sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

NA VÉSPERA DA VÉSPERA



Na véspera da véspera, antes da mágica e invisível passagem, antes do dia que antecede o momento da virada - quando todos os corações estarão alertas e esperançosos, mesmo os que se sentem mais oprimidos e deserdados - é o momento de fazer as contas com a vida, de deixar-se divagar em sonhos de sestas atrasadas, de dar aquele passeio que durante o ano inteiro foi adiado, somente para cumprimentar os vizinhos com palavras novas e sorrisos sinceros.

     Porque é o dia da sinceridade, quando nos perguntamos - talvez naquele momento de pequena solidão e aconchego com o espelho e a sombra – se está valendo a pena. Todo momento de sinceridade é um momento cruel, porque tem a ver com desnudar-se e verificar cicatrizes; com retirar máscaras; com procurar novas forças e novas esperanças e de confrontá-las.

     Na véspera da véspera avaliamos as nossas forças e as nossas fraquezas e não nos cobramos demasiadamente, porque sabemos que tudo, até então, tem sido feito com fé e amor ou, no mínimo, com esperança. Porque é o dia da esperança; dia em que buscamos a firmeza que somente os sonhos não nos trazem e fazemos da doação um ato de entrega e carinho. Porque todo momento de esperança é um momento de entregar-se ao universo com a alma descoberta e a tranqüilidade que afasta os tufões internos.

     Na véspera da véspera encontramos o silêncio e aquele resto de pureza que ficou em algum momento da infância e que sempre desprezamos como desnecessário, mas que, agora, torna a sua presença imperiosa e a vaga lembrança como uma brisa de primavera a balançar a rede vazia na varanda e a anunciar uma chuva abençoada em um fim de tarde com cheiro de terra molhada que nunca esquecemos.

     Mas também é o dia do rufar de tambores internos. De preparar-nos para mais uma grande caminhada que traz o sabor do indefinido e que nos desafia a escolher caminhos inquietos, mas a ir em frente, porque o importante é continuar, mesmo quando as encruzilhadas se multiplicam e provocam a ansiedade dos desabrigados. Porque o abrigo é o caminhar, e o caminho escolhido sempre será o certo, porque foi o escolhido, e nas nossas escolhas está escondida a força para o próximo passo.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

OS INTOCÁVEIS







Fato: Juiz que se envolveu em briga de trânsito é promovido a desembargador em São Paulo. Delegado que o prendeu é exonerado.

     - O Tribunal de Justiça de São Paulo acabou de promover o juiz Francisco Orlando de Souza, de 57 anos, ao cargo de desembargador. O magistrado se envolveu numa discussão de trânsito e acabou sendo acusado por um delegado de polícia de dirigir sem habilitação e embriagado. A decisão foi tomada por votação unânime, nesta quarta-feira (19) pelo Órgão Especial do TJ paulista.

     - O delegado Frederico Costa Miguel foi exonerado da Polícia Civil de São Paulo. A exoneração, assinada pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), foi publicada ontem (27) no "Diário Oficial". Miguel acusou Francisco Orlando de Souza, magistrado do Tribunal de Justiça, de dirigir sem habilitação, embriaguez ao volante, desacato, desobediência, ameaça, difamação e injúria. O governo nega qualquer relação entre a exoneração do delegado e o incidente.

     Fato: O Ficha Suja Jader Barbalho toma posse no Senado.

     - Barbalho, eleito senador com 1,8 milhão de votos, foi impedido de tomar posse por ter sido enquadrado na Lei da Ficha Limpa. Porém, o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou a lei, sancionada em julho de 2010, inaplicável nas eleições daquele ano, o que abriu caminho para o peemedebista. Ele foi enquadrado na legislação por ter renunciado ao cargo de senador em 2000, para escapar de um iminente processo de cassação.

     - Marinor Brito tentou adiar a posse, protocolando pedido de mandado de segurança junto ao Supremo Tribunal Federal (STF). Ela questionou o rito aplicado pela Mesa do Senado, mas teve o pedido negado pelo ministro Ayres Britto. Com a saída de Marinor, a bancada do PSOL passa a ter apenas um parlamentar na Casa, o senador Randolfe Rodrigues (AP).

     - O Senado Federal divulgou, nesta quinta-feira (29), que o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) receberá R$3.448,14 de remuneração referente aos quatro dias trabalhados (?) em dezembro. E mais os dois meses de férias.

     Fato: União pagará bilhões por auxílio-moradia a magistrados.

     - O pagamento retroativo do auxílio-moradia a magistrados, onde estão sob inspeção e agora geram polêmica, obrigou a União a desembolsar alguns bilhões, informa a coluna Mônica Bergamo publicada na Folha desta quinta-feira.

     - Só para a Justiça trabalhista, em 2008, quando começaram a ser pagos, eles foram calculados em R$ 1 bilhão. O auxílio foi concedido até para quem morava na cidade e onde trabalhava.

     - Na semana passada, reportagem da Folha mostrou onde nove dos 33 ministros do Superior Tribunal de Justiça receberam de uma vez só neste ano pagamentos de auxílio-moradia atrasados dos anos 1990. Os valores, somados, superam R$ 2 milhões. É o mesmo benefício recebido pelo presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Cezar Peluso, e pelo ministro Ricardo Lewandowski.

     - É o mesmo benefício recebido pelo presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Cezar Peluso, e pelo ministro Ricardo Lewandowski. O direito foi reconhecido em 2000, quando o STF decidiu que todos os magistrados do país deveriam ter ganho aquilo que, durante alguns anos da década de 1990, foi pago apenas aos congressistas. Na quarta-feira, Peluso, saiu em defesa de Lewandowski, onde durante a semana paralisou inspeções do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) sobre pagamentos milionários feitos por tribunais estaduais a magistrados.

     Fato: Varredura em 217.000 nomes provocou guerra no Judiciário.

     - Uma varredura determinada em 2010 pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) na movimentação financeira de servidores e magistrados do Judiciário está na origem da guerra deflagrada no mundo jurídico, informa reportagem de Frederico Vasconcelos, publicada na Folha, quinta-feira, 22 de dezembro.

     - O levantamento atingiu 216.800 pessoas e apontou que 3.438 deles realizaram movimentações suspeitas.

     - O levantamento foi usado para a corregedoria do CNJ determinar em 22 tribunais para apurar eventual enriquecimento ilícito.

     - Na segunda-feira (19), último dia antes do recesso do Judiciário, o ministro do Supremo Ricardo Lewandowski atendeu a pedido de associações de juízes e deu liminar sustando a inspeção.

     Fato: o governo Dilma Roussef teve sete ministros demitidos em um ano.

     - Somente Nelson Jobim não foi demitido por corrupção. Ele falou que as ministras Ideli Salvatti e Gleisi Hoffmann são muito fracas.

