terça-feira, 28 de julho de 2015

OS VELHOS NOVOS BAIANOS




O arcebispo Desmond Tutu, líder da luta contra o apartheid na África do Sul, Roger Waters, do Pink Floyd, e outras personalidades conscientes do que representa Israel, hoje, enquanto país racista e segregacionista, pediram insistentemente a Caetano Veloso e Gilberto Gil que não tocassem em Israel neste 28 de julho ou em qualquer outra data, com o objetivo de protestar contra o massacre dos palestinos e a ocupação dos seus territórios. Na sua última carta aos dois músicos, em vista da recusa ao apelo e depois de afirmar que “As políticas coloniais e racistas de Israel têm devastado a vida de milhões de palestinos”, Roger Waters afirmou que Caetano estaria sendo ingênuo. Engano de Roger Waters. Caetano sabe bem o que faz, e apoiar o sionismo, ou o fascismo israelense, é uma maneira de dizer que continua coerente com a sua trajetória e com o seu pensamento. 

   O grande erro foi vaiar Caetano, em 1968, no Festival Internacional da Canção, da TV Globo. Naquela ocasião, foi dada a ele uma dimensão imerecida. O que desejava Caetano? Comer margarina, beber Coca-Cola e aprender inglês. E ganhar bem pelo seu trabalho. Ele queria sucesso. Nada mais que isso. Ele, Gil, Tom Zé e todos aqueles que se rotularam “Novos Baianos” eram meros repetidores de uma contracultura que nascera na Europa, se espalhara pelos Estados Unidos e chegava ao amedrontado Brasil com direito a todas as drogas, principalmente a ditadura militar. 

   O grande erro da ditadura militar foi prender Caetano e Gil, que não foram reconhecidos como aliados – mas o que esperar de militares? Ou terá sido aquela prisão uma estratégia que visava dizer, indiretamente, que os dois cantores também eram de esquerda, no exato momento em que estavam sendo acusados de apoiar os governos ditatoriais? Depois, um show de despedida “Alô torcida do Flamengo, aquele abraço!” e um auto-exílio em Londres para aperfeiçoarem o inglês. “London, London” foi divulgado em primeira mão pela Rede Globo, que sempre foi do governo, de todos os governos. 

   Voltar como dois ex-exilados foi a glória para Caetano e Gil, recebidos no aeroporto por toda a imprensa, Gil cantando “Expresso 2222”, Caetano dizendo que era entendido, muito entendido, os dois fazendo o gênero sei-lá-não-sei. Voltaram sem qualquer medo dos militares, no início dos anos ’70, época da guerrilha urbana e da malfadada guerrilha do Araguaia. O Brasil precisava de música, de novos músicos engajados com... a arte pela arte? Por que não? Toda ditadura necessita de representantes culturais. É de praxe. 

    Caetano e Gil eram mais criativos que aquela turma da bossa nova. Queriam dizer alguma coisa diferente, que chamavam da tropicália, tropicalismo... Uma tentativa de reviver a geração de ’22, um Modernismo sem Semana de Arte Moderna, a proposta da anti-proposta cultural, toda uma nova geração da classe média e pequena burguesia estava ansiosa por novidades, leves novidades, sutis novidades, nada de briga ou de contestação. Ao contrário, orações ao Senhor do Bonfim, você precisa disso, você precisa daquilo, consuma, consuma, mesmo que não entenda nada, nada, nada. Não é mesmo para entender, porque não há o que entender e esta é a verdadeira revolução. 

   “Atenção/Tudo é perigoso/ Tudo é divino maravilhoso.” A burguesia fede, diria, anos mais tarde, Cazuza, mas, naqueles dias, a burguesia babava-se com as letras tropicalistas. Belchior tentava retrucar: “Eu sou apenas um rapaz/Latino-Americano/Sem dinheiro no banco/Sem parentes importantes/E vindo do interior/Mas sei que nada é divino/Nada, nada é maravilhoso/Nada, nada é secreto/Nada, nada é misterioso, não”. Mas quem ligava para Belchior e sua voz rouca? Afinal, ele não usava roupas de plástico, peruca, batom, não rebolava e dizia o que todos sabiam: que ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais. Além do mais, Belchior não é baiano, mas cearense. 

