sexta-feira, 27 de setembro de 2013

O BRASIL DOS VASSALOS


De acordo com matéria na Folha de São Paulo, também veiculada no sítio Terra (noticias.terra.com.br) em 15 de setembro de 2013, a CIA atua no território brasileiro há muito tempo. Sabe-se que a espionagem dos Estados Unidos no Brasil vem de longa data, mesmo antes do golpe militar de 1º de abril, contando com o apoio da assim chamada ‘comunidade da inteligência brasileira’. É claro que isso não é segredo para presidentes e membros dos sucessivos governos brasileiros, militares ou não, e Dilma Roussef somente se sentiu obrigada a reagir quando Snowden, o ex-agente da CIA fez revelações ao Programa “Fantástico”, da rede Globo sobre a maneira como a Agência Nacional de Informações, dos Estados Unidos (NSA) faz a sua coleta de dados através de espionagem eletrônica da Presidente, ministros, empresas brasileiras e de todos aqueles que tenham cadastro na Internet, um sítio de culinária ou de assuntos muito leves ou de um blog como este, que optou por informações jornalísticas desvinculadas dos centros de poder, matérias opinativas, contos e poemas.

   Diz a matéria que agentes de CIA “estão espalhados no Brasil atrás de informações sobre residentes no Brasil, brasileiros ou não”. Membros da Polícia Federal, militares da Inteligência do Exército e funcionários do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República que foram “entrevistados dizem que eles (agentes da CIA no Brasil) dão a linha em investigações e apontam quem deve ser o alvo dos policiais federais”.

   Ainda mais: os espiões dos Estados Unidos mantêm escritórios próprios no Rio de Janeiro, “com a justificativa da realização da Copa do Mundo e da Olímpíada de 2016, e em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas”, para vigiar as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARCS). Além disso, cinco bases da Polícia Federal, obviamente infiltradas por agentes da CIA, funcionam no Rio de Janeiro, São Paulo, São Gabriel da Cachoeira e Foz do Iguaçu. Contando, todas elas, com equipamentos e tecnologia da CIA “para auxiliar os trabalhos e há agentes americanos atuando em parceria com os brasileiros”.

   Além disso, uma das agências de espionagem usadas pela CIA em parceria com a NSA teria funcionado em Brasília, “pelo menos até 2002”. Há documentos, revelados por Snowden, sobre a atuação dos serviços de espionagem dos Estados Unidos junto á Embaixada do Brasil naquele país e à missão brasileira das Nações Unidas, em Nova Iorque.

   Ou seja, o Brasil está infiltrado – desde a época dos vendidos ditadores militares ou até muito antes – por espiões dos Estados Unidos, que atuam em conjunto com espiões brasileiros, aos quais ensinam técnicas de como vigiar melhor todos os que residem no território nacional.

    Não é somente a espionagem eletrônica através das empresas de telecomunicações, como a ANATEL, que possibilita ações ilegais de grampos de telefones, além de espionar e filtrar todos os dados dos internautas, incluindo a senhora dona Presidente Dilma Roussef, que ficou indignada não por ignorar esses fatos, mas porque eles foram veiculados ao grande público – e, por isso, se permitiu a demonstrar indignação e exigir desculpas que não foram dadas.

    Recentemente, para consumo interno e fingindo que ainda temos alguma dignidade, Dilma adiou o encontro que teria com Obama, nos Estados Unidos. Uma semana depois, fez discurso na ONU, ocasião em que esbravejou publicamente contra a espionagem dos Estados Unidos. Nos dias seguintes, reuniu-se com os investidores norte-americanos, em um seminário de investimentos promovido pelo banco Goldman Sachs, para tranqüilizar os investidores sobre os rumos muito capitalistas do seu governo.

    Com ou sem espionagem, Dilma e seus aliados continuam muito amigos do belicista Obama, e mais ainda do indefectível Clinton, que Dilma diz muito admirar. Afirmou a famosa twiteira que “as relações estratégicas dos dois países ultrapassa isso” (a espionagem).

    Ou seja: eles podem espionar à vontade desde que peçam desculpas ou dêem furadas explicações sobre a cínica violação da nossa soberania, que tem o aval de todas as nossas agências de informação, ou de espionagem, ou, ainda, como eles preferem dizer, a “comunidade da inteligência”.

    O Brasil de Lula e de Dilma, o Brasil de Fernando Henrique, Sarney, Collor, está demasiado vinculado aos Estados Unidos para que realmente se incomode com o que os Estados Unidos fazem no nosso território, que já consideram uma extensão dos seus domínios.

    Esse Brasil continuará negociando com aqueles que violam os nossos direitos civis, a nossa soberania, porque é o Brasil dos que se fingem de patriotas e que igualmente violam os nossos direitos civis e a nossa soberania, o Brasil dos que destroem etnias indígenas, que provoca o desmatamento, que incentiva o latifúndio e desaloja milhares em favor de grandes empresas, o Brasil da impunidade, o Brasil que não respeita a flora e a fauna e faz do povo multidão de amordaçados. O Brasil que aceita a vassalagem ao império.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

O CORVO E SEUS FILHOTES




Membros do PT, ou simpatizantes que se acreditam de “esquerda” sem saber exatamente o que significa a palavra e ignorando, talvez, que o partido governista há muito tempo derivou para a direita, associando-se com empresários, membros das Forças Armadas e grandes latifundiários e assumindo a social-democracia como ideologia dentro do modelo neoliberal que entendem como pragmatismo político, após os votos de Celso de Mello e seus cinco parceiros do STF – o que permitirá um novo julgamento e a liberdade para Zé Dirceu e comparsas - passaram da defesa ao ataque nas redes sociais.

