quinta-feira, 30 de agosto de 2012

SEU CHICO INDIGNADO







Seu Chico estava com um olhar de admiração na beira da praça Silveira Martins, olhando os carros de som que iam e vinham fazendo propaganda de candidatos quando eu o encontrei.

     - Como vai, seu Chico? Pegando um solzinho?

     - Tentando. Neste inverno que finge virar primavera e depois volta a ser inverno a gente nunca sabe de que lado da rua está o sol. Como certos políticos. O senhor tem visto a propaganda política?

     - Só por descuido, seu Chico.

     - Pois num destes descuidos eu fiquei assistindo e me divertindo.

     - Gostou, seu Chico?

     - Se gostei! Melhor que programa de humor!

     - E o que lhe chamou mais a atenção?

     - Pois foi justamente pela ausência de qualquer coisa que chamasse a atenção que eu me diverti. Foram-se os tempos em que os candidatos defendiam alguma causa, algum programa de governo. Acabaram-se os ideais políticos.

     - É uma tristeza, não é seu Chico?

     - De certa forma. O senhor há de ponderar comigo que pior do que está é impossível. Logo, se o país não se diluir em cascatas, cachoeiras, mensalões e mensalinhos, a tendência inevitável será melhorar. Quando é que é a grande pergunta.

     - Talvez quando mudarem os governantes, seu Chico.

     - Mas é isso que eu estou falando, homem de Deus! Não tem como mudar os governantes!

     - Não estou entendendo, seu Chico.

     - Todos eles, os que se dizem situação e os que se dizem oposição, estão presos uns aos outros através de alianças, acordos, todo o tipo de coisa que o senhor possa imaginar. São farinha do mesmo saco! Antigamente, por muito menos que isso que estamos assistindo se fazia uma revolução; hoje eles fazem corrupção. Estão até ficando enfastiados de tanta corrupção.

     - Mas os mensaleiros estão sendo condenados, seu Chico.

     - Claro que estão sendo condenados! É a única maneira de deixar eles soltos. Oito anos de condenação para um corrupto reconhecido é lá condenação? Vai entrar na prisão só para visitar, quando muito! No dia seguinte estará solto. Esse julgamento é para soltar e não para prender. Condena, prende, solta e deixa solto, como tem acontecido com todos os que tem dinheiro sobrando.

     - É verdade, seu Chico.

     - Por isto que eu digo que trocar de governantes não adianta. Temos aí as eleições, e o que vemos? Pois não é que aqui nesta nossa cidade que já foi capital do Rio Grande aos tempos de Joca Tavares e que vem diminuindo como a água das torneiras o candidato a prefeito do PSDB diz que o que está errado é o Sistema? E os candidatos do PT querem o continuísmo da apatia...

     - É verdade, seu Chico, está tudo invertido.

     - Mais invertido que galo chocando!

     - Mas o senhor disse os candidatos do PT. Que eu saiba só tem um.

     - Na aparência tem um. Mas olha a outra, que é do PTB, ou PT do B, como andam dizendo. Qual é o grande programa de campanha dela? Não é dizer, redizer e continuar dizendo que é amiga íntima de um deputado do PT, que já foi prefeito? Foi prefeito e o que fez, o senhor lembra?

     - Lembro que as praças foram desmontadas e montadas de novo; canteiros de flores, festa de churrasco... E deve ter tido mais alguma coisa. Eu quase não saio de casa, o senhor sabe.

     - Festas e alianças. Qual é o grande problema desta cidade? Não é a falta d’água? E ele construiu alguma barragem? Teve oito anos para isso. Deixou para o próximo, como todos os prefeitos anteriores. Barragem não dá dinheiro, o senhor há de convir.

     - E o próximo não era exatamente quem ele desejava...

     - De outra corrente do mesmo partido. E aí o que aconteceu? A base na Câmara de Vereadores foi esvaziada, com os vereadores daquele prefeito mudando para outros partidos para poderem votar contra o atual prefeito e dizer, agora, que ele não fez nada.

     - Jogo de interesses, seu Chico.

     - Jogo de interesses e quem paga é o povo. Ouça só esses carros de som: o candidato do PT oficial diz que tem o apoio da Dilma e a candidata do PT do B diz que tem o apoio da Dilma, do governador e do ex-prefeito, além de afirmar que já está na hora da cidade ter uma mulher como prefeita, para pegar os votos das mulheres.

     - E o candidato a prefeito do PSDB, que seria a direita oficial, a defensora do Sistema, diz que o Sistema está errado. E ainda mais: diz que quer enxugar a máquina pública. Isso não é um tiro no pé, seu Chico? Enxugar a máquina pública é o mesmo que ameaçar de demissão centenas de funcionários, e por trás dos funcionários tem as famílias deles... É perder votos.

