quinta-feira, 31 de março de 2011

O DIA DOS BOBOS NA VERSÃO DOS LOBOS



É uma mentira que o dia 1º de abril é o Dia da Mentira ou Dia dos Bobos. É esta a intenção dos Lobos - que os Bons acreditem que somente durante um dia são bobos, e que ser bobos significa dizer mentiras durante um dia no ano. Mentiras agradáveis, mentiras saudáveis, mentiras digestivas – e as mentiras digestivas são as preferidas pelos Lobos.

     Os Lobos, como todos sabem, são maus. Estão sempre com as garras e os dentes afiados, prontos para agarrar e morder o que aparecer. Quanto aos Bons, são bobos, porque acreditam em tudo que os Lobos dizem e acreditam, principalmente, que os Lobos um dia ficarão bons, que a maldade deles é passageira e que poderão ser convertidos – mesmo que com algum esforço e sacrifício – à bondade de bobos, algum dia.

     No entanto, apesar de todos os esforços, os Lobos continuam Lobos, ordinariamente Lobos, esfomeadamente Lobos. Nunca perdem o apetite de Lobos, com aquelas garras de Lobos e aquela carranca de Lobos, que muito assusta.

     É tanto o medo que os Bons tem dos Lobos, que se negam a deixar crescer as garras e a afiar os dentes e a enfrentá-los, porque são bons.

     E a lenda a respeito dos Bons – e por isso são confundidos com Bobos – é que devem ser sempre calmos, passivos, obedientes e submissos, com aquele eterno sorriso beatífico no rosto, aceitando tudo o que os Lobos quiserem, não por medo, mas por saberem que os Lobos agem de maneira maléfica porque são maus.

     Mas é lenda e está em processo de revisão. Gerações de Bons acreditaram que ser Bons e Bobos era o caminho do Bem, que os levaria ao Céu e aos braços de Deus.

     Alguns das novas gerações, que são olhados como lobos em pele de bons pelos mais velhos, acreditam que essa lenda foi criada pelos Lobos, com o objetivo de tornar os Bons mansos e pacíficos, até mesmo Bobos, o que facilitaria as más intenções dos Lobos maus, que podem, assim, praticar todo o tipo de maldades sem que os Bons se rebelem, com medo de perder a sua bondade. E por isso se tornam bobos.

     Bobos, porque são explorados, ludibriados, tratados como otários, roubados descaradamente e acabam tendo uma vida miserável, alienada, esfomeada e sacrificada até o último pingo de sangue – enquanto os Lobos engordam, passeiam, enriquecem e tripudiam à vontade sobre os Bobos, que pensam que são Bons, em sua escravidão mental.

     Esta mesma teoria diz que foram os Lobos que criaram as religiões, para amansar completamente os Bons e deixá-los mais completamente bobos; os partidos políticos, para que os Bons acreditem no caminho pacífico, embora corrupto, das eleições. E criaram a rede Globo-bo – para que os Bons se divirtam bobamente, de vez em quando, assistindo novelas e futebol.

     E o Dia dos Bobos que, na verdade, é dos Lobos, é um grande Dia da Mentira.

     Ou tudo isso será mentira?

     Há outra versão, a versão dos Lobos, e devemos ser imparciais se quisermos chegar à verdade desta escatológica questão.

     Pois os Lobos dizem que os Bons existem apenas para a sua voracidade devido à determinação de um deus muito antigo, que eles designam apenas por quatro consoantes, porque todos sabem que os Lobos não usam vogais na sua escrita de Lobos.

     Essas letras são DMRG, que significaria “Deus da Morte Roedor de Garras” - o que não parece muito lógico, porque “Roedor” está mais para ratos do que para Lobos. Mas alguns exigentes exegetas acreditam que as quatro consoantes que designam o deus dos Lobos significam “Destruir, Matar, Rugir, Ganhar”.

     Os Lobos não esclarecem esse ponto, mas acrescentam que o seu deus é um deus amoral, está acima do Bem e do Mal e diz que o mundo é dos espertos, que devem se tornar poderosos e fortes para desfrutar de tudo, sem medo de destruir, matar ou rugir, porque a vida está aí para aquele que chegar primeiro e que os Bons são bobos em acreditar na bondade e no Bem.

     Dizem que o seu deus é pré-pagão e pós-cristão e que foi Ele que deu aos Lobos a força oculta para dominar a Terra e tudo o que puderem do Universo, fazendo dos Lobos a raça escolhida, a única com capacidade lupina suficiente para destruir, matar e rugir com o objetivo de sempre ganhar; uma raça que deve desdenhar as demais raças, que são inferiores e não tem um focinho como o da raça dos Lobos.

     Assim, para os Lobos, mentiras, corrupção, assassinatos, guerras e tudo o que é considerado, comumente, como atos de grande malignidade, não passam de expressões naturais da sua vontade de vencer e dominar sempre. Não se arrependem de nada do que fazem porque não entendem o que seja arrepender-se. Acreditam que agir como Lobos é tão natural, que se os Bons são destruídos e mortos pelos Lobos a culpa é dos Bons.

     Mas como os Bons são a imensa maioria e querem ser enganados pelos Lobos – segundo os Lobos – os Lobos inventaram diversos expedientes para que os Bons caíssem em suas armadilhas e nunca se rebelassem – porque uma grande rebelião dos Bons poderia ser fatal para os Lobos.

     Perceberam que os Bons são guiados por valores morais e a eles se apegam como se fossem Lobos. Então, criaram alguns desses valores, conhecidos atualmente como Fraternidade, Igualdade e Humanidade, e os jogaram aos Bons como sendo verdades incontestes que devem ser seguidas por todos os verdadeiros Bons. E manipulam essas “verdades”.

     Quando querem fazer uma guerra, dizem que é em nome da “Humanidade” ou da “Liberdade”. E os Bons acreditam – provavelmente por reflexo condicionado ou porque os Lobos tem aqueles olhos hipnóticos e aquela voz profunda -, mesmo que a guerra seja contra os próprios Bons. Acreditam e se dão por satisfeitos, ainda que sejam destruídos, usurpados ou devorados pelos Lobos.

     No entanto, se alguns dos Bons mais espertos tentam se rebelar, os Lobos mostram a eles algum documento assinado por grandes chefes de países que detém o poder da total destruição – ao mais das vezes chefes Lobos em pele de Bons ou Bons cooptados por Lobos – que autoriza a guerra ou a opressão ou o que seja de maligno que os Lobos estiverem planejando. E os Bons acabam aceitando, porque adoram documentos oficiais e palavras pomposas.

     E assim os Lobos vão construindo o seu império predador e fazendo os Bons de bobos sempre que surge uma oportunidade de maiores ganhos.

     A versão dos Lobos para o Dia dos Bobos é que é necessário dar aos Bons um dia em que eles pensem que são mais espertos, fazendo piadas e brincadeiras uns com os outros e fingindo a felicidade que gostariam de ter. Bobamente.

     Eu estava terminando esta matéria, depois de extensa pesquisa entre Bons e Lobos, quando encontrei um Ser Etéreo. Ser Etéreo, como todos sabem é, antes de tudo, um ser que se alimenta basicamente de éter. Éter e uma dieta vegetariana. Alguns até engordam com essa dieta, mas continuam etéreos.

