segunda-feira, 29 de abril de 2013

NOS TEMPOS DO 4-2-4




Nos tempos do 4-2-4, o Grêmio tinha Cleo e Sérgio Lopez no meio de campo e Babá, Joãozinho, Alcindo e Volmir no ataque. Um dia, os narradores esportivos descobriram que Joãozinho “descia” para apoiar o meio de campo, quando necessário, e ficaram muitos surpresos com essa grande inovação futebolística. Quase na mesma época em que os medrosos europeus, cansados de apanhar dos sul-americanos, “inventaram” o 4-3-3, para total deslumbre macaquístico dos futeboleiros de plantão, que foram avisar, correndo, os treinadores de futebol que a moda tinha mudado.

   Alguns anos depois a moda mudou novamente lá na Europa, do 4-3-3 para o 4-4-2, e o que era considerado retranca no Brasil, sinônimo de futebol feio e desprazer para a torcida – ainda formada pelo povo e não pela classe média massificada – foi imediatamente aplaudido e decantado como a última grande descoberta dos nossos colonizadores, imediatamente adotada em gramados brasileiros e alhures e o futebol ficou uma coisa muito estranha, com 10 ou 12 jogadores disputando a bola no meio do campo, cruelmente pisoteado para desespero dos amáveis quero-queros.

   Pior ainda depois da entrada do século e talvez como efeito das apocalípticas profecias que tem transformado milhões de agnósticos em devotados crentes de qualquer coisa, que pode ser, inclusive, o futebol. Inventou-se o 4-5-1 e, em seguida, o 3-6-1. O “1” é aquele desolado atacante que fica correndo para lá e para cá na esperança de grotescos erros dos defensores para se transformar em herói do acaso. Gols espetaculares tem sido feitos através do que os especialistas em futebol chamam de “bolas paradas”, o que é uma óbvia incongruência, e treinadores, agora chamados de “técnicos”, treinam jogadas no intuito de que essas bolas paradas se movimentem enganando a defesa adversária. Quando surge um jogador que faz um pouco mais que isso é apelidado de “craque”, porque quebra os paradigmas.

    Tanto que, com a exceção de Messi, esqueceu-se o que seja realmente um craque. Criaram-se preconceitos. Por exemplo, o centro-médio (detesto esta nova ortografia plastificada!) agora é chamado de volante que tem ao seu lado outros volantes, sendo que um deles, o assim denominado “volante de contenção” poderá ser qualquer atleta musculoso com uma distante ideia do esporte que está praticando e cuja única função é conter os adversários de qualquer maneira, e estará inevitavelmente destinado a receber cartões amarelos e vermelhos durante toda a sua carreira.

   Inventaram-se novas funções e atribuições. Sabe-se que desde a época do Coutinho e do Telê Santana os pontas foram abolidos do futebol. Pois bem, designou-se aos laterais a tarefa de fazer o papel de pontas, o que os faz correr muito mais que qualquer outro colega, subindo para atacar e descendo para defender, às vezes em inúteis esforços, tanto lá como cá, em esquizofrênicas e opostas funções laborativas.

   Como em toda a religião, superstições tomaram o lugar da provável verdade. Uma delas é o meia-esquerda, atualmente chamado de meia-armador. Sobre ele recai toda a responsabilidade de conduzir a bola, armar jogadas, juntar-se aos atacantes, bater faltas, escanteios, pênaltis... O único que pode criar. À sua frente estão esperançosos atacantes de ofício, e, atrás, volantes e zagueiros prestimosos. É o cérebro do time, aliviando os demais de exercer a função do raciocínio. (Dia desses assisti a uma partida em que o Dalessandro foi expulso e o time do Internacional parou de jogar, limitando-se a chutes e passes desequilibrados). A principal superstição em relação a esse especialista  – talvez o único que tente jogar futebol – é que não podem existir dois ou mais armadores.

   Não é uma superstição recente; perde-se nos tempos a sua origem, mas desde a época da fabulosa seleção de 1970, quando o time ainda estava sendo organizado pelo João Saldanha, inúmeros jornalistas e não jornalistas contestaram a presença de jogadores como Gerson, Rivelino, Tostão, Paulo César Caju, eventualmente Dirceu Lopes, no mesmo time. Além de Pelé, que sempre foi meia-esquerda e não por acaso vestia a camisa 10. Todos eles usavam o pé esquerdo (com a exceção de Pelé, que é ambidestro) e seriam, portanto, meia-esquerdas. Diziam os ilustres entendedores que a seleção ficaria torta, jogando somente pelo lado esquerdo (!). Alegavam, ainda, que somente um centro-médio (volante), o Clodoaldo, deixaria frágil a defesa, onde Brito era o único zagueiro confiável e o quarto-zagueiro ainda não estava escolhido.

    João Saldanha retrucava que a questão não era o pé ou a posição de origem dos seus selecionados, mas a qualidade. Os melhores deveriam jogar. E quando Saldanha, que era do PCB, foi substituído, a mando do general Médici, pelo Zagalo, às vésperas da Copa do Mundo, o novo treinador não só manteve o time de Saldanha como colocou na quarta-zaga um centro-médio, o Wilson Piazza e a questão da defesa ficou resolvida, porque o Piazza não poderia ficar fora da seleção. Os melhores entre  os melhores.

    Não se sabia exatamente qual o esquema daquela seleção. Por via das dúvidas, dizia-se que era o 4-3-3, mesmo que Piazza jogasse no meio de campo, Pelé ajudasse na armação, Gerson e Carlos Alberto por vezes atuassem como atacantes e Tostão fizesse de tudo um pouco. Não interessa, era 4-3-3 para a imprensa futebolizada: Félix; Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo, Gerson e Rivelino; Jairzinho, Pelé e Tostão. E a seleção não ficou torta. Costumava atacar em leque. Sabem o time do Barcelona? Era assim. Para melhor, é óbvio.

   Tudo isso para dizer que sinto pena dos times maquinizados de hoje; dominados por treinadores que transformam jogadores em robôs. Exemplo claro é o Grêmio, que perdeu a sua alma em algum recôncavo do passado e esqueceu que é gaúcho. Não é de agora, nem é só culpa do Vanderlei, que nasceu em Nova Iguaçu e entende o futebol daquela maneira carioca que todos estão vendo. Pediu um grande time para ganhar campeonatos e preferiu perder.

   No primeiro turno do campeonato gaúcho jogou com os reservas e perdeu dois grenais. E há os que dizem que preferiu jogar com os reservas por medo de perder grenal com os titulares. A imprensa portoalegrense, muito alegre, afirma e reafirma que o Grêmio tem um grande elenco; mas, se isso fosse verdade, para que poupar jogadores? Um grande elenco não necessita ser poupado, porque sempre haverá um jogador do mesmo nível para substituir o jogador machucado ou expulso em partida anterior.