     - Antonio Palocci, da Casa Civil, foi demitido por suspeita de corrupção. Após 23 dias de crise, ele entregou o cargo a presidente depois de revelações da imprensa que o ministro multiplicou seu patrimônio por 20 entre 2006 e 2010, quando ele foi deputado federal e manteve, paralelamente, uma consultoria privada.

     - Alfredo Nascimento, dos Transportes, pediu demissão no dia 6 de julho, após ter seu nome envolvido em um escândalo de superfaturamento de obras e recebimento de propina envolvendo servidores e órgãos.

     - Wagner Rossi, da Agricultura, pediu demissão, atingido por uma onda de acusações que apontou pagamento de propinas, influência de lobistas e aparelhamento político em sua gestão no ministério.

     - Pedro Novais, do Turismo, pediu demissão depois de revelações de que ele pagou com dinheiro público o salário de sua governanta por sete anos e a de que sua mulher usava irregularmente um funcionário da Câmara dos Deputados como motorista particular.

     - Orlando Silva, do Esporte, pediu demissão depois de acusações da imprensa sob um suposto envolvimento do ministro com fraudes.

     - Luiz Sérgio não pediu demissão, mas foi fritado pelo seu partido, o PT, que o acusava de incompetência, e foi para o Ministério da Pesca, deixando o Ministério de Relações Institucionais com Ideli Salvatti.

     Fato: As férias de Dilma Roussef na Bahia custam R$657,9 mil.

     - As férias são na Base Naval de Aratu, na muito particular praia de Inema.

     - Antes de receber a presidente, a Marinha caprichou nos preparativos e gastou nada menos que 657 900 reais com móveis, eletroeletrônicos e obras de reforma da residência funcional da Boca do Rio, onde se hospedam as autoridades em visita à base.

     - Só com cortinas foram pagos R$37,3 mil.

     - Com móveis, tapetes, cortinas e eletroeletrônicos foram gastos 425 200 reais.

     - Entre as compras estão, por exemplo, um frigobar com capacidade de armazenagem de 76 litros no valor de 4 900 reais, um espelho tamanho 2,5 x 2,5 metros ao custo de 6 000 reais e duas poltronas no valor total de 6 700 reais.

     - Foram compradas ainda oito televisões, sete aparelhos de DVD, um home theater e um computador, no valor total de 19 500 reais.

     - As obras de reforma custaram 195 400 reais.

     - A presidente e seus familiares tiveram um ótimo Natal.

     - Quando voltar das férias, Dilma combaterá a miséria dos mais de 14 milhões de brasileiros famintos.


FELIZ ANO NOVO?

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

UMA OPOSIÇÃO DE FANTOCHES


Há queixas de que a oposição no Congresso pouco atuou este ano; que não teria feito nada contra a coligação governista; que é insossa, inodora e incolor e que seus líderes (?) pouco fazem, muito menos os liderados.

     Mas que oposição? Ora, no Congresso, com a honrosa exceção dos poucos representantes do PSOL, não há oposição alguma. Finge-se que há uma oposição – que seria representada pelo PSDB e DEM – porque é necessário que se finja que há uma democracia. Mas aqueles partidos travestidos de oposição tem a mesma ideologia mercantilista dos partidos que apóiam o Governo e que estendem tapetes vermelhos à sua passagem, em troca de ministérios e dinheiro e da possibilidade de algumas corrupções acordadas entre as partes interessadas.

     Mesmo o Partido Verde, de quem muitos esperavam alguma coisa depois da expressiva votação de Marina Silva, mostra-se acovardado ou demasiado discreto, talvez à espera de algum convite para integrar a base governista, em troca de um ministério de menor expressão. Tanto é assim, que a citada ex-senadora saiu daquele partido, preferindo fundar um movimento do qual não se sabe notícias, mas, enfim, já é alguma coisa diferente dos partidos que são sempre compráveis.

     Mas os partidos apelidados de “oposição” no Congresso, qual a diferença entre eles e o PT e PMDB. Talvez apenas o discurso. São mais sinceros e admitem ferozmente que defendem o capitalismo e o neoliberalismo econômico, doa em quem doer, enquanto PT, PMDB e demais partidos da base governista, em seus discursos pragmáticos, muito levemente falam de um socialismo do qual só lembram o nome e que na prática revela-se um capitalismo selvagem aliado das grandes potências predatórias.

     Na prática, PT, PMDB, PR, PC do B, PDT e outros que não lembro agora, são partidos que defendem o latifúndio, as grandes empresas, o arrocho salarial, a devastação dos campos e matas do Brasil, que consideram sua propriedade, e a marginalização da pobreza.

     O discurso é outro. Dilma diz que é a mãe dos pobres, a feminista que liberará as mulheres e a ex-socialista que foi presa e torturada durante o regime militar – mas quem testemunhou essa prisão e essas torturas? E mesmo que seja verdade, não teria sido mais uma prisão amiga, de conciliação, posto que agora Dilma é a primeira a desejar que os culpados por torturas e assassinatos não sejam punidos?

     Mesmo porque Dilma é um produto e uma continuação do marketizado produto Lula – um ex-líder operário, que teve e tem como missão abafar a luta operária nas suas raízes e compactuar com as forças do capital.

     Então, que oposição é essa que somente se difere dos partidos governistas através das siglas e que vota junto tudo que o Governo propõe contra o povo e o território brasileiros, como o Código Florestal, a Desvinculação de Receitas da União (que dá ao Governo 20% do que for arrecadado em impostos para usar como bem quiser), o desmatamento da Amazônia, a desertificação das terras agricultáveis, a destruição do que resta da Mata Atlântica, o fortalecimento do latifúndio e dos grileiros (ladrões de terra), os esquadrões da morte, as invasões de favelas pelas Forças Armadas e se queixa tristemente dos grandes roubos que são descobertos nos ministérios e outras esferas do Governo, porque dele não faz parte e não pode também roubar?

     Uma oposição de fantoches. Uma oposição de farsantes, que cumprem o “democrático” papel de se oporem àquilo que desejariam fosse por eles proposto.

     Inodora, insossa e incolor; principalmente incolor, porque não tem bandeiras a defender, idéias a divulgar; nada que seja diferente do que os partidos do Governo defendem e divulgam.

     Um imenso nada, um majestoso deserto, como a política brasileira, em todos os seus setores chafurdando no lodaçal da corrupção que a alimenta.

sábado, 24 de dezembro de 2011

O ANIVERSARIANTE


Tinha passado poucos dias fora, em visita a seu pai, e agora voltava. Não para o mesmo lugar, que lhe tinha deixado tristes recordações e de onde ouvira falar que era palco de guerras, muros, incêndios, assassinatos e muito ódio. Aquele povo voltara a adorar os deuses da guerra e a eles prestava tributo diariamente.