     Vinha quase flutuando pela rua, quando me encontrou, viu que eu trazia comigo alguns papéis e pediu para dar uma olhada. Seres etéreos adoram ler, seja o que for. Leu, releu, olhou para mim e disse:

     - Mas que bobagem!
     - Por que?
     - Porque você está dividindo o mundo entre bons e maus, malvados e bonzinhos, certos e errados e isso é maniqueísmo puro!
     - Mas é fruto de extensa pesquisa de campo... Cheguei a essas conclusões depois de exaustivas entrevistas... Corri perigo entre os Lobos...
     - Mas é maniqueísta e todos sabem que o maniqueísmo está errado. Errado e fora de moda.
     - Mas e se foram os Lobos que inventaram que o maniqueísmo está fora de moda? E você tem certeza de que é errado?
     - Claro. Se está fora de moda tem que ser errado, que dúvida!
     - Mas então, como você explica...
     - Eu não explico, detesto explicações. Estou acima de tudo isso, porque vivo etereamente, sou um artista e a arte é a salvação, a redenção a...
     - Péraí! Salvação? Redenção? Salvação de que? Do pecado original?
     - Foi só uma força de expressão. Eu quis dizer que viver de uma maneira artística e etérea, como eu vivo, não implica em divisões, mas em congraçamento, união, interação com o Uno, com o Todo...
     - Até concordo com você, mas e as pessoas que estão sendo mortas injustamente na Faixa de Gaza? E todos os milhões de oprimidos e esfomeados deste mundo? E os assassinatos, as injustiças, as guerras, as depravações?
     - Simples: é karma. Em outra vida serão mais felizes...
     - Mas estamos vivendo agora. O presente é muito importante; você não pode fingir que não está aqui e que nada do que falei está acontecendo.
     - Tudo é importante e nada é importante: esta é a grande Lei!
     - Perdão, não entendi...
     - Não se preocupe, um dia você entenderá, mesmo que em outra vida.

     E saiu planando, antes que eu perguntasse o que achava do Dia dos Bobos. Mas talvez ele se sentisse ofendido se eu fizesse aquela pergunta – sabe-se lá!

terça-feira, 29 de março de 2011

DEVERIAM SER PRESOS


Deveriam ser presos. Se realmente estamos em uma democracia e um grupo de militares defende a ditadura e o golpe de 1964, deveriam ser presos. Nada mais lógico.

     Mas nada acontecerá com eles, porque o governo petista lhes deu tanto poder e tergiversou em relação à aplicação do Plano Nacional de Direitos Humanos – 3, que prevê (previa?) que os torturadores e assassinos militares fossem presos e julgados, que agora este governo encontra-se novamente nas mãos dos militares.

     Ainda não completamente. Eles ainda não tomaram o poder, mas o cercaram, foram se infiltrando aos poucos, pedindo isto, pedindo aquilo, e tudo lhes é dado.

     Por medo. Este é um governo medroso, que se tornou vil e sem personalidade, apoiado por partidos que se tornaram entreguistas – como o PT e o PMDB – e que nada mais querem a não ser usufruir do muito dinheiro a que tem acesso através dos ministérios e de outros meios, como a corrupção desenfreada.

     Tudo é dado aos militares. Participaram da invasão do Haiti, quando o povo daquele país ameaçou iniciar uma guerra de guerrilhas contra a fome e a miséria. Lá, foram novamente doutrinados pelos militares estadunidenses, principalmente quando aquele país tomou o poder de fato no Haiti.

     Pediram armamentos. Foram-lhes comprados trezentos tanques de guerra; estão sendo comprados aviões-caça e armas modernas; os efetivos do Exército, Marinha e Aeronáutica estão sendo refeitos de acordo com o modelo dos comandos norte-americanos.

     Foi-lhes entregue o comando do tráfego aéreo nacional. Colocaram como Ministro da Defesa um reacionário de extrema direita, que atua junto da presidente Dilma em todas as decisões. Convenceram o Lula a fazer um acordo militar com os Estados Unidos. Convenceram a Dilma a nada fazer contra os torturadores militares – justamente ela, que diz que foi torturada por eles – e perceberam que o poder é quase todo deles. Tudo o que eles disserem é lei; tudo o que quiserem é aceito.

     Agora, convencidos disso, lançam um manifesto – através dos três clubes militares – exaltando as virtudes do que eles apelidaram de “Revolução de 1964”.

     Diz o manifesto, assinado pelo general Renato César Tibau da Costa, pelo vice-almirante Ricardo Antônio da Veiga Cabral e pelo tenente brigadeiro do ar Carlos de Almeida Baptista.: “sem ódio ou rancor, é, no mínimo, uma obrigação de honra". "Os clubes militares (...) homenageiam, nesta data, os integrantes das Forças Armadas da época que, com sua pronta ação, impediram a tomada do poder e sua entrega a um regime ditatorial indesejado pela nação brasileira". Entre outras coisas.

     O que significa um manifesto como este, justamente quando o povo começa a acreditar que vive em uma democracia?

     Que as Forças Armadas prosseguem no seu processo de elitização; que o governo é apenas um apêndice, uma excrescência a ser tolerada, desde que se comporte bem e continue obedecendo as suas ordens; que os militares nada temem e que poderão tomar o poder novamente, se assim desejarem.

     São o governo dentro do governo; o poder dentro do poder. E o poder armado, belicista, que tudo controla e a todos influencia através da sua mídia manipulada e manipuladora.

     E isto graças ao PT de um Lulinha paz e amor, que aceitou as regras do jogo neoliberal e de uma Dilma amorfa, dominada por empresários e latifundiários, com medo de tudo. Principalmente, com medo de ser governo de verdade.

     Deveriam ser presos, mas qual a polícia que prende a polícia? Presos por conspiração ou por incentivar a subversão ou por defenderem a ditadura militar – ou por tudo isso junto. Mas este é um governo frouxo, submisso, demagogo e que tem muito medo dos militares.

     O mais curioso e que talvez não seja mera coincidência: logo após a visita do Obama ao Brasil... O que veio Obama fazer aqui, de verdade?

     Só para lembrar as novas gerações, o golpe de estado de 1º de abril somente aconteceu porque a IV Frota dos Estados Unidos estava em prontidão, nas costas brasileiras, esperando apenas um chamado, caso houvesse uma resistência armada mais forte do Presidente João Goulart. Mas Goulart fugiu para o Uruguai – diz o seu filho que justamente para evitar essa invasão dos Estados Unidos, que provocaria uma guerra civil e acabaria dividindo o território nacional.

     Por isso foi tão fácil aquele golpe armado. Um verdadeiro passeio. Depois, vieram as prisões e torturas. E os Atos Institucionais. E o fim do Congresso Nacional. E o fim dos direitos civis. E as perseguições sem fim.

     Até que, em 1985, para evitar maior desgaste da imagem dos militares combinaram com as elites civis a passagem pacífica para a democracia. Já tinham conseguido reconstruir o Brasil à sua maneira e agora que os civis continuassem o trabalho. Os seus civis. Os meios de comunicação já tinham sido todos comprados, formara-se uma intelectualidade passiva e que se organizassem novos partidos, desde que fossem aprovados por eles, os militares.

     Então, fizeram-se passeatas e showmícios para que parecesse aos olhos do mundo e aos olhos do nosso povo que ele, o povo, exigia a saída dos militares. Tudo muito articulado e planejado. Ou vocês acham que uma ditadura aceita passivamente a organização de passeatas e showmícios?

     Tinha que ser criada a lenda do fim do militarismo no Brasil, e a lenda foi criada. Depois, colocaram os presidentes que quiseram, a começar pelo Sarney.

     E hoje, depois que o governo petista conseguiu a façanha de liquidar com os movimentos populares, de transformar-se de herói em traidor, de mocinho em vilão, de bravo em covarde, os militares ficaram à vontade para lançarem manifestos elogiando a sua própria covardia naquele abril de 1964, a sua própria vilania contra o povo brasileiro e a sua própria traição à pátria.

segunda-feira, 28 de março de 2011

A INVASÃO


A OTAN avisou oficialmente que vai tomar conta das ações em território líbio dentro de 48 horas. Nenhuma novidade. O estranho é o tempo que demorará, porque é apenas uma questão de trocar de roupas. Mas o império, como é vasto e gordo, deve demorar muito para tirar as roupas da “coalizão” e vestir as roupas da OTAN.

     É claro que, sendo a OTAN, serão acrescentados mais alguns países ao que era, antes, a “coalizão”. Os Estados Unidos já abandonaram oficialmente a invasão da Líbia e agora somente participarão, oficialmente, das atividades da OTAN na referida invasão, que é chamada de ‘intervenção’.

     É uma invasão oficial, respaldada pela ONU. Significa que os cinco ou seis países que iniciaram a invasão, através de bombardeios humanitários para defender os rebeldes que se localizavam apenas em Benghazi, e talvez não chegassem a três mil pessoas, muitas delas soldados mercenários que entraram através do Egito, em um país de mais de seis milhões de pessoas, serão aumentados para 26 países invasores.

     Tudo por razões democráticas. Acabar com o que eles apelidaram de ditadura na Líbia.