    No segundo turno, a torcida gremista - que sem avalanche não funciona e ainda está em fase de adaptação em um estádio que não pediu e que representou um grande negócio para os donos do futebol tricolor - exigiu mais seriedade e o Vanderlei escalou o time considerado titular. Apanhou mais feio ainda e desculpou-se – vejam só! – dizendo que era uma derrota já prevista, estava fazendo experiências para campeonatos mais importantes. Falou essas blasfêmias com o apoio da direção gremista que, pelo visto, desejaria muito ser estadunidense para apreciar aquele jogo onde a bola tem dois bicos.

    O que indica que a culpa não é do treinador, que prefere, em suas experiências, colocar o centroavante na ponta-direita, o meia-esquerda na ponta-esquerda, o lateral-esquerdo na meia-esquerda e escalar dois ou três volantes de contenção que nada sabem conter e deixam os adversários passar facilmente para encontrarem uma defesa desfibrada e apática. Com a honrosa exceção dos laterais que de tanto subirem para o ataque, driblando e tabelando com os inócuos atacantes, e descerem para a defesa, na vã tentativa de fechar o buraco que deixaram às suas costas, depois de meia-hora de jogo já estão exaustos e começam a errar devido ao cansaço.

    Não é culpa do Vanderlei tentar tantas experiências góticas e bizarras. Talvez seja culpa do momento histórico, da Dilma, do Lula, do Mensalão, do atrito entre os poderes ou até da Coréia do Norte. Erra-se agora para se acertar depois, diz o treinador gremista. Do que se deduz que, se continuar errando, maiores serão os acertos futuros.

    Tampouco ele tem culpa de não ser gaúcho e talvez preferir o sertanejão, o funk ou o samba à suave milonga. Não se pode exigir que ele vista pilchas ou tenha alma castelhana. Os cariocas foram feitos para o Pão de Açúcar, o Cristo Redentor e as praias. São leves e suaves. Aqui, somos grossos e sinceros.

    Por isto, fico lembrando que, nos tempos do 4-2-4, com Babá, Joãozinho, Alcindo e Volmir no ataque; Cleo e Sérgio Lopes no meio de campo e Luiz Felipe Scolari na defesa o Grêmio era mais gaúcho. Não só o Grêmio. 

    O futebol é um aspecto cultural que se transformou em negócio para os grandes times da capital, assim como Porto Alegre está cada vez mais distante do verdadeiro Rio Grande. Penso que está na hora dos times do interior se unirem e organizarem um verdadeiro Campeonato Gaúcho, deixando àqueles grandes clubes que cresceram tanto a ponto de renegarem o nosso Estado a tranquilidade necessária para que possam disputar as suas grandes copas.

domingo, 21 de abril de 2013

SEU CHICO E A INCONFIDÊNCIA






- Seu Chico, o senhor pode me dizer se a Revolução Farroupilha é comemorada no Brasil, assim como a Inconfidência Mineira?

- Pra lhe dizer a verdade, eu não sei o que o Brasil iria comemorar lembrando a nossa revolução. Até hoje eles estão ressabiados. Além disso, não houve tratado de paz, só um armistício assinado entre o Canabarro e o Caxias. Neto, Bento Gonçalves e outros chefes revolucionários se negaram a assinar. E o senhor conhece a triste fama de Canabarro depois do massacre de Porongos.

- Significa que a guerra não terminou?

- Não só não terminou oficialmente como a República Riograndense foi reconhecida pelo Brasil que, na época, era imperial e depois trocou a guarda e o prenome. Confesso que hoje é uma república dominada inteiramente pelo estrangeiro, vivendo de canções que lembram antigas glórias, com um MTG que nasceu em 1966, na época braba da ditadura, muito pra lá de abrasileirado e com gente que veste pilchas só pra mostrar que tem fazenda – mas ainda república.

- Então é por isso que eles não comemoram.

- Comemoração só aqui nos pagos e de maneira mistificada, dando a entender que são águas passadas e que o bom mesmo é o Tchê Music e o rock gaudério.

- Isso é coisa de portoalegrense.

- Principalmente. Mas se deve perdoar os assim chamados metropolitanos. São muito chegados a qualquer aculturação. Não é por acaso que a capital sempre resistiu de armas na mão a todas as nossas revoluções. E olhe que foram três, se não me falha a memória: a Farroupilha, a de 1893 e a de 1923, quando se conseguiu alguma coisa. E essa alguma coisa redundou no Getúlio como Presidente do estado. Em 1930, ele resolveu invadir o Brasil pra tentar arrumar a bagunça que eles tinham feito, desmanchar as roubalheiras. Não adiantou. Aqueles não perdem o vício.

- E foi com a ajuda dos mineiros, seu Chico.

- Pois não é? Eles mandaram cartas de apoio. Até telefonemas e há quem diga que viu tropas mineiras guerreando, mas acho que foi em 1932 e por extrema necessidade, mas não tenho certeza. Um povo bom e quieto.

- Mas foi nessa quietude toda que eles fizeram a Inconfidência Mineira, festejada todos os anos.

- Que foi confidenciada. Sempre há um Canabarro nessas ocasiões. Veja você que eles tinham ótimas intenções. Mandaram confeccionar até uma bandeira com dizeres em latim em torno de um triângulo. Só se esqueceram de avisar o povo. O pobre do Tiradentes, que não era de família influente e foi o único que confessou foi enforcado e esquartejado. Os outros foram pro exílio lá nas colônias portuguesas, e não teríamos os melhores poemas de Tomás Antonio Gonzaga se não fosse assim. Há males que vem para bem, mas nem por isso o Tiradentes deixou de virar o único mártir.

- E deve ter sido uma revolução e tanto, seu Chico! Com todos esses festejos...

- Mas bah! Nem lhe conto! Reunião pra cá, reunião pra lá, bandeira, discursos empolgados nas Lojas, promessas de república e independência e, de repente, a traição e todos vão presos. E tudo isso em uma única cidade: Vila Rica, hoje Ouro Preto. Estive lá faz anos. Tem muitas igrejas e muito ouro dentro delas. Até passa a impressão que os padres daquela cidade não eram cristãos. Adoravam ouro.

- Só em uma cidade? Vai ver então que travaram muitos combates.

- Pra lhe falar a verdade, tiro mesmo eu não fiquei sabendo se houve algum. Vai ver que foram tiros silenciosos, combates na surdina. O senhor sabe que mineiro faz tudo em silêncio. Um povo quieto.

- Mas os revolucionários no exílio devem ter conspirado pela independência das colônias de Portugal.

- Devem. Não se sabe com certeza como foi. Uma vez revolucionário, sempre revolucionário e, na certa, eles fizeram muitas conspirações que não chegaram até nós. Em silêncio, porque mineiro não perde o hábito.

- Ainda bem, seu Chico. Já estava imaginando que eles tivessem ficado depressivos, mandando cartas de pedido de perdão...

- Não lhe digo que isso também não tenha ocorrido, mas como estratégia. Alguns eram advogados e sabiam escrever muito bem.

- Daqueles que se formavam na Faculdade de Coimbra?

- Os próprios.

- Enamorados por revoluções?

- Mas!... E olhe que deve ser por isto que falam tanto na tal de inconfidência, que deveria ser só de Vila Rica, pois até a história oficial sugere que o resto do povo mineiro não tinha a menor ideia da coisa.