     - Mas o que o vivente iria dizer? Que também tem o apoio da mãinha Dilma? Terá, se for eleito, porque aquela faz alianças com todos os partidos, mas na hora da campanha política a coisa é diferente. É um tal de acusa aqui e defende lá que chega a sair poeira.

     - E no final todos se abraçam, seu Chico.

     - Mas!... No fim das eleições, os que ganham fazem festa e os perdedores fingem muita chateação, mas já no dia seguinte começam os telefonemas e as alianças. Um pedido de secretaria pra um, uma autarquia pra outro e tudo acaba ficando em paz. Por isso que eu digo que não adianta mudarem os governantes. Eles tem lá as suas panelinhas, bem distante do povo que dizem defender.

     - E fazer o que, seu Chico?

     - Com este povo que aceita tudo? Desmemoriado, quase analfabeto, que só quer festa... Acho muito difícil... Já estaremos mortos quando se resolver a fazer alguma coisa de verdade.

     - Quem sabe uma revolução, seu Chico, daqui a décadas.

     - Duvido! Eles preferem assistir novela ou futebol. E a coisa só tende a piorar.

     - Quem sabe com a ajuda de Deus, seu Chico?

     E assim fomos espichando a conversa, enquanto a tarde esmaecia e os carros de som dos candidatos a prefeito e a vereador se revezavam proclamando o grande amor à cidade, ao povo...

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

A HERANÇA DE GETÚLIO VARGAS


Nascido a 19 de abril de 1882, sentou praça aos 16 anos (1898), em São Borja, sua cidade natal. Com a patente de sargento, em 1902, participou da Coluna Expedicionária do Sul, que se deslocou para Corumbá, durante a disputa entre Bolívia e Brasil pela posse do Acre. Em 1904, matriculou-se na Faculdade Livre de Direito de Porto Alegre, atual UFRGS. Bacharelou-se em Direito em 1907. Trabalhou como promotor público junto ao Fórum de Porto Alegre, mas preferiu exercer a advocacia em sua cidade.

     Casou-se em 1910 com Darcy Lima Sarmanho, com quem teve cinco filhos. O casamento uniu as duas principais famílias rivais de São Borja. A família de Darcy era maragato (Federalista) e a de Getúlio chimango (do Partido Republicano Rio-Grandense). Foi eleito deputado estadual duas vezes, mas renunciou ao segundo mandato em protesto contra Borges de Medeiros.

     Foi ministro da Fazenda de Washington Luís, em 1926, implantando a reforma monetária e cambial daquele governo. Deixou o cargo, em 1927, para candidatar-se à presidência do Rio Grande do Sul. Elegeu-se presidente (governador) com um discurso de conciliação, substituindo a Borges de Medeiros. Em 1930, os dois partidos gaúchos – chimangos e maragatos – marcharam juntos para acabar com a República Velha. O Brasil começava a ser construído.

     A revolução teve início a 3 de outubro de 1930 e no dia 3 de novembro, Getúlio Vargas tomava posse no Palácio do Catete.

     No dia 26 do mesmo mês decretou a criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. Depois, sucederam-se muitas medidas de proteção ao trabalhador, novas modalidades de concessão de férias. Em 21 de março de 1932, institui a Carteira Profissional do Trabalho, retirando os conflitos de patrões e empregados das delegacias de polícia. No documento constava a ocupação do trabalhador, seu salário e o direito de filiar-se a um sindicato, dados pessoais, representando o reconhecimento de sua cidadania. Regularizou o horário de trabalho do comércio e na indústria; regularizou as condições de trabalho das mulheres na indústria e no comércio; instituiu a Convenção Coletiva do Trabalho; disciplinou a condição de trabalho dos menores na indústria.

     Foi só o início. O gigante pela própria natureza erguia-se, assustando aqueles que sempre desejaram o Brasil deitado eternamente em berço esplêndido – talvez numa rede, como Macunaíma ou o Jeca Tatu. Para as demais realizações de Getúlio remeto o leitor a matéria deste blog - “GETÚLIO, UM BRASILEIRO” -  http://fausto-diogenes.blogspot.com.br/2011/08/getulio-um-brasileiro.html 

     A herança de Getúlio Vargas – o nacionalismo, também chamada de trabalhismo – foi golpeada em 1964, dez anos após a sua morte. Os militares que deram o golpe disseram que era um movimento revolucionário para salvar o Brasil do comunismo – provavelmente uma frase fabricada em Washington, durante o período de preparação do golpe militar, no pior momento da guerra fria entre Estados Unidos e aliados contra União Soviética e aliados.

