domingo, 30 de janeiro de 2011

CRACK E BOLINHA DE SILICONE


I

Um relato curioso, mas não incomum:

     “Comecei a me dar conta aos poucos. Uma nova família tinha se mudado para um dos apartamentos térreos do edifício. Ao mesmo tempo, outra família mudou-se para o apartamento em frente. Mães e filhos, alguns adolescentes, outros não.

     “Ouvia gritos durante a noite, correrias no corredor, portas batendo, o portão da frente sendo atropelado; pessoas estranhas entrando, pessoas estranhas saindo. Todos jovens, daquele tipo que dá muitas risadas, falam alto nos seus celulares fora dos apartamentos, tem namoradas que riem e também falam alto como eles e ajudam a fazer todos os barulhos possíveis...

     “Tem motos. Nos fins de semana outras motos aparecem, com o mesmo tipo de fauna dirigindo. Entram correndo, saem correndo, espirrando, tossindo, rindo estranhamente.

     “Aos poucos, fui me dando conta. Não eram apenas jovens mal educados. Tinha algo mais. Comecei a me informar. Não estudam, não trabalham. Aliás, um ou outro diz que trabalha, mas não parece.

     “Foi quando um dos moradores foi embora, dizendo que não aguentava o cheiro. Não sabia dizer se era de crack ou de maconha. Outro, está pensando em se mudar. A janela do filho dele, que é doente, dá para a área de serviço de um daqueles apartamentos. A fumaça entra toda. O filho passa mal e ele tem que conservar aquela janela sempre fechada, mesmo no verão.

     “Quando perguntei a um dos vizinhos mais assustados porque ele não denunciava na polícia, respondeu que tinha filhos e que “para meter com aquela gente tinha que estar muito calçado”. Não entendi direito a expressão. “Estar muito calçado” é estar bem apadrinhado, andar armado ou simplesmente andar com os melhores calçados? Ou tudo isso?

     “As mães não ligam. Não se sabe se são cúmplices ou simplesmente não se importam. Costumam sair nos fins de semana para namorar. Os filhos tomam conta. Junta gente e fazem uma zoeira que só vendo.

     “Reclamou-se. Reclamou-se bastante. Um dos apartamentos pertence a um senhor muito delicado que, na terceira reclamação por telefone explicou que colocando bolinha de silicone nos ouvidos resolvia. Explicou delicadamente.

     “Fizemos uma “vaquinha” para comprar bolinha de silicone. Está muito cara e escasseando. A grande maioria dos edifícios da cidade tem o mesmo problema e como os donos de imobiliárias recomendam a mesma coisa – colocar bolinha de silicone nos ouvidos – todos começaram a comprar a tal de bolinha de silicone, que dizem que é importada e custa muito caro.

     “Foi quando alguém me disse que não é somente consumo. Alguns seriam traficantes conhecidos. Carros e motos param na frente do edifício, com pessoas ansiosas pela sua droga.

     “Suspeita-se que não deva ser só maconha. Suspeita-se de muita coisa.

     “Já houve quem foi a uma delegacia reclamar e me contou que foi tratado como se ele fosse o traficante, o meliante, o indivíduo ou que outro nome os policiais usam para esse tipo de gente. Como reclamar se não houve ocorrência?

     “Mas outro amigo foi a outra delegacia e foi tratado muito bem. As investigações começarão futuramente.

     “Vamos esperar. Enquanto isto, o que devemos fazer? Andar armados?”

II

     Mais um programa sobre crack. Igualzinho a todos os outros que já assisti. Só mudou uma coisa. Agora o viciado é tratado como doente. E a razão desta “doença” é a ausência do pai na infância ou ausência da mãe ou ausência de qualquer coisa que deveria estar presente.

     Não é a educação ou a ausência dela. Nem se fala nisso. São problemas emocionais que encontram seu alívio no consumo da droga mortal. Dizem que a droga é mortal. Muitos morrem devido a ela. Principalmente os que não são viciados, mas são assaltados e mortos. A polícia só trata de casos assim: ocorrências.

     Neste último programa sobre crack, o repórter correu o Brasil inteiro, foi nas mais diversas cidades; entrevistou viciados e ex-viciados. Fez tudo o que um bom repórter deve fazer. Tudo o que estava na pauta. Não estava na pauta buscar a origem, a causa, o porque. Não estava na pauta perguntar aos donos do poder, os assim chamados governantes, porque eles não combatem os fabricantes.

     Por que o governo não combate os fabricantes de crack e de outras drogas?

     Medo não deve ser. Quando quiseram, invadiram algumas favelas, lá no Rio, para poderem inaugurar um teleférico onde o Lula desfilou.