    Belchior sabe que é latino-americano. Gil e Caetano são baianos, mas gostariam de ser norte-americanos. Ou ingleses. Na Bahia aconteceram dez revoltas armadas: A Guerra dos Aimorés (1555-1673), o Levante dos Tupinambás (1617-1621), a Conjuração Baiana (1798), a Revolução Liberal de 1821, a Federação dos Guaranis (1832), a Revolta dos Malês (1835), a Sabinada (1837-1838), o Motim da Carne Sem Osso (1858), a Guerra de Canudos (1896-1897) e o Levante Sertanejo (1919-1930). Todas foram esmagadas e ocorreram alguns massacres históricos, como na Guerra de Canudos. 

    A Revolta dos Malês, em 1835, foi uma mobilização de escravos de origem muçulmana, em Salvador. Pertenciam às etnias nagô, hauçá, igbomina e picapó, de religião islâmica e organizaram-se na tentativa de libertarem os demais escravos muçulmanos. “Malê” é o termo utilizado para referir-se aos escravos muçulmanos. 180 anos depois, dois músicos baianos – Caetano Veloso e Gilberto Gil – vão a Israel para cantar para os opressores dos palestinos muçulmanos. E não por desinformação ou ingenuidade, como pensou Roger Waters.

sábado, 25 de julho de 2015

TROPICÁLIA COMBINA COM APARTHEID?



Caetano Veloso e Gilberto Gil estão fazendo uma turnê mundial, que inclui um show em Israel, no dia 28 de julho. Por curiosa coincidência, o dia 28 de julho foi o dia em que Israel promoveu um massacre na Faixa de Gaza, em 2014. Não se sabe ao certo se a dupla vai tocar em Israel justamente naquele dia para comemorar o massacre ou devido à sua característica ingenuidade que beira à alienação. Ao contrário deles, pessoas engajadas com a causa palestina, notadamente artistas, recusam-se a incluir Israel nos seus roteiros de viagens. Uma dessas pessoas, Roger Waters (Pink Floyd) escreveu duas cartas a Caetano e Gil pedindo que eles desistissem de tocar em Israel. Abaixo, alguns trechos da segunda carta. 

   “(...) A data coincide com o aniversário de um ano dos ataques de Israel a Gaza, nos quais mais de duas mil palestinas e palestinos foram mortos, incluindo mais de 500 crianças. (...)” 

   “(...) Tocar em Israel é endossar políticas e práticas racistas, coloniais e de apartheid – ilegais sob o direito internacional. Ademais, o governo israelense apresenta os shows em Israel como sinal de aprovação a suas políticas. (...)” 

   “(...) Nosso pedido faz coro ao chamado de artistas e da sociedade civil palestina para que artistas não se apresentem em Israel. Entre aqueles que responderam a esse chamado, cancelando seus shows no país, estão Lauren Hill, Roger Waters (Pink Floyd), Snoop Dog, Carlos Santana, Cold Play, Lenny Kravitz e Elvis Costello. (...)” 

   “(...) Não ignorem esse chamado. Tropicália não combina com apartheid!” 

   A primeira carta, datada de 22 de maio, foi encaminhada aos músicos brasileiros pelo BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções), um movimento global com estratégias para pressionar Israel visando o fim da ocupação dos territórios palestinos. A carta também é assinada por Roger Waters. Destaco dois trechos. 

   “(...) Como vocês sabem, artistas internacionais preocupados com direitos humanos na África do Sul do apartheid se recusaram a atravessar a linha de piquete para tocar em Sun City. Naqueles dias, Little Steven, Bruce Springsteen e cinqüenta ou mais músicos protestaram contra a opressão cruel e racista dos nativos da África do Sul. Aqueles artistas ajudaram a ganhar aquela batalha, e nós, no movimento não-violento de Boicote, Desinvestimentos e Sanções (BDS) pela liberdade, justiça e igualdade dos palestinos, vamos ganhar esta contra as políticas similarmente racistas e colonialistas do governo de ocupação de Israel. (...)” 

   “(...) Caros Gilberto e Caetano, os aprisionados e os mortos estendem as mãos. Por favor, unam-se a nós cancelando seu show em Israel. (...)” 