     Naquele tempo, o Brasil era governado por João Goulart, legítimo continuador das ideias de Vargas, que também eram as ideias de Perón, na Argentina, e de muitos outros chefes políticos mundo afora, que não se alinhavam com nenhum dos dois imperialismos e procuravam uma terceira via independente.

     Já previam os ideólogos do imperialismo norte-americano que, a continuar assim, o Brasil - e muitos outros países do Terceiro Mundo – estava a encontrar um caminho muito distante da prescrição liberal “democrata”, que deseja o Estado como um gerente das multinacionais que o governam e não como o defensor do seu povo e das riquezas naturais do país.

     Não lhes servia um Estado voltado para a nação e para o território nacional. Queriam uma nova “abertura dos portos”, uma entrega total às “aves de rapina” que Getúlio Vargas cita em sua carta-testamento. Atualmente, a rapina é muito grande, com os governos neoliberais que se sucedem, fazendo questão de entregar o Brasil, dilapidar o nosso patrimônio, devastar as nossas riquezas naturais e transformar o povo em uma grande massa de pessoas amestradas pela mídia vendida, tendo como única ideologia a do consumo pelo consumo. Um povo que perdeu a sua razão de ser e que é ensinado a não pensar.

     O nacionalismo getulista era de uma grande simplicidade. Em primeiro lugar as nacionalizações. Fundou e nacionalizou a Petrobrás e a Eletrobrás para dar sustentação energética ao país e para que o Brasil pudesse iniciar uma saudável industrialização, não somente baseada nos produtos de exportação (como o café, na época) ou na reprodução dos produtos estrangeiros. Getúlio desejava um empresariado forte e criativo que pudesse competir através de produtos genuinamente nacionais.

     Pagar royalties por serviços que podemos fazer e bens que podemos fabricar é sinal de subserviência. Pior ainda é receber royalties pela exploração dos nossos produtos.

     Ele entendia que o trabalhador deveria ser assistido pelo Estado e criou as leis trabalhistas , junto com o salário mínimo e a previdência social. Um trabalhador saudável e bem remunerado deveria ser o sustentáculo de um forte empresariado que moveria o aé então inexistente desenvolvimento do país. Não o assistencialismo, mas o reconhecimento da força do trabalho.

     Suas realizações foram combatidas desde o início, porque os empresários brasileiros preferiam – e ainda preferem – continuar atrelados ao capital estrangeiro; detestavam – e ainda detestam – o tabalhador organizado, porque o queriam escravizado.

     Getúlio Vargas propôs a independência verdadeira, não o estéril grito o Ipiranga. Eles protestaram e conspiraram até derrubar Getúlio, em 1945 e o obrigarem ao suicídio em 1954. Eles, os que o derrubaram e mataram, preferiam e ainda preferem agir como meretrizes sustentadas pelo cafetão norte-americano.

     Antes de 1964 – a data em que as aves de rapina atacaram –, quando do governo de João Goulart, o nacionalismo brasileiro procurava expandir-se. A reforma agrária estava sendo feita para que o trabalhador do campo ficasse no campo e não fosse aumentar os bolsões de miséria das grandes cidades. Era parte das reformas de base, que pretendiam dar o Brasil para os brasileiros.

     Darcy Ribeiro sonhava com um novo povo – forte, através da miscigenação, revigorado pela identificação das suas origens. Paulo Freire, ministro da Educação, começava a implantar o seu método de ensino revolucionário, que fazia do trabalhador não um autômato alienado, mas consciente e participante da própria realidade.

     Em 1964, com a desculpa de “combater o comunismo” – que nunca souberam exatamente o que significava – os militares brasileiros patrocinados por Wall Street e custodiados pela IV Frota dos Estados Unidos tomaram o poder no Brasil. O nacionalismo brasileiro era demasiado brasileiro, necessitava de um pouco de internacionalismo, de uma boa dose de globalização.

     Depois da “abertura política” – na realidade, um pacto entre as elites conservadoras e as nem tanto com os militares – sucederam-se os governos entreguistas com presidentes civis. Quando chegou ao poder, o PT já era um partido da direita festiva travestida de esquerdismo moderado. O PTB, partido de Getúlio Vargas e de João Goulart foi entregue a grupos interessados em alianças com o poder. O PDT, partido fundado por Leonel Brizola, tansformou-se, depois da morte de Brizola, em um saco de gatos que miam por secretarias e ministérios.

     Os trabalhadores estão manietados por sindicatos alienantes; lutam apenas por salários, ouvem música country abrasileirada e tem adoração por futebol.

     O Brasil morreu ou está hibernando porque o seu povo morreu – ou está hibernando em estado de ficção.