- E com tanta revolução de verdade que deveria ser festejada, seu Chico!

- Sem falar nas nossas, que causam arrepios naquele povo do sudeste. Assim de relance eu lembro da Guerra dos Mascates, em Pernambuco; a Confederação do Equador, que durou um ano; a Cabanada, em Pernambuco e Alagoas, com três anos de luta; a Cabanagem, no Pará, que durou – veja só! – seis anos; a Sabinada, na Bahia, de 1837 a 1838; a Balaiada, no Maranhão, de 1838 a 1841, e por aí vai... Revoluções de verdade não faltaram. Às vezes eu fico pensando que o povo do norte e do nordeste junto com os gaúchos daria um belo país.

- Essas revoluções não são comemoradas, seu Chico?

- Talvez por lá onde aconteceram, e muito modestamente. O senhor sabe que o Brasil propagandeado é Rio-São Paulo-Minas. O resto não existe.

- Sem falar na Guerra Guarani, seu Chico. De 1751 a 1757.

- Oficialmente durante aqueles anos, porque os guaranis começaram a ser caçados pelos bandeirantes desde o início do século XVII, e foram sendo dizimados e escravizados quando as primeiras reduções ainda eram no Paraná. Fugiram como puderam para o Rio Grande, Uruguai, Argentina e, principalmente, Paraguai. Fundaram uma república que durou século e meio. Eram trinta cidades de dar inveja aos invasores. Tinham tudo em comum e eram muito bem organizados pelos padres jesuítas que não queriam ouro, mas cristãos.

- E a guerra?

- A guerra surgiu da necessidade de resistência depois do Tratado de Madri que uniu portugueses e espanhóis contra a República Guarani. Naquela época, os jesuítas estavam sendo expulsos de todos os lugares, devido ao ódio daqueles que governavam a Europa, e só das Missões foram corridos mais de seiscentos padres. Os índios se revoltaram e a guerra começou. As Missões foram arrasadas, mas depois de muita luta.

- E isto não se comemora, seu Chico. Foi uma grande saga.

- Que os historiadores oficiais querem esconder bem escondido, porque criaram o mito do bandeirante desbravador para encobrir o bandeirante escravocrata.

- A história da escravidão no Brasil só se refere aos negros. Passa ao largo a escravidão indígena.

- Que eles estão transformando, aos poucos, no negro cordato, que veio para o Brasil para ajudar no nosso desenvolvimento. A escravidão indígena foi combinada com genocídio. Quando acabaram os índios, escravizaram os negros. Mito é conosco mesmo. Ou com eles. Pois não existe o mito de que o brasileiro é bonzinho e pacato? E olha a quase guerra civil no Rio de Janeiro! Quer mais um mate?

- Aceito. E o Tiradentes?

- Pois é.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

BOMBA NO CONGRESSO



Alguns enraivecidos afirmam que colocar bombas na Câmara Federal e no Senado seria uma boa idéia. Bombas fabricadas com as tramas, engodos, patifarias dos nossos amados representantes. Explodir tudo justamente no dia de uma sessão conjunta. Não concordo. Sempre sobram alguns que, pensamos, não são corruptos e, quem sabe, fazem alguma coisa. Cito: Pedro Simon, Cristóvam Buarque, Paulo Paim. O primeiro, ninguém sabe o que faz, além de marcar presença e, vez ou outra, discursar sonolentamente. Paim, os aposentados acreditam que é o seu esteio. Frágil esteio, mas enfim... Nenhum dos dois tem cara de corrupto. Não são nenhum zé dirceu ou genoíno a bradar “Prendam-me, por favor!” Cristóvam Buarque acredito que seja um indignado incorruptível, dono de boas idéias que nunca serão colocadas em pauta no Brasil dílmico para a nação lúlica votar e vetar. Deveria, por uma questão de honra e dignidade, deixar o Senado, porque, se e quando a bomba estourar vai ser um cheiro dos diabos – literalmente – e ele poderá ser confundido com algum dos capetas.

  Existem outros? Não é improvável. Se existem, peçam demissão junto com o Cristóvam e ficaremos sabendo. Se bem que não acredito que o ilustre senador se demita da casa do Senado. Uma questão de hábito. O que iria fazer? Candidatar-se à Presidência de novo? Apoiado por quem, se todos já se venderam, ou estão esperando um melhor preço de mercado?

   Li em um desses blogs vêjicos especializado em bater no que entende por “esquerda” (o PT, vejam só!...) que a “oposição” – supostamente a “direita” – deveria ser mais atuante e opor-se ao que todos os brasileiros ainda não desinformados opõem-se: a escancarada corrupção.

   Não sabe o blogueiro que PSDB e outros que tais jamais foram oposição. No máximo, são PTs mal resolvidos que almejam cargos e, quem sabe, na hora daquela explosão, pretendam mostrar-se ilesos e puros, apesar de completamente chamuscados e mal-cheirosos. Bois para o abate, como tem sido até agora.

   Aliás, a direita oficial só faz alguma coisa quando golpeia o Estado. Além disso, qual a proposta? Salvar o Brasil, de novo, com o apoio dos militares? É assumidamente direita – tradução de inglório retrocesso em ideias e atitudes. Se houvesse uma oposição de fato teria que ser de esquerda, mas cadê a esquerda no Congresso? O formalista PSOL que faz as vezes do antigo PT? (Por falar nisso, o PT fez questão de divulgar um comunicado onde desmente a informação de que teria assinado o manifesto de solidariedade à Coréia do Norte. Pronto! Agora é oficial: o PT apoia os Estados Unidos.)

   Que coisa mais antiga esse incentivo da Veja e amigos para que a direita (se é possível algum partido mais à direita que o PT) cresça e apareça mais atuante enquanto “oposição”. Os militares já deram o golpe decisivo em 1964 e continuam no poder, mesmo que tenham passado as funções executivas para sucessivos amigos Presidentes – inclusive o “Lulinha paz e amor” - que se comprometeram a continuar apoiando o império, como servis vassalos, e a dar aos militares – pelo menos aos mais graduados – a sua cota de invasões e guerras – mesmo que sejam no Haiti e nas favelas do risonho Rio. Também se comprometeram a nada fazer no sentido de uma verdadeira transformação social e política no país, amansando o povo com carnaval, futebol, mídia amestrada e mesadas. Em troca, podem corromper e ser corrompidos.

    Quando o Zé Dirceu disse que deveria ser perdoado ou ter a sua pena diminuída por tudo o que já fez pelo país fiquei pensando para quem aquelas palavras se dirigiam – para o STF, para o povo embasbacado ou para quem realmente manda por trás daquela senhora que insiste em ser chamada de Presidenta?

   Não é muito fácil acabar com guerrilhas não tão perigosas e por mais mal organizadas que tenham sido. É certo que muitos daqueles guerrilheiros d’antanho não tinham quaisquer convicções ideológicas e preferiram revelar a sua subserviência ao deus Mercado usando fraldas de tricô e sobretudos suíços ao voltarem do fabuloso exílio. No entanto, um em cada cem poderia atrapalhar as alianças para a volta das eleições livres, diretas e guardadas em urnas virtuais, que apelidaram de democracia.