     Não. Preferira um lugar simples, uma cidade pequena no extremo sul de um país famoso pela alegria. Afinal, no dia seguinte seria o seu aniversário e buscava o aconchego de pessoas mansas e pacíficas. Necessitava de sorrisos ao menos por um dia. Depois, continuaria a sua longa caminhada.

     Chegou à noitinha, encontrou um lugar para descansar, vestiu-se com roupas à moda da terra e foi dar um passeio.

     As ruas estavam cheias, as pessoas se abraçavam, carros passavam buzinando, casais se beijavam, crianças corriam e os mais velhos olhavam para tudo aquilo como se o resultado das suas longas vidas fosse, finalmente, aqueles momentos festivos.

     Entrou em um lugar para fazer uma refeição e, quando veio o vinho mal pode prová-lo. Aquela bebida não era vinho! Lembrava o vinho pela cor, mas, decididamente, não era vinho. A comida tinha um gosto estranho, que lembrava serragem. Mesmo assim comeu e fez força para beber, lembrando que cada lugar tinha os seus costumes.

     Quando saiu do restaurante a noite já tinha chegado e as pessoas se recolhiam apressadamente para as suas casas. “Demasiado apressadas”, pensou. Todas carregavam pacotes e sacolas e tinham a expressão tensa e solitária. Mas sorriam sorrisos de cordialidade, diziam palavras afetuosas uns para os outros e corriam, corriam muito, como se estivessem atrasadas para algum importante encontro.

     A cidade estava iluminada, ouviam-se estranhas e langorosas músicas, e à medida que a noite se firmava e deixava as estrelas aparecerem, as luzes da cidade ficavam ainda mais fortes, de tal maneira que não podia enxergar os pontos luminosos que o céu oferecia como bênção.

     Sentiu uma estranha tristeza com todo aquele burburinho, com o jeito canhestro e afobado de todos, que pareciam mais fugir que correr, com a forçada alegria que o deixava aturdido e confuso e resolveu caminhar para fazer a digestão, afastando-se a passos largos do centro da cidade, que lembrava a Babel dos primeiros dias, onde todos falavam e ninguém se entendia.

     Caminhou bastante, pois era jovem, forte e gostava muito de caminhar. Quanto mais se afastava, mais as luzes elétricas diminuíam o seu brilho e as estrelas podiam ser vistas com mais clareza. Observou uma constelação, depois outra e, súbito!, uma estranha e brilhante estrela chamou a sua atenção pelo brilho e nitidez e pelo fato de estar tão perto.

     Para distrair-se, seguiu-a. A noite era límpida e a estrela parecia cada vez mais perto, como se apontasse para um lugar. Por fim parou. Abaixo dela um casebre feito de lata, com teto de lona. Dentro, ouviam-se gritos sinceros de alegria. Pessoas pobres, vestidas com roupas muito simples e rasgadas aproximavam-se do lugar. Cachorros, gatos, galinhas, uma ou duas vacas magras e até um cordeirinho desgarrado estavam à volta da pequena casa, que tinha a porta aberta.

     Entrou na casa em que se aglomeravam outras pessoas, provavelmente vizinhos, e viu no centro da única pequena peça um casal sorridente que abraçava uma criança recém nascida.

     Aproximou-se naturalmente, cumprimentou os pais e perguntou o nome da criança. “Ainda não sabemos”, disse o pai, “mas pensamos em chamá-lo de Emanuel”. “É uma ótima escolha”, falou o homem. “Sabem o significado?” “Não”, respondeu a mãe, que estava dando de mamar à criança. “Emanuel significa ‘Deus está conosco’ e não poderiam ter escolhido melhor”, retrucou o caminhante. “Pena que temos tão pouco”, reclamou a mãe. “Quando Deus está conosco nunca temos pouco”, disse o homem. “Eu trouxe algumas coisas comigo”.

     E logo viram que ele trazia ao ombro uma pesada bolsa, de onde retirou alguns presentes que ofereceu, de joelhos, para a criança. Todos se maravilharam, e mais ainda quando ele disse “Vamos fazer uma festa”. “Com o quê?”, perguntou o pai.

     “Tenha fé e tudo lhe será dado”, disse o homem. Em seguida, retirou da sua bolsa uma jarra e convidou a todos para beberem com ele um vinho verdadeiro. “Já passa da meia-noite e hoje também é o meu aniversário”, explicou. “Vamos comemorar juntos”. E todos se sentaram em torno à mesa, estenderam copos e vasilhas e da jarra o verdadeiro vinho era vertido sem nunca acabar. Também retirou comida da sua bolsa. Comida simples, comida de aldeão, mas que alimentou a todos.

     E a festa durou grande parte da noite.

     Ao amanhecer, despediu-se, abençoou a criança dizendo “Emanuel, agora é a tua vez”, e partiu para reiniciar a sua longa caminhada.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

TODOS SÃO SUSPEITOS




Até prova em contrário. Mas não pode haver prova quando quem investiga e aponta culpados é obrigado a deixar de investigar. É o caso de Eliana Calmon – Corregedora do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) – que deu continuidade a uma investigação no Judiciário que aponta 62 juízes como suspeitos de enriquecimento ilícito. No entanto, uma liminar concedida por Marco Aurélio Mello do STF (Supremo Tribunal Federal), em resposta a uma ação movida pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), esvaziou completamente os poderes do Conselho Nacional de Justiça.

     A Corregedoria começou a analisar o patrimônio dos juízes sob suspeita em 2009, quando o ministro Gilson Dipp era o corregedor, e aprofundou a iniciativa após a chegada da ministra Eliana Calmon ao posto, há um ano. “O aprofundamento das investigações pela corregedoria na esfera administrativa começou a gerar uma nova onda de inconformismo com a atuação do conselho”, afirmou Calmon. Esse trabalho é feito com a colaboração da Polícia Federal, da Receita Federal, do Banco Central e do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), que monitora movimentações financeiras atípicas.

     O ministro Marco Aurélio Mello diz na liminar que o CNJ “não pode atropelar o autogoverno dos tribunais”. Marco Aurélio decidiu que o conselho não pode investigar e punir juízes sob suspeita antes que os tribunais em que eles atuam nos estados tomem a iniciativa de examinar sua conduta.

     Ficou tudo em casa. A roupa suja será lavada escondida ou, talvez, seja queimada, para que não reste nenhum indício. Mas a Corregedora Eliana Calmon, sem citar nomes já havia dito que 62 juízes estavam sob suspeita de venda de sentenças e conseqüente enriquecimento ilícito. Não citou nomes, mas, depois, os jornalistas - que o ministro do STF Gilmar Mendes tanto detesta - foram atrás.

     De qualquer maneira, com essa decisão liminar do colega de Gilmar Mendes, 62 juízes brasileiros (há quem diga que é muito mais) continuarão sob suspeita, e como não se sabe o nome de todos eles, todos os juízes brasileiros estão sob suspeita. Todos são suspeitos. E mesmo que nada fique provado contra quem quer que seja, todos continuarão suspeitos de venda de sentenças y otras cositas más.