     Mas a herança de Getúlio Vargas está intocada, simples, realizável. Talvez à espera de uma nova geração de verdadeiros brasileiros.

     Na madrugada de 24 de agosto de 1954, Getúlio Vargas suicidava-se, depois de uma última reunião com o seu ministério. Naquela ocasião, abandonado por todos, depois de Tancredo Neves aconselhar a renúncia, disse que só morto sairia do Palácio do Catete. Assinou a carta que, mais tarde, seria apelidada de carta-testamento, retirou-se para o seu quarto e deu um tiro no coração. No último parágrafo da carta está escrito:

     “E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História." (Rio de Janeiro, 23/08/54 - Getúlio Vargas).

sábado, 18 de agosto de 2012

O PREFEITO VITALÍCIO E O DEBATE






- Como foi o debate? Como foi? Como foi? Como foi?

- Calma, companheiro secretário!

- Agora eu voltei a ser companheiro prefeito. Vitalício. E como foi o debate?

- Well, he and she...

- O que?

- É que eu continuo treinando o meu inglês para as próximas viagens.

- Inglês! Adoro inglês... Estados Unidos, Inglaterra, Austrália, Nova Zelândia, vacas leiteiras...

- Vacas leiteiras?

- Perdão, companheiro meu secretário, foi um lapso, um momento de invalidez do cérebro, talvez até uma ameaça de AVC – ou se diz ABC? Mas como foi o debate?

- Bem, os nossos dois candidatos se comportaram muito bem, apesar de algumas gafes numéricas do seu candidato preferido, aquele que vai derrubar o outro. O problema foi o terceiro.

- O terceiro? Então, há um terceiro?

- Há, companheiro secretário, ou companheiro prefeito vitalício. E é esse terceiro que ameaça o seu cargo de prefeito vitalício.

- Mas por que? Quem é esse ser ignaro? Infeliz dele se ganhar as eleições! Não sabe com quem está lidando... Como é esse terceiro?

- Pois é uma pessoa que vive discordando de tudo o que dizem os nossos dois candidatos. Tem mania de ser do contra. Diz que é da oposição.

- Oposição? Nestes tempos de união e paz fraternal? Será que esse terceiro é um pterodáctilo, um homem das cavernas, um dinossauro, alguém que não sabe o que é aliança política, vantagens pecuniárias, troca de favores? E ninguém fez nada a respeito?

- Durante o debate?

- Onde mais seria? Através de um contato com o garganta profunda, que diria “siga o dinheiro”?

- Dizem que o garganta profunda era do FBI...

- Não interessa o que dizem sobre aquele malfadado caso. Sejamos rápidos, lestos, prestos, objetivos – vamos direto ao assunto: o que foi feito em relação a esse terceiro, durante o debate?

- Bem, o seu não candidato, o atual prefeito...

- Não diga isso! Atual, atualíssimo, sou e sempre serei eu, o cara.

- Bem, então o outro...

- O que ele fez? O que ele disse? O que ele falou?

- Bem, o outro falou muito cordialmente com o terceiro. Foi bastante ético e educado; discordou de algumas coisas, concordou com outras...

- Ético! Educado! É por isso que ele é o outro e sempre será o outro! Perderá estas eleições e sumirá do palco político! O que você acha de “palco político”?

- Um pouco antigo... Porém, aliás, contudo, nas atuais circunstâncias até serve...

- E o meu candidato, o amado do meu coração, o amigo fiel, camarada, irmão de fé e confiança, paz, amor e caridade?

- Pois ele foi mais incisivo, mais persuasivo, mais sofístico, mais inclusivo, mais...

- Basta!, companheiro meu secretário, ou deixará de ser meu companheiro e secretário.

- É que eu também estou treinando o meu vocabulário em português.

- Para que?

- Para o Facebook. O senhor, companheiro secretário e prefeito vitalício, pediu que eu me comunicasse diariamente com amigos, inimigos, amadas, amantes, companheiros, aliciadores e aliciantes, dominadores e dominados; sérios, comportados, tristes, alegres, desiludidos e iludidos – toda a fauna, como o companheiro disse.

- Então, treine outra hora, treine em frente ao espelho, com um gravador, como eu faço. Contrate uma fonoaudióloga e, principalmente, uma psicóloga. Agora eu preciso saber o que disse o meu candidato preferido, amigo de todas as horas, que se deixará guiar pela minha experiente mão protetora, assim que for eleito... O que ele disse ao terceiro?

- Houve um determinado momento em que ele usou de uma sutileza perfeita, companheiro secretário e prefeito vitalício. Lembrava o senhor.

- Eu estou ensinando... O que ele disse?