   Surpreendeu-se o Brasil com a diminuta pena recebida pelo Genoíno, um dos chefes da quadrilha do Mensalão, esquecendo que talvez tenha sido um presente pela ajuda – talvez inconsciente, sob pressão, ameaça de torturas e outros medos – dada aos militares para matar os guerrilheiros do Araguaia. Agora ele é aplaudido pelos seus iguais do PT e base muito bem alinhada.

   Bomba no Congresso? Eles tem muitos suplentes devidamente treinados em todos os truques corruptíveis. De qualquer maneira, peço ao digno Cristóvam Buarque que se afaste daqueles seres, antes que fique impregnado pelo mau cheiro.

   O dia 16/04/2013 deve ficar marcado como o verdadeiro Dia do Índio. O dia em que a Câmara foi invadida por dezenas de indígenas armados, ameaçando os lídimos deputados, caso eles insistam em votar mais um projeto de lei beneficiando a famosa “bancada ruralista” e prejudicando os indígenas de todo o país. Principalmente os que moram no norte do Brasil e não aceitam que as suas terras sejam entregues à fúria devastadora dos brancos gananciosos via Congresso. Os indígenas do norte, porque no sul e outras regiões da antiga Pindorama o massacre e escravização de mais de dois milhões somente da nação guarani resolveu o problema há séculos.

    Índios armados é força de expressão. Armados com tacapes, maracás e, principalmente, armados com dignidade. Alguns assistentes não indios juram de pés juntos que quando os impávidos deputados viram aquelas armas sairam correndo. A arma da dignidade é mortal para os colossos deputados. Por isto, fugiram.

    Continuam fugindo. Um hábito que adquiriram nas sessões plenárias e secretas, nos conchavos e em todos aqueles acordos que vocês podem imaginar e que devem render um bom dinheiro.

   Fogem dos compromissos assumidos com o povo que neles votou; não acreditam na Justiça, que é lenta, muito lenta e cega, muito cega. Fogem da honestidade, dos princípios, dos valores, da ética, da moral. Fogem de si mesmos, dos seus espelhos quebrados.

    E os indígenas nos dão uma boa lição de atitude. Se eles, os congressistas, estão legislando contra o povo, então, para que servem? Para que serve uma democracia que não é democrática? Temo que os indígenas – verdadeiros brasileiros, porque os demais são invasores escravocratas – acreditem nos deputados brancos, especialistas em acordos e outras patranhas que visam desmobilizar o povo. Ademais, eles pensam que índio não é povo.

   Bomba no Congresso? Existe melhor bomba do que gritar um retumbante não aos que se acreditam donos do país?

domingo, 14 de abril de 2013

A COREIA JUCHE ALÉM DO MARXISMO-LENINISMO



A palavra Juche significa autoconfiança ou autossuficiencia e a Ideia Juche é o que move os norte-coreanos. Kim Il Sung, fundador do Partido do Trabalho da Coreia, foi quem concebeu a Ideia Juche a partir do marxismo-leninismo, nas décadas de 1930-1940, que foi desenvolvida depois por Kim Jong Il. Segundo os teóricos da Ideia Juche, esta não é apenas o marxismo-leninismo adaptado à realidade coreana, mas uma nova ideologia que seria superior ao próprio marxismo. A superioridade da Ideia Juche consiste em que indicando a posição e o papel do homem no mundo esclarece-se de maneira mais científica a maneira como o homem forja o seu destino. De acordo com Kim Jong Il: “Se o marxismo criou pela primeira vez a concepção revolucionária de mundo da classe trabalhadora, a Ideia Juche a aperfeiçoou, desenvolvendo-a a uma etapa superior”. O princípio básico da Ideia Juche é que as massas são donas do mundo e de seu próprio destino.

   Além disso, o patriotismo e o nacionalismo são muito importantes na Ideia Juche, levando-se em conta o fato de que um povo que não ama a sua pátria não poderá desejar o melhor para ela e para si mesmo: o socialismo. A Ideia Juche não acredita que aja qualquer contradição entre patriotismo, nacionalismo e socialismo. Sobre o nacionalismo, Kim Jong Il, que escreveu mais de 800 textos sobre a Ideia Juche, afirma que deve-se diferençar o verdadeiro nacionalismo do “nacionalismo da burguesia”, que é sinônimo de exclusivismo, egoísmo nacional e chauvinismo.

   A Ideia Juche resgata parte da herança cultural do Oriente ao introduzir junto ao socialismo posturas éticas ligadas ao confucionismo, taoísmo e budismo. Assim, o amor à pátria deve nascer dentro da primeira célula, com o amor à família, o respeito mútuo, o amor romantizado, a ausência de pornografia, drogas ou atitudes grosseiras; desenvolver-se através da comunidade, onde todos devem colaborar para o bem de cada um e de todos e redundar no que é considerado o verdadeiro nacionalismo socialista, isento de individualismo sem negar o indivíduo.

   O nacionalismo como base do socialismo é uma das principais discussões entre os teóricos marxistas, desde que Marx e Engels ao observarem o período pré-imperialista do capitalismo, entenderam que a revolução proletária deveria ser necessariamente internacionalista. Logo após o triunfo da revolução socialista na União Soviética, as transformações mundiais revelaram o surgimento do capitalismo monopolista e do imperialismo, que reflete as desigualdades sociais também entre os países, ou o desenvolvimento desigual entre os países.

   Após a morte de Lênin, em 1924, ocorreu uma grande discussão dentro do Partido Comunista da União Soviética entre Stálin, que propunha “o socialismo em um só país”, e Trotsky, que defendia “a revolução permanente”. Trotsky acreditava que o proletariado deveria fazer a revolução socialdemocrática – no lugar da burguesia, cada vez mais conservadora – e em seguida evoluir para a revolução socialista. Ao mesmo tempo, entendia que a revolução poderia ser limitada a uma só nação, mas internacionalizada e desenvolvida rapidamente em outros países para poder resistir à pressão hostil dos países capitalistas.

   De certa forma, Trotsky repetia a visão mais ortodoxa de Marx e Engels, mas, como citado acima, na época pré-imperialista do capitalismo. Por seu lado, Stálin defendia que naquele momento histórico, posto que o capitalismo assumira formas monopolistas e imperialistas, acelerando as leis do desenvolvimento desigual, e usando o marxismo não como um dogma, mas como um método de reflexão e ação, e dado a derrota de todas as revoluções socialistas na Europa, excetuando-se a União Soviética, a revolução soviética deveria, em primeiro lugar, reforçar-se internamente.