     Mas não participarão soldados de todos os países filiados à OTAN. Provavelmente apenas as grandes potências, lideradas por generais dos Estados Unidos que, por sua vez, serão instigados pela venerável secretária de Estado, Hillary Clinton – o que dará um tom de hilaridade à guerra e deixará todos mais descontraídos. Para assassinos profissionais fardados, matar é sempre hilário, divertido, agradável, principalmente quando o inimigo é mau, fala grosso e custa a se render. Nesse caso, é necessário matá-lo. De preferência, matá-lo oficialmente.

     Que fique claro para todos que é uma invasão humanitária para acabar com o regime de Kadhafi e, de preferência, acabar com o próprio Kafhafi – dentro da lei, é claro – e dar ao povo líbio uma liberdade democrática tão grande que agradecerá hasteando a antiga bandeira da monarquia e entregando os seus poços de petróleo aos invasores.

     E o mundo inteiro aplaudirá. Quase o mundo inteiro. Muitos países resmungarão e se sentirão atingidos indiretamente. Mas a imprensa dirá que todos ficarão felizes. E quase todos acreditarão na imprensa, porque a grande maioria prefere a mediocridade ao difícil trabalho de raciocinar.

     Aqui, até partidos de esquerda estão aplaudindo a invasão. Um deles, que se diz de esquerda, tem uma nova teoria para justificar a invasão: Kadhafi deve ser derrubado, mesmo que por forças do império, mas deve-se fazer de tudo para que o império não invada a Líbia; mas, se o império não invadir a Líbia, Kadhafi não será derrubado, então...

     No Brasil tem de tudo. Até partidos de direita explícita que se fazem passar por esquerda festiva.

     Mas o PC do B, o PCB o PSOL, o PCO - e até o PT, que nessas horas quer parecer de "esquerda" - denunciam a invasão; enquanto os partidos de direita exultam e o PMDB espera os acontecimentos se desenrolarem para decidir-se pelo lado vencedor, como convém a um partido de centro.

     O governo se mantém como o PMDB: espera. Mas já deu indícios claros de que deseja participar desse império democrático que oferece tantas oportunidades aos seus aliados. O último desses indícios foi declarar que concorda com os Estados Unidos em tudo, inclusive no que respeita investigar a situação dos direitos humanos no Irã.

     Este governo é da Dilma e não do Lula, e a Dilma está muito preocupada porque as mulheres do Irã usam a burca. Provavelmente, depois da vitória da OTAN, Dilma envie congratulações aos vencedores.

     Enquanto isto, a invasão da Líbia continua. O objetivo é tomar as cidades portuárias, em primeiro lugar. Nessas cidades, como Trípoli e Benghazi, estão situadas as plataformas de exploração de petróleo e os gasodutos. Depois disso, regularizado o escoamento desses produtos para a Europa, controlado o preço do petróleo, a idéia é dividir a Líbia. Já foram escolhidos até os nomes: Tripolitânia e Cirenaica. Talvez acrescentem uma terceira parte. O povo líbio será avisado depois.

     E ficará o aviso também para os demais países do mundo. O Brasil inclusive. O olho do império tudo vê e está postado acima da pirâmide de treze degraus desenhada na nota de 1 dólar.

domingo, 27 de março de 2011

A VÍRGULA E O ANACOLUTO


A fuga à realidade e a construção de outra realidade que mais convenha e se adapte aos cérebros minimalistas daqueles que querem fazer do significado e do significante e do próprio signo que redundará dessas duas premissas o verbo ou caos que no princípio era, e ao ser torna-se em deus de todos os morfemas ou deus morfético, acasulado em suas deduções metafísicas e por isto adormecido, drogado, extasiado em sua própria divindade, que somente poderá ser vislumbrada pelos iniciados na Palavra, que será dissecada em palavras outras para que os profanos ignaros não possam jamais entender o sagrado espairecer do gozo do saber, da perfeição da estética que não mais se autoflagela com as minudências do cotidiano e se torna em ética própria, reservada, acima do bem e do mal, posto que maniqueísmo é coisa para o povo que deve, sozinho, arrostar com a culpa de ser povo, uma culpa original sem desejo ou volúpia ou vir-a-ser que a justifique; apenas culpa sem metodologias, sem espaço para dissertações, sem percepção maior que os cinco condenados sentidos a que tem direito de usar de maneira assaz grotesca, pois lhe escapa o sentido dos sentidos e só lhe resta o viver destinado que todas as igrejas e grupos sociais estreitos em seus verbos pessoais o faz perceber como necessidade e, mais que isso, urgência, pois a vida ruge e é cruel para os que não entendem nada do verbo ou do ser ou de construções gramaticais ou das diversas veredas do pensamento humano; que não é nem dadaísta nem pós-moderno, nem mesmo moderno – em sua única escola de somente povo - e seu impressionismo limita-se – tão limitado é! – apenas às impressões diárias que lhe causam estupor e raiva e soluços e outras expressões que não estão previstas pela estética formal ou pelo café filosófico dos desocupados, e que dele exploram toda a sua filosofia, apolínea e negligente, e dele esperam mais que o pão que lhe negam, mais que a filosofia que lhe escondem, mas o bem viver que lhe é roubado em cada gota de suor, realmente gota e realmente suor, mas sempre transformado em arte abstrata ou fugazes composições artísticas, ou instalações célebres por sua mediocridade e fuga, porque a vida não é urgente nem demasiada para os que não tem os ombros curvos ou para os donos das palavras e da cultura, que perseveram em distinguir-se do apenas povo, dando-lhe apenas um eventual prazer dionisíaco, embora controlado, para que não pense no seu nada e não se insurja e deixe de ser a frase quebrada mas necessária, um erro de construção, um anacoluto, sem força ou continuidade, sem energia para unir-se em rebelião.

     A arte, que no seu início era insurgência, rebelião, revolução, quebra das vidraças empoeiradas da cultura morta, à medida em que é aceita e digerida e devidamente explicada em seu aspecto formal e estético, que lhe rouba o sangue revolucionário e a torna muda e pronta para ser absorvida pelos donos da cultura, que a querem estática, melindrosa e pragmática em um fazer artístico apenas voltado para o ganho e interessado nas reverências e bajulações daqueles que a compram e veneram como sarcófago onde o segredo é resguardado de todos os não iniciados, como mero produto de pseudo-deuses da criação, que perdem o dom de criar e se tornam repetitivos mercenários prontos ao suicídio bem pago... Anacoluta arte a que não tem acesso o povo, que só conhece a arte de tentar sobreviver, ou viver como vírgula da imensa frase orgiástica dos donos da sua vida, sufocando na encruzilhada das orações e na prescrição de uma sintaxe forjada para o seu sufocar, que o impede de também criar, ou tentar um caminho diferente formado por força e vontade e talvez... Mas proibido, porque a vírgula não pode sobrepor-se ao verbo e o sonho não pode ir além do sono que o delimita.

     Supondo-se que morra uma vírgula e se torne descartável e esquecida no universo de idênticas, mas necessárias vírgulas; quase inexistente traço mínimo entre asfixiantes palavras que a relevam a apenas vírgula, e, ao morrer, após leitura ébria e febril e inconstante e delirante, ou simplesmente casmurro e quieto estudo aborrecido, mas sempre distante, onde a sua vida nada mais era que um não-ser operário, sem criatividade ou força ou determinação ou vontade própria para ousar ir além do seu estado de estéril conexão entre palavras, que se tornam altivas e prepotentes e arrogantes em relação à solitária vírgula, mesmo entre vírgulas, com as classes possuidoras do saber hermético e do conhecimento hierático nelas impresso, enquanto palavras que revelam ou escondem ou apenas insinuam o seu superior poder verbal que despreza o insignificante retorcido signo, que não é signo nem significado ou significante, mas vírgula esquecida, impotente, escrava e agora morta – quem chorará por ela, ou lhe fará uma oração absoluta, em período simples?

sexta-feira, 25 de março de 2011

OLHOS NOS OLHOS: OS INTELECTUAIS SE VENDERAM?