- Disse para o terceiro que ele é um ótimo quadro e que poderá ser aproveitado na administração quando o nosso candidato vencer o outro e se adonar da prefeitura.

- Sutil... Sutil... Extremamente sutil... Ele está aprendendo... O meu único medo é que ele aprenda demais...

- O meu coração bateu forte quando ele disse aquilo, companheiro secretário prefeito vitalício.

- Não é para menos. O meu também está dando umas pancadas estranhas. Talvez eu tenha que consultar um médico. São tantas viagens!... Tantas vacas leiteiras a analisar!... E o que o terceiro respondeu? Negou-se a aceitar qualquer cargo na futura próxima administração do nosso candidato? Disse que era ético, como o outro?

- Não disse nada, companheiro secretário prefeito vitalício. Mudou de assunto ou o assunto mudou. Eu acho que ele não é ético, mas genérico.

- Os genéricos... Sempre trabalhei muito bem com os genéricos... Tenho penas dos éticos, dos puristas. Mas você, companheiro meu secretário, falou uma coisa que não me agradou.

- Jamais diria qualquer coisa que o desgostasse, companheiro secretário prefeito vitalício.

- Falou. Lembra-lo-ei. Agora se diz “lembra-lo-ei” ou “lembrarei-o”? Essas mudanças na língua... Esses raps... Esses discursos filosóficos na hora do cafezinho... Esses narradores de futebol... Falou e disse! Disse que o nosso amado irmão que assumirá a prefeitura de Três Estrelinhas, no ano que vem – graças à minha ajuda, apoio, influência, jornais, jornalistas, blogueiros, entusiasmados entusiastas muito bem pagos, marqueteiros caríssimos, maquiadores, especialistas em palavras doces e açucaradas, vendedores de sonhos e opiniões... Você, companheiro meu secretário, cometeu o delito de dizer que ele se adonará da prefeitura! Como ousou dizer tal coisa, companheiro meu secretário?

- Perdão, mil vezes ou milhares de vezes perdão!, companheiro secretário prefeito vitalíco. Foi um lapso, talvez uma ameaça do ABC, uma falha técnica, um erro grosseiro, um...

- Chega! Traga os milhos!

- Mas, companheiro!...

- Faça o que eu disse!... Isto!... Agora, ajoelhe-se e diga cem vezes: “O companheiro secretário prefeito vitalício é o único dono de Três Estrelinhas”. E não chore!

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

MILAGRES




Carolina voltou! Depois de 25 dias de tristeza e sensação de vazio aqui em casa, quando Fidel, o nosso outro gato, adoeceu – provavelmente de saudades – e já tentávamos nos acostumar à ausência, mas sem aceitá-la, duas noites atrás ouvi um miado que mais parecia uma queixa. Fidel correu para a porta e eu corri para a sacada, de onde enxerguei Carolina. Chamei Lidia e, quando saímos já não vimos mais Carolina.

     Procurei por toda a quadra e voltei imaginando até a possibilidade de uma aparição, de uma ilusão de ótica, de uma vontade corporificada por breves instantes, porque, naquele momento em que ouvi o miado estranho eu estava pensando em Carolina. Continuei pensando: e se era ela? Não me contive e voltei à sacada. Eram quase cinco horas da manhã do inesquecível dia 14 de agosto. A rua estava calma, o tempo pesado, prenunciando chuva; na calçada somente outro gato conhecido, muito bonito, branquinho, que costuma brincar com Fidel quando dorme na soleira da nossa porta e Fidel desce as escadas, estende uma mãozinha por baixo da porta para cumprimentar o amigo e com ele troca miados cúmplices.

     Chamei Lidia até a sacada, sob o pretexto de ouvir os passarinhos que já se alvoroçavam nas árvores em frente, ver o gatinho amigo dormindo junto à nossa porta, conversarmos sobre a possibilidade... Talvez... Olhei para a esquina e vi um gato preto! Lidia saiu correndo; fui atrás com a lanterna. Era Carolina! Fugiu por instinto quando ouviu os nossos gritos e Lidia viu quando ela entrou por entre as grades de um porão. Chamamos, clamamos, e, aos poucos ela veio vindo, com um miado quase choroso. Quando se aproximou mais, consegui puxá-la através das grades do porão. Estava magra, desfigurada, mas viva.

     Ainda estamos em estado de graça.

     Depois de alguns dias do sumiço de Carolina, Fidel começou a chorar pelos cantos, a pedir colo a toda hora, a emagrecer até pegar um resfriado e necessitar de cuidados extras. Eu dizia a ele que Carolina estava viajando, mas que logo voltaria e, se não voltasse em seguida, chegaria o dia em que todos faríamos a mesma viagem e a encontraríamos em algum lugar do cosmos ou em uma dimensão somente intuída. Mas voltaríamos a ficar juntos. Fidel fingia acreditar, mas logo voltava à sua tristeza.