   Afirmam que Genoíno é inocente e que não há provas contra Dirceu. Esquecem, ou desejam esquecer, que os dois e o restante da quadrilha do mensalão, que se transformou em uma mensalada ou pizza com xuxu, foram devidamente condenados por corrupção ativa e, no mínimo, deverão cumprir alguns anos de suposta cadeia em regime semi-aberto logo após o não tão próximo ridículo novo julgamento que os inocentará do crime de formação de quadrilha.

   Cúmplices no crime, provavelmente iludidos pelas bandeiras antigamente vermelhas e hoje tão amareladas, os alucinados, deslumbrados professos de um partido que insiste em se tornar a maior quadrilha impune jamais conhecida, pretendem que entre petistas e assalariados aliados todos são perfeitos - mesmo quando reticentemente condenados pelo Supremo - no máximo cometendo alguns laudatórios deslizes.

   O pragmatismo do PT esvai-se pelos esgotos que lhe são familiares e seus militantes arvoram-se de um purismo até então desconhecido e antes considerado impróprio pelos grandes chefes petistas, que não são nem poderiam ser criminosos – pensam os afoitos seguidores comissionados – simplesmente porque pertencem ao PT, o partido que veio para mudar e nada mudou, que prometia que a esperança iria substituir o medo e fez do medo o seu lema para a estagnação política e a gradativa venda do Brasil para as grandes multinacionais, para a ruína da educação, o desmatamento acelerado e a construção de obras como a criminosa hidrelétrica de Belo Monte e os grandes estádios de futebol, que só interessam ao capital festejado pela sempre espionada e controlada presidente Dilma.

   As inconsequentes frases dessas ansiosas pessoas (Genoíno é inocente/Não há provas contra o Zé Dirceu) lembram o grasnar de filhotes de corvos quando estão esfomeados. Ou de outras aves que igualmente crocitam e grasnam, como os patos, mas corvos vem a propósito, porque são necrófagos, se alimentam de carniça – e não está o Brasil como um imenso cadáver em berço mal-cheiroso a ser devorado a grandes bicadas?

   Dentre tantos corvos, abutres e urubus que nos assediam incessantemente, o mais famoso chamou-se Carlos Lacerda, que costumava ameaçar e derrubar presidentes com o dinheiro de Wall Street e o apoio da CIA e outras agências beneméritas do gênero. Uma das suas frases, escrita no jornal “Tribuna da Imprensa” em 1º de junho de 1950, ficou célebre, porque foi confirmada:

   “O senhor Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato à Presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar.”

   Ouvindo o grasnar dos filhotes de corvo do PT, lembrei que a frase de Lacerda poderá ter uma nova versão para os tempos que correm, correm muito, correm de medo, talvez:

   “O Partido dos Trabalhadores não deve roubar. Se roubar, o crime não deve ser descoberto. Se descoberto, não deve ser julgado e condenado. Julgado e condenado, será necessário novo julgamento para inocentá-lo ou recorreremos a uma campanha contra aqueles que o condenaram.”

sábado, 21 de setembro de 2013

BRASIL, COBRE A TUA CARA!


"O STF não pode se expor a pressões externas, como aquelas resultantes do clamor popular e da pressão das multidões, sob pena de abalar direitos e garantias individuais e levar à aniquilação de inestimáveis prerrogativas que a norma jurídica permite a qualquer réu diante da instauração em juízo do devido processo penal."

(Celso de Mello)


   Entendam todos, e definitivamente: o Supremo Tribunal Federal, comumente chamado somente de Supremo, não tem nada a ver com clamor popular, afasta-se do povo a cada decisão conciliatória com os donos do poder. Seus membros não são eleitos, mas indicados pelo Executivo, sabatinados por um Legislativo que todos conhecem e guindados à supremacia das decisões legais, sem nenhum contato com o povo. Para eles, os membros do Supremo, povo é massa, restolho, escória. Leio no site Inacreditável matéria de 06 de fevereiro de 2013, intitulada “Democracia: o governo da escória”. Passo para vocês algumas frases do texto, que está em inacreditavel.com.br/wp/democracia-o-governo-da-escoria/.

   “Os antigos agricultores do Pireu cozinhavam gordura e ovelha em grandes caldeiras. Da superfície retiravam a ‘escória’. É essa escória que eles chamavam ‘dêmos’. É daqui que a elite dominante das cidades-estado da antiga Grécia chamou, de forma pejorativa, “democracia” ao poder emergente do povo, ‘o governo da escória’. Entretanto, a falsa interpretação (democracia = governo popular) está tão espalhada que podemos encontrá-la em todos os dicionários e em quase todos os livros didáticos. Só descobre o insuspeito significado quem, por acaso, descobre a verdade. Mas deve ser o que o Sistema pretende.”