   Gilberto Gil leu as duas cartas e disse que não respondeu e não responderá. Caetano Veloso foi mais educado. Escreveu uma carta onde entre outras coisas, comunica que cantou nos Estados Unidos quando O presidente era George Bush e o Iraque estava sendo invadido. Foi incisivo: “Eu me lembro que Israel foi um lugar de esperança. Sartre e Simone de Beauvoir morreram pró-Israel”. 

   É verdade, mas não se pode culpá-los por isso. Sartre e Simone pertenceram àquela geração de intelectuais franceses que ficaram de joelhos ante os Estados Unidos, que apelidaram de “América”. Acreditavam terem sido salvos do nazismo pelos estadunidenses e cultivavam uma imensa raiva da União Soviética, o país que realmente venceu a Segunda Guerra. Sartre chegou a participar de um grupo que se autodenominava “maoísta” e que era radicalmente contra os comunistas pró-soviéticos. 

   É certo que Sartre e Simone propunham-se um engajamento que poderia ser chamado de liberal-esquerdista, uma vez que denunciavam a ocupação francesa na Argélia e na Indochina e, ao contrário de Koestler e de Camus, não praticaram um anticomunismo histérico. Procuravam um caminho que unisse liberdade e socialismo e mesmo nos piores momentos da guerra fria não se deixaram envolver pela propaganda fascista. 

   Antes de tudo, Sartre julgava necessário participar dos combates do seu tempo. Ser e Fazer são verbos que, para o pensamento de Sartre, se interpenetram, mesmo sabendo que existe a liberdade de Não-Ser e de Não-Fazer. Para Sartre, era impossível não se comprometer, e isso significava ser o sujeito da sua história e da própria História. O contrário seria agir como um alienado moral, tratando as demais pessoas sem reflexão, sem questionamentos sobre justiça, igualdade, semelhanças e diferenças.  

   Sartre tentou ser coerente com o seu pensamento e acredito que não apoiaria Israel se tivesse acesso a maiores e melhores fontes de informações sobre a questão palestina. Durante e após a Guerra dos Seis Dias Israel posou como vítima de anti-semitismo na falta de argumentos por ter invadido a terra dos palestinos. Defender Israel era uma imposição da mídia que fabricava pessoas massificadas, uniformizadas em um pensamento que julgavam livre de estereótipos, até entre a intelligentsia européia. 

   O que não se entende é como uma pessoa inteligente, como Sartre confundiu anti-semitismo com anti-sionismo, mesmo porque a expressão “anti-semita” não se restringe unicamente ao povo judeu. O termo “semita” designa o conjunto composto por uma família de vários povos que possuem as mesmas raízes culturais e lingüísticas. A família semítica abrange o acadiano, ugarítico, fenício, hebraico, aramaico, árabe, etíope, egípcio, copta-gala, afar-saho, assírio e caldeu – palestinos, sírios, líbios, afegãos, iraquianos, egípcios e os povos árabes em geral. O termo “semita” define todos os povos do Oriente Médio. Tampouco Judaísmo é sinônimo de semitismo. Judaísmo é uma religião, assim como Cristianismo ou Islamismo – e não designa um povo, uma raça, uma etnia ou uma nacionalidade. 

   Sionismo, por seu lado, é uma ideologia racista composta predominantemente por uma minoria de judeus que detêm os principais meios de comunicação mundiais, bancos, empresas multinacionais e, atualmente, dominam o Estado de Israel. O seu objetivo primeiro é restaurar os limites históricos e bíblicos da Terra de Israel ou Grande Israel (em hebraico: Eretz Yisrael Hahslemah). Os sionistas israelenses utilizam esse conceito para justificar as guerras árabe-israelenses e a ocupação da Cisjordânia, Faixa de Gaza e Colinas de Golam. Theodore Herzl, fundador do sionismo, defendia que a Grande Israel é um estado judeu alongado desde o rio Nilo, no Egito, até o Eufrates, no Iraque, incluindo partes da Síria e do Líbano. 

   E, no entanto, Sartre defendeu o sionismo. Em 1975, a ONU adotou a Resolução 3379, considerando o sionismo equivalente a racismo, com 72 votos a favor, 35 contra e 32 abstenções. A Resolução 3379 afirmava que “o sionismo é uma forma de racismo e discriminação racial” e “o regime racista na Palestina ocupada e o regime racista no Zimbabwe e na África do Sul têm uma origem imperialista comum, formando um todo e tendo a mesma estrutura racista e sendo organicamente ligados na sua política destinada à repressão da dignidade e integridade do ser humano”. 