     Ao ver Carolina de volta, ele a cheirou, lambeu, deu aqueles beijinhos especiais, correu à volta, mas percebeu que Carolina ainda estava fraca para as brincadeiras que costumavam fazer. Ainda está fraca, dorme bastante e toma vitaminas. Junto com Fidel. Aos poucos ela vai se recuperar, assim como nós, que passamos aquele tempo todo como se fosse uma grande noite em que o mesmo pesadelo comum se repetia com nuances diferentes.

     Quanto ao seu desaparecimento, as dúvidas continuam. Ela estava fechada no escritório que dá para a nossa sacada. Ali ela pode ficar à vontade, de noite. No dia seguinte tinha sumido. Quando a encontramos, estava com as duas patinhas traseiras esfoladas no mesmo lugar. Cordas? Mordidas? Teria ficado presa em algum lugar distante? Logo após ela  sumir eu vasculhei toda a zona, todos os buracos, perguntei para toda a vizinhança. Nem miado. Onde estava? Aproximou-se na última semana, quando a encontramos naquele porão - arisca, faminta, machucada. 

     Agora, estou acreditando ainda mais em milagres. Poucos dias antes de Carolina voltar, as meninas do vôlei conseguiram vencer o time dos Estados Unidos em uma final apoteótica, nas Olimpíadas. Foi o primeiro claro sinal de que é possível reverter situações que parecem perdidas. Até no Brasil, por incrível que pareça!

     Tento acreditar na possibilidade de milagres, como a proibição das obras da maléfica usina hidrelétrica de Belo Monte, na prisão dos culpados pelo Mensalão – embora tudo indique o contrário. E até procuro imaginar o nosso país livre da cotidiana corrupção. Por momentos, penso na possibilidade dos candidatos desta próxima eleição, os que forem eleitos, realmente cumprirem as suas promessas de campanha.

     É um momento de euforia e, nesses momentos, a gente pensa e age com demasiado otimismo. É preciso ter um certo cuidado. Ontem mesmo a Dilma continuou a entregar o Brasil para o capital estrangeiro. Entregou rodovias e ferrovias que serão construídas e sofrerão pedágio. Talvez haja pedágio até dentro das grandes cidades. Prepare o seu bolso e lembre-se que a liberdade de ir e vir pode ser apenas uma alegre mentira. Uma mentira para épocas de eleições, como agora. Você já escolheu candidatos? Tome cuidado, porque os adversários de hoje serão os aliados de amanhã.

     Cuide daqueles que realmente amam você. Cuide do amor da sua vida, das suas plantas, dos seus bichinhos. Neste momento de bandeiras, foguetes, gritos, promessas, entrevistas, debates, palavras mansas e muitos sorrisos – desconfie. É o momento em que o Estado aparece como grande amigo dos cidadãos, através dos seus representantes, na maioria usando máscaras reptilianas. Lembre-se que o Estado somos nós, a grande maioria de quem é esmolado o voto, e não eles, os forjadores de emoções. Acautele-se.

     Mas continue acreditando: milagres podem acontecer. Afinal, Carolina voltou!

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

O JULGAMENTO DO MENSALÃO OU O CLUBE DOS PERFEITOS





O mensalão é "a instalação do PT na política de direita brasileira", diz o psicanalista Thales Ab'Sáber, da Unifesp. Estudioso dos comportamentos políticos do País, ele lamenta que, depois de denunciado o escândalo, o petismo se empenhe na "tentativa de produzir uma alucinação negativa de que ele não existiu". (Entrevista a “O Estado de São Paulo).

     Outro analista das questões éticas e morais da vida brasileira, o professor Roberto Romano, da Unicamp, entende que o mensalão "é o coroamento de um processo que vem de longe, desde a criação do PT" e resulta da vitória dos "realistas" - com os líderes Luiz Inácio Lula da Silva e José Dirceu à frente -- sobre os grupos católicos e trotskistas na fase de formação do partido. Segundo Romano, ao se adaptar às regras do mercado e ao cumprimento dos contratos, como fez em 2002 com a Carta Aos Brasileiros, o partido "deveria ter convocado um novo congresso e mudado o seu programa, pois o anterior não servia mais." (Entrevista a “O Estado de São Paulo).


     Ministro Ayres Britto - Presidente.

     "Este caso é histórico e emblemático e o país acompanha atentamente os debates, o relatório e cada um de nossos votos. Fiquem certos de que a Suprema Corte está atenta e já está fazendo justiça, não está agindo com açodamento nem com a precipitação, tudo está sendo medido. [...] O lado cidadão também aflora nessas horas. Agora a análise que todo ministro tem de fazer, seja eminentemente jurídica e técnica e nós até dizemos dogmática.”

