segunda-feira, 21 de março de 2016

“BRASIL, ESQUENTAI VOSSOS PANDEIROS...”




I

Dilma desperta depois de um longuíssimo sono e pergunta o que está acontecendo.
“É o golpe”, responde um assessor.
“Golpe? Que golpe?”.
“O golpe do Temer. Não é bem do Temer, ele é só um grande amigo do Joe Biden. É o golpe do Aécio Neves da Cunha, do Eduardo Cunha, do Sérgio Fernando Moro, do Fernando Henrique...”
“Credo! Então é um golpe de fernandos e cunhas. Que turma, hein? E o que eles estão fazendo pra dar o golpe?”
“O Aécio Cunha fica incitando a Polícia Federal, mas o ministro da Justiça, o Aragão, já disse que se cheirar vazamento ele demite.”
“E, pelo que eu sei, vai cheirar, e cheirar muito! Coitado... Devia largar essas coisas que estragam a saúde. E por que o Aragão ainda não demitiu o chefe da Polícia Federal?”
“Há um certo temor pairando no ar, presidenta.”
“Que poético! E o outro Cunha?”
“O outro é o Presidente da Câmara Federal, famoso corrupto que combate a corrupção.”
“Percebo. E os fernandos?”
“Um deles manda no outro que banca o ditador. É o golpe.”
“E ninguém está fazendo nada para evitar esse tal de golpe?”
“A Advocacia Geral da União entrou com um habeas corpus pra evitar que o Lula seja preso e morto pela polícia do Fernando ditador...”
“Já sei. E vão submeter ao STF, que vai negar. Mas será que ninguém aprende? E o Lula? Cadê o Lula?”
“Tá num hotel perto daqui, conversando com o pessoal do PMDB, presidenta.”
“O Lula também faz parte do golpe?”
“Nunca se sabe, mas acho que não.”
“Mas ele não tá conversando com o pessoal que quer dar o golpe?”
“É um cacoete antigo, que ele não larga de jeito nenhum, presidenta. Aquela coisa de que é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado e é morrendo que se vive para a vida eterna.”
“Credo! Até parece a carta-testamento do Getúlio. Por falar em Getúlio, onde está o meu retrato do Brizola?”
“No seu quarto, presidenta. Ninguém mexeu em nada desde que a senhora começou a dormir no ano de...”
“Eu sei. Ou imagino. Acho que foi alguma coisa que o Temer botou na minha bebida. Me prepara um café bem forte e depois me deixa sozinha.”

II

“E agora Brizola, o que é que eu faço?”
“Ainda bem que acordaste, Dilma. Eu já estava preocupado, achando que tu ia virar retrato, que nem eu. E te falo que não é das melhores coisas. A gente fica pendurado na parede, parecendo um santo. O que é que tu faz? Mas onde está a Dilma revolucionária que escondia armas embaixo do colchão?
“Se eu te disser... Acostumei tanto que ainda tenho uma AK-47.”
“Essa é a minha Dilma! Pois, se quer mesmo a minha opinião, acho que tu andaste dormindo demais. No teu lugar eu já tinha botado a boca no trombone, ou, por falta de trombone, no microfone mesmo.”
“E de que jeito, tio Briza?”
“Um alto-falante pendurado numa das paredes do palácio, convocando o povo. Sem o povo não se pode fazer nada, Dilma. Conclama o povo e vamos ver se eles se animam a dar o golpe.”
“Não é tão fácil assim, Brizola.”
“Mas, essa menina!... Experimenta pra ver! Na hora da briga a gente briga. Quando é necessário pelear, que vienga la pelea!”
“E assim no mais?”
“Assim no más! Te digo que se tu tomar uma atitude eles se borram e saem correndo. São uma turma de remelentos, que de homem só tem a pose.”
“E as Forças Armadas?”
“Pois tu não és a Chefe das Forças Armadas? Tá havendo uma tentativa de golpe, prende os golpistas. Ou então, ouve bem este outro conselho...”

III

“Alto lá! Como ousa invadir a casa do povo sem convite?”, grita Eduardo Cunha do alto do seu trono de madeira, ao ver Dilma na Câmara dos Deputados, armada com uma metralhadora e guiando uma multidão que grita “Não vai ter golpe!”.
“É o povo que vem tomar conta da sua casa! E agora sai daí seu puxa-saco de ianque, seu lambe-botas da imprensa vendida.”
“Daqui não saio, daqui ninguém me tira!”
“Ah é? Pois tu vai ver.”
Dilma manda o Cunha ficar de quatro e começa a lhe dar palmadas.
“E a Lei da Palmada?, pergunta o choroso Cunha.
“Pra ti não se aplica, seu desavergonhado! E podem ir fazendo fila, que depois é a vez de vocês!”

Acordo e me lembro daquele verso: “Brasil, esquentai vossos pandeiros...”

Um comentário:

  1. Crítica bem escrachada, tal qual nosso país nesse momento. Valeu, blogueiro!

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