     Em entrevista, Eliana Calmon disse que o Judiciário está tomado “de bandidos infiltrados atrás da toga”. A corregedora afirmou que é preciso atualizar a Lei Orgânica da Magistratura (Loman), que regulamenta as penas contra os juízes.

     “A lei foi elaborada em 1979 e está defasada em relação à Constituição de 1988, de acordo com Calmon.

     “Ela lembrou que atualmente a pena máxima prevista é a aposentadoria compulsória. "Hoje em dia, aposentadoria não é mais punição."

     Calmon criticou a demora do STF em preparar o anteprojeto da nova Loman (Lei Orgânica da Magistratura Nacional).

     “Para a corregedora, "a Loman tem de sair com sanções novas, inclusive pecuniárias. Têm de mexer no bolso, como faz a lei de improbidade".

     “Para ela, as penas contra os magistrados devem ser usadas para repor o que "se pegou dos cofres públicos".

     "Se há um patrimônio incompatível com a renda, com a suspeita de receber um valor x em um processo, devolva", afirmou a corregedora sobre a venda de sentenças”.”

     Ao comentar a investigação do CNJ sobre a evolução patrimonial de 62 magistrados sob suspeita, ela disse: "Tenho certeza de que nesta semana eu deixei muito desembargador sem dormir direito". (http://www.odocumento.com.br/materia.php?id=377934)

     Não dormiram direito. Passaram um mês sem dormir direito. Depois reagiram com aquela liminar que deixou todos sob suspeita.

     A liminar concedida por Marco Aurélio ainda será submetida à análise do plenário do Supremo, que está entrando em recesso e só volta das férias em fevereiro, mas os efeitos da decisão são imediatos. Ela determina a suspensão de investigações que decorreram da iniciativa dos corregedores do CNJ, como a devassa iniciada em novembro na folha de pagamentos dos desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo. O objetivo da investigação era examinar indícios de que alguns integrantes da cúpula do tribunal acumularam vantagens indevidas e receberam salários superiores ao teto fixado pela Constituição.

     REAÇÕES

     Na decisão liminar, o ministro Marco Aurélio Mello determina que o CNJ não pode iniciar investigações. Só pode trazer para o plenário do conselho processos contra magistrados já em curso nas corregedorias dos tribunais estaduais, desde que comprovadamente parados. Com a decisão, as investigações que foram originadas diretamente no conselho ficam paralisadas.

     A corregedora nacional de Justiça, Eliana Calmon, afirmou que tem dificuldades para fiscalizar os tribunais em função do corporativismo e proximidade entre juízes e desembargadores que muitas vezes acabam se esquivando de audiências envolvendo colegas, levando os processos para a gaveta.

     A declaração foi feita ao jornalista Kennedy Alencar, no programa "É Notícia" (RedeTV!).

     O presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Ophir Cavalcante, criticou a decisão do STF.

     Para ele, a decisão "não pode permanecer porque retira da sociedade o controle que ela passou a ter sobre a magistratura com a Emenda Constitucional 45, não no tocante ao mérito em si de suas decisões, mas no que se refere ao comportamento ético dos juízes".

     O advogado afirmou que a OAB continuará defendendo a competência "originária" do conselho.

     "Fiquei chocada. Na verdade, a grande inovação que houve na Justiça foi o CNJ. Fico preocupada com ações que possam comprometer o trabalho do conselho", diz a cientista política Maria Tereza Sadek.

     "É importante preservar os poderes do CNJ e essa medida reduz e restringe a atuação do conselho", diz o advogado Sérgio Renault, ex-secretário da Reforma do Judiciário.

     "Os tribunais têm autonomia para resolver suas questões internas. O correto seria o entendimento de que o CNJ pode atuar de forma independente, sem aguardar a decisão dos tribunais. Espero que o STF não referende essa liminar. O CNJ é um órgão que atua para a moralização do Judiciário", diz Renault.

     OS SUSPEITOS

     No site da Folha de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/poder/1024489-peluso-que-recebeu-r-700-mil-do-tj-sp-defende-lewandowski.shtml) de 21/12/2011, sob o título “Peluso, que recebeu R$ 700 mil do TJ-SP, defende Lewandowski”, e assinado pela jornalista Monica Bérgamo, algumas informações interessantes:

     “O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Cezar Peluso, fez uma nota para defender a decisão do ministro Ricardo Lewandowski, que suspendeu inspeção feita pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) na folha de pagamento do Tribunal de Justiça de São Paulo.

     “Lewandowski recebeu pagamentos sob investigação, feitos a todos os desembargadores da corte por conta de um passivo trabalhista da década de 90.

     “O próprio ministro Peluso, que, como Lewandowski, foi desembargador do TJ paulista, recebeu recursos desse passivo.

     “Ele recebeu R$ 700 mil. Peluso considera que, apesar dos recebimentos, nem ele nem Lewandowski estão impedidos de julgar ações sobre o tema porque os ministros do STF não se sujeitam ao CNJ.

     “Portanto, não seria possível falar que agem em causa própria ou que estão impedidos quando julgam a legalidade de iniciativas daquele órgão, já que não estão submetidos a ele, e sim o contrário, de acordo com a Constituição e com decisão do próprio STF.

     “A corregedoria do CNJ iniciou em novembro uma devassa no Tribunal de Justiça de São Paulo para investigar pagamentos que magistrados teriam recebido indevidamente junto com seus salários e examinar a evolução patrimonial de alguns deles, que seria incompatível com sua renda.

     “Um dos pagamentos que estão sendo examinados é associado à pendência salarial da década de 90, quando o auxílio moradia que era pago apenas a deputados e senadores foi estendido a magistrados de todo o país.

     “Em São Paulo, 17 desembargadores receberam pagamentos individuais de quase R$ 1 milhão de uma só vez, e na frente de outros juízes que também tinham direito a diferenças salariais.

     “Tanto Peluso quanto Lewandowski dizem ter recebido menos do que esse valor. (...)”

     E muito mais.

     Lembram do Lewandowski? É o mesmo que disse que provavelmente o pessoal do mensalão tenha as suas penas prescritas, porque é muito o trabalho do pessoal do STF, atualmente em férias. Pois é. Zé Dirceu e companheiros ficaram muito felizes. Lembram do mensalão?

     Mas os jornalistas tem essa mania de ir atrás e alguns nomes de suspeitos, dentre os 62 incógnitos, vazaram.

     No Piauí, o Cidadeverde.com apurou que pelo menos um, o juiz de Campo Maior, José William Veloso Vale, afastado ao ser flagrado numa suposta tentativa de suborno, é um dos investigados.