     Em entrevista ao jornal “Folha de S.Paulo”, em 24/08/2007.
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     Ministro Joaquim Barbosa - Vice-Presidente.

     Está no Supremo desde 2003 por indicação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

     “Toda essa teia de atividades, muitas delas dissimuladas, tinha como um único objetivo a prática de atividades caracterizadas pela lei penal como crime. [...] Embora alguns acusados queiram jogar a responsabilidade de apoio financeiro uns sobre os outros, isso não tem importância. O que importa é que eles aparentemente receberam as quantias”.

     Durante julgamento do recebimento da denúncia, em agosto de 2007.
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     Ministro Celso de Mello.

     “Os fatos relatados na denúncia são extremamente graves, profundamente preocupantes. Capazes de suscitar a justa indignação de qualquer cidadão. Isso faz com que se intensifique a necessidade de todos os órgãos competentes do Estado de investigarem todos os vestígios de improbidade administrativa, de assalto ao poder público, para que essas manifestações patológicas resultantes do exercício ilegítimo do poder não se repitam mais.”

     Em entrevista ao “Estado de S.Paulo”, em 09/03/2007.
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     Ministro Marco Aurélio Mello.

     É ministro do Supremo desde 1990, indicado pelo ex-presidente Fernando Collor.

     "Nós não estamos no âmbito de uma pizzaria. A sociedade vê nesse julgamento que a lei em si vale para todos, e que as instituições pátrias estão funcionando. [...] Não tomo como ofensa de que esse julgamento seria um julgamento político. Há independência consideradas as esferas política, civil administrativa e penal. E aqui eu ocupo uma cadeira de juiz, não uma cadeira do parlamento.”

     Em entrevista a jornalistas, em 27/08/2007.
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     Ministro Gilmar Mendes.

     Está no STF desde 2002, indicado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

     “Esta corte não está apenas a julgar um caso. Na verdade, esta corte dá lições permanentes para todas as demais cortes do país. Por isso este julgamento assume este caráter problemático. Não podemos permitir que o processo se convole em pena; formular denúncias que se sabem inviáveis para, depois, nos livrarmos dos nossos problemas de consciência e tendermos à opinião pública.”

     Durante julgamento do recebimento da denúncia, em agosto de 2007.
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     Ministro Cezar Peluso.

     É ministro da corte desde 2003, nomeado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

     "Estamos em ano eleitoral e não convém que esse julgamento seja próximo das eleições para não interferir no curso da campanha. Também é preciso prevenir o risco de eventual prescrição. Além disso, a opinião pública pressiona muito. É uma demanda de uma boa parcela da sociedade que esse caso seja esclarecido mais rápido."

     Em entrevista ao jornal "Folha de S.Paulo", em 17/04/2012.
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     Ministro Ricardo Lewandowski.

     É ministro do STF desde 2006, indicado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

     “Na verdade, o que quis dizer foi que eu é que estava com a faca no pescoço, e era gelada. Não cometi nenhum crime, nenhuma ilegalidade. Sinceramente me considero vítima de uma invasão de privacidade. As coisas acontecem. Eu podia estar no avião da TAM. É a lei de Murphy. Quando uma coisa tem que dar errado, dá tudo errado. Estou pagando o preço de expressar uma posição jurídica que não refletia os anseios da opinião pública."

     Em entrevista ao jornal "O Globo", em 31/08/2007, sobre ligação telefônica presenciada por uma repórter da "Folha de S.Paulo" na qual o ministro teria dito que o STF votou no recebimento da denúncia "com a faca no pescoço".
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     Ministra Cármen Lúcia.

     É ministra do Supremo desde 2006, por indicação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

     “Só pra ficar claro que os partidos [políticos] são legítimos, veículos necessários da sociedade, não são aqueles que constituem quadrilha ou coisa que o valha, mas pessoas que eventualmente deles fazem parte que agiram mal."

     Durante julgamento do recebimento da denúncia, em agosto de 2007.
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     Ministro Dias Toffoli.

     Está no STF desde 2009, nomeado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

     Faltam no currículo do advogado-geral títulos acadêmicos de pós-graduação, que em geral ajudam a comprovar que o indicado atende a um requisito exigido pela Constituição: o notável saber jurídico. Além disso, a trajetória profissional de Toffoli é notoriamente ligada ao PT. Isso coloca em xeque um dos princípios inerentes ao posto de membro do Supremo: a independência em relação a correntes políticas e ideológicas. Pesa ainda contra Toffoli o fato de ele ter sido reprovado em dois concursos públicos para juiz em São Paulo, em 1994 e 1995.