Mas é incrível a alienação dos autodenominados intelectuais, no Brasil. Não se sabe de nenhum daqueles nichos culturais que abundam, principalmente nas capitais do nosso país, protestando contra a intervenção da OTAN em um país livre e soberano como a Líbia. No máximo, protestarão depois, quando souberem da verdade, o que de nada adiantará.

     Tampouco se sabe de protestos dos intelectuais a respeito da construção de usinas hidrelétricas, como a de Belo Monte, no Pará, que liquidará com parte do Xingu, destruirá flora e fauna e afetará as populações indígenas. Nada, até aonde eu sei, nada. É de estarrecer.

     É fato que a Academia Brasileira de Letras não pode ser considerada mais que um refúgio de intelectuais que tomam chá, depois da admissão do Sarney. E de outros políticos. Portanto, é óbvio que aquele lugar, apesar do nome pomposo, não é um lugar de intelectuais.

     Mas aquelas pessoas, de todos os lugares do Brasil, principalmente as mais famosas, que escrevem, pintam, dançam, cantam, tocam algum instrumento, fazem teatro, novelas (ooops, novela não vale, foi mal), filosofam e que gostam de se reunir em grupos restritos pela classe social, para beber ou para fumar ou para simplesmente ficarem com os olhos nos olhos ou trocarem idéias, que usam o intelecto e se consideram intelectuais e que deveriam ser a força de uma nação (no mínimo, a força de reserva)... Como se mostram alienados!

     Isso é muito triste! É claro que há exceções, mas são exceções. E essas exceções entendem o que eu quero dizer, porque devem lembrar que nem sempre foi assim. Houve um tempo em que os intelectuais brasileiros nem gostavam de ser chamados de intelectuais; hoje, fazem questão. Não gostavam de ser chamados de intelectuais porque não queriam ser considerados como uma classe à parte ou acima do povo comum.

     Mas hoje, depois que a luta contra a ditadura militar acabou, formaram-se aqueles nichos onde eles se escondem e se resguardam, amparando-se uns nos outros, talvez com medo de serem descobertos pelo povo.

     Procuro descobrir a causa dessa alienação voluntária, e me pergunto se será apenas pela necessidade que eles sentem de elitizar a cultura. Apenas por isso, talvez não, mas eles não se sentiriam à vontade se não se considerassem a elite cultural do país. Uma elite distante também por sua classe social; alienada porque conquistou uma segurança material que a faz pequeno-burguesa em suas idéias. Será isso?

     Ou será, também, porque a elite intelectual brasileira quer tanto copiar a elite cultural estadunidense e européia? Já perceberam o quanto os intelectuais brasileiros adoram viajar para a Europa e para os Estados Unidos e citar aquelas elites culturais, embora a cultura estadunidense tenha se estagnado há décadas?

     Uma questão racial, também. Inconscientemente, talvez, mas também. Talvez em seu inconsciente coletivo os nossos intelectuais desejem muito esquecer a sua mestiçagem; talvez confundam cultura com cor branca, européia, estadunidense, e queiram copiar os tiques e manias e vícios daqueles povos, que esperneiam para sobreviver dentro da lama cultural que eles mesmos fabricaram.

     E, talvez por esse respeito transcendental a tudo que venha dos Estados Unidos e Europa, não queiram sequer criticar – não denunciar ou engajar-se numa luta contra – mas simplesmente criticar os crimes do imperialismo.

     E o imperialismo não está lá fora. Está aqui. O Brasil é um país que está se tornando imperialista em relação aos demais países da América Latina e em relação a muitos outros países do mundo. Um país que aceitou a doutrina neoliberal e que tem um governo estreitamente ligado às políticas dos Estados Unidos e da ONU - que é dos Estados Unidos. 

     Só um pequeno exemplo: depois dos dois dias de Brasil do Obama a presidente Dilma (tão ovacionada pelos intelectuais!) e seu governo resolveu entrar no jogo do império de condenar o Irã. Um pouco por vassalagem e outro pouco por desejar maiores ganhos internacionais.

     E os intelectuais quietos. Quietos, mudos, cabisbaixos, fingindo que não é com eles, que não tem nada a ver com isso, que já cumpriram o seu papel protestando contra a ditadura militar naquela época, há trinta anos, e que os deixem em paz porque a sua produção está atrasada.

     Ou os intelectuais se venderam?

     É triste escrever isso, mas será que os intelectuais se venderam ao sistema? Vejam o caso do blog da Maria Bethânia. Através do Ministério da Cultura, Maria Bethânia vai ganhar seiscentos mil reais dos 1,3 milhão destinados à criação de um blog com os seus vídeos. 

     É o escândalo do momento, porque todos sabem que para fazer um blog não é necessário dinheiro. É tão simples que qualquer criança faz, sem gastar um pila. 

     Mas a Maria Bethânia, que é irmã do Caetano Veloso, que é muito amigo do Gilberto Gil (que foi Ministro da Cultura do Lula), que é muito amigo do Chico Buarque, que é irmão da atual Ministra da Cultura, Ana de Holanda... A Maria Bethânia teve um projeto para fazer um blog aprovado, via Lei Rouanet (uma lei de incentivo à cultura ou aos donos da cultura). Tudo entre eles.

     Tudo dentro da legalidade, segundo a irmã do Chico, que é Ministra da Cultura. Claro, se há uma lei é usada essa lei, mas um blog não precisa ser custeado. E custeado pelo governo é mais suspeito ainda. Mas a irmã do Chico, a tal de Ana de Holanda, que está dando dinheiro para a Maria Bethânia dentro da lei também almoçou com o Barack Obama. Isso explica? Explica a ideologia, mas não justifica o escândalo.

     Aquela turma do Chico e Caetano e Gil e Bethânia e tantos outros, além dos milhões que os veneram, não precisava disso. Pegou mal. Já vem pegando mal faz tempo. Lembro do Gil reclamando do pouco salário que iria ganhar no Ministério da Cultura, porque com apenas seis mil reais, (na época do primeiro mandato do Lula) não poderia sobreviver, porque tem família, etc. E lembro do Lula dizendo que o Gil, além do que iria ganhar no ministério, poderia fazer os seus shows, nas horas vagas, e ganhar mais um bom dinheirinho.

     Intelectuais não estão isentos à atração por dinheiro.

     Pelo menos, os intelectuais brasileiros. Os intelectuais são necessários ao sistema, porque tem milhões de fãs que aceitam tudo o que eles disserem e podem influenciar muita gente. Por isso o sistema os usa e paga muito bem. E intelectuais assim não protestam mais, tornam-se alienados, aceitando tudo o que o seu governo fizer.

     E milhões tornam-se alienados junto com eles. O papel da atual intelectualidade brasileira é o de fabricar a alienação. 

     Antigamente era o contrário: eles lutavam contra a alienação. Bastava a OTAN se mexer e eles protestavam contra o imperialismo ianque. Agora esses intelectuais são amigos do imperialismo ianque. E do imperialismo brasileiro.

     Somente para lembrar aos mais novos, que poderão pensar que ser artista, trabalhar com as idéias, aprender a pensar e criar um trabalho original é o mesmo que estar alheio à realidade que os cerca, ou acima dos demais, participando de uma casta especial do que foi convencionado chamar de ‘intelectuais’... – o artista é um trabalhador, que deve ser atuante a ponto de se transformar na vanguarda dos trabalhadores em todas as lutas sociais. 

     Porque arte é transformação, não estagnação. Aquele que faz arte deve ter um compromisso consigo mesmo de tentar ir além do que conhece. Caso contrário será apenas um repetidor de pensamentos e idéias já preestabelecidas. E deve ter um compromisso com o seu próprio povo na tentativa de transformar a realidade histórica. Caso contrário será apenas um contemplativo.

     Mas muito pior que ser um contemplativo e um repetidor de idéias e pensamentos é ser um adesista, um cúmplice do sistema que engana e entorpece as pessoas; que mata, mutila e privilegia as castas, e que vende a idéia que estar acima, em um pedestal, ser individualista e desprezar o povo é o comportamento correto de um intelectual.

quinta-feira, 24 de março de 2011

MENDES, FUX E A LEI


Então ficamos assim: se houvesse uma lei que estipulasse que pessoas de mais de 60 anos não devem ser presas sob hipótese alguma e o povo se rebelasse contra essa estupidez e obrigasse os deputados a – pelo menos uma vez na vida – aprovar um projeto de lei, que seria referendado pelo Senado, que diria que todos são iguais perante a Lei, inclusive os que tem mais de 60 anos, essa nova lei mesmo aprovada unanimemente somente entraria em vigor no ano seguinte - porque os ilustres membros do STF entendem que a sua vigência imediata feriria algum artigo da Constituição.