     As informações correm em segredo de justiça e foi um trabalho iniciado ainda em 2009. No Estado, além do juiz de Campo Maior, outros dois magistrados estão afastados sob investigação: o juiz de Parnaguá, Carlos Henrique Teixeira, preso na Operação Mercadores da Polícia Federal e o juiz de Parnaíba, José de Ribamar, afastado por liberar presos sem ouvir o Ministério Público Estadual, entre eles, o ex-coronel José Viriato Correia Lima.

     De acordo com o site Terra, (http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI5045230-EI306,00-Seis+juizes+concentraram um  grupo composto por seis juízes federais recebeu R$ 6 milhões por meio de empréstimos contratados por uma associação da categoria, a Associação dos Juízes Federais da 1ª Região (Ajufer), investigada por fraude.

     O grupo, formado por ex-presidentes da associação, foi beneficiado por 45 empréstimos contratados com a Fundação Habitacional do Exército entre 2000 e 2009. Cinco deles conseguiram novos empréstimos mesmo quando já tinham acumulado dívidas elevadas com o esquema. As informações são do jornal Folha de S. Paulo.

     O grupo de juízes ainda devia R$ 1,7 milhão à fundação, uma entidade privada ligada ao Exército que oferece empréstimos a funcionários públicos. A fundação descobriu a fraude há dois anos e foi à Justiça no ano passado para cobrar da Ajufer uma dívida de R$ 21 milhões.

     O Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em Brasília, abriu inquérito em dezembro para investigar os contratos. Quatro ex-presidentes da Ajufer foram notificados para explicar as operações à corregedoria do tribunal: Moacir Ferreira Ramos, Solange Salgado, Hamilton de Sá Dantas e Charles Renaud Frazão de Moraes. Os outros ex-dirigentes da associação que tomaram vários empréstimos são o desembargador Antônio de Souza Prudente, do TRF da 1ª Região, e o juiz Sidney Monteiro Peres. (http://www.jb.com.br/pais/noticias/2011/04/04/seis-juizes-concentraram-emprestimos-sob-suspeita/)

     Pelo menos 14 juízes - três desembargadores e onze magistrados de primeira instância - estão sob investigação em seis Estados do país. De acordo com levantamento do jornal Folha de S. Paulo, os juízes são suspeitos de crimes como venda de sentenças e emissão de outras decisões ilegais. Os 14 investigados não incluem os três denunciados recentemente na Operação Anaconda.

     Segundo a Folha, os desembargadores denunciados são do Ceará e do Amazonas (dois). No Tribunal de Justiça amazonense, um deles é acusado de negociar decisões judiciais usando o próprio filho como intermediário. Eles se dizem inocentes. No mesmo Estado, um desembargador foi denunciado por uma suposta omissão numa denúncia contra um juiz. No Ceará, a suspeita é por contratação de serviço e compras irregulares. O acusado se diz inocente. Já os juízes de primeira instância investigados são da Bahia, Maranhão, Pará e Piauí, e a suspeita é de fraude.

     Se a conta incluir os acusados denunciados pela Polícia Federal na Operação Anaconda, o número de juízes sob suspeita no país sobe para pelo menos 17. Um deles, João Carlos da Rocha Mattos, da 4ª Vara Criminal de São Paulo, acusado de participar de um esquema de venda de sentenças, foi alvo de mais uma denúncia nesta segunda-feira. Segundo um relatório da PF, ele falsificou a declaração do Imposto de Renda entregue neste ano para tentar esconder os bens que adquiriu com dinheiro obtido de forma irregular em 2002. Para a PF, é um caso de lavagem de dinheiro. Rocha Mattos se diz inocente das acusações. (http://veja.abril.com.br/noticia/arquivo/14-juizes-suspeita-6-estados)

     A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Maranhão pediu o afastamento preventivo de todos os magistrados do Estado apontados como envolvidos em ilícitos no relatório de inspeção feita pela Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Juízes são citados em suposto comércio de sentenças; magistrados que só dão expediente nas terças, quartas e quintas-feiras - e pagamento irregular de diárias a desembargadores.

     E NÓS PAGAMOS...

     Um dos poucos congressistas incorruptíveis, o senador Cristovam Buarque, em belo discurso comentou sobre o atual escândalo do Judiciário, lembrando que talvez isso venha a desviar a opinião pública – que está contra senadores e deputados - para o que poderá estar acontecendo nos bastidores do Judiciário.

     Talvez. A opinião pública costuma ser leviana, posto que manipulada por uma mais leviana mídia. Mas o que fica deste ano de 2011 sobre os três poderes é a podridão.

     Nunca, na história da República, tantos ministros foram demitidos por corrupção em um governo como o de Dilma Roussef. E a devassa está apenas começando, porque, também no Executivo todos são suspeitos. Uma faxina que veio de fora, por exigência da opinião pública e devido aos jornalistas que não se venderam. Se não fosse assim, Dilma nada teria feito.

     E o Congresso, em suas duas casas, é aquilo. Leis a favor do latifúndio e do desmatamento e uma ou outra coisa que favoreça apenas o Governo.

     E muita demagogia, muita conversa para boi dormir, muito roubo ou autorização de roubo, como a votação da DRU (Desvinculação de Receita da União), que dá ao Governo o direito de usar como quiser 20% do que arrecada - mais de 60 bilhões de reais em 2012 -, sem precisar prestar contas a ninguém.

     Todos são suspeitos. E nós pagamos.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

