segunda-feira, 25 de julho de 2016

DITADURA





No início, acreditava-se que era um golpe parlamentar apoiado pelo $TF a atestar que o sistema não funciona a não ser que os três poderes que deveriam ser harmônicos e independentes se harmonizem sob um único pensamento político e percam a sua independência, o que configura ditadura. Acreditava-se que o golpe era algo passageiro, uma vez que não havia soldados e tanques nas ruas e não fora um general a tomar o poder, mas uma quadrilha liderada por um traidor, tendo a apoiá-la todas as maçonarias do império. Sonhava-se ingenuamente que os generais tomados por súbito espírito republicano, na omissão do Judiciário correriam e deporiam o usurpador, logo a seguir retirando-se para os quartéis, assim como aconteceu em Portugal, em 1975. 

   Outros propõem eleições gerais, acreditando que isso irá limpar o golpe de suas sujeiras, ingenuamente apoiando os golpistas a retirar do poder a presidente eleita legitimamente. E há aqueles que imaginam que o golpe tem prazo de validade, devendo extinguir-se quando da nova votação sobre o impedimento de Dilma, no Senado, momento em que a presidente, após muitos acordos e conchavos secretos, obterá o número necessário de votos para poder voltar a governar, refém de condições golpistas previamente estabelecidas. 

   Enquanto isso, o golpe continua, transformando-se gradativamente em ditadura. Os soldados foram substituídos por uma polícia fortemente armada e encarregada da repressão, das prisões inconstitucionais e dos cuidados ao governo formado por corruptos e ladrões. Nos golpes de Estado modernos em países onde o povo se mobiliza apenas para assistir partidas de futebol, prescinde-se do aparato militar tradicional. Basta a polícia para sufocar pequenas manifestações de movimentos que a cada dia diminuem, com grande parte de seus membros preferindo assistir novelas pasteurizadas. 

   Retiram-se os direitos sociais e o que acontece? Alguns deputados e senadores, muito interessados em obter votos para a sua reeleição, esbravejam nos microfones do Congresso Nacional; líderes de movimentos sindicais e afins mostram-se furiosos defensores do povo; partidos de “esquerda” com mínima penetração nas camadas populares condenam o golpe e colocam grandes artigos interpretativos da realidade nacional nos seus sites oficiais; blogueiros fazem piadas sobre a cara feia do Temer, o nariz do Aécio, a mulher do Cunha, a amante do FHC ou o entreguismo convicto do Serra. Tudo isso com resultado nulo. Golpe que se preza não se deixa assustar com gritos ou anedotas, além do quê os gritos são poucos, esparsos e repetitivos e caso se tornem mais fortes a robotizada polícia saberá o que fazer. 

    Não estamos na França, em Portugal, na Grécia, na Espanha, ou, mesmo, na Argentina, Chile, Peru, onde o povo sai às ruas dia e noite e não desiste após levar alguns jatos d’água e balas de borracha. Aqui, o povo é bom e pacato e faz manifestações com dia e hora marcados na internet. E depois se cala por um mês ou mais para dar espaço às tramas dos golpistas, que planejam entregar o país, que seria dos nossos filhos, para seus próprios filhos e afilhados nascidos em outros países. Muitos não gostam da palavra, mas o nome do que está acontecendo é ditadura.

terça-feira, 12 de julho de 2016

VERMES




“Gusanos” (vermes) é o apelido dado em Cuba aos contra-revolucionários. Todos aqueles que fugiram para Miami e outras cidades estadunidenses e de outros países e de lá fazem aberta propaganda contra o socialismo são considerados vermes, porque se arrastam aos pés do capital e desdenham da independência econômica e social do seu país. Seu projeto de vida é orbitar em torno do governo dos Estados Unidos e acatar as ordens ianques. São vermes porque tem um cérebro minúsculo, são individualistas e detestam o bem comum. São vermes porque rastejam. 

   Não é somente em Cuba que existem vermes subservientes ao império. No dia 9 de julho, a Argentina festejou os duzentos anos de sua independência do reino da Espanha. As Províncias Unidas do Sul, mais tarde Argentina, conquistaram a independência, declarada em 9 de julho de 1816, graças a luta de seu povo, liderada, principalmente, pelos generais Manuel Belgrano e José de San Martin. No entanto, duzentos anos depois, a Argentina continua dependente do capital estrangeiro devido à sucessão de golpes militares e de governos formados por vermes como Maurício Macri, que convidou o rei espanhol para o festejo dos duzentos anos e disse que os argentinos sentiam-se angustiados por terem conquistado a independência da Espanha. Não é o que pensa o povo argentino. Sabe-se que Macri foi eleito com o dinheiro de Washington e age como um domesticado verme. 