   Alguns afirmam que esta teria sido uma tese desenvolvida por Nikolai Bukhárin, em 1925, e adotada no XIV Congresso do PCUS. Outros, no entanto, dizem que Stálin se baseava em Lênin que escreveu: “O desenvolvimento econômico e político é uma lei absoluta do capitalismo. Então, a vitória do socialismo é possível em alguns ou mesmo em um país capitalista, tomado isoladamente.” (Escritos Selecionados, V. I. Lênin). Além disso, em “Programa da Revolução Proletária”, Lênin escreveu: “O desenvolvimento do capitalismo procede de forma extremamente desigual nos diversos países. Isto não pode se dar de forma diferente sob o sistema de produção de mercadorias. Disto segue, irrefutavelmente, que a vitória do socialismo não pode ocorrer simultaneamente em todos os países. O socialismo alcançará a vitória primeiro em um ou alguns países, enquanto os demais permanecerão burgueses ou pequeno-burgueses por algum tempo”.

   Com a vitória política de Stálin sobre Trotsky a União Soviética desenvolveu-se dando maior ênfase ao nacionalismo do que ao “internacionalismo proletário”. Marx e Engels entendiam que o proletariado deveria unir-se mundialmente enquanto classe que tem os mesmo interesses e objetivos. No entanto, as diferenças sociais de país para país muitas vezes transformou essa suposta união em traição, uma vez que nos países imperialistas e seus “aliados” ou vassalos ideológicos, o proletariado nada mais deseja que a ascensão para a pequena-burguesia, da qual adota a cultura e pela qual é massificado pacificamente.

   Mesmo assim, correntes trotskistas do mundo inteiro interpretam um socialismo nacionalista como o da República Democrática Popular da Coréia com certa suspeita e até algum ranço dogmático, porque “está escrito” que o nacionalismo é pequeno burguês – mesmo que seja socialista.

   De acordo com Gabriel Martinez (“Sobre alguns problemas referentes à educação Juche”) “...Isso não quer dizer, de nenhuma maneira, que se enalteça somente a nossa nação, desprezando as outras. Nós, os comunistas, não podemos nos converter em nacionalistas. Ao mesmo tempo, somos autênticos patriotas e internacionalistas. Se insisto em dar a primazia à nossa nação é para destacar a necessidade de fazer de maneira independente a revolução e a construção com o espírito de considerá-la como o que é mais precioso e com um significativo orgulho nacional. Os que idolatra, às cegas, a outras, desdenhando a sua nação não podem ser fiéis ao seu partido ou ao seu povo nem ter uma atitude de donos da revolução do seu país...”

 A Ideia Juche, que prevê a independência através da autossuficiência de cada país socialista não exclui o marxismo ou o internacionalismo, mas vai além ao afirmar que cada país tem características próprias que devem ser preservadas e que cabe a cada nação escolher o socialismo e a igualdade como necessidade de sobrevivência contra o capitalismo sem depender de alianças e tendo como base a autoconfiança = Juche.

Quando se pergunta porque os Estados Unidos e aliados que formam as forças da OTAN estão tão preocupados com a pequena República Democrática Popular da Coréia, a ponto de fazerem manobras ostensivas anualmente em suas águas na tentativa de provocar uma guerra, talvez a resposta não esteja no domínio territorial, na geopolítica.

Muito provavelmente temem a Ideia Juche, que já se espalha pelo mundo. Atualmente, existem o Instituto Internacional da Ideia Juche, o Instituto Asiático da Ideia Juche, o Instituto Regional Africano para o Estudo da Ideia Juche e a Associação da Região Europeia para o Estudo da Ideia Juche. Na América Latina, desde 1978 existe um instituto continental da Ideia Juche. Nos dias de hoje, há mais de mil grupos de estudo, vinte e sete comitês nacionais e quatro organismos continentais.

Nos anos 2000 aconteceram mais de trezentos simpósios sobre a Ideia Juche em mais de quarenta países. Estados Unidos e aliados, assim como alguns setores da esquerda acomodada, temem que o marxismo, através da Ideia Juche, novamente se torne revolucionário e nada mais sabem fazer que tentar destruir a Coreia do Norte a qualquer preço. Mas ideias não podem ser destruídas.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

A GUERRA SECRETA (3) – EM BUSCA DA CIÊNCIA PERDIDA



De 1734, quando Swedenborg escreveu o ‘Principia’, que continha a teoria atômica, até 1945, que marcou o fim de um período e revelou o século XX como o momento de maior insensibilidade da história humana, a começar pelo bombardeio atômico de Hiroshima e Nagasáki pelos Estados Unidos, decorreram 211 anos. E de 1776, ano da fundação oficial dos Illuminati e da independência dos Estados Unidos, até 1948, quando a ONU e o Estado de Israel foram criados artificialmente sob os auspícios dos vencedores das guerras mundiais por eles patrocinadas, foram 172 anos em que a História foi mistificada, alterada, reconstruída, remodelada por aqueles que se propunham dominar o mundo e nivelar a opinião pública a massa moldável.

  211 anos em busca do elo perdido chamado tecnologia. Ou bem menos. O Renascimento, que se calcula tenha começado por volta de 1500, mais que a época da exultação das artes, da intensidade do comércio que transformou mercadores em burgueses que compravam títulos nobiliárquicos, foi o tempo em que se buscava o ouro alquímico, a transformação da natureza, a pedra angular do edifício humano. Jesus dissera, de acordo com os evangelhos, que ele era essa pedra angular que os construtores tinham esquecido, mas quem atentava para os ensinamentos de Jesus, para o Cristianismo, para qualquer das religiões que se tornavam em estorvo para os que se consideravam guias de um nascente iluminismo que mostrava o caminho para a idade da razão?

  Dentro das Lojas conspirava-se a queda dos poderosos que deveriam abrir caminho para o poder dos conspiradores, e aos neófitos dava-se a mistificação de um cego espiritualismo que desejava riquezas e imortalidade. Lojas que serviam de cortina de fumaça para outros subterrâneos onde era pesquisada a manipulação da natureza.

  Alguns caminhos estavam abertos, pistas tinham sido levantadas. Sabia-se, entre os mestres ocultos e até entre os não muito ocultos, que a história do homem era muito anterior à suposta criação de Adão; que civilizações longínquas no tempo teriam tido acesso a uma desconhecida ciência que lhes dera inusitada força e poder; que os povos muito primitivos encontrados nos diversos lugares, naquela era de descobrimentos, seriam resquícios da força cósmica desperdiçada pelos antigos - pessoas, tribos e nações inteiras que teriam involuído após as trágicas hecatombes provocadas pelo abuso da misteriosa ciência perdida nos tempos.

  Não só o homem nasce e renasce - revelavam os rituais secretos. Também as civilizações. Livros pseudo-esotéricos eram escritos para “quem tinha olhos para ver e ouvidos para ouvir” com relatos  fantásticos sobre os continentes de Mu, Botswana e Atlântida; sobre Agarta, o misterioso lugar onde estariam recolhidos os maiores sábios, no interior da Terra, velando pelos destinos da humanidade e, eventualmente, saindo à superfície com seus brilhantes veículos esféricos para passar instruções aos adeptos mais evoluídos. Os clássicos livros sobre os hindus eram lidos e reinterpretados. Ali estava escrito que as grandes batalhas relatadas no Mahabaratha, principalmente, teriam sido travadas com carros voadores – os vimanas – e as armas utilizadas matavam milhões de guerreiros. Alvoroçavam-se os ocultistas de fachada: quem possuísse o segredo daquelas armas deteria o controle da humanidade.