A VISITA DE NATAL



Certo dia, na localidade de *** apareceu um forasteiro. Era alto, forte, estava montado em um alto e forte cavalo de onde pendiam grandes alforjes e tinha o feliz hábito de estar sempre sorrindo, quando não dava boas gargalhadas.
     Pouco antes de chegar, avistou do alto de um morro o pequeno lugar com belas casas, todas muito parecidas e cada uma com um pequeno cercado à sua volta. Das chaminés saíam agradáveis volutas de fumaça, lembrando que estava quase na hora do almoço; crianças brincavam na única rua e passarinhos se alvoroçavam nas belas árvores. Não muito longe, campos bem cultivados e um grande e verdejante bosque.
     Quando entrou em *** chamou uma das crianças que brincavam e perguntou: - Onde eu encontrar um hotel?
     - O que é isso? – perguntou a criança.
     - Um hotel, uma hospedaria, uma pensão, um lugar para parar, disse o forasteiro, sorrindo.
     A criança saiu correndo e, pouco depois, apareceu um homem que perguntou ao viajante: - O senhor é de fora, não é?
     - Sim. Eu ser de fora, eu ser de muito fora.
     - Daquelas cidades loucas?
     - Eu não saber o que ser cidades loucas.
     - Por que o senhor fala assim?
     - Porque eu estar aprendendo uma nova língua; uma língua universal que logo todos falarão e estar treinando o sotaque. Yes, no question... Mas queria saber onde fica o hotel. Meu nome ser Joe Steve. Muito prazer.
     - Prazer. O meu nome é João Estêvão e aqui não temos hotel.
     - Eu estar apenas de passada. Querer um lugar para descansar um pouco.
     - Entre e venha almoçar conosco. Mas primeiro leve o seu cavalo para a estrebaria, aqui ao lado da casa e lhe dê ração. Não se deve comer antes de alimentar os animais.
     João Estêvão acompanhou Joe Steve para a estrebaria onde descansavam outros cavalos e ajudou o estrangeiro a apear e desencilhar o seu animal. Mostrou onde estava a ração e disse que o esperava em casa para almoçar. Joe Steve deixou o cavalo se alimentando, pegou os pesados alforjes e entrou na casa. Todos já sabiam da sua chegada e a mesa estava posta para o almoço.
     João Estêvão apresentou a família.
     - Esta é Helena, minha mulher.
     - Muito prazer, senhora. Eu também ter uma mulher que se chamar Helen.
     - E porque ela tem esse nome estranho? - perguntou Helena.
     - Porque estar adequado com a nova ortografia oficial e ser bom para negócios.
     - Ah... Estes são meus filhos. O senhor já conhece o Cristiano...
     - Como vai, Cristiano – disse Joe Steve, apertando a mão do menino que tinha encontrado na rua. – Eu também ter um filho chamado Christian, hehe.
     - E esta é a Beatriz, disse Helena, apontando para uma menina de cachinhos dourados com uma fita nos cabelos.
     - Hello, Beatriz, disse Joe Steve. Que estranho ser: eu ter uma filha que chamar Beatrice, hehe.
     Depois de almoçarem, João Estêvão convidou Joe Steve para tomarem um cafezinho embaixo de uma parreira ao lado da casa.
     João perguntou: - E o que o traz aqui, senhor Joe?
     - Negócios, mister João. Esta ser época de bons negócios, o senhor saber.
     - Mas esta é a época do Natal!
     - Por ser época de Natal, mister João. Época em que todos querer comprar coisas e mais coisas de presente e eu trazer coisas e mais coisas para vender para todos comprar para dar de presente de Natal, hehe.
     - Eu acho que o senhor está enganado. Para que dar presentes de Natal?
     - Porque menino Jesus ganhar presentes de reis magos e todos dar presentes no Natal para lembrar presentes que menino Jesus ganhar, hehe.
     - O nosso Natal não é assim. Aqui nós não trocamos presentes, mas agradecemos os presentes que Deus tem nos dado durante o ano inteiro.
     - E como agradecer presentes?
     - Depositamos as primícias da colheita ao pé da árvore mais antiga do bosque para simbolizar a nossa alegria pela vida e o respeito que temos pela natureza.
     - Ah... entender... E essa colheita vocês vender para quem?
     - Não vendemos a colheita. Plantamos o suficiente para o nosso sustento e quando há excedente trocamos com o excedente de outras comunidades vizinhas.
     - Comunidade!, eu não gostar dessa palavra, murmurou Joe Steve.
     - Como disse?
     - Eu dizer que vocês poder ganhar bom dinheiro com venda de produtos. Poder vender e lucrar, ficar ricos, comprar mais campos e mais coisas e depois ficar mais ricos e comprar mais terras e ficar mais ricos e comprar...
     - Mas nós estamos felizes com o que temos.
     - Não dever ficar felizes com o que ter. Dever desejar sempre ter mais e mais. Não entender... Vocês poder abater árvores do bosque e enriquecer muito com a venda da madeira; e depois ter mais campo para cultivar e conseguir grande safra a cada ano e vender e ficar ainda mais ricos. Porque não aproveitar para lucrar com o que ter à sua volta?
     - Que bobagem, Jesus só tinha o seu manto e as suas sandálias e não precisava de mais nada. Nós temos até demais: casas, campos, animais, frutos, boas colheitas, filhos saudáveis.
     - Mas se filhos adoecer?
     - Nós os tratamos com a medicina da natureza; e não existem melhores remédios que os feitos com as plantas.
     - Mas o que fazer depois que filhos crescer?
     - Quando ficam adultos os filhos escolhem os seus caminhos. Os que desejam ficar aqui são abençoados; os que querem ir para outros lugares, mesmo para as cidades loucas, também são abençoados e avisados do que irão encontrar e serão bem recebidos quando quiserem voltar.
     - E o ensino? Como formar filhos?
     - Todos os adultos são professores e temos uma grande biblioteca com todos os livros que precisamos – desde ciências até a boa literatura. Além disso, não há melhor mestra que a natureza.
     - Mas como dividir a colheita?
     - Igualmente. Por que seria de outra maneira?
     - Vocês viver em comunismo e isso ser mau. Dever viver em democracia. Quem ser o chefe?
     - Nós não temos chefe. Todos são chefes em suas casas e tem os mesmos direitos fora delas.
     - Mas quando surgir problemas, como furtos e assassinatos, o que fazer?
     - Não temos furtos, porque não há necessidade de furtar. Assassinatos muito menos; todos são muito bem educados. Mas, quando surge algum problema, nos reunimos e sempre achamos a melhor solução.
     - Dar exemplo for me.
     - Por exemplo, os que ficam velhos e não tem mais forças para cultivar são sustentados pelos mais jovens e dia desses...
     - Ah... surgir problema, hehe.
     - Mas foi resolvido. Dia desses, como eu estava dizendo, uma das senhoras mais velhas não tinha velas para festejar o Natal. Nos reunimos e dividimos as velas entre todos.
     - Não entender. Velas?
     - Sempre acendemos velas no Natal. À meia-noite colocamos as velas acesas do lado de fora das janelas, para mostrar nosso júbilo e agradecimento.
     - Eu estar cansado com conversa... Não entender patavina vida pobre de vocês.
     - A nossa vida é muito rica, o senhor nem imagina o quanto!
     - Estar bem. Pedir apenas uma coisa: me vender alguns cachos desta bela uva.
     - Eu darei com o maior prazer. Não vendemos nem compramos nada; sequer usamos moeda, porque não é necessário.
     - Não usar moeda?! Isso ser absurdo! Vou embora!
     Pouco depois, via-se o forasteiro sair a galope de ***, assustando as crianças que brincavam na rua.
     No meio da tarde, quando participava da colheita da comunidade, João Estêvão disse aos seus companheiros:
     - Ele esteve hoje aqui. Almoçou lá em casa.
     - E como foi desta vez? – perguntou um dos amigos.
     - Apenas uma conversa. Ao final, ele queria comprar uvas, mas eu disse que daria as uvas e ele saiu correndo, indignado.
     - Todo Natal é assim – retrucou o amigo. – Sempre aparece na casa de um ou de outro, em formas diferentes, como um ator.
     - Devemos ser simples como as pombas e prudentes como as serpentes – como disse Jesus.
     - Provavelmente você deve ter sentido um cheiro estranho.
     - Bem que as crianças me disseram que quando saiu galopando e gritando feias palavras elas sentiram um cheiro repugnante.
     - Deve ter sido cheiro de ganância. Por mais formas que ele adote, o cheiro é sempre o mesmo.

domingo, 18 de dezembro de 2011

CIRANDA, CIRANDINHA...