   Escória. Os supremos membros do Supremo não são escória, nada tem a ver com escória, passam a vida lutando para afastar-se da escória, são eleitos por outros supremos que enganam e bajulam a escória, e, quando a escória se imagina poder e sai às ruas contra a corrupção dos supremos dos três poderes, a Supremacia atiça seus cães contra ela.

   Prendem e arrebentam a escória. Assim como o general-ditador Figueiredo, os supremos dos três poderes preferem cheiro de cavalo a cheiro de povo. Os cavalos são mansos, dóceis e obedientes, a escória nem tanto, e pode tornar-se perigosa quando indignada. Para a escória a escória, não mais que a escória, nada além da escória. Como ousa a escória reclamar? Xô, escória! Conheça o seu lugar!

   Estamos indignados pela decisão dos 6 supremos que acarretará um novo julgamento e a liberdade para os mensaleiros? Se pensarmos bem, eles foram coerentes. Os semelhantes se atraem, diz uma lei cósmica. Os mensaleiros não são escória, os supremos também não, logo... Mais que indignado, eu fiquei envergonhado por eles, os 6 supremos.

   Significado de vergonha, de acordo com o Aulete digital:
   
   1. Sentimento de desconforto que alguém sente devido à exposição de suas particularidades, fraquezas, defeitos, etc, ou por ter cometido gafe, ato risível ou desabonador; constrangimento.

      Estou sentindo não um estranho, mas conhecido desconforto, talvez constrangimento devido à exposição de uma de nossas principais particularidades: a impunidade. Dizem que é uma fraqueza ou defeito muito brasileiro, mas somente do Brasil deles, os supremos. O Brasil da escória é sempre punido, geralmente pelo crime de ser escória.

      2Sentimento ou situação de humilhação; desonra.
Desonra

   Eles perderam a honra ou não ligam para isso e decidiram aliviar a pena dos mensaleiros somente com o objetivo de humilhar a nós, a escória? 

   3. Sentimento ou atitude de discrição, recato, em relação a questões de moral, assuntos pessoais, etc; pudor.

     Concordo que é uma situação obscena, degradante. Trinta e sete (seriam 40 os ladrões?) supremos de diversos setores da Supremacia resolvem desviar recursos do Estado, vale dizer, nosso dinheiro - porque o Estado é um ente abstrato que só se concretiza pela necessária existência da nação. Denunciados, vão a julgamento que os condena a levíssimas penas e são salvos pela cavalaria suprema na última hora. Não é obsceno, degradante, o máximo da amoralidade?

      4. Sentimento de honra e dignidade em relação aos próprios valores, comportamento, etc.

       Valores. Ainda temos valores? Para muitos dos supremos dos três poderes, a expressão valores significa uma bela conta bancária. Para nós, a escória, o restolho, a massa ignara que paga muito para ver essa indignidade que é deixar livres os ladrões que nos roubam, resta-nos a decepção, talvez a raiva – valores que não são muito recomendados, mas fazer o quê?

   5. Insegurança, dificuldades em se expor, tomar iniciativas, etc; timidez.

     Daqui para a frente, o que vai ser? O nosso auto-respeito sumiu, o Brasil dos supremos se desmascarou, e nos resta chupar o dedo? Quantos discursos de centenas de páginas aqueles senhores supremos e aquelas senhoras supremas fizeram no seu jargão juridiquês para soltar ladrões membros da Supremacia?

   6. Comportamento considerado indigno, desonesto, obsceno, etc.

     Cobrir o rosto, não com aquelas máscaras ridículas, mas com o espesso manto da vergonha. É o que restou? Enquanto eles riem, nós nos envergonhamos. Quanta indignidade! Percebam que não se pode jogar a culpa somente no Celso de Mello, um supremo inesquecível. Convém lembrar os outros cinco que permitiram um novo julgamento dos mais famosos corruptos brasileiros. São eles: Rosa Weber, Teori Zavasck, Ricardo Lewandovski, Luis Roberto Barroso e Dias Toffoli. Rosas murchas para eles.

      Alguns mandaram pizzas para o STF. Exatamente 37 pizzas, o número dos alegres réus. Mas quem pode comprar pizzas? A escória não pode. Lembrem-se que a escória é escória. O máximo que a escória pode fazer é recolher flores murchas do lixo da Supremacia, de preferência rosas, e enviar para os supremos.

     Ah, como deram razões técnicas para embromar a indignação da escória!... Supremos são assim. Vão deixar soltos justamente os chefes da quadrilha, os que organizaram, premeditaram, fizeram todos os conchavos, urdiram a trama e colocaram em ação o esquema da compra de votos no Governo do Lula – que nada sabia, é claro.

   Deixarão claro no segundo julgamento (e, se necessário, quem sabe um terceiro julgamento?) que José Dirceu, Genoíno, João Paulo Cunha não eram chefes de quadrilha coisa nenhuma. Aliás, nem quadrilha houve, porque quadrilha sem chefes não existe. No máximo, alguns excessos corruptivos, devidos ao saudável desejo de prestar assistência à escória que os elegeu. Crimes de Robin Hood não são crimes.