   Vermes é o que não faltam nos governos do Peru, do Chile e, mais ostensivamente, da Colômbia, que cedeu seu território a 8 bases militares dos Estados Unidos sob pretexto de combater a guerrilha, e o povo colombiano deixou-se dominar quase completamente pela propaganda fascista, ao ponto de eleger sucessivos vermes para a presidência de um país que já foi livre. A partir da Colômbia pretendem os Estados Unidos provocar guerras civis na Bolívia, Equador e Venezuela, contando com o apoio da oposição interna desses países formada toda ela – adivinhem? – por vermes. 

   Não seria muito fácil, caso não houvesse, do lado de cá da linha do equador, um grande país, com cerca de oito milhões de quilômetros quadrados e que recentemente teve o seu governo assaltado por vermes, com o apoio de vermes deputados, vermes senadores, vermes juízes e vermes policiais. Vermes. Não só assaltaram o governo como pretendem permanecer no poder indefinidamente – mesmo que seja através das fingidas eleições. Parte da população, formada por vermes que adoram carnaval, novelas, futebol e Disney e gosta de joguinhos virtuais, acha muito bonito os vermes governantes, que se pintam de azul, verde, amarelo e branco e ostentam uma faixa onde está escrito “Fascismo e Retrocesso”. 

   A maioria do povo, no entanto, sente-se ultrajada com o golpe dos vermes. Ultrajada, indignada e desiludida. Acreditavam que com eleições a cada dois anos os vermes seriam extintos naturalmente, e que isso se chamava democracia e na primeira oportunidade os vermes paparam a democracia com eleições e tudo. Pior: usam as eleições para se disfarçar de democratas. E prometem mais eleições. Eleições para derrubar a Presidente, eleições para impor um presidente-verme, eleições para deputados-vermes e senadores-vermes, eleições para prefeitos e vereadores, desde que a maioria de vermes fique garantida. Para isso contam com um povo que transformam, aos poucos, através de mutações eleitorais, em povo-verme. Em troca, carnaval, novelas, futebol e Disney. 

   Está provado que vermes só se sentem bem entre seus iguais. Jamais alcançariam a posição de vertebrados, ainda que, por milagre dos céus, lhes fosse dada essa oportunidade. Vermes detestam a independência; rastejam, e ao rastejar prestam obediência, ou continência, a animais maiores, como os porcos. Perceberam como o mapa dos Estados Unidos lembra um porco, assim como o do Brasil lembra um coração? Coração que está sendo comido pelos vermes.  

   Dizer que os vermes usurparam o poder no Brasil é hipertrofiar a realidade. Não poderiam fazê-lo sem que os porcos os dirigissem, ou teleguiassem. Um dia após a votação pelo impedimento de Dilma, na Câmara, o senador Aloysio Nunes, verme assumido, viajou aos Estados Unidos para receber ordens de seus amos, os porcos do império. No mesmo dia em que Dilma foi afastada do governo pelo Senado, o verme Temer formou o seu governo de vermes sob orientação direta dos porcos piratas norte-americanos. 

   E israelenses. Há, pelo menos, três sionistas no governo-verme de Temer: Raul Jungmann, Sérgio Etchegoyen e Ilan Goldjafan. Temer, cobra traiçoeira, quer privatizar tudo para que o país seja entregue definitivamente a seus chefes de outros países. Governar com independência não é da natureza dos vermes, preferem delegar poderes para que possam serpentear como desfibrados vassalos.

segunda-feira, 4 de julho de 2016

ELEIÇÕES?




“O povo não está bem informado, é manipulado durante as 24 horas. Já faz anos que não vejo televisão e me informo pelas mídias alternativas.” (Lagarder Danciu, ativista romeno).


Há uma incrível desatenção quanto à situação política atual naqueles grupos que se denominam “de esquerda”, e é sabido que ser de esquerda, hoje, não significa adesão ao marxismo, mas um modo de pensar que muitas vezes leva a conciliação com as classes dominantes, atrasa as lutas populares, reage contra qualquer tentativa de mudança e se limita a propor pequenas melhorias que em nada alterarão a realidade social, ao contrário, postergarão os problemas mais profundos para uma data indefinida e muito distante. 

   Esses grupos, que em geral se traduzem por partidos políticos com diferentes siglas e denominações, em pleno processo golpista estão muito preocupados com as eleições municipais. Agem como se nada estivesse acontecendo, talvez acreditando que o golpe é passageiro, como uma doença infantil que tem seus dias contados para acabar, e não é improvável que pensem que com a realização de eleições tudo se arranjará - como a abóbora que se transforma em carruagem encantada e depois, quando volta a ser abóbora, provoca desapontamento naqueles que desejariam a eternidade da ilusão. 