A desculpa do Santos para a goleada de quatro a zero contra o Barcelona é que "o time de Messi é imbatível". Mas esse time imbatível foi batido pelo Real Madrid no meio do ano. Betis e Real Sociedad também derrotaram o Barcelona este ano, além de um time chamado Hércules e do Espanhol.

     O Barcelona não é um time de outro mundo. Sem dúvida que é um ótimo time: o estilo de jogo é o da seleção da Espanha, mais Messi. Mas é ridículo querer minimizar uma derrota aplastante através de afirmações levianas como a do que o time do Barcelona é invencível, em um jogo em que o decantado Santos do mais decantado e marketizado Neymar foi massacrado e quase não tocou na bola.

     O mesmo Barcelona venceu o Estudiantes de La Plata na final do mundial Interclubes de 2009 por dois a um. Um placar normal. Mas ser derrotado por quatro a zero, como aconteceu com o Santos, sem conseguir tocar na bola e com o seu maior astro apenas coçando os cabelos fulvos é digno de time de várzea.

     Ocorre que o futebol brasileiro está em franca decadência e o Santos é um reflexo disso. Recentemente tivemos um Campeonato Brasileiro que a mídia especializada em futebol chamou de “emocionante” e que revelou como campeão o time que mais soube se defender. Foi divertido, mas medíocre.

     Dilma Roussef, presidente oficial do Brasil, fez do seu o governo do futebol e para o futebol, a ponto de autorizar imensos gastos para a Copa do Mundo de 2014, com a esperança de que todo esse dinheiro, que poderia ser bem melhor empregado, traga a vitória para a seleção brasileira, porque de outra maneira é quase impossível. E a outra maneira seria jogando futebol, mas o nosso futebol – entregue a empresários – ficou no passado glorioso.

     Isso é bom para que outros esportes sejam mais lembrados, ou continuaremos sempre raciocinando através das chuteiras dos fabricados “craques” da imprensa amestrada.

     O time do Santos entrou na roda e cantou “ciranda, cirandinha” por incapacidade própria e não por excessivos méritos do adversário. A acreditar-se o que dizem os donos dos noticiários futebolísticos, o Santos venceria qualquer outro time – menos o Barcelona, que é “invencível” -, o que é uma falácia. Dificilmente o Santos, ou qualquer outro dos denominados ‘grandes clubes brasileiros’, teria condições de vencer os melhores times da Europa – não porque são da Europa, mas porque conhecem bem mais de futebol do que a mediocridade que estamos acostumados a assistir nos gramados brasileiros.

     Venceremos a Copa do Mundo de 2014 muito provavelmente por razões outras que não as futebolísticas, porque o povo precisa acreditar que o seu circo nunca pegará fogo. E os políticos necessitam dos votos dos fanáticos famintos por ilusões.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

POUCAS PALAVRAS

Abaixo, alguns desenhos de QUINO, cartunista argentino que ficou mundialmente famoso com a sua personagem Mafalda. Mais abaixo, algumas fotos e ilustrações da risonha realidade brasileira.


                   ("Membros da FAO - Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura - reunidos em Roma para tratar de resolver o problema da fome no mundo.")


             ("Membros do Conselho de Segurança da ONU reunidos em Nova Iorque para tratar de resolver o problema da atual insegurança global.")



                    ("Membros da OIT - Organização Internacional do Trabalho - reunidos em Genebra para tratar de resolver o problema do desemprego mundial.")



("Membros da UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância - reunidos em Paris para tratar de resolver problemas como: crianças sem escola, falta de higiene e a crescente escassez de água que já afeta vários lugares do planeta.")



("Membros da família Rosales reunidos na vila Tachito para tratar de resolver seus problemas de: fome, insegurança, desemprego, impossibilidade de mandar as crianças para a escola, não contar com assistência médica, não ter água corrente em casa, nem...")




Membros do governo Dilma, sintetizados no sorriso dos que tem a mesa farta  e não se importam com denúncias de corrupção e incompetência, porque povo comprado continuará aloprado - como diria o Lula.


Crianças estendendo a mão para o governo que as protege. É Natal!



O sorriso feliz dos vereadores, congressistas, ministros e membros do STF e do Executivo depois do trem da alegria de todo final de ano.


O povo brasileiro quando se detem para pensar.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O PODER ACIMA DA LEI


O governo Lula/Dilma, ou Dilma/Lula se preferirem, prorrogou pela terceira vez a suspensão de multas para os desmatadores. Já é a terceira vez que isso acontece.

     É a terceira prorrogação da suspensão de multas. Em 2009, Lula, o Bom, já havia prorrogado por dezoito (18) meses o prazo para que os desmatadores, também chamados de produtores rurais pelos seus amigos senadores, deputados e membros do governo, registrassem devidamente em cartório as terras que tinham invadido e desmatado ilegalmente.

     Em 11 de junho de 2011 (novamente um dia 11 – será que a Dilma é Illuminati?), a presidente Dilma, a Feroz, prorrogou novamente até 11 de dezembro – ontem, dia 11, domingo – a suspensão das multas dos bravos devastadores das terras do Brasil – os muito ricos que sustentam o seu governo.

     Hoje, Dilma, a Poderosa, usou de todo o seu ilimitado poder para prorrogar por mais quatro meses a suspensão das multas aplicadas aos donos da maioria das terras do Brasil, aqueles que descumprem a atual lei ambiental por desmatamento, na esperança de que nesse período o novo Código Florestal seja aprovado e a motosserra e o machado sejam eleitos como os principais símbolos da pátria, que já foi augusta, posto que o lindo pendão da esperança está ficando, a cada dia, mais esfarrapado.

     Em qualquer outro país civilizado do mundo essa prorrogação seria suficiente para um pedido de “impeachment”. Porque é ilegal. Dilma, a Inquieta, simplesmente está indo contra a lei na esperança de que uma nova lei, que ainda não foi votada, sobreponha-se à lei ainda em vigor.

     Seria o suficiente para que a presidente fosse consagrada coma Inimiga Pública Número 1 da Natureza. Já não bastasse as predatórias e condenadas pelo mundo inteiro usinas hidrelétricas de Belo Monte, Santo Antônio e Jirau, que estão sendo construídas para enriquecer os amigos de Dilma, a Inesquecível, agora ela segue o mau exemplo do seu mestre – Lula, o amigo dos famosos 40 ladrões – e inverte a lei a favor de quem a transgride.

     Mas não vivemos em um país sério. Tampouco isto aqui pode ser chamado de democracia, quando nas duas casas do Congresso aglomeram-se estranhos seres submissos e acovardados.