     E os criminosos ajudados pelo artigo constitucional teriam tempo para encontrarem maneiras, “jeitinhos”, para se livrarem da aplicação póstuma da lei.

     Isto é o que pensa o senhor Mendes e o senhor Fux e mais outros quatro ilustres ministros do STF, que entendem que, mesmo verificado o crime e a imoralidade de criminosos exercerem cargos públicos, a Lei da Ficha Limpa somente poderá ser aplicada a partir do ano que vem, nas eleições municipais.

     E até as próximas eleições para Câmara e Senado os famosos corruptos que se locupletem, porque haverá tempo para isso e muito mais.

     Como sabemos, as leis são feitas para beneficiar os muito ricos, ou muito corruptos; a letra da lei é fria e a Justiça continua cega. Principalmente no Brasil que tem tão excelentes julgadores no STF.

     Se, um dia, o Brasil for um país livre de corruptos e governado pelo seu próprio povo, nas salas de aula as crianças aprenderão que nem sempre foi assim, que houve um tempo em que os corruptos eram favorecidos pela lei, que havia um STF que defendia com habeas-corpus e outros instrumentos legais a liberdade daqueles que roubavam muito.

     Os professores poderão acrescentar: “no tempo do Gilmar Mendes, do Fux, do...” – excelentes juízes que cumpriam a lei, mesmo contra a moral e contra o povo, mas cumpriam.

     O mais curioso e alarmante é que mesmo essas pessoas sendo consideradas culpadas de corrupção, não estão na cadeia. 

     Não estão na cadeia porque deverá haver outras leis que protegem os acusados de corrupção; libertam-nos se acaso são presos e deixam que se candidatem a cargos eletivos e se elejam, representando, teoricamente, o povo, que, assim, aprende a vender os seus votos, porque passa a acreditar que corrupção é inerente à política.

     E que a justiça no Brasil é uma questão de riqueza ou de pobreza.

     Os muito pobres não tem direito à justiça. Pelo menos uma vez por semana aquelas polícias especializadas em matar invadem favelas no Rio, São Paulo e outros lugares e matam pessoas suspeitas de crimes. E a imprensa deles divulga isso como se fosse a coisa mais natural.

     Mas os corruptos oficiais, reconhecidamente corruptos, conhecidos como corruptos, famosos por sua muita corrupção , tomam assento no Congresso Nacional porque meia dúzia de especialistas em Constituição assim desejam.

     Então, ficamos assim.

quarta-feira, 23 de março de 2011

AO LONGE, TÃO AQUI


Lá, ao longe, onde a serra geme
E eu paro
Tão inevitável a esperança
E eu corro
Há esperança?
É longe
A serra invade a madeira
Que estraleja
O meu cansaço é só cansaço é só cansaço
Eu ouso!
Já está tão perto eu quase lá
Quase ali estou chegando
O coração na boca
Olhos saltados
As mãos!
Minhas mãos se despem em última bravura
Derradeiro ardor
Em destemor
Impeço
Esse serrar insano
O soluçar da vida
Meu corpo
Nunca correu tão longe como agora
Entrego
O meu vermelho todo ao teu desejo morte
Em troca
Esta madeira é minha
Em verde me transformo.

Ali, tão perto,
Quando sorria a força do amor
A todo instante
Nas superfícies da vida,
Entre brilhos e ruídos festejantes,
A silenciosa raiz
A penetrar profunda
Para saciar-se em seiva...

Casais deitavam entre as flores
Para desnudar a sua paixão de primavera
E o riacho a cantar entre pedras
Que abriam caminho à eternidade da água
E seu amoroso deslizar profano...

Ali, tão aqui,
Antes do desfazer-se da terra
Em profunda, incontrolável, tristeza;
Antes da última visita das abelhas
Às derradeiras flores murchas...

Ao longe,
Onde meu corpo dorme em sonho verde,
Sob a languidez dos cipós
E o perfume das últimas orquídeas,
Desfazendo-se, aos poucos,
Na pureza da terra limpa,
Unindo-se à solidão da relva
Que ainda tenta a ressurreição...

Lá, aqui,
Quando tento ser inteiro
Eu posso?
Esgueirar-me nas tramas deste enredo
Eu quero!
É tanta a terra que parece sufocar
Mas tento!
O meu rastejar é rápido e disforme
Pura volúpia
A desejar todas as cores
A água!
A transformar-me em alimento
E fome
E amor perfeito
Um fluido renascer
Eu sou
Todas as belezas em súbito instante
De infinito e cosmos
E poeira.

domingo, 20 de março de 2011

DILMA E GEISEL




Declaramos guerra à Líbia? É sabido que desde sábado, quando Obama chegou ao Brasil, cedemos nosso espaço aéreo, terrestre e marítimo aos Estados Unidos, numa atitude de vassalagem como nunca antes houve na história do Brasil, talvez somente comparável à atitude de Dom João VI, quando abriu os portos do Brasil ao comércio com a Inglaterra, da qual era devedor.

     Eu sempre achei que aquele topete da Dilma é apenas para a política interna, além de ser um conselho de marqueteiro aquele seu jeitão de mandona. Esperava mais dela. É claro que não esperava que fosse uma Cristina Kirchner, pois para isso lhe falta conhecimento e singeleza; nem uma Ângela Merkel, que sabe se impor quando necessário, muito menos uma Hillary Clinton, que é quem verdadeiramente manda na política externa dos Estados Unidos - mas esperava mais.

     Esperava, pelo menos, um pouco de atitude digna, de verdadeira representante do povo e do Estado. Mesmo sendo uma entreguista - como Lula e o grupo que manda no país - não esperava que fosse entregar tão facilmente o país aos Estados Unidos a uma simples ordem do Departamento de Estado daquele país. Mesmo que por somente dois dias é entregar.

     Além disso, reconhecer que somos incapazes de prover a segurança de um chefe de estado é de uma tristeza avassaladora, principalmente porque as próprias Forças Armadas brasileiras admitiram isso, implicitamente, ao aceitar serem comandadas durante esses dois dias pela parafernália bélica dos Estados Unidos. Faltou dignidade e, principalmente, soberania.

     Aos militares de hoje lembro que ao tempo do general Ernesto Geisel, quando era presidente nomeado pela ditadura, o Brasil agiu com muito mais bravura do que neste momento de servilismo.

     Foi quando Geisel, indignado por algumas exigências dos Estados Unidos, denunciou e rompeu o tratado militar secreto que havia com aquele país. Também foi Geisel quem instituiu o mar de 200 milhas como integrante do território brasileiro e foi Geisel que, certo ou errado, decidiu construir as usinas nucleares da Angra 1 e Angra 2 – com tecnologia alemã e não norte-americana.

     Foi um presidente digno e foi admirado por isso. Os militares brasileiros da época de Geisel aprenderam que patriotismo não significa apenas beijar a bandeira ou perfilar-se ao cantar o hino nacional. É muito mais que isso. E principalmente, em primeiro lugar, defender a honra da pátria acima de quaisquer circunstâncias. Convém lembrar, ainda, que foi Geisel quem iniciou a abertura política e nomeou o seu sucessor, general Figueiredo, com a missão precípua de devolver o poder aos civis.

     Na política internacional, Geisel apoiou a independência de Angola sob um regime socialista, e reatou as relações diplomáticas com a China socialista, entre outros feitos marcantes. Pretendia com isso, ampliar mercados e não se tornar dependente da política norte-americana. É claro que foi um governo anticomunista, mas, ao mesmo tempo, pensava no futuro do país e procurava aplicar um pragmatismo de não-alinhamento econômico, denotando força e independência. E – para mim o mais importante – sentimento nacionalista.

     E é justamente o partido que mais denunciou e lutou contra a ditadura militar, o PT, que, depois de tomar o poder mostra-se o mais entreguista e completamente alinhado com a política e com a economia norte-americana. O mais servil e submisso aos interesses dos Estados Unidos.