     Os embevecidos supremos - que não serão somente seis no próximo julgamento que deixará livres os pobres réus mensaleiros - provarão que, se crime houve foi por descuido e devido às boas intenções dos mimados réus, que não se reduzem somente ao Dirceu, Genoíno e Cunha, dignamente acompanhados por corruptos e corrompidos tais como: Delúbio Soares, Marcos Valério, Ramon Hollerbach, Cristiano Paz, Kátia Rabello, José Roberto Salgado e Simone Vasconcellos. Supremos entre supremos.

   O honorável Celso de Mello, grande e poderoso supremo dos supremos, disse, em entrevista, que “O tribunal não pode se submeter à vontade das maiorias contingentes”. Ou: das maiorias efêmeras, transitórias. Supõe-se que ele entenda que as maiorias devam ser pétreas como as sagradas cláusulas da Constituição; estanques como açudes. E pressupõe-se que a essas maiorias o tribunal se submeterá. Como a maioria do Governo no Congresso, conquistada à base de mensalidades, ministérios e secretarias. Uma maioria que se requer muito firme. O tribunal se submeterá a ela?

     Disse mais o ilustre decano da Supremacia: “Se isso ocorresse, haveria uma subversão completa do regime de liberdades públicas e aniquilação dos direitos, garantias de liberdades essenciais que dão sentido ao estado democrático de direito”.

     Subversão! Eu tinha certeza que os supremos, cedo ou tarde, iriam usar essa palavra. No regime não-democrático de direito, também conhecido como ditadura militar, subversão foi uma palavra muito repetida. Subversivos eram todos aqueles que não gostavam da ditadura. Ora, Celso de Mello foi indicado por José Sarney, pessoa muito estimada pelos ditadores militares e que, hoje, é muito estimada por Lula, Dilma e demais membros da Supremacia. Saibam todos que a Supremacia é pétrea, mudam apenas as máscaras. Logo, neste pseudo-silogismo, não é estranho que a palavra subversão tenha sido proferida pelo digno doutor em leis.

      Portanto, para não se submeter à maioria, contingente ou não, o ministro Celso de Mello votou por um novo julgamento dos mensaleiros o que acarretará, obviamente, a liberdade pública dos ladrões. A Supremacia entende que isso é democracia. A escória não tem o direito de reclamar. No máximo, poderá cobrir o rosto de vergonha. Vergonha deles.

        Repetindo: os supremos membros do Supremo não são escória, nada tem a ver com escória, passam a vida lutando para afastar-se da escória, são eleitos por outros supremos que enganam e bajulam a escória, e, quando a escória se imagina poder e sai às ruas contra a corrupção dos supremos dos três poderes, a Supremacia atiça seus cães contra ela.

     Brasil, cobre a tua cara. Sim, nós somos bananas com nariz de palhaço.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

SUPREMA PALHAÇADA


                     "...Yo que me encontro tan lejos
                      Esperando una notícia
                      Me viene a decir la carta
                      Que en mi patria no hay justicia..."

                         ("La Carta" - Violeta Parra)


Como diz José Ferreira Neto, comentarista de futebol da Bandeirantes: “É brincadeira!”. Ou palhaçada. O Supremo Tribunal Federal está a um passo de ser considerado o tribunal mais inconfiável e suspeito do país - pelo povo que não conhece nada de embargos infringentes, mas sabe o que é roubalheira, porque ele é quem está sendo roubado.

   Ou foi roubado pelos ilustres réus que serão absolvidos no novo e risível “julgamento” do mensalão graças à nomeação de dois novos ministros pela Dilma: Teori Zavasck e Luis Roberto Barroso. Foram colocados no STF em substituição a César Peluso e Carlos Ayres Britto - que participaram do julgamento e condenaram grande parte dos réus e foram aposentados compulsoriamente após completarem 70 anos.

   Os dois novos ministros já revelaram tendências idênticas às de Dias Toffoli e Lewandowski: são amigos do poder e desejam que pessoas como José Dirceu, Delúbio Soares e José Genoíno sejam absolvidos ou tenham suas penas reduzidas para regime semi-aberto, que é uma invenção jurídica para deixar livre condenados influentes.

   O novo julgamento será uma suprema palhaçada, o Supremo será alvo de chacotas e o Congresso Nacional, onde se reúne grande parte dos corruptos brasileiros, se sentirá aliviado porque não será mais o Legislativo o alvo dos movimentos populares, mas o Judiciário. Ninguém mais acreditará na Justiça – aquela senhora cega que carrega uma balança viciada em uma das mãos e uma espada que só corta de um lado na outra.

   Muito menos em seus representantes. Sempre que houver um novo julgamento que atraia a atenção popular perguntarão de que lado estará o juiz, ou os juízes, porque será voz corrente que eles, os doutores da Lei, atendem, em primeiro lugar a interesses políticos que nada tem a ver com a esfarrapada Justiça.