   Passam as eleições, ou as ilusões, e acontece o quê? O golpe continuará impávido e colosso. Quem sabe acreditam que o golpe é um único momento dividido em duas partes: as votações pelo impedimento de Dilma na Câmara e no Senado? Ou, ainda, talvez imaginem que o golpe se restringe à deposição de Dilma e que poderá ser revertido com uma nova votação no Senado que a faça retornar ao governo? Se for assim, é o supra-sumo da ingenuidade ou da canalhice. Quero acreditar que é ingenuidade, a canalhice eu deixo para os grupos de direita. 

   O golpe começou com a própria Dilma, em 2015, ao mandar para o Congresso as leis de ajuste fiscal contra os trabalhadores e a lei antiterror contra os movimentos sociais. Ou o golpe contra o povo brasileiro teve início antes de 2015, quando Dilma cedeu aos latifundiários o novo Código Florestal, que aumentou o desmatamento e perdoou os infratores, e quando Dilma pactuou com as grandes empresas para fazer a usina hidrelétrica de Belo Monte abandonando os povos indígenas ao massacre dos ruralistas e causando um impacto ambiental e social gigantesco, talvez irreversível. Este ano (2016), Dilma foi afastada, talvez momentaneamente, para que Temer & Comparsas possam aperfeiçoar o golpe. E entregar as nossas riquezas para o capital estrangeiro. 

   Ou melhor, o golpe aconteceu em 1964 e ainda não terminou. O que houve nos anos 1980 foi um acordo político para a volta das eleições diretas, dando a entender ao povo menos instruído que eleições são sinônimos de democracia ampla, geral e irrestrita. Mais da metade do povo brasileiro continua menos instruído, com um alto índice de analfabetismo funcional – pessoas que sabem ler, mas não conseguem interpretar o que estão lendo. E hoje temos tiriricas, ex-jogadores de futebol e zezinhos das couves “representando” o povo no Congresso Nacional. Todos eles facilmente manipuláveis pelas mídias golpistas, direitistas, entreguistas. 

   Quem votou nesse pessoal? A população desiludida que sabe, intuitivamente, que eleições de nada adiantam, acreditando que tanto faz votar num palhaço como num bacharel: todos roubam. Então, prefere votar em palhaços, fazendo das eleições um brinquedo, uma mentirinha. Dilma falou que houve uma ruptura do pacto social. Que bom! Já era tempo de desmascarar o pacto feito entre a burguesia e a esquerda pequeno-burguesa do PT e similares. Acordos políticos, pactos, alianças não funcionam mais. A direita deu o mote: só aceita o governo de um partido de centro-esquerda (ou centro-direita, se preferirem) como o PT se este fizer amplas alianças com partidos conservadores. E mesmo neste caso, quando se trata de vender as nossas riquezas e arrochar o trabalhador, tira-se o governo vestido de vermelho e coloca-se um governo vestido de azul para cumprir a missão de sucatear o Brasil. 

   No final dos anos ’80, sob os auspícios do general Golbery, a rede Globo comandou o chamado à volta das eleições gerais, dando grande destaque a políticos como Tancredo Neves (um dos que traíram Getúlio Vargas, em 1954), ajudando a promover passeatas civilistas, ocasiões em que seus artistas desfilavam nas grandes capitais gritando por diretas já. O muro de Berlim era derrubado, a União Soviética desmoronava com a ajuda do traidor Gorbachev, Bush anunciava uma nova ordem mundial e os países que davam sustentação ao império na América Latina deveriam mostrar-se oficialmente democráticos. 

   O acordo previa anistia mútua: para os civis perseguidos e para os militares assassinos e torturadores. Tudo deveria ficar exatamente como estava. A única diferença é que partidos políticos poderiam arvorar suas bandeiras e concorrer às eleições, se assim desejassem. Ainda: os governos eleitos deveriam seguir a linha capitalista, o neoliberalismo econômico, no máximo algumas reformas aqui e ali, pequenas benfeitorias para a população miserável. Socialismo nem pensar, só nas siglas partidárias. Ao povo, carnaval, futebol e eleições até se fartar. A democracia concedida por eles deveria ser uma embriagante e alienante festa. Este, em poucas linhas, foi o pacto social, o pacto entre elites políticas, que Dilma reclama ter sido rompido com o seu impedimento. 

   O que é ótimo. A ruptura política mostra quem é quem e não deixa ninguém de fora. Todos são reacionários interessados apenas nos seus próprios ganhos, políticos que fazem da política uma profissão muito rendosa, especialistas em acordos e tramóias, corruptos pela própria natureza. O sistema representativo morreu. Votar em um representante é delegar poderes a um desconhecido que logo irá se vender pela melhor oferta. Eleições? Fartem-se dessa farsa os porcos que comem bolotas pensando que são pérolas.
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