     Basta observar que Obama veio ao Brasil para impor uma aliança econômica bilateral de dez pontos que foi prontamente aceita pelo partido de Dilma. Os Estados Unidos já sabiam que o PT queria apenas o poder pelo poder e por nenhum outro motivo; tinham percebido que o anterior governo de Lula tinha sido de um extasiado puxa-saquismo em relação aos Estados Unidos e à ONU; entenderam que o PT pretendia apenas tornar-se um partido forte e dominador da cena política brasileira, sem nenhum plano ou projeto para o Brasil que fugisse aos planos e projetos dos Estados Unidos.

     Por isto, Obama disse que o futuro do Brasil chegou. Claro. O futuro deles no Brasil, com um governo deles, maquiado de verde e amarelo, com uma mídia deles, que influencia cegamente o povo e com as Forças Armadas do Brasil também deles. Ou há alguém, nas atuais Forças Armadas, que seja nacionalista?

     Daí a pergunta: declaramos guerra à Líbia? Porque Obama declarou essa guerra a partir do território brasileiro, talvez não tenha sido nem de sua própria embaixada em Brasília, mas de alguma sala do Palácio do Planalto, sabendo que o voto do Brasil tinha sido de total omissão, de abstenção, e abstenção significa não apoiar explicitamente essa guerra... E, mesmo assim, descansadamente, ordenou o ataque à Líbia a partir de Brasília. Um tapa de luvas na cara da pseudo-política externa brasileira.

     Debochou de Dilma e debochou de nós, brasileiros, que agora temos a certeza que o nosso governo também é omisso em relação a nós e ao nosso futuro, porque o futuro deles chegou aqui.

sábado, 19 de março de 2011

OBAMA NAS ALTURAS!



Devido à aproximação da Lua com a Terra, a “maior Lua”, em 18 anos, poderá ser vista neste final de semana. No Brasil, principalmente no Rio Grande do Sul e Rio Grande do Norte. Três vezes seis é igual a 18. Exatamente no período do equinócio, momento mágico, quando podem ser invocadas forças poderosas... E forças poderosas estarão atacando o povo da Líbia sob o pretexto de defender o povo da Líbia, sob uma falsa propaganda nunca antes experimentada.

     Chego a receber três e-mails por dia de pessoas que reconheço estarem devidamente hipnotizadas pela mídia oficial e não tem culpa de estarem sendo usadas; apenas a culpa dos inocentes úteis. Os e-mails dizem e se repetem: “Pare Kadhafi...”. Alguns vem de grupos ou movimentos que se pensam muito vanguardistas, mas que, na verdade, servem aos interesses dos magos negros que estarão festejando o seu sabath neste equinócio, enquanto as suas tropas devidamente dopadas com a droga do momento não pensarão no resultado das bombas que estarão lançando contra um povo estrangeiro. Militares não pensam; cumprem ordens.

     Muitas coincidências e coincidências não existem. E Obama estará no Brasil, fingindo que nada estará acontecendo. A sua mídia diz que estará aqui para pedir prioridade para venda dos produtos estadunidenses. Também. Mas principalmente para garantir petróleo barato, porque a guerra projetada contra a Líbia prevê a possibilidade da escassez do tão cobiçado produto.

     Provavelmente, Obama faça o seu sabath aqui, lá no Planalto Central, na meia-noite de sábado para domingo - região mágica que facilita o encontro das forças telúricas com as celestes – e oferecerá ao seu Deus dos Exércitos o sangue dos libaneses abatidos em troca da vitória, não só na guerra como nas negociações. Os senhores do mundo precisam do apoio do demiurgo terrestre para continuarem senhores do mundo.

     Depois, um discurso no Rio de Janeiro, a cidade mais rica do país e com maior número de pessoas que gostariam que o Brasil voltasse a ser apenas um satélite dos Estados Unidos.

     Apesar da proteção do seu deus das trevas, muito é o medo de Obama. No final de semana o Rio de Janeiro estará entregue aos soldados estadunidenses e ao serviço secreto estadunidense. Com o apoio servil do exército e do serviço secreto brasileiro. Antes disso, haverá o beija-mão no Palácio do Planalto. Prevê-se uma fila imensa de beijoqueiros, a começar pela Dilma, que deverá dizer para o Obama: - “Sinta-se em casa”. Ao que ele responderá tranquilamente: - “É claro”.

     No domingo, o discurso. Seria na Cinelândia, mas o medo de Obama fez com que preferisse um lugar mais fechado e reservado. O Teatro Municipal do Rio de Janeiro. E não poderia haver lugar melhor. Tudo o que vem dos Estados Unidos relaciona-se com cinema, teatro, farsa, mistificação, engano, mentira, ilusão.

     Obama falará das nossas diferenças e das nossas semelhanças e como os dois países deverão estar unidos, porque são os dois maiores países das Américas e tem o destino manifesto de dominar a tudo e a todos. Bandeirinhas dos Estados Unidos tremularão, eufóricas; o povo será levado a sentir-se obsequiado pela presença daquele que representa o poder dos poderes, e, ao final, todos concordarão que ele é muito simpático, um verdadeiro galã.

     Mas antes do final, está previsto um ato púbico e espontâneo de adoração ao deus do norte. Na verdade, será uma espécie de ato de contrição ou reza de louvor. Afinal, a Lua estará brilhando em inédito 666, estaremos no equinócio de outono, a Líbia estará sendo bombardeada e invadida com o voto omisso do governo brasileiro e também o povo merecerá o seu pequeno sabath litúrgico encenado em plena Cinelândia. Para que ninguém esqueça, segue abaixo.

     Brazilian people: - “Dominador nosso que estais em toda a parte, senhor de todos os senhores e de todos os exércitos...”

     Mister Obama: - “I am! I can!”

     Brazilian people: - “Midiatizado seja o vosso nome; idiotizados sejamos nós!”

     Mister Obama: - “I am! I can!”

     Brazilian people: - “Yes, you can!” - “Venha a nós os vossos dólares, dai-nos a vossa sacrossanta palavra de ordem!”

     Mister Obama: - “I am! I can!”

     Brazilian people: - “Yes, you can!” - “Seja feita a vossa vontade, assim no Brasil como no mundo inteiro!”

     Mister Obama: - “I am! I can!”

     Brazilian people: - “Yes, you can!” - “O pensar vosso de cada dia nos dai hoje!”

     Mister Obama: “I am! I can!”

     Brazilian people: “Yes, you can!” - “Dai-nos a vossa bênção, assim como nos deixamos abençoar pela vossa bélica mão!”

     Mister Obama: - “I am! I can”

     Brazilian people: - “Yes, you can!” - “Não nos deixeis sem a vossa tecnologia, mas livrai-nos dos sonhos de igualdade e liberdade!”

     Mister Obama: - "I am! I can!”

     Brazilian people: - “Yes, you can!” - “Porque vosso é o poder e a glória para sempre!”

     Mister Obama: - “I am! I can!”

     Brazilian people: - “Yes, you can!” - “Obama nas alturas! Bendito é aquele que vem em nome do império! Obama nas alturas!”

     Mister Obama: - “I am! I can!”

     Brazilian people: “yes, you can! Amen!”

     Naquele momento, deverá entrar um grupo de rock ou samba ou funk ou timbalada, ou afoxé ou até mesmo aquele sertanejo country, ou tudo isso junto, e o povo começará a se dispersar, em êxtase, sob os olhares atentos dos franco-atiradores.

     E Obama irá para as alturas assistir ao bombardeio sobre a Líbia.

PRESIDENTA, SEJA HOMEM!




Nunca vimos algo parecido no Brasil, nem quando da visita do Papa. O presidente dos Estados Unidos pensa que é o dono do Brasil e a nossa presidente diz que sim senhor, como o senhor quiser, a terra é sua, deite-se e deleite-se.

     É claro que o Obama é paranóico, no mínimo neurótico, e com pessoas assim temos que ter certos cuidados, mas não tantos cuidados a ponto de entregar o Brasil para ele. Mesmo que por apenas dois dias, é entregar o Brasil, convenhamos!