   A quarta-feira, 18 de agosto de 2013, poderá ser o marco inicial da total desconfiança na Justiça brasileira e o início da pior das ditaduras: a ditadura do Judiciário. E o povo passará definitivamente a acreditar somente na lei pelas próprias mãos, porque não haverá mais lei neste Brasil de corruptos e vendidos.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

SEU CHICO E A VOLUBILIDADE DA LEI


- E então, seu Chico, o Celso de Mello é quem vai decidir se os mensaleiros merecem outro julgamento.

- Numa sexta-feira 13, o número do PT. Ficaria muito óbvio, o senhor não acha? Vão deixar pra quarta-feira pra causar suspense e dar maior audiência. O Celso de Mello? Vai ficar famoso. Acredito que lá para o futuro, quando se falar em corrupção e supremos julgamentos, haverá quem venha a dizer: “Desde os tempos do Celso de Mello...” Mas veja o senhor que não é o único. Ao que tudo indica o Celso de Mello apenas vai dar o tiro de misericórdia na nossa ingênua noção de justiça. Está bem acompanhado: Lewandovski, Dias Toffoli, Rosa Weber, Teori Zavasck e Luis Roberto Barroso. Tudo gente boa, mui amigos da Dilma, do Lula... Ainda bem que não tem gaúcho no meio.


- Tem sim, seu Chico. A Rosa Weber é de Porto Alegre.


- Vergonha! Me tapei de quero-quero! Deve ser uma recém nomeada, assim como aquele teórico, e o boi barroso ou coisa parecida. Meu Deus!, estou até esquecendo os nomes das supremas autoridades. Mas então a moça é porto-alegrense? Com certeza foi indicada pela Dilma. Menos mal que é de Porto Alegre e não de Santa Maria, Passo Fundo, Bagé e todas as outras cidades do interior que são realmente gaúchas. Porto Alegre, o senhor sabe, sempre com um pé lá e outro cá. E geralmente o pé que fica do lado de lá puxa o outro. Considerando esses considerandos, nem dá pra culpar a senhora dona, doutora excelentíssima, com tantas alegres influências que deve ter recebido na sua vida. Quem sabe é uma alma boa... De boa fé, quero dizer...

- Ficou atrapalhado, seu Chico.

- Confesso que fiquei. Deve ter sido o susto. Vou relevar esse voto feminino, que deve ter sido moderado e movido pelo bom senso, talvez pela sensibilidade própria daquele sexo. Ela deve ter imaginado o coitado do Zé Dirceu preso, triste, sozinho naquele presídio. Deu pena. Quanto aos porto-alegrenses, nem todos são daquele jeito e com aquele sotaque. Tem muita gente boa por lá. Não foram eles que iniciaram a Guerra dos Farrapos?

- E terminaram defendendo o império.

- Começaram e terminaram, concordo. Lá dentro daquelas lojas maçônicas, com grandes e embevecedores discursos em nome do Grande Arquiteto e coisa e tal... Queriam trocar o governador do estado e se viram envolvidos em uma revolução separatista - veja que coisa!... Imagine o Caxias mandando recados: “Mas quê! Então vocês me traíram? Traíram o ideal maçônico de um Brasil grande, espichado e marasmento como um bicho-preguiça, e querem se separar?” E eles respondendo: “Ó irmão Grande Preboste, grande e poderoso como grandes e poderosos sabem ser os grandes prebostes! Não é bem assim. Ocorre que a pobre gente do interior se entusiasmou e cá ‘stamos envolvidos nesta guerra que não desejávamos, até prometemos a libertação dos escravos (imagine aquela negrada solta, o que não vão aprontar!) e já lá vão quase dez anos, as nossas fazendas ‘stão abandonadas, a riqueza diminui, até a peonada anda se dando ares e cá ficamos um tanto quanto encalacrados...” E Caxias: “Seus incompetentes! Seus aloprados! Segurem as pontas que eu vou dar um jeito nisso. A propósito, o tal de Canabarro continua por aí?”

- Só o senhor, seu Chico...

- É verdade, só eu sou eu, por incrível que pareça, mas bem que eles podem ter tido umas conversinhas desse tipo. Irmãos com irmãos. E depois, o massacre de Porongos, o armistício, os chefes indo para as suas fazendas no Uruguai e voltando para ajudar o império na Guerra do Paraguai... Tudo entre irmãos. E isso me lembra que o tal de mensalão, que já perdeu o sal e virou uma saladinha muito frugal, deve ter muito de irmão com irmão conversando nas grandes salas dos passos muito perdidos das lojas, e não por acaso loja virou sinônimo de lugar de compra e venda.

- Loja vem de Logos, Verbo, manifestação divina. No início do evangelho de São João ele escreve: “No princípio era o Logos, e o Logos estava com Deus, e o Logos era Deus”.

- Pois tá explicado! São João não é o grande patrono da Maçonaria? E eu acho que loja, além de significar Logos, também se refere a logística, lugar onde se organizam os acontecimentos que, depois, para os profanos, se transformarão em grandes notícias. Maçom é um bicho que pensa que é Deus e ninguém tira isso da cabeça deles. Como os juízes do Supremo. Tanto é que se chama Supremo. Aqueles, quando morrem vão direto pro Céu sentar à mão direita do Deus-Pai-Arquiteto, porque na esquerda eles não sentam jamais. Já imaginou maçom de esquerda? Nem na época dos carbonários, do Mazzini e do Garibaldi, que fizeram uma revolução na Itália para unificá-la sob um rei. Falavam muito em república, que viria a seu tempo, depois de tudo bem combinadinho dentro das lojas: quem recebe quanto e de que maneira.