    Sartre, Simone de Beauvoir, Bernard Henry-Levy, Raymond Aron e outros intelectuais protestaram contra a Resolução 3379. Em 1976, Sartre recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Jerusalém. Em 1991, sob pressão de George Bush, a Assembléia Geral da ONU revogou a Resolução 3379.  
   A mesma ONU, a partir da Resolução 181 da sua Assembléia Geral, tinha criado artificialmente o Estado de Israel, em novembro de 1947, dentro do território palestino. A criação de Israel provocou a imediata expulsão de mais de 750.000 palestinos do seu território por um exército muito bem armado de colonos judeus oriundos da Europa devastada pela 2ª Guerra. Em 1949, ao final dos combates, Israel havia expandido as suas fronteiras, passando a ocupar 78% da Palestina histórica. 

   Era apenas desinformação de Sartre ou o fato de estar cercado por pessoas como Aron, Lanzmann, Levy e reacionários afins que, muitas vezes, passavam por pacíficos revolucionários, influenciaram o seu pensamento? O pacifismo que se diz revolucionário foi uma das piores pragas geradas durante a segunda metade do século XX, porque previa o quietismo, a sonolência, a contemplação e a passividade. O pacifismo que se diz revolucionário participou do Maio de ‘68, mas não chegou a junho, mês em que se recolheu ao escritório para escrever belas teses que defendiam a sua inação. O pacifismo que se diz revolucionário deixou como herança uma geração de acadêmicos apaixonados pela própria inteligência e que desejam, em primeiro lugar, ficar em paz com os opressores e donos do mundo. 

   Em maio deste ano, a Rússia, em resposta às sanções européias publicou uma lista com 89 personalidades proibidas de entrar no território russo. Entre elas, Bernard-Henry Levy e Daniel Cohn-Bendit. Assim como Sartre, ambos de origem judia e, ao contrário de Sartre, ambos defensores do capitalismo selvagem. Cohn-Bendit passou-se por anarquista no Maio de ’68 e hoje é um líder direitista da Aliança Livre Européia. Bernard-Henry Levy é um empresário francês que escreveu vários livros antimarxistas e participa de revistas pseudo-esquerdistas. Defendeu o boicote dos Jogos Olímpicos de 1980, na União Soviética, e atualmente é a favor da invasão da França na Síria. 

   A jornalista portuguesa Ana Navarro Pedro, correspondente do jornal “Público”, escreveu uma matéria muito lúcida intitulada “Sartre Revisitado”, a respeito do livro de Bernard-Henry Levy “O Século de Sartre” (http://www.publico.pt/culturaipsilon/jornal/sartre-revisitado-139057). Recomendo a leitura e destaco a frase final. 

    “Compreende-se assim melhor que, ao cabo de 650 páginas de escrita ligeira como a espuma do melhor champanhe, não se saiba o que resta de Sartre hoje em dia: se as suas teses têm ou não alguma actualidade, se o autor de “As Palavras” ou de “O Ser E O Nada”, é ainda lisível. Ou se houve, ou não, impostura intelectual.”

   A direita também tem os seus defensores travestidos de intelectuais que se dizem de “esquerda”, uma nova esquerda que sempre pende para a direita carregando consigo medrosos pensadores de todos os lugares, que preferem pensar o estabelecido na tentativa de dar-lhe novas cores. Não é de estranhar que Caetano e Gil se apóiem em Sartre e Simone para defender o Estado fascista de Israel. Nem Caetano nem Gil são conhecidos como pensadores, ou filósofos, mas em muitas de suas letras influenciaram gerações entontecidas entre a ditadura militar e a falsa democracia civilista. 

   Gil e Caetano sentem uma certa náusea em falar em política e talvez não saibam que, inevitavelmente, todos os seus atos são referências políticas para os seus fãs. Tocar em Tel-Aviv será uma tomada de posição a favor do sionismo, o que fará com que Tropicália passe a combinar com apartheid.

domingo, 5 de julho de 2015

DILMA TRAIU?