  Qual a grande descoberta dos Templários, que os fizera tão poderosos e, mesmo depois de séculos da sua oficial extinção, dera o ensejo à formação de sociedades secretas que se diziam espiritualistas e que só eram secretas porque buscavam o poder material? Era inevitável que alguém, em algum lugar, soubesse. No século XVII, da Alemanha apareceram os manifestos rosacruzes, espalhados na Paris elétrica por novos conhecimentos. Mais encobriam que desvelavam, e sugeriam grandes segredos.

  No mesmo século, os práticos maçons ingleses fundavam a Real Sociedade, reunindo cientistas que não buscavam a pedra filosofal e sim os segredos da natureza, aquele vasto armazém – como escrevera Francis Bacon, o filósofo maçon apontado pelos maçons que o cercavam como o verdadeiro autor dos textos rosacruzes, das obras de Shakespeare e – quem sabe? – da descoberta da América e de se travestir de rainha da Inglaterra quando necessário. Domar a natureza era uma fixação para Bacon & Cia e, para isso, sabia-se, era preciso descobrir os meios de utilizar a eletricidade. Muitos anos mais tarde, Lênin diria que “o bolchevismo é os sovietes mais a eletricidade”. Mas Lênin não era maçom ou Illuminati e o socialismo soviético não aceitaria sociedades secretas, consideradas antidemocráticas e elitistas.

   O que faziam os maçons franceses que entravam no século XVIII brincando de esoterismo filosófico, falando em liberdade de pensamento, escrevendo enciclopédias, ameaçando uma monarquia fraca e desdenhosa de si mesma, mas inconscientemente aliada, pois não ajudara os Estados Unidos na sua guerra de independência com muito dinheiro, armas e um pequeno exército, apenas para irritar a Inglaterra?

   A sisuda Grande Loja da Inglaterra não podia admitir que os maçons franceses se declarassem ateus e republicanos justamente naquele século de tantas luzes quando o capitalismo tomava forma, o italiano Alexandre Volta conseguia, finalmente, produzir e acumular energia através da sua famosa pilha, Newton descobria as leis que regem os corpos celestes e a Austrália era incorporada ao império inglês, para maior glória de Sua Majestade britânica.

   Os jesuítas tinham sido expulsos e os que restavam estavam muito longe, na Rússia, sob a proteção da czarina Catarina II. Aparentemente, não representavam mais perigo para as pretensões maçônicas. A Igreja estava sob controle. O amedrontado Papa Clemente XIV aceitara extinguir a Companhia de Jesus um ano antes de morrer de pneumonia, em 1774, e era substituído por Giovanni Angelo Braschi, que somente foi eleito Papa adotando o nome de Pio  VI após prometer aos maçons não reconstituir a Companhia de Jesus.

   O que era muito difícil. As demais ordens católicas, geralmente formadas com pessoas de pouca instrução, estavam condenadas à histeria religiosa que leva ao retrocesso, e somente os jesuítas se destacavam intelectualmente dentro de uma Igreja que poderia soçobrar caso permanecesse encalhada em seus velhos conceitos em um mundo que desejava luz, mais luz!

   O gigantesco saber dos jesuítas criara a república socialista dos guaranis na América do Sul recém descoberta e já escravizada pelos seus donos maçons. Os jesuítas propunham uma Igreja missionária e verdadeiramente cristã, o que não correspondia ao ideal de humanidade de espanhóis e portugueses escravocratas. A guerra contra jesuítas e guaranis durou vários anos, produzindo heróis até hoje cultuados, como Sepé Tiaraju, chamado de São Sepé. E mesmo depois que os jesuítas foram expulsos, a guerra somente foi dada como terminada em 1811, quando o marquês de Alegrete arrasou as últimas reduções. Sobre esses atos de bravura, escreveu Clovis Lugon: “A guerra, em si mesma horrível, é um dos maiores flagelos da humanidade, mesmo quando, por vezes, é necessária; mas invadir um território estrangeiro, devastar, saquear aldeias desarmadas, forçar os habitantes a assistirem a esses atos de horror e, depois, transportá-los violentamente para outro país, é próprio de nações bárbaras. Foi o que aconteceu nas Missões ocidentais, em consequência das ordens do Marquês de Alegrete, governador e capitão-geral da capitania do Rio Grande do Sul”.

   Na França, a luz cegava. A guerra secreta entre os muito místicos e os muito gananciosos dava a momentânea vitória aos últimos. Maçons, que hoje se arrogam o direito de ter fabricado a Revolução Francesa, com o apoio do povo iludido que acreditava que a revolução era para ele e não para a nova classe burguesa, derrubavam Luiz XVI, entronizavam a “Deusa Razão” no altar-mor da Catedral de Notre Dame e, depois de um período de hesitação e muitos discursos, davam início ao reinado da guilhotina. A família real, príncipes, sacerdotes, cientistas como Lavoisier, poetas como Andrè Chenier, além de milhares de outros franceses foram guilhotinados. Por último, os próprios chefes da revolução: Danton, Robespierre, Valmy, Hébert... A serpente comia a própria cauda.

   Em 1782, alguns anos antes do começo do que foi chamado de Revolução Francesa e que não passou da tomada do poder pela burguesia, que deu ao povo iludido um hino, uma bandeira e uma república que logo se transformaria em monarquia, as organizações secretas, iluminados e maçons nem tanto, mas sempre iluministas, convocaram um convento em Wilhemsbad, inaugurado em 16 de julho por Ferdinand, duque de Brunswick.

   Muitas e transcendentes questões foram tratadas naquele convento – uma espécie de Clube Bilderberg da época – onde toda a nobreza esteve representada. Falou-se muito em unificar a maçonaria em um único regime, na tradição escocesa que já dominava a maçonaria dos Estados Unidos com a instituição dos chamados “Altos Graus”, que daria origem, na Europa, ao Regime Escocês Retificado, mas, principalmente, era muito importante manter a união entre os maçons martinezistas (de Martinez de Pasqually) e a Estrita Observância Templária.

  Um convento que visava a reorganização dos centros ocultos do poder. Além disso, se a maçonaria de fato era uma continuação dos Templários, porque não reivindicar as possessões e riquezas daqueles antigos cavaleiros, assim como os seus mistérios científicos? Sobre este tópico, Willermoz – que depois fundou a nostálgica Ordem dos Benfeitores da Cidade Santa – foi contra. Para ele, “... a ciência maçônica tem passado pelos cavaleiros templários como alguns rios passam pelos grandes lagos, sem perder-se nem confundir-se totalmente com eles, de onde saem, talvez, retendo certas qualidades e propriedades particulares do lago que atravessaram...”

   Não ficou claro se aqueles senhores conseguiram reivindicar os tesouros dos Templários  (incluindo os científicos), mas o que perturbou o convento, que desejava os altos graus para tornar a maçonaria muito templária – conforme aconteceu mais tarde, com a maçonaria inglesa do Real Arco e a francesa do Rito Escocês Antigo e Aceito – foi a presença dos racionalistas, liderados por Adolf Franz von Knigge e Franz Friedrich Dittfurth von Wetzlar, representantes dos Iluminados da Baviera.