- Como no mensalão?

- Pois não é que o senhor agora me avivou para essa possibilidade? Se soltarem os ditos cujos ladrões conhecidos, mas que não podem ser presos, porque ladrão rico nunca vai preso, ainda mais ladrão ligado ao Governo... Pois se soltarem Zé Dirceu e camarilha, quer dizer que aí tem coisa.

- Que coisa, seu Chico?

- Mas o senhor não vê?! Bateu a cegueira com esse tempo osco, que não é inverno nem verão, muito antes pelo contrário? Se soltarem os qüeras – e vão deixar eles soltos, ao que tudo indica, com exceção de um ou dois que vão pagar o pato pelos outros e talvez não sejam irmãos juramentados – é sinal verde para a roubalheira geral, seja em que governo for. Sendo do Governo, pode roubar. Sempre vão dizer que é para o bem de todos e para a felicidade geral da nação, e a tal de nação, que não é a nação colorada ou gremista, vai ter de engolir em seco e aceitar. E tem mais: daqui pra frente vão fazer os seus roubos de maneira bem mais organizada, sem deixar furo. O Lula não chegou a dizer que eles, os mensaleiros, são uns aloprados porque se deixaram pegar?

- Mas seu Chico, isso seria o fim das instituições.

- Ao contrário, aí é que o senhor se engana. Seria a instituição de uma lei nova sobre todas as instituições. Nova, nem tanto, e que pode ser resumida pelo adágio popular: “Quem pode mais chora menos”. E para a nação obtusa, futebol e carnaval. E estamos conversados.

- Mas a oposição...

- Pois a tal de oposição um dia desses vai virar situação e trato é trato. É aí que mora a coruja!

- O senhor está querendo dizer que os juízes do Supremo são corruptos?

- Claro que não, vivente! Tanto não são que cinco deles votaram pela lei e a verdade. Os outros votaram pela volubilidade da lei e da verdade, se acham muito certos e até fizeram um 'mea culpa' ao desejarem um novo julgamento dos mensaleiros. Admitiram, ou lembraram, que o julgamento do qual eles participaram teve erros. São muito humildes, o senhor não acha? E juiz humilde e coisa difícil de se ver. Costumam ser cheios de conjuminâncias e prolixidades. Estes, pelo jeito, são tão humildes que até é provável que façam uma peregrinação pelo Caminho de Santiago, guiados pelo Paulo Coelho com a espada mística na mão. Quem sabe a mística espada de justiça cega...

- Depois de soltarem os mensaleiros.

- Claro. Em agradecimento.

- Se bem que o Celso de Mello pode votar junto com os cinco que não consideram a lei muito volúvel.

- Ah, mas claro que pode! E o senhor acredita? E isso me lembra a letra de uma música gaudéria. O senhor deve conhecer. O título é “O BARULHO DO MEU RELHO”, de Germano Fogaça e Lawrence Wendt. O início é assim: “Ah leleque leque leque leque leque leque leque/É o barulho do meu relho no lombo desses moleque...” Vem bem a propósito. Lá no Supremo eles tão dando voltinhas na lei pra soltar esses moleques - no mínimo moleques! - quando o que eles mereciam era uma surra de relho!

- Mas seu Chico, e a Lei da Palmada?


- É da palmada e tem a ver com a palma da mão. Não se fala em relho na lei. E quanto a isso de lei... Coitada, como ficou caprichosa, volúvel, cheia de vontades, volátil, inconstante, manhosa!...

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

"BRASIL, MOSTRA A TUA CARA!"



Para que máscara? “Você tem medo de quê?” De ser desmascarado? Estranhas manifestações lideradas por uma organização multinacional que estabelece pautas a serem seguidas. Perdemos totalmente a capacidade de tomar iniciativas e necessitamos tanto assim de estranhos seres mascarados, que fazem questão de continuar estranhos e mascarados, enganam facilmente internautas pouco informados e tem uma história de golpismo pelo mundo afora? Há sérias acusações contra o “Anonymous”: agentes infiltrados da CIA (Estados Unidos), do Mossad (Israel) e do M-16 (Inglaterra). É uma dedução lógica, uma vez que são três países muito unidos dentro do seu fascismo e declaradamente imperialistas. Outros afirmam que há infiltração do serviço secreto das Forças Armadas brasileiras, na tentativa de desestabilizar o governo e tentar um golpe.

   O que se sabe de certo é que torpedearam, através da Internet, os governos da Argélia, Tunísia e do Egito na época da “Primavera Árabe” – coincidentemente patrocinada pelos Estados Unidos e aliados. O objetivo, todos sabem, era cercar e invadir a Líbia socialista de Khadaffi. Conseguiram, mataram Khadaffi e, de quebra, os modernos cruzados ocidentais tem o domínio do norte da África, à força de intensos bombardeios em nome da democracia.

