 

   Há vícios de linguagem e modos de falar o português em cada região do país. No Rio de Janeiro o “carioquês” chiado e arrastado, no Nordeste e região Norte a lentidão no falar, no Centro-Oeste uma mistura de sotaques, e talvez somente na região Sul, em particular no Rio Grande do Sul, a língua portuguesa seja menos maltratada, pois o gaúcho adquiriu o hábito de dizer as palavras por inteiro – e, assim mesmo, o gaúcho que mora na fronteira ou na região das Missões, porque o porto-alegrense está desenvolvendo um sotaque “cantado”. 

    Tornou-se clássica a sofreguidão dos portugueses ao falar. Pronunciam as palavras e frases tão rapidamente que parecem comer sílabas, mal se distinguindo vogais de consoantes. E assim nos demais países onde a língua portuguesa é falada, cada nação com o seu sotaque, o seu ritmo próprio. Da mesma maneira, também existem diferenças na ortografia, de país para país, o que é muito natural: a língua é viva e dinâmica e sofre um processo gradual de transformação. 

    O que não é natural é obrigar a mudança na ortografia em nome de uma sistematização ou uniformização ridícula e absurda, ou, conforme escreveu Fernando Pessoa: “A ortografia é um fenómeno da cultura, e, portanto um fenómeno espiritual. O Estado nada tem com o espírito”. As diferenças ortográficas enriquecem a língua portuguesa, revelando nuances e características muito particulares de cada país lusófono. Vejam a palavra “fenômeno”, que em Portugal é usada com acento agudo para designar a sílaba tônica grave e no Brasil, a mesma palavra tem acento circunflexo. No início do século XX a acentuação que hoje se usa em Portugal também era usada no Brasil e foi modificada com a introdução do acento circunflexo, por exemplo, para que o povo se acostumasse a pronunciar a língua portuguesa corretamente, ou correctamente. A educação é a única razão da acentuação em uma língua tão complexa e bonita como a nossa. 

    Com o AO/90 foram retirados, no Brasil, os acentos agudos dos ditongos das palavras paroxítonas, assim como o trema e o acento agudo de algumas formas verbais - porque é assim que se escreve em Portugal. Também o acento circunflexo foi retirado na vogal tônica de “o” nas palavras paroxítonas e nas formas verbais paroxítonas que possuem o “e” tônico fechado em hiato na 3ª pessoa do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo. E isso foi um desserviço ao ensino da língua portuguesa no Brasil, país onde a maioria das pessoas mal sabe ler e escrever e, entre essa maioria, muitos não entendem o que lêem ou escrevem.  

    Existe uma enorme distância entre a educação em Portugal e a educação no Brasil. Em Portugal há um verdadeiro culto à língua portuguesa, enquanto no Brasil venera-se a iconoclastia à língua de Camões e Fernando Pessoa. Ou seja: lá, determinados acentos não são necessários porque as pessoas sabem falar, escrever e entender a sua língua; aqui, esses acentos são necessários basicamente para ensinar a população a falar, escrever e compreender a língua portuguesa.  

    Em 2014, um levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) registrou cerca de 13 milhões de analfabetos com 15 anos ou mais. Mas isso tem cura, ninguém tem culpa de ser analfabeto, exceto o Governo Federal que descura completamente da educação. Pior é o analfabetismo funcional: pessoas que sabem ler e escrever, mas não entendem o que lêem ou escrevem, embora possam reconhecer letras e números. O analfabeto funcional é incapaz de entender textos simples, bem como realizar operações matemáticas um pouco mais elaboradas. 

     E não pensem que os analfabetos funcionais são pessoas que vivem nas favelas ou em lugares distantes e ignotos dos sertões brasileiros. Aqueles são simplesmente analfabetos, em sua maioria. De acordo com uma pesquisa feita pela Universidade de Brasília, a partir da análise de 800 alunos, em seis cursos de quatro faculdades, 50% dos estudantes do ensino superior são analfabetos funcionais, ou seja, não entendem o que lêem. O último INAF (Indicador de Analfabetismo Funcional), feito em 2012, apontou que 38% dos estudantes universitários são analfabetos funcionais, através de pesquisa com duas mil pessoas. 