Dilma foi aos Estados Unidos para pedir absolvição para Obama. Não quer ficar conhecida como a primeira Presidente a renunciar ou a ser derrubada do cargo, devido à sua absoluta incompetência, cegueira política e, quem sabe, corrupção. Assim que assumiu o segundo mandato, Dilma promoveu uma política recessiva, exatamente a mesma que seria feita por Aécio se ganhasse as eleições. Ficou com medo. Ficou apavorada com o golpe que parecia iminente e encolheu-se, diminui-se, tornou-se uma anã moral ao repudiar tudo o que havia dito em sua campanha para a reeleição. Os 55 milhões de brasileiros que votaram nela, hoje talvez não votassem no Aécio, mas a grande maioria, com certeza não votaria na Dilma. Além do mar de lama, teríamos um mar de votos em branco ou votos nulos. 

   Os milhões que votaram em Dilma e Aécio não o fizeram por amor aos programas políticos dos dois candidatos, principalmente porque nenhum deles apresentou qualquer programa político. Os votos foram um rotundo “não” contra o tipo de política que é feito no Brasil. Quem votou na Dilma – e foi posteriormente enganado – acreditou que ela faria um governo em apoio ao povo e à classe trabalhadora. Depois de eleita, Dilma Roussef preferiu governar para os banqueiros, o FMI e as multinacionais. Exatamente como faria Aécio. 

   Quanto ao candidato da direita, este teve várias espécies de eleitores. Houve aqueles que votaram no Aécio simplesmente porque não agüentavam mais a Dilma, suas manias, sua demagogia e seu dilmês. Uma porcentagem pequena votou no Aécio induzida pela imprensa golpista estilo Globo-Veja, em protesto contra o PT no governo. Outros votaram no Aécio porque acreditam que a Dilma representa a corrupção que acontece no Brasil desde a implantação da ditadura militar. Os mais conscientes votaram no Aécio porque são conscientemente reacionários, nada conhecem de política e tem medo de qualquer governo que se diga timidamente popular. 

   Todos disseram não a um modelo político que está completamente decadente e não representa o povo e sim as oligarquias que governam os governantes desde o golpe da República. Um modelo político que só funciona para países ricos, como Estados Unidos e Inglaterra, que dominaram o mundo graças aos seus exércitos, ao promoverem guerras de conquista invadindo países para roubarem as suas riquezas e apelidaram os seus atos de pirataria de implantação da democracia. Um modelo político que data da Revolução Francesa, quando a burguesia suplantou a monarquia com o apoio do povo esfomeado, que logo foi reprimido. 

   Atualmente, esse tipo de democracia está liquidando a economia de países como Grécia, Espanha e Portugal na Europa ocidental e amesquinhando os países do leste europeu, tornando-os dependentes da troika formada por FMI, Banco Europeu e União Européia. Uma nova democracia que arrasou a maioria dos países africanos, hoje enfrentando um processo de recolonização que leva à absoluta dependência. Uma “democracia” do capital que está destruindo o Oriente Médio com o apoio de um falso “Estado Islâmico”, subjuga a maior parte da América Latina e ameaça os países que a ela se opõem com a guerra nuclear. Uma “democracia” que promove golpes militares e usa as Forças Armadas dos países que deseja dominar como peões de uma política nefasta para a humanidade. 

   A essa “democracia” Dilma se rendeu, ou se vendeu, desmascarando e caracterizando o seu partido, o PT, como mais um partido reacionário, demagógico, ilusionista, enganador. Desde a época do Lula como presidente que se percebia que o discurso do PT era um e a prática o seu oposto. No entanto, muitos acreditavam que isso era devido à falta de cultura política de Lula, ao seu analfabetismo funcional, e que os erros na condução de uma política meramente assistencialista passariam como uma febre infantil. Logo se viu que a política de alianças com os partidos mais à direita era o principal objetivo do PT, o que implicava em corrupção. 

   Na política externa, o PT aproximava-se dos Estados Unidos, deixando-se conduzir obedientemente. Foi assim que o Brasil de Lula foi um dos protagonistas da invasão do Haiti, até hoje não devidamente explicada. Percebia-se que as Forças Armadas brasileiras agiam de maneira totalmente independente do Governo, como se houvessem dois governos no Brasil: o civil e o militar. O civil para enganar o povo, o militar para seguir os ditames do império. Acreditava-se, no entanto, que isso acontecia porque os governos civis eram reféns das Forças Armadas desde 1989, quando foi votada uma Constituição ditada pelos setores mais retrógrados, privilegiando o capital e as classes dominantes. 