     Esse tipo de programa sobre crack fala apenas dos viciados, ou dos doentes, como preferem dizer agora. Muitos psicólogos e psiquiatras devem estar ganhando bem com essa nova doença. Principalmente se a família do viciado-doente for de classe média para cima. Abaixo da classe média não tem importância: pode ficar atirado, dormindo na rua e consumindo a sua droga-doença diária.

     Menos gente para competir no mercado de trabalho, pedir bolsa-desemprego, bolsa-família e incomodar de alguma maneira. O governo é pragmático. Este é um país livre – cada um pode se matar como quiser.

     Mas porque o governo não combate o fabricante da droga?

     Não confunda com traficante. Traficante é aquele que trafica, que vende para os interessados. Esses o governo combate. Pelo menos na televisão. Volta e meia vemos prisões de famosos traficantes – e até de não tão famosos assim.

     Mas o traficante só existe porque existe o fabricante. E quem fabrica deve saber fabricar; deve conhecer química, talvez até sejam pessoas formadas em química. Há quem diga que grandes empresas químicas, aquelas que fabricam as drogas permitidas, estão envolvidas. Mas deve ser boato. Há quem diga que pessoas saem das faculdades – pessoas formadas em química – com trabalho garantido em empresas de fabricação de drogas proibidas. Poderá ou não ser boato. Química está virando uma profissão atraente.

     Por que só falam do viciado, ou do doente, como se nele estivesse a causa do seu vício-doença? Como se somente dependesse dele livrar-se da droga-doença? Se a droga não existisse, não existiria o viciado-doente, não é óbvio?

     Ou será que, realmente, existe interesse em se formar um público consumidor fiel desses produtos alternativos, oficialmente proibidos? É muito dinheiro a ser lavado. O governo é cúmplice disso, ao não combater a fabricação da droga?

     Há uma grande campanha para que todos pensem que a culpa é do viciado e não do fabricante de drogas. Para que todos tenham pena daqueles coitados que vivem atirados nas ruas fumando os seus cachimbos de crack. Mas não fumariam se não existissem as pedras de crack.

     Qual o interesse do governo em não combater a causa da doença-droga-vício? Ou é somente desinteresse?

     Aquele repórter, naquela matéria sobre crack, entrevistou alguém do governo. Uma diretora ou presidente de uma daquelas instituições governamentais. Não lembro a sigla. Está fazendo uma pesquisa muito aprofundada sobre o crack no Brasil. Acumulando detalhes, índices, verbetes, a respeito. Pesquisando as causas e conseqüências do efeito do crack sobre os usuários.

     Fiquei pasmado, quase chapado, mas a minha caretice me impediu de chegar a tal. Para que serve aquilo tudo? Para uma tese de mestrado ou doutorado? Mas, na prática, o que faz o governo contra os fabricantes?

     Há quem diga que os fabricantes não moram no Brasil. Este país é imenso, mas não tem lugar para eles. Eles estão nos países menorzinhos das redondezas. Mesmo se fosse assim – e eu não acredito – não seria muito difícil chegar aos fabricantes através dos traficantes.

     Pedras de crack rolam pelas cidades do Brasil inteiro e ninguém sabe de onde elas vem? A culpa é dos viciados que caíram em tentação?

III

     Cuidados ao sair de casa, cuidados ao chegar em casa. Para você conseguir uma arma defensiva neste país, só depois de muita burocracia. Menos para os traficantes. Talvez seja mais fácil comprar armas dos próprios traficantes para a eventualidade de precisar defender-se deles.

     Nunca se sabe quem é quem nas ruas. Aquele menino na esquina poderá ser um assassino, louco para comprar a sua pedra de crack diária. E poderá matar você, porque sabe que nada acontecerá com ele. A lei protege os menores, mas não protege os maiores. Somente existe punição depois de uma certa idade. Até lá, tudo é permitido. Este é um país permissivo.

     Aqui, se proíbe o cigarro em lugares fechados, mas é incentivado o consumo de bebidas alcoólicas. E nada é feito contra os fabricantes de drogas. Este é um país decadente, com instituições decadentes. Dominado por pessoas decadentes.

     Tome cuidado ao sair na rua.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

BELO MONTE DA MORTE


Haverá guerra.

     Ariranha, Boto Cor de Rosa, Jacaré Açu, Poraquê, Peixe-Boi, Tartaruga, Anta, Capivara, Preguiça de Três Dedos, Coatá, Onça Pintada, Guariba de Mão Vermelha, Veado Mateiro, Tucandeira, Sagüi, Macaco de Cheiro, Anacã, Ararajuba, Gavião Real, Garça Branca Grande, Canindé, Guará, Pavãozinho do Pará, Tucano do Peito Branco.

     Esses são só alguns. Duas mil espécies de peixes, cerca de 950 tipos de pássaros e 300 espécies de mamíferos.