    Vocês devem estar se perguntando como esses estudantes passaram no vestibular. Mas o ENEM (Exame Nacional de Ensino Médio) não é aquele fiasco que aumenta a cada ano, sempre fraudado? E as escolas do ensino fundamental e ensino médio não são orientadas pelo Ministério da Educação a deixar o aluno passar, mesmo que não saiba nada? Este é o país do jeitinho, da fraude e da corrupção, e na educação não é diferente. 

    Eu fico imaginando, ou a imaginar, analfabetos funcionais lendo palavras como jibóia, odisséia ou idéia - que agora, no Brasil, devem ser escritas sem o acento agudo - e pronunciando como se a tônica fosse grave. Não se pode uniformizar forçadamente o que não está uniformizado naturalmente. Vou repetir: em Portugal as pessoas sabem ler, escrever e compreender o que estão lendo e escrevendo, e lá o analfabetismo deve ser quase inexistente. Aqui é exatamente o contrário. 

    No Brasil, escrever certo o português é chamado de “norma culta”. É de se pressupor que escrever errado também seja uma “norma”, a “norma inculta”. Pois o Ministério da Educação, para coroar todas as burrices que vêm patrocinando através dos últimos doze ou quinze anos publicou um livro que ensina a escrever e falar errado. Nele, o MEC assegura que certas expressões, como “os livro” ou “nós pega o peixe” estão certas. É a “norma inculta”. O livro é intitulado “Por uma Vida Melhor”, lançado pela ONG “Ação Educativa” e incluído na coleção do MEC “Viver, Aprender”, para a Educação de Jovens e Adultos (EJA). A edição custou cinco milhões de reais aos cofres públicos e o livro foi enviado para 4.236 escolas do país, com a chancela do MEC. 

     Chama-se a isso “evitar o preconceito lingüístico”, ou ainda: “livrar-se do mito de que existe uma única forma certa de falar”. Dizem os defensores da “norma inculta” que se deve evitar o “preconceito em relação à fala”; resumem que não é politicamente correto corrigir as pessoas quando falam ou escrevem errado. Certos “educadores” defendem o livro e tudo o que ele significa como forma de se evitar “preconceitos não visíveis”. 

     E criam uma divisão muito visível entre aqueles que usam a “norma culta” e a imensa multidão que não sabe falar e escrever e que é “defendida” em sua ignorância pelos governos manipuladores e desejosos de votos a todo custo. Para o MEC, educar ou deseducar é a mesma coisa, dependendo sempre do ponto-de-vista. E, a seguir essa míope visão, se alguém for corrigido poderá processar quem tentou ensiná-lo, com o argumento de “preconceito lingüístico”. Corretamente, a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e a ABL (Academia Brasileira de Letras) condenaram o livro, o que não evitou que a monstruosidade fosse enviada para jovens e adultos em fase de aprendizado. 

   O Acordo Ortográfico, além de desnecessário, facilita a tentativa da criação de uma nova língua a partir do Português. Uma língua baseada na fonética e, com o tempo, sem qualquer regra de ortografia. Uma língua para o povo, que então se sentirá “livre” para não estudar, não aprender, não desenvolver a inteligência – e permanecer eternamente dependente de governos demagógicos e populistas. Acreditam os governantes que o nosso é um povo que elege “tiriricas” e merece ser tratado de acordo com a sua incapacidade mental. “Pão e Circo” ainda é a máxima do maquiavelismo fascista no Brasil. 

   O Acordo Ortográfico prevê o fim do hífen em muitas palavras compostas, o que provocou a criação de horrendos vocábulos. Exemplos: extrassensorial, contrarreforma, ultrassecreto, etc. Não há razão para tal, mas assim é a mente extra-sensorial dos abracadabrantes subversores da ortografia. Para eles, vale tudo, e sempre haverá uma nova regrinha para justificar a hediondez. Para complicar ainda mais, foi retirado o acento diferencial de palavras homófonas, e de algumas formas verbais. 

    Em Portugal formaram-se vários grupos contra o AO/90. Alguns deles: “Professores Contra o Acordo Ortográfico”, “Tradutores Contra o Acordo Ortográfico”, “Cidadãos Contra o Acordo Ortográfico”, "Em Acção Contra o Acordo Ortográfico", este último com mais de 60.000 participantes. Uma petição com milhares de assinaturas foi entregue ao Parlamento português e alguns jornais, como o “Público”, ignoram heroicamente o AO/90 e continuam a publicar em bom português. A pressão da sociedade portuguesa contra o Acordo Ortográfico é muito grande e muitos são os manifestos contra o Acordo, que está sendo chamado de “Desacordo”. 