    Também se acreditava que o PT era um partido de esquerda que mudaria o país. Vendeu-se o PT, rendeu-se a Dilma? Ou o PT de Lula, Dilma e todos aqueles que se diziam guerrilheiros - tão guerrilheiros como o famoso Cabo Anselmo - já estavam vendidos e rendidos antecipadamente, propondo uma política de pseudo-reformas em troca do poder de roubar? Literalmente, enganaram meio mundo. Até países socialistas acreditaram que Lula seria um segundo Chávez, ou Fidel ou, pelo menos, um simples Pepe Mujica, quando, na verdade, ele não passa de um segundo José Sarney. 

   Muitos petistas de carteirinha votaram na Dilma pensando que ela seria uma segunda Cristina Kirchner, mas há uma grande diferença entre as duas. Ao contrário de Dilma, Cristina ama o seu país, é nacionalista e não uma entreguista acomodada às ordens das multinacionais. Ao contrário de Dilma, Cristina combate de frente os abutres econômicos. Ao contrário de Dilma, Cristina apóia países como Venezuela, Equador, Bolívia e tantos outros que desejam um caminho próprio e verdadeiramente independente. Ao contrário de Dilma, Cristina não se curva aos Estados Unidos. 

   Para mostrar a independência do seu país, recentemente Cristina visitou a Rússia, país que está sendo cercado por forças dos Estados Unidos e da OTAN. Dilma, ao contrário, acaba de fazer uma visita aos Estados Unidos, país declaradamente inimigo da América Latina e que sobrevive através das guerras e golpes de estado que provoca em todo o mundo. Levou com ela Joaquim Levy, ministro a serviço do FMI e das multinacionais e que promove a recessão no Brasil com o aval de Dilma, para tornar o nosso (?) país definitivamente feudatário dos bancos internacionais. 

    No país de todas as fantasias e onde se planeja o domínio do mundo, Dilma sorriu muito para Obama e assinou tudo que ele pediu inclusive um acordo de cooperação na área de defesa. O acordo prevê a cooperação do Brasil no “combate ao terrorismo”. Os Estados Unidos consideram a Venezuela um “país terrorista”. Ao assinar esse acordo o Brasil se compromete militarmente a combater a Venezuela.  

   Os setores mais fascistas das Forças Armadas brasileiras estão muito felizes com Dilma, que se revela uma senhora bem educada por eles. Nem pensam em dar um golpe de Estado: o golpe já aconteceu em 1964 e continua a ser referendado pelos governos aparentemente civis. Dilma foi realmente uma guerrilheira ou sua prisão de dois anos foi um período durante o qual ela foi recrutada pela direita e depois infiltrada em partidos de centro-esquerda, primeiro no PDT e depois no PT? E Lula? Quem é realmente Lula? 

    O primeiro resultado da adesão descarada de Dilma ao império refletiu-se no voto contra a Síria, na ONU, apoiando resolução dos Estados Unidos e demais países capachos. Até o jornal “Vermelho”, órgão do PCdoB, até então aliado do PT, mostrou-se indignado com a mudança de posição do governo brasileiro. Segue um trecho da matéria do jornalista Wevergton Brito no Portal Vermelho, intitulada “O lamentável voto brasileiro contra a Síria”. 

“(...) A lamentável mudança na posição brasileira ocorre pouco depois de uma visita da presidenta Dilma aos Estados Unidos onde, para surpresa de todos, reuniu-se com um conhecido criminoso internacional, Henry Kissinger, um dos principais articuladores dos golpes contra Salvador Allende e João Goulart (...)” 

    Não precisava tanto. Só o fato de ir aos Estados Unidos, antro do terrorismo internacional, e encontrar-se com Barack Obama para ouvir as suas ordens depois de ser alvo de espionagem ianque reflete a falta de caráter de Dilma e de todo o governo brasileiro. Provavelmente, Dilma foi aos Estados Unidos para pedir a absolvição do envolvimento na corrupção da Petrobras. Por tabela, deve ter pedido perdão para o Lula. Os outros podem ir presos. Dilma traiu? Há fortes indícios de que já era uma traidora antes de seu primeiro mandato. Ela e Lula.
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