     "Eu não advoguei em nenhum momento no caso do mensalão. Nas campanhas em que atuei como advogado do presidente [Lula], sempre atuei no Tribunal Superior Eleitoral. Não era eu o advogado que atuava no diretório ou no comitê de campanha".

     Durante sabatina na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, em 30/09/2009.
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     Ministro Luiz Fux.

     Primeira indicação da presidente Dilma Rousseff, está no STF desde março de 2011.

     "As vozes sociais têm que ser ouvidas, mas não sobre como devem ser julgados os casos concretos que têm as suas peculiaridades. Senão, o juiz está se despojando de sua função de julgador e transferindo a sua missão à opinião pública. Isso é inaceitável. [...] A opinião pública, nessa parte, não pode interferir."

     Em entrevista ao jornal "Valor Econômico", em 12/06/2012.
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     Ministra Rosa Weber.

     Está no Supremo desde dezembro de 2011, indicada pela presidente Dilma Rousseff.

     “Todos esses processos que dizem respeito a temas mais candentes sofrem uma recomendação de que a eles se dê prioridade. [...] Ao que tenho notícia, mais de seiscentas testemunhas foram ouvidas no caso do mensalão. Há necessidade de tempo para ouvir essas testemunhas e para todas essas medidas."

     Durante sabatina na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, em 6/12/2011.

     Fux e Peluso são os únicos integrantes do STF que foram juízes concursados. Os demais eram advogados ou com outras funções que não a magistratura quando foram convidados para assumir uma cadeira no STF; a maioria deles com títulos de pós-graduação, mestrado e doutorado, assim como centenas de outros advogados no Brasil inteiro. Por que foram indicados pelo Executivo, sabatinados pelo Legislativo e entronizados como ministros do Judiciário?

     Parece óbvio que foram razões políticas. Em um país onde mandam as oligarquias, fingindo que o fazem em nome do povo, principalmente o Executivo, que governa através de medidas provisórias, necessita do respaldo jurídico dos membros do STF. Troca de favores, como acontece em todos os clubes privados.

     Alguns são mais “democráticos”, como o ministro Joaquim Barbosa; outros, mais “autoritários”, como o ministro Gilmar Mendes. Às vezes as vozes se elevam, trocam algumas farpas, mas em seguida tomam cafezinho juntos e talvez falem sobre futebol ou contem eruditas anedotas jurisprudenciais.

     É o clube dos mais iguais, onde o povo não entra. Dele também fazem parte os integrantes do Congresso e ministros do Executivo, assim como o ou a Presidente de plantão.

     Agora estão com a ‘faca no pescoço’, conforme palavras de Ricardo Lewandowski, extreme defensor dos “mensaleiros”. O seu voto será pela absolvição ou por penas alternativas. Gilmar Mendes é outro muito amigo do poder. Não desejará condenar os amigos. O que dizer do voto de Toffolli, petista emérito? O voto de Luiz Fux deverá ser semelhante ao de Mendes ou Toffolli. E já temos quatro ministros que deverão absolver José Dirceu e Cia. Faltam dois.

     Há quem aposte nas mulheres ministras. Afinal, foram indicadas por Lula e Dilma. Outros dão a entender que Celso de Mello estaria inclinado a absolver José Dirceu – o “chefe da quadrilha”, segundo o Procurador Geral da República, Roberto Gurgel. Se o chefe da quadrilha for absolvido, o que dizer do restante da quadrilha?

     Faltam provas, dizem os defensores dos supostos quadrilheiros. Invenção raivosa do Roberto Jefferson, afirmam outros. Acusações sem fundamento, concluem os petistas de carteirinha. E, mesmo os que não tem carteirinha nem são petistas talvez digam uns para os outros que neste país a corrupção, o roubo, é tão comum e já passou tanto tempo... Para que condenar pessoas de bem? Ou de bens.

     A absolvição, se ocorrer, talvez com penas leves que não ultrapassem quatro anos para alguns dos mais óbvios culpados, será uma grande vitória do PT e aliados, que se refletirá nas eleições próximas.

     Nada melhor para o Governo do que o julgamento do mensalão neste momento em que o PT perde fôlego e necessita ser inocentado de todas as acusações pendentes, de todas as dúvidas e suspeitas da população. Por necessidade de assepsia política, algumas cabeças rolarão – a de Roberto Jefferson, réu confesso, em primeiro lugar.

     Em seguida, as vitoriosas eleições, comemoradas no eterno clube dos perfeitos. Impunidade? Que palavra é esta?

     Mas espero estar errado.
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