    Apontavam para uma nova era e acusaram a Estrita Observância Templária de estar a favor da Igreja Católica Romana, infiltrada por jesuítas. Mesmo sabendo que seriam derrotados, foram claramente contra a restauração templária. Curioso o fato de justamente uma organização fundada por um jesuíta (Adam Weishaupt) acusar a maçonaria de estar infiltrada por jesuítas para poder infiltrá-la posteriormente com os poderosos acenos da razão e da liberdade de pensamento. Uma estratégia que visava, claramente, impedir que os Illuminati fossem identificados com os jesuítas, e, ao irem contra a Estrita Observância Templária, empurravam os maçons para o templarismo materialista, conforme já estavam fazendo nos Estados Unidos.

  Iluministas martinistas confrontavam-se com os Illuminati da Baviera, que logo estariam povoando as Lojas de maçons esperançosos pela descoberta da ancestral ciência oculta que daria aos escolhidos todo o poder do príncipe deste mundo.

   No convento de Wilhemsbad, em 1782, Ferdinand, duque de Brunswick, foi proclamado Grande Mestre do Regime Escocês Retificado; Willermoz foi considerado como uma grande luz maçônica e os Illuminati conseguiram importantes adesões, como a do príncipe de Hesse-Cassel e de Jochan Joachín Bode, delegado do duque Ernst von Gotha. A instauração da Sinarquia, com o domínio do mundo a médio e longo prazo passou a ser uma obsessão para os maçons que foram infiltrados de tal maneira pelos Illuminati que poucos anos depois, em 1789, davam início à era da Razão e da guilhotina, com o apoio do povo que se acreditava autor da História.


(Continua).

domingo, 7 de abril de 2013

A ALIADA CHINA




Desde a morte de Mao-Tsé-Tung, em  1976, começou o desmantelamento dos fundamentos socialistas na China que ainda se diz “comunista” mas não passa de um braço do imperialismo no extremo-oriente. Aos poucos, o socialismo foi sendo abolido e Mao passou a ser apenas uma referência histórica cada vez mais distante.

   De 1967 a 1976, apesar da crescente oposição da direita dentro do Partido Comunista Chinês, foram tomadas algumas medidas visando a permanência de certo grau de coletivização de terras no campo, de muitas mini-indústrias no interior, dos ‘médicos de pés-descalços’ em algumas regiões, da integração entre teoria e prática no ensino e do estudo do pensamento marxista-leninista e maoísta.

   Com a morte de Mao, o PCC passou a ser um Partido Capitalista Chinês, mais reformista do que a União Soviética a partir de Kruschev, implementando reformas que tiveram um caráter economicista, por priorizarem apenas o crescimento econômico, e uma propaganda mecanicista, defendendo-se a tese de que isso proporcionaria uma base sólida ao socialismo, sem mencionar a luta de classes como fator fundamental numa sociedade em transição ao mesmo.

   Colocou-se como exigência para a manutenção de fábricas a obtenção de lucro e a obediência dos operários a regras rígidas do processo de produção e do trabalho, eliminando sua criatividade e suas possibilidades de organização em associações ou sindicatos. Desta forma, foram fechadas companhias pequeno e médio porte que possuíam importante valor de uso nas comunas, mas que não eram lucrativas, enquanto, por outro lado, eram criadas as Zonas Econômicas Especiais (ZEE), nas quais são permitidos os investimentos estrangeiros, as empresas privadas nacionais e as joint-ventures.

   As ZEE, junto a outras cidades grandes, atraíram milhões de chineses, provocando um êxodo rural de 30% da população até 1984, com uma taxa média de 20% de desemprego e o retorno da prostituição e contrabando, problemas sociais eliminados no governo Mao.

   Um dos efeitos colaterais da migração para as grandes cidades foi o desmantelamento das comunas e a introdução de um sistema de agricultura que reservava estreitas faixas de terra a cada família, impedindo a mecanização e acabando com a administração coletiva de cada brigada de produção ou comuna. Isso fez com que apenas os quadros e burocratas do PCC - bem como seus familiares e amigos -enriquecessem por meio da posse de antigos bens comunitários e de esquemas diversos de corrupção possibilitados pelo novo sistema.

   As resistências populares a essa nova ordem na China foram duramente abafadas, agravando o quadro de miséria da população e gerando uma “guerra pela sobrevivência” não só em áreas urbanas, mas também nas rurais, onde passou a ocorrer uma destruição ambiental sem precedentes e um aumento exponencial da taxa de natalidade – resultado da estratégia das famílias de garantir seu sustento no futuro, uma vez que o estado mínimo de bem estar social havia desaparecido –, o que fez com que o governo criasse a lei do filho único como parte de seu projeto de modernização e provocasse, em conseqüência, o difundido infanticídio de bebês do sexo feminino.

   O novo sistema sócio-econômico foi apelidado de capitalismo de estado, mas alguns estudiosos afirmam que a melhor denominação seria capitalismo burocrático, porque somente a elite e os quadros obedientes do Partido são beneficiados.

  Em sua política exterior, a China faz grande propaganda do seu “socialismo”, procurando aliar-se aos países verdadeiramente socialistas, como Vietnã e Coréia do Norte. Na verdade, atuando como uma espécie de “cavalo de Tróia” nesses países, procurando atraí-los para a sua área de influência mercantilista, atuando principalmente sobre os países asiáticos através de alianças e acordos bilaterais, objetivando colocar esses países sob a sua dependência militar e econômica. De certa maneira, faz o jogo do império, tentando tomar conta da Ásia junto com o Japão (leia-se Estados Unidos), incentivando o liberalismo econômico com uma retórica pseudo-marxista, mas que tem como objetivo final a transformação daqueles países ainda socialistas em satélites capitalistas.

 Um dos primeiros sinais de que a China estava mudando foi a guerra que moveu contra o Vietnã, em 1979. Naquela época, o Vietnã, que saía vencedor de uma longa guerra contra os Estados Unidos foi invadido pela China em 17 de fevereiro de 1979 e fez voltar o inimigo derrotado em 16 de março do mesmo ano. A imprensa ocidental tentou explicar a guerra como uma reação chinesa contra a aliança do Vietnã com a União Soviética. A verdade é que a China tentou fazer o que o seu provável aliado, os Estados Unidos, não conseguira em mais de dez anos: invadir e conquistar o Vietnã. Não conseguiu, mas levou o Camboja consigo.

Com o estado de guerra na península da Coréia o mundo inteiro ficou sabendo que o único país aliado da Coréia do Norte é a China. Um aliado perigoso e suspeito.