     Por isso, Dilma, a Intrépida da Motosserra, faz o que bem entende. E todos se calam. Ou aplaudem e depois ficam calados. Ou simplesmente aplaudem sem nenhum constrangimento, com aquele sorriso de hiena nos rostos.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A RUSSIA NA MIRA DO IMPÉRIO



Um império mundial deixa de ser mundial quando não consegue dominar a tudo e a todos. À beira do Ganges Alexandre recuou e desistiu de invadir a Índia. Do outro lado, um imenso exército esperava o ataque que não aconteceu. Alexandre recuou e conformou-se com o que já tinha conquistado. Pouco tempo depois morreu e o seu império se desvaneceu nas mãos dos sátrapas – os governadores de províncias, que eram distribuídas aos amigos mais chegados de Alexandre.

     Para explicar melhor, os sátrapas eram iguais aos ministros do governo Lula/Dilma. Defendiam os seus próprios partidos e queriam todo o dinheiro para si. Por isto o império de Alexandre não se susteve, após a sua morte. Dividiu-se em satrapias que, no decorrer dos tempos foram sendo retomadas pelos povos árabes da região e, principalmente pelos persas, que hoje são chamados de iranianos.

     Obama, o representante mór do atual império, quer porque quer invadir o Irã. São duas as principais razões. A primeira é a que a imprensa espalha: o Irã estaria prestes a construir bombas atômicas - e Estados Unidos e seus aliados querem o poder nuclear somente para eles. A segunda é porque o presidente do Irão, Ahmadinejad, negou o propalado holocausto judeu – e isso é um pecado mortal no mundo atual, quando todos são obrigados a acreditar que houve a morte de seis milhões de judeus na Alemanha nazista.

     Há outras razões menores, como apropriar-se do gás iraniano, vender bebidas alcoólicas e vestes ocidentais para os iranianos, dominá-los através de uma mídia amestrada – assim como fazem no Brasil -, usar o território do Irã, depois de conquistado, para exercícios de guerra contra a Rússia.

     Mas como invadir o Irã, se China e Rússia se opõem? Principalmente a Rússia, que fica quase do lado, logo ali, passando o Azerbaijão. E a Rússia, agora, mesmo não sendo mais oficialmente soviética, voltou a ser uma grande potência que ameaça a expansão do império.

     A Rússia acaba de construir um escudo nuclear em Kaliningrado, um enclave na fronteira entre a Polônia e a Lituânia. A partir dali, armas táticas nucleares – ofensivas e defensivas – poderão ser acionadas em direção à Europa e à OTAN. Inclusive, o presidente russo Dimitri Medvedev advertiu para uma nova corrida armamentista, se Rússia e Otan não chegarem a um acordo sobre um sistema comum de defesa antimíssil.

     De acordo com “A Voz da Rússia” - http://portuguese.ruvr.ru/2011/01/28/41707622.html - “Segundo o construtor geral do Instituto de Tecnologia Térmica de Moscou, as obras de construção do novo tipo de ogivas nucleares terminaram em 2010. O novo míssil pode ter um grande alcance dos blocos de ataque capazes de destruir alguns alvos afastados por uma longa distância um do outro. Por isso a detecção e a destruição de ogivas com quaisquer meios de defesa antimíssil são dificultadas. Os mass-média já chamaram o novo míssil russo “uma arma invulnerável”.”

     Eis o ponto: a Rússia se opõe ao império. E o império quer destruir a Rússia, ou, pelo menos, colocar o seu governo em mãos confiáveis. Mãos e mentes que sejam confiáveis e compráveis e que destruam o escudo antimísseis de Kaliningrado e concordem com as resoluções da ONU sobre invadir Síria e, principalmente, o Irã. E alguns outros países que a OTAN ache necessário invadir e espoliar.

     De acordo com o mesmo site citado acima, no último dia 6 de dezembro, observadores ligados ao escritório das Instituições Democráticas e Direitos Humanos, uma das instituições da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa) disseram que “as eleições para o Parlamento russo (Duma de Estado), realizadas no domingo passado, corresponderam aos padrões internacionais e à lei eleitoral da Federação Russa. Esta é a avaliação dos observadores internacionais. Segundo os especialistas, foram registradas algumas violações, porém em sua maioria eram de natureza técnica e não afetaram o resultado da votação.”

     “A alta representante da OSCE, Heidi Tagliavini considerou a organização das eleições como muito boa:

     “Antes de tudo quero assinalar que as eleições foram bem organizadas. O que não é uma tarefa fácil, considerando o tamanho da Rússia. No entanto, as eleições – não é um evento de um dia. Este é um processo que envolve o Estado, diversas organizações, e os próprios eleitores. Você não pode julgar a eleição apenas por um dia e tirar conclusões definitivas.”

     Mas o partido do presidente Dimitri Medvedev e de Vladimir Putin, chamado de “Rússia Unida”, venceu as eleições, com pouco mais de 50% dos votos. Em segundo lugar, ficou o Partido Comunista, com cerca de 20% dos votos. Isso significa que para que o partido de Putin governe com tranqüilidade, deverá fazer acordos com o Partido Comunista – e isso o império não aceita.

     Já não gostavam de Putin, que sempre se mostrou independente; detestavam o nome “Rússia Unida” do seu partido e a aproximação da Rússia com o Irá e com a Bielo-Rússia, que é o último estado soviético do Leste europeu. Muito menos admitiam que a Rússia não concordasse em ser subserviente à ONU e à OTAN.

     Então foi preparada a palhaçada. Apesar dos observadores internacionais terem atestado a normalidade das eleições, surgiram denúncias de fraude, vindas diretamente da Casa Branca. Gorbachev, o traidor mais famoso da história recente, engrossou as denúncias e Facebok e Twitter tentam fazer o resto.

     No entanto, é um tiro no pé, porque se as eleições tivessem sido fraudadas, quem teria sido prejudicado diretamente seria o Partido Comunista, que ficou em segundo lugar e não o “Rússia Justa”, que obteve cerca de 13% dos votos e seria o eleito por Washington devido ao seu tom direitista.

     O “Rússia Unida”, de Putin e Medvedev, não é exatamente um partido de esquerda. É um partido de centro, mas com fortes cores nacionalistas. E o maior inimigo do capitalismo é o nacionalismo.

     Um império que visa a dominação mundial não pode aceitar uma potência que tenha um governo nacionalista. Então, fará de tudo para desacreditar esse governo, desde passeatas e manifestações da classe média de direita até as tradicionais ameaças da ONU e manobras da OTAN. Usarão as redes sociais e muito mais.

     Além disso, com a crise na Europa e nos Estados Unidos e com os protestos do povo que vem sendo massacrado por essa crise, nada melhor que uma guerra para dissipar tensões.

     Depois que mataram tantas vezes Bin Laden é necessário achar outro inimigo comum, e por que não a Rússia?
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