   E em nome da democracia, promoveram eleições naqueles países. No Egito, o partido islâmico venceu e isso foi o suficiente para que as Forças Armadas daquele país, auxiliada por forças armadas externas e “Anonymous” internos, derrubassem o governo. Em nome da democracia deram um golpe militar. Eles detestam muçulmanos. Detestam cristãos. Detestam religiões ou qualquer manifestação de espiritualidade.

    No instante seguinte, os “Anonymous” começaram a agir na Síria, ao lado de mercenários da Al-Qaeda, eterna aliada dos Estados Unidos – a tal ponto que cedeu o nome para ser demonizado quando do curioso, estranho e nunca totalmente explicado episódio da Torres Gêmeas, que serviu de desculpa para as invasões do Iraque e Afeganistão.

   Ainda estão na Síria, onde os mercenários estão perdendo a guerra e por isso, assim como na Líbia, os Estados Unidos e aliados desejam invadir aquele país tão estratégico, que faz fronteira com Israel e é aliado do Irã e da Rússia.

    E também estão no Brasil, mexendo com a cabeça de milhares de jovens com a sua máscara de ativistas, hackers, crackers e afins, participando, agora, do que poderia ser apelidado de “Primavera Brasileira”, com o óbvio objetivo de preparar o caminho para o golpe armado. Desestabilizar as instituições é o primeiro passo. Assim como na véspera do golpe de 1964, organizam passeatas que apelidaram de manifestações e, como naquele ano, tem o apoio da grande mídia, que eles, os “Anonymous”, fingem criticar.

    Tudo se relaciona, e como nada acontece por acaso ou linearmente vejam a coincidência com as revelações do ex-espião Snowden sobre a espionagem estadunidense no governo brasileiro, como alvo prioritário na América do Sul. Se o governo de centro-esquerda de Dilma cair, todos os demais governos da região serão alvos fáceis. Efeito dominó.

    É essencial que se combata a corrupção que este modelo de democracia representativa facilita e a verdadeira democracia deve evoluir para a participação popular em todos os níveis, a começar pela responsabilidade cívica de cada um sobre o quarteirão onde mora. Estamos nos acostumando preguiçosamente a votar, eleger e pedir soluções para os eleitos, quando o povo no poder é que deveria decidir o que e como fazer.

  A timidez, o medo de avançar para soluções populares, aliado à política aliancista que, por si mesma, torna-se corrupta ou induz à corrupção tem sido os grandes erros dos governos do PT, que os levaram a situações extremas de mediocridade administrativa e a uma política externa vinculada ao capital e ao império e agora, quando as ameaças golpistas se tornam evidentes e a ingerência externa é um fato, o governo Dilma-Lula perde-se nas próprias contradições, não há uma base popular realmente forte e consciente e se torna medroso devido às seguidas ameaças dos militares retrógrados e vendidos ao império.

    Militares que exigiram total independência de ação e que formam um governo paralelo e independente. Dessa forma, participaram da invasão no Haiti, ao lado dos Estados Unidos, tem navios de guerra nas costas do Líbano, participando de missão da OTAN no Oriente Médio e um general brasileiro – Carlos Alberto Cruz – está à frente de forças da ONU, os capacetes azuis, em missão de intervenção na República do Congo, na África. Internamente, monitoram as grandes favelas do Rio de Janeiro. Estarão ao lado dos agentes da NSA na missão de espionar o governo brasileiro? Não é de duvidar.

    Também não é de duvidar que a grande maioria dos jovens que participam das manifestações esteja completamente iludida ao acreditar que estarão mudando o país ao dizerem um “não” à política – o que é um evidente ato político, mesmo que eles não saibam disso. Política não significa eleições, mas participação cívica, e, em verdadeiros países democráticos, todos devem atuar no sentido de influenciar mudanças para o bem comum.

    Sob esse aspecto, as manifestações são saudáveis e oxigenantes. Deve-se lutar, sim, por uma nova maneira de fazer política, onde o povo possa não só eleger como cassar mandatos daqueles que não cumprem com suas promessas. Onde o povo não fique apenas representado, mas seja ele o autor da sua história. Este modelo democrático está velho, ultrapassado e caduco desde que foi inaugurado com a primeira república da Revolução Francesa. É um modelo que exclui e aliena a grande maioria.

  Portanto, são necessárias manifestações que requeiram mudanças políticas, mas manifestações contra a política e os partidos são extremamente suspeitas, porque externa a prática oportunista da direita, que não consegue manter-se anônima, mesmo quando usa máscaras.

   Não precisamos esconder o rosto para exigir respeito e cidadania plena. Lutar de peito aberto faz parte da ética dos corajosos. Os que temem, temem primeiro a si mesmos.

   Qual é a pauta das manifestações deste 7 de setembro? Xingar a Dilma, os governadores, os políticos ou exigir reformas populares que poderão se transformar em verdadeira revolução?