Os Estados Unidos estão fazendo de tudo para que a Coréia do Norte dê o primeiro tiro, principalmente através das manobras provocatórias de quase dois meses, com exercícios de tiro real e ostentando armas de todos os tipos, inclusive as nucleares. Sem se deixar intimidar, a Coréia do Norte diz que reagirá, inclusive ameaçando com guerra nuclear, esperando que o inimigo se afaste das fronteiras ou diga a que veio. Os Estados Unidos aumentam a pressão, revelando que não temem a aliança militar da Coréia do Norte com a China.

E talvez não haja o que temer. Desde o dia 19 de março, a China enviou mais de 70.000 soldados, blindados e aviões de combate para a província de Jilin, que faz fronteira com a Coréia do Norte. Realizou amplas manobras navais e suas forças armadas estão em alerta máximo.

À primeira vista poderá parecer que toda essa demonstração de força das forças armadas chinesas são para proteger o fronteiriço país aliado. No entanto, convém lembrar que, em janeiro último o  Conselho de Segurança da ONU aprovou, por unanimidade, expandir as sanções contra a Coréia do Norte. Por unanimidade significa com o apoio da China.

A Coréia do Norte está cercada por todos os lados e neste domingo, 7 de abril, o presidente chinês, Xi Jinping, afirmou que não iria tolerar que “problemas” fossem criados na região e “às portas da China”. Nunca antes os representantes chineses falaram contra as manobras das forças armadas estadunidenses nas águas próximas ao seu país. Como falar contra um país amigo, talvez com algumas pendências econômicas que poderão ser resolvidas discretamente por diplomatas?

Denunciar a aliança com a Coréia do Norte e atacá-la pela fronteira oposta a da Coréia do Sul, facilitando a invasão dos Estados Unidos, talvez seja a missão que o império está delegando à China, que poderá tentar repetir o que fez contra o Vietnã em 1979, quando declarou guerra no dia 15 de fevereiro e invadiu dois dias depois. Naquela época, foi derrotada, mas agora terá outra grande potência como aliada e, se tudo der certo e a Coréia do Norte for destruída, muito provavelmente a China participará do rico espólio.

sábado, 6 de abril de 2013

O BRASIL CONTRA A CORÉIA DO NORTE



PCdoB, PT, PSB e mais alguns movimentos e sindicatos, como CUT e MST, que se dizem “progressistas e anti-imperialistas” enviaram, no dia 2 de abril, uma declaração conjunta à embaixada da República Popular Democrática da Coréia, mais conhecida com Coréia do Norte, em Brasília. Nela, solidarizam-se com a luta dos norte-coreanos contra as provocações dos Estados Unidos, que desejam levar a península a uma guerra e prometem lutar para que o mundo se mobilize contra as “maquinações de guerra” dos Estados Unidos e seus parceiros. “Incentivaremos a humanidade e os povos progressistas de todo o mundo e que se opõem à guerra, que se manifestem com o objetivo de manter a Paz contra a coerção e as arbitrariedades do terrorismo dos EUA”.

   Bonito e elogiável. Os membros da embaixada norte-coreana devem ter ficado muito felizes e agora estão esperando, com certeza, que esses partidos sindicatos e movimentos cumpram com a sua palavra. Estamos esperando. Melhor seria se o governo Dilma/Lula também se manifestassem nesse sentido, posto que os três partidos que assinam o documento e que se dizem “progressistas e anti-imperialistas” pertencem à base do Governo, sendo que o PT, depois do PMDB (que obviamente permaneceu quieto) é o maior partido no Congresso e elegeu os dois últimos Presidentes – Lula e Dilma. E Dilma será reeleita, apesar dos aécios da vida, principalmente se o Brasil ganhar a Copa do Mundo.

   Estamos esperando as manifestações do PT & Cia contra o terrorismo dos EUA na Coréia. Até agora não sei de nada, de nenhuma passeata ou coisa parecida, mas posso estar mal informado. Também não sei se a Dilma já se manifestou fortemente a respeito da clara tentativa de invasão dos EUA na Coréia do Norte, que só não foi ainda efetuada devido ao perigo de uma guerra nuclear. Afinal, com toda a imprensa demonizando a Coréia do Norte, seria necessária muita coragem e destemor da Presidente para falar a favor do povo norte-coreano. Isso implicaria em ir contra as ordens dos Estados Unidos, contra alguns acordos secretos e não secretos que o seu governo tem feito com aquele país.

   E contra nossos bravos militares, que tanto amam os Estados Unidos e estão loucos por uma guerrinha qualquer para dar outro golpe. Deixaram Lula e Dilma no governo desde que não saiam do ditado de Washington: em primeiro lugar o capitalismo. Em troca, ganharam o Haiti, manobras nas favelas e navios na costa do Líbano, o que não é pouco. Se pudessem, estariam participando das “manobras” contra a Coréia do Norte. Acreditam firmemente que o Brasil é dos Estados Unidos e deve continuar assim. Ai da Dilma se abrir a boca contra os patrões! Será demitida na hora.

   Temos um governo que já está acomodado à situação carcerária da nossa autonomia, independência e dignidade. E os partidos que o apóiam, apesar da retórica, são pobres em ideologia e extremamente carentes de qualquer atividade que não diga respeito a conchavos e eleições. O Brasil participa do sub-imperialista grupo dos BRICS (Brasil, Rússia, India, China e África do Sul), mas não quer participar, de jeito nenhum, da latino-americana ALBA (Aliança Bolivariana), que é declaradamente anti-imperialista.

   O governo brasileiro é obediente e seus partidos seguem a linha do fingimento ostensivo. A demagogia é tanta que mandam cartinhas de apoio para um governo, como o da República Popular Democrática da Coréia, com o qual nunca tiveram qualquer afinidade e, principalmente, contra o qual sempre atenderam às resoluções da ONU e dos Estados Unidos. Vejam o exemplo abaixo.

        

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso IV, da Constituição, de acordo com o artigo 25 da Carta das Nações Unidas, promulgada pelo Decreto no 19.841, de 22 de outubro de 1945, e

Considerando a adoção, pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, ao amparo do Capítulo VII da Carta das Nações Unidas, da Resolução nº 1.874, de 12 de junho de 2009, que aprofunda medidas previstas na Resolução nº 1.718 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, de 14 de outubro de 2006, incorporada ao ordenamento jurídico nacional pelo Decreto nº 5.957, de 7 de novembro de 2006, e, entre outros dispositivos, proíbe a exportação de armas e materiais relacionados pela República Popular Democrática da Coreia e restringe sua importação por aquele País; autoriza a realização de inspeções em embarcações destinadas à República Popular Democrática da Coreia, ou dela provenientes; restringe as atividades financeiras da República Popular Democrática da Coreia; e exige a cessação de todas as atividades nucleares e balísticas da República Popular Democrática da Coreia;

DECRETA:

Art. 1º Ficam as autoridades brasileiras obrigadas, no âmbito de suas respectivas atribuições, ao cumprimento do disposto na Resolução nº 1.874 (2009), adotada pelo Conselho de Segurança da Nações Unidas em 12 de junho de 2009, anexa a este decreto.

Art. 2º Este decreto entra em vigor na data da sua publicação.

Brasília, 12 de agosto de 2009; 188 da Independência e 121 da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Celso Luiz Nunes Amorim


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