     Mas então o cara vem até aqui para pedir petróleo e biodiesel quase de graça e tentar fazer mais alguns negócios da China, justamente porque tem medo da concorrência comercial da dita cuja, e toma conta de tudo com a anuência submissa da presidente que deveria ser presidente de todos os brasileiros e não ficar bancando a vassala dos americanos do norte e ninguém diz nada, tudo fica por isso mesmo... Mas senhores, em que país vivemos?

     Presidenta, mas que vergonha! É nessas horas que dá saudade do Lula. Dá saudade de alguém mais forte, que diga que esta terra é nossa, dos brasileiros e que se quiser nos visitar, seja bem-vindo mas obedeça às regras da casa e não fique achando que a casa é sua de verdade, porque estará apenas mostrando a sua pouca educação.

     Mas o cara é tão mal-educado - e a nossa presidenta tão servil - que manda o exército, marinha e aeronáutica (além do seu serviço secreto que já se aninhou aqui há muito tempo) para vasculhar céus e terras com medo que algum brasileirinho lhe dê algum tiro com arma de espoleta... Mas o que é isto, meu Deus?

     Está declarando para o mundo inteiro que as nossas Forças Armadas e os nossos serviços de inteligência são incompetentes e a presidenta diz que é verdade, o senhor tem toda a razão, somos muito incompetentes, espalhe os seus homens como achar melhor, o Brasil é seu, não se avéxe não, desculpa qualquer coisa...

     Mas que vergonha, presidenta!

     O cara tem medo até de sair na rua. Tudo bem, cada um cultiva o seu próprio tipo de loucura, desde que não incomode os outros. Mas esse tipo de loucura do Obama cheira mais a frescura: ai, aqui não, porque eu tenho medo; ali não, porque eu também tenho medo e lá também não, porque o meu medo é tanto!...

     E se encafua, cercado de seguranças em um hotel só pra ele, onde tem até provador de comida, como faziam os reis medrosos da Idade Média, e onde somente três garçons brasileiros poderão servi-lo, os quais, coitados, passaram até por teste ideológico para cumprir a sua perigosa missão, como se estivesse em uma terra de assassinos onde poderia sofrer algum atentado a qualquer momento, ou ser envenenado. Mas que cara pirado!

     E a presidenta concordado com tudo, o senhor é quem manda, é verdade, pode ter um perigoso comunista embaixo da sua mesa, deixe que eu como primeiro a sua comidinha para ver se não está envenenada, somos muito pobres mas honestos... E por aí afora...

     Mas presidenta, cadê a compostura?

     E aquela mulherzinha dele que só come comida especial e está sempre sorrindo como se fosse uma Barbie, tão fresca quanto o marido, e todos os brasileiros à sua volta dizendo sim senhora, como a senhora quiser, quer que a ajude a subir estes dois degraus, madame? Não se assuste que o Cristo Redentor não morde, é a cara dele que é assim mesmo, coitado, não tem nenhum brasileiro por perto, não precisa chorar que vai estragar a maquilagem, fique tranquila que logo vai sair daqui, são os ossos do ofício, vai passar, vai passar...

     Mas presidenta, o que é isso?

     E os brasileiros que tentaram protestar contra tão ilustre visita e foram reprimidos a pau e presos e feridos e tratados como inimigos do Estado, porque achavam que aqui era uma democracia onde as pessoas podem ter opinião própria e somente se deram conta que não é bem assim no exato momento em que viram a polícia da ditadura?

     Presidenta, que vergonha!

     E o tal de Obama, esse, que pensa que é o dono do mundo, e talvez seja, mas que importa, aqui é a nossa terra, oras!, com medo de fazer um discurso ao ar livre, porque sabe-se lá o que vai acontecer, talvez um passarinho ache interessante defecar nos seus belos cabelos, e vai fazer o seu proselitismo cercado de seguranças, dentro de um salão, longe do povo, somente para escolhidos convidados. Mas é muito fresco, mesmo!

     Presidenta, seja homem, com o perdão da palavra se achar demasiada, mas tenha firmeza com esse visitante que não sabe o que é educação ou bons modos, diga que a porta da rua é a serventia da casa, se tem tantas exigências que as faça na sua casa, e se não gostar pode ir se retirando que a senhora tem mais o que fazer. Seja homem, presidenta! Mostre quem é que manda em casa! Por favor, não nos envergonhe tanto com esse servilismo! Por uns dólares mais... Convenhamos!

quinta-feira, 17 de março de 2011

A ENERGIA SUJA DAS HIDRELÉTRICAS



Entre licitadas, projetadas, em construção e prontas, existem mais de cem hidrelétricas no Brasil. A desculpa para a construção de tantas hidrelétricas é que elas provêem uma energia limpa e renovável, não poluidora.

     O que é uma mentira.

     Segundo o biólogo Alexandre Kemenes, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), "a hidrelétrica de Balbina, no rio Uatumã, está emitindo cerca de 10 vezes mais que uma termelétrica movida a carvão mineral, considerado hoje o combustível mais poluente”.

     Em Balbina, além dos elevados índices de emissão de GEE (Gases de Efeito Estufa), há um baixo aproveitamento energético. Em outro cálculo, que considera a potência gerada pela área do lago, Balbina também fica a dever. Embora tenha alagado 2.600 quilômetros quadrados de floresta, a hidrelétrica tem uma produção energética pífia, de meros 250 MW.

     De acordo com Kemenes, vários são os fatores que levam as hidrelétricas tropicais a emitir Gases de Efeito Estufa em grande quantidade. Os lagos muito grandes e profundos construídos sobre uma área florestal e sob a influência do clima amazônico são propensos a problemas desse tipo.

     "Devido à estabilidade climática da Amazônia, são formados estratos térmicos nas diferentes profundidades do lago", explicou o biólogo. "Em temperaturas distintas, cada estrato possui diferentes concentrações de gases, entre eles o oxigênio."

     No fundo do lago, todo o oxigênio é consumido pelas atividades biológicas, mas não é reposto, formando um estrato anóxio (sem oxigênio). Além disso há grande quantidade de matéria orgânica deixada pelo não-desmatamento da antiga floresta existente na área do lago. A soma desses fatores favorece a ação metabólica de bactérias anaeróbicas, que produzirão altas taxas de CH4 e CO2, os dois principais gases de Efeito Estufa.

     "Além disso, a profundidade provoca outro fenômeno físico - a pressão hidrostática - que mantém os gases aprisionados no fundo do lago", declarou o cientista. ( Segundo matéria do jornalista Murilo Tavares para a Agência FAPESP, em19/10/2007. Publicada, originalmente, no site Inovação Teconológica.)

     E as turbinas das hidrelétricas liberam gases.

     Segundo o biólogo, depois de gerados no fundo do lago, o CO2 e o CH4 chegam à atmosfera por três vias: pelo próprio lago, pelas turbinas da barragem e à jusante dela. Cerca de 85% das emissões ocorrem por ebulição ou difusão, na área do lago.

     Quando os gases ficam supersaturados no substrato, eles se desprendem em forma de bolhas e chegam à atmosfera. Ao mesmo tempo, os gases existentes na superfície do lago são difundidos lentamente. Os dados referentes às emissões pelo lago foram medidos em quatro hidrelétricas.

     Ocorre que nós, míseros mortais, somente podemos tomar conhecimento da emissão de gases poluentes pelas hidrelétricas depois que elas já estão construídas, porque só então pode ser feita a medição da emissão de gases. Já as termelétricas, basta olhar as usinas movidas a carvão – ou apenas o carvão, sem as usinas – para nos assustarmos, porque ali é evidente a emissão de GEE (Gases de Efeito Estufa). No entanto, as hidrelétricas poluem menos que as termelétricas - afirma Kemenes.

LOBBY

     Dizer que a construção de hidrelétricas é uma das maneiras para contribuir para a “energia limpa” é uma grande mentira. E esta mentira vem desde os tempos da ditadura – e agora é uma mentira encampada pelos atual governo, aliado das grandes multinacionais do setor energético que fazem um lobby junto aos congressistas e ao Executivo para que esse modelo de desenvolvimento seja o prioritário no Brasil.

     Qualquer iniciativa a favor de fontes de energia renováveis, que não sejam as megahidrelétricas, é bloqueado.