     O que mais irrita os portugueses é a retirada das consoantes mudas que servem para diferençar o significado entre duas ou mais palavras. Somente em Portugal, onde muitas dessas palavras são pronunciadas como se a consoante não existisse. No Brasil, as consoantes são pronunciadas, inclusive e principalmente, a palavra corrupção. Exemplo: “recepção” tornou-se “receção”, tornando-se homófona de “recessão”. Outro: “facto” perdeu o “c” em Portugal, tornando-se “fato”, que é o mesmo que vestimenta, roupa. Observe-se que nesses casos torna-se claro o intuito dos acordistas de promover a criação de uma língua fonética, o que é um absurdo lingüístico. 

     A todas essas, os portugueses que se posicionam contra o AO/90 põem a culpa nos brasileiros. Alguns chegam a dizer: “Eu não quero escrever como os brasileiros!” Concordo que é ofensivo, mas devemos relevar. Afinal, nós sabemos escrever? Basta dar uma rápida olhada nas redes sociais brasileiras para que se obtenha uma resposta. É triste e assustador. A “norma inculta” prolifera, muitas vezes alimentada com gírias e palavras em inglês. Estamos a um passo de adotar o inglês como segunda, ou primeira, língua oficial. 

     Por outro lado, os portugueses estão errados ao dizer que não querem escrever como os brasileiros. Quais brasileiros? Há muitos brasis no Brasil. De região para região percebem-se as diferenças culturais, resultado das condições sociais e da maior ou menor alienação. Há brasis que adoram ser tutelados, colonizados, e não se sentem bem sem um senhor, um dono, alguém que lhes diga o que fazer a cada minuto e ficariam muito felizes com um ditador, um tirano, um rei, um déspota qualquer. Muitos anos atrás estavam em minoria, quase desaparecendo. Depois, veio o golpe militar, que se tornou golpe cultural a se perpetuar nos governos civis e os brasis e brasileiros entregues e entreguistas ressuscitaram com toda força. Um país não é apenas o seu território, é o seu povo, e quando o povo falha... 

     Moçambique é um país de gente brava e orgulhosa que lutou durante décadas contra a colonização portuguesa. Quando, finalmente, expulsaram os portugueses, passaram a reafirmar a sua nacionalidade. Em uma das redes sociais encontrei um texto de um moçambicano, que vale a pena reproduzir aqui. 

“Eh Oena, Lhe Can

“Nós aqui em Moçambique sabemos que os mulungos de Lisboa fizeram um acordo ortográfico com aquele tocolocma do Brasil que tem nome de peixe. A minha resposta é: naila. Os mulungos não pensem que chegam aqui e buissa saguate sem milando, porque pensam que o moçambicano é bongolo. O moçambicano não é bongolo não; o moçambicano estiva xilande. Essa bula bula de acordo ortográfico é como babalaza de chope: quando a gente acorda manguana, se vai ticumzar a mamana já não tem estaleca e nem sequer sabe onde é o xitombo, e a gente arranja timaca com a nossa família. E como pode o mufana moçambicano falar com um madala? Em português, naturalmente. A língua portuguesa é de todos, incluindo o mulato, o balabasso e os baneanes. Por exemplo: em Portugal dizem “autocarro” e está no dicionário; no Brasil falam “bus” e está no dicionário; aqui em Moçambique falamos “machimbombo” e não está no dicionário.  Porquê? O moçambicano é machimba? Machimba é aquele congoaca do Sócrates* que pensa que é chibante e que fuma nos tape, junto com os chiconhoca ministro da economia de Lisboa. O Sócrates não pensa, só faz tchócótchá com o th’xouco dele e aquilo que sai é só matope. Este acordo ortográfico é canganhiça, chicuembo chanhaca! Aqui na minha terra a gente fez uma banja e decidiu que não podemos aceitar.


“Bayete Moçambique!


“Assinado: Manuel Muanamucane.”

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*Sócrates. Não confundir com o filósofo grego. José Sócrates é do Partido Socialista de Portugal e foi Primeiro-Ministro, de 2005 a 2011. Encontra-se em prisão preventiva desde 25 de Novembro de 2014, por corrupção.
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