     Revolução, e não golpe. E uma revolução pode ser pacífica, sim, basta o povo consciente desejar. Para isso, deveremos ter um povo consciente, e, enquanto não é assim, por quê os manifestantes não ensaiam essa possibilidade, gritando contra as desigualdades sociais, contra a construção da usina de Belo Monte e outras usinas que atentam contra o meio-ambiente, contra a discriminação, racismo e xenofobia da elitista classe médica brasileira em relação aos médicos cubanos, e contra a espionagem e devassa a que estamos sendo submetidos, desde a Presidente até o último dos brasileiros (porque existe, sim, nesta suposta democracia, brasileiros em extrema miséria), em um grande, uníssono grito pela nossa verdadeira independência, quando teremos direitos e deveres iguais e ausência de pobreza e de exploração?

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

DIAS DE IRA




Tentei telefonar para Dilma, comunicando minha solidariedade no caso da espionagem. Não deu. Talvez eu tenha discado o número errado, mas só o que se ouvia era: “Este é um grampo amistoso da NSA. Ouça com atenção e reflita. Brasil: ame-o ou deixe-o. Se preferir deixá-lo, escolha os Estados Unidos. Se escolher os Estados Unidos, será preso, porque quem liga pra Dilma deve ser de esquerda e esquerda aqui só direção de automóvel, mas já há um projeto contra a respeito. Se for preso, vai pra Cuba, lá na prisão de Guantánamo. Se for pra Guantánamo, pode esquecer a vida. Este é um grampo amistoso...”

   Desliguei e decidi telefonar pro seu Chico. “Alô. Seu Chico?” “Este é um grampo amistoso...” Desconsolado, saí pra rua, não sem antes acrescentar longa barba falsa e só depois, quando tentava me esquivar das mini-câmeras presas aos postes de luz e a outros lugares muito secretos é que me dei conta que a barba postiça poderia chamar ainda mais a atenção, quem sabe me confundiriam com um muçulmano, perigoso terrorista preparando-se para jogar uma bomba. Assustado, entrei num bar, pedi licença e fui ao banheiro, onde retirei a barba. Quando voltei, o dono me olhou com uma cara ainda mais assustada. “Pensei que era carnaval”, tentei explicar.

   É carnaval. É claro que é carnaval! Coisas assim só acontecem no país do carnaval, que dura o ano inteiro, conforme o programa humorístico das Três Gralhas que ouço, às vezes, pra desopilar, na Rádio Imponderável. Ainda ontem, entre um e outro ataque ao Mais Médicos, a Gralha Principal falou: “Eu não disse? Agora ela vai cair. Esperem o 7 de setembro”, referindo-se à diabólica espionagem dos Estados Unidos sobre a Dilma: grampos nos seus telefones, devassa nos seus e-mails, seqüestro de senhas, decodificação dos IPs dos seus computadores – enfim, tudo o que já sabemos que eles fazem com todos no mundo inteiro, mas agora está explícito exatamente quem, que, quando, onde, como e porque. A Gralha Número Dois respondeu: “Disse, é claro que disse!” e a Gralha Número Três ecoou: “Vai cair! Vai cair! Oba!”. Ela estava com a voz muito rouca e eu desconfiei que tivesse pegado, adquirido, contraído a gripe aviária. Ou a suína: tudo pode acontecer no carnaval.

   Por falar nisso, o 7 de setembro está chegando e muitas são as manifestações organizadas. Até em Três Estrelinhas há cartazes afixados em lugares bem visíveis conclamando para o grande dia. Algo assim como “Participe da irada manifestação escolhendo o alvo da sua ira”. Fazendeiros, amigos e agregados já aderiram. Pelo que deu pra entender, serão atos políticos contra a política. Tem gente, segundo ouvi dizer, querendo convidar o Reinaldo Azevedo, a Gralha Principal e até o Lobão para fazer um manishow. Vai ser uma festa!

   Ou quase. Durante a ditadura militar, tanques e similares saíam às ruas, soldados marchavam em passo-de-ganso e o chefe da cidade, o general, ficava no palanque ao lado do Bispo, do Prefeito e do Presidente da Câmara de Vereadores. Todos muito sorridentes. O povo olhava. Nos últimos democráticos anos, os tanques sumiram e há poucos soldados marchando. Também marcham alunos de escolas. Quando passam em frente ao palanque são aplaudidos pelo general, pelo Bispo, pelo Prefeito, pelo Presidente da Câmara de Vereadores e pelos fazendeiros e grandes comerciantes – os verdadeiros chefes da cidade.

   Neste 7 de setembro, a ira das ruas provavelmente atrairá de volta os tanques e muitos soldados armados, cantando seus hinos preferidos e até, quem sabe, gritando o seu slogan favorito: “Yes, we can!”

   Dias de ira. Obama estará atacando a Síria, o Irã, atraindo a Rússia para uma guerra forçada ou uma paz submissa e aqui e em toda a América Latina, no bric-a-brac do império, sinal verde para festivos e irados golpes. Questão de segurança nacional. Devaneios... Devaneios?

   Mas onde estará o seu Chico? Nos últimos dias tenho tentado ligar pra ele, tomar um mate, por os assuntos em dia, perguntar o que ele acha deste momento tão histórico que estamos vivendo... Histórico ou histriônico?

   Um país que não tem forças para responder a ultrajes, como espionagem aberta e declarada, ficará conhecido como o grande histrião da História. No mínimo, a Dilma deveria romper relações com os Estados Unidos. Terá coragem?
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