     De acordo com Heitor Scalambrini Costa, (Adital, 29/04/2008) - professor da Universidade Federal de Pernambuco; membro da ONG Centro de Estudos e Projetos Naper Solar – “o lobby hidrelétrico se baseia no fato que a maioria absoluta dos engenheiros e técnicos do setor é especializada em hidroeletricidade e deve sua carreira profissional à indústria, que se formou, historicamente, em torno dos megaprojetos, desconsiderando as alternativas e com argumentos técnicos e econômicos, que parecem totalmente persuasivos, de que devemos continuar sendo assim para sempre.

     “A outra força do poder hidrelétrico são as empreiteiras especializadas em grandes obras. Ambas as forças deste lobby se baseiam em uma mentalidade de grandes obras, legitimada por uma ideologia de desenvolvimento pela qual devemos fazer tudo grande, para ter um Brasil grande.

     Acrescenta (em matéria publicada originalmente no site “Terra Sim, Barragem Não”, em 30 de abril de 2008) ainda: “o que se constata é que o mundo inteiro está investindo em energia eólica e fotovoltaica (eletricidade solar).

     “O mercado de energia eólica cresceu 30%, em 2007. Na China, ele triplicou. Nos EUA, dobrou. Na Espanha cresceu 30%, com adição de 3.500 MW à rede. Na Alemanha, cresceu 8%, representando a adição de 1.700 MW ao parque eólico, totalizando quase 22.500 MW, o maior do mundo. No Brasil não chega a 250 MW de potência instalada.”

     E existem inúmeros projetos para a implementação de energia solar e energia eólica no Brasil. Só que vão para a Câmara Federal e são engavetados. Ficam em último lugar naquela pilha de projetos que não interessam aos deputados. Porque muitos deputados também pertencem a lobbys. São patrocinados em suas campanhas políticas para, depois de eleitos, aprovar ou não aprovar determinados projetos de lei. Chamam isso de democracia. E também senadores. E também ministros.

     Este é um país de mensalões e mensalinhos e somente são descobertos aqueles (ou aquelas) corruptíveis quando há interesse de outro grupo mais forte, de também prováveis corruptíveis, para que a corrupção dos seus adversários políticos apareça. Senão, me responda: quem coloca as câmeras e as direciona para os flagrantes de corrupção que aparecem na TV?

     Assim, os lobbys. Começam no Congresso, dão a sua voltinha nos ministérios e vão até a presidência da República.

     Não é extremamente estranho a Dilma, desde que era Ministra da Casa Civil e decidiu que o PAC era uma necessidade para o Brasil, colocar como prioritários projetos de construção de hidrelétricas, como a de Belo Monte e as de Rondônia? Sequer ouviu os ambientalistas. Quando alguns deles se revoltaram foram colocados para fora do governo. E o Lula aplaudindo. Pobre bobo Lula.

     E agora, depois que a Dilma assumiu o lugar do Lula, quando o presidente do IBAMA, Abelardo Bayma, não quis dar a licença para Belo Monte ser construída, simplesmente foi demitido. Talvez Dilma esteja apenas com uma idéia fixa, ou muito mal informada a respeito do impacto das hidrelétricas, não só no meio ambiente onde são construídas, mas também em relação à emissão de gases de efeito estufa.

     Eu prefiro pensar assim: que a Dilma não sabe - tanto quanto o Lula não sabia, ou sabia? - do mal que estará provocando ao insistir na construção de hidrelétricas. Prefiro pensar assim, porque no seu discurso no Senado, na abertura das atividades do Legislativo (atividades que ainda estão sendo esperadas que aconteçam, porque o Congresso tem trabalhado ao reboque do Executivo) ela disse que iria dar preferência às fontes de energia limpa.

     E a partir daquele momento começou a fazer de tudo para construir Belo Monte e mais algumas hidrelétricas que estão projetadas para funcionar em Rondônia. Logo, ela não sabe o que é energia limpa.

     Talvez não tenha a menor idéia e pense que as hidrelétricas, porque são movidas pela água e porque a água costuma ser branca, devem ser uma fonte de energia limpa.

     Dilma fincou pé na construção de Belo Monte. Quer porque quer, ela é a Presidente, ela fala grosso, ela bate o pé, ela já decidiu e não volta atrás... Puro capricho. Ou influência dos noticiários de televisão. Principalmente agora, depois do tsunami no Japão, ela deve ter achado bonito e quer o seu próprio tsunami no Xingu.

     Belo Monte não só vai destruir parte do parque do Xingu e afetar o ecossistema da Amazônia numa escala indescritível, como, também, vai gerar uma energia muito suja. Como será uma megahidrelétrica, a terceira maior do mundo, vai gerar gases de efeito estufa numa escala imensa.

     Sem falar nos mais de trinta povos indígenas que serão expulsos das suas terras legítimas e realocados de qualquer maneira em cidades como Altamira para sofrerem todo o tipo de dificuldades.

     E será que Dilma não sabe que estará provocando tudo isso apenas por birra? Ou será puro desconhecimento do que seja energia limpa e energia suja? Não quero acreditar que Dilma esteja “comprada” por algum lobby de empresários, multinacionais, políticos corruptos, empreiteiras... Por mais que ela me pareça contraditória, não é do estilo dela. Para mim, ela é honesta e está apenas muito mal assessorada e muito mal informada sobre energia.

ENERGIA LIMPA

     Energia limpa não é energia gerada por hidrelétricas.

     Energia limpa é a energia solar. A energia luminosa do sol, transformada em eletricidade por um dispositivo eletrônico, a célula fotovoltaica. Já as placas solares usam o calor do sol para aquecer água.

     Energia limpa é a energia eólica, ou energia provocada pelo vento. O vento gira as pás de um gigantesco catavento, que aciona um gerador, produzindo corrente elétrica.

     Energia limpa é a energia das marés. As águas do mar movimentam uma turbina que aciona um gerador de eletricidade, num processo similar ao da energia eólica. Mas ainda não existe tecnologia para exploração comercial.

     Energia limpa é a produzida pelo biogás, que é a transformação de excrementos animais e lixo orgânico, como restos de alimentos, em uma mistura gasosa, que substitui o gás de cozinha, derivado do petróleo. A matéria-prima é fermentada por bactérias num biodigestor, liberando gás e adubo.

     Energia limpa é a dos biocombustíveis. Ou seja, a geração de etanol e biodiesel para veículos automotores a partir de produtos agrícolas (como semente de mamona e cana-de-açúcar) e cascas, galhos e folhas de árvores, que sofrem processos físico-químicos.

     Todos essas fontes energéticas tem prós e contras, mas vem diretamente da natureza e nela não interferem negativamente.

     Mas a presidente do Brasil quer hidrelétricas – grandes fontes de energia suja - e quer – pasmem! - energia nuclear. O CNEN – Comissão Nacional de Energia Nuclear – acaba de declarar, através de um dos seus representantes que o plano para a implantação de novas usinas nucleares no Brasil continua.

     Pretendem instalar mais quatro usinas nucleares no país, além das duas usinas que já existem em Angra dos Reis. Tiveram que abrir o jogo, porque não se falava nada a respeito até o desastre nuclear no Japão.

     Lobby, emprego para cientistas, grandes multinacionais envolvidas nessas futuras construções ou apenas desatino e loucura acelerada? Além da energia das hidrelétricas, existe energia mais suja que a nuclear, que jamais se extingue, mesmo com os reatores desligados?

     Mas não custa nada acreditar que os cientistas não são tão loucos nem o governo tão insensível. Talvez voltem atrás quanto à energia nuclear. Mas insistir com as hidrelétricas, tendo plena consciência do mal que elas fazem... Tem algo errado aí. Algo que não fecha, que não coincide com a lógica da consciência de todos os povos que buscam a defesa dos seus ecossistemas e lutam por fontes de verdadeira energia limpa e renovável.

     Mesmo que esse “algo errado” seja apenas insistência de menina mimada, o que interessa para nós, o povo, que não tem voz e quando grita não é ouvido é que insistir com esse modelo de desenvolvimento, a pau e corda, é o mesmo que fabricar um triste destino para o Brasil e para os brasileiros.
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