     E a belíssima flora. Na Floresta de Terra Firme tem Angelim-Pedra, Cedro, Pau D’Arco, Acapu, Mogno, Maçaranduba, Copaíba, Castanha do Pará. Na Floresta de Várzea: Andiroba, Samaúma, Seringueira, Açaí. Na Floresta de Igapó, Tachi Preto, Vitória Régia, Orquídea, Mamorana, Buriti. Nas Restingas: Ajiru, Muruci, Cajueiro. Nos Manguezais: Mangueiro, Siriubeira, Tinteiro. Nos campos e Campinas: Gramíneas e Ciperácias.

     E todos serão afetados, direta ou indiretamente, pela construção da hidrelétrica de Belo Monte.

     E os Amanayé, Anambé, Apiaká, Arara, Araweté, Assurini, Atikum, Guajá, Guarani, Himarimã, Hixkaryána, Juruna, Karafawyána, Karajá, Katwena, Kaxuyana, Kayabi, Kaiapó, Kreen-Akarôre, Kuruáya, Mawayâna, Munduruku, Parakanã, Suruí, Tembé, Timbira, Tiriyó, Turiwara, Wai-Wai, Waiãpi, Wayana-Apalai, Xeréu, Xipaya e Zo'e. Trinta e quatro etnias indígenas, vivendo da natureza e protegendo a natureza, que serão expulsas de suas terras.

     Os Kaiapós declararam guerra ao governo, devido à construção de Belo Monte. E as demais etnias indígenas seguirão os Kaiapós, caso o imenso predador seja realmente construído. Por enquanto, os combates acontecem nos sites, nos blogs, nos jornais, nos protestos dos povos do Xingu – devidamente escondidos pela “grande imprensa”. Somente é notícia aquilo que os empresários do jornalismo dizem que é notícia. Existem mais de 250 países no mundo e os jornais escolhem as notícias diárias sobre meia dúzia, como se nada acontecesse nos demais.

     O Xingu também não existe para o jornalismo comprado pelo governo. Passará a existir quando da inauguração de Belo monte. Por enquanto é uma informação guardada, escondida, escamoteada.

     E alguns dirão: mas o que é isto, perto do que acontecerá em 2012, ou com a aproximação do planeta X, ou com o movimento das placas tectônicas, com a mudança do eixo da Terra ou, ainda, com o aquecimento global?

     Considerarão que “isto” é nada. Mas foi pensando assim que no século XX cientistas loucos – literalmente loucos – construíram a bomba atômica. Por prazer ou por dinheiro. Mas construíram para ver no que é que dava; se os seus cálculos realmente estavam certos e poderiam destruir milhares de uma só vez. Depois, eles foram considerados gênios pela imprensa política aliada ao sistema: Openheimer, Niels Bohr, Einstein... E a humanidade enlouqueceu com eles.: Como era bom ter a bomba atômica! Os gênios não previram as conseqüências, ou, se previram, não se importaram.

     Fizeram tantas experiências subterrâneas com as suas bombas cada vez mais poderosas – e ainda continuam fazendo – que realmente mexeram com as placas tectônicas que sustentam os continentes, e provocaram terremotos e maremotos porque o magma central, o fogo interior da Terra se aqueceu além do que deveria normalmente.

     Alguns desses terremotos - como o último acontecido no Chile, ano passado - gradualmente provocam uma mudança no eixo da Terra, alterando as estações e dando origem a bruscas mudanças climáticas.

     E o aquecimento global. “O que está em cima é igual ao que está embaixo”, como diz a “Tábua de Esmeralda” de Hermes Trimegistus. A loucura do crescimento a qualquer custo. Da necessidade de produzir e vender, produzir e vender e ganhar muito à custa da escravização dos outros. Fábricas aos milhares, motores aos milhões ou bilhões e fumaça podre para o céu liquidando com a camada protetora da Terra, a camada de ozônio, como se estivéssemos, aos poucos, arrancando a epiderme da Terra.

     Plantações de transgênicos, sementes híbridas que acabam com a vida da terra. Monocultura, desmatamento. Loucura total, porque não pode ser apenas maldade total ou ignorância total.

     E a suprema maldade: a destruição súbita da natureza.

     O nome de Belo Monte, dado por Dilma e seus asseclas é sarcástico. Será um belo monte da morte. Quando a ditadura militar decidiu construir a usina de Itaipu, ambientalistas do mundo inteiro vieram para o local para tentar salvar as espécies ameaçadas com a monstruosidade. Nunca se pensou em energias alternativas, porque uma hidrelétrica rende mais, a ponto de se poder exportar energia para outros países. Enquanto que fontes de energia alternativa, como a energia dos ventos (eólica) ou a energia do Sol (solar) captam energia para o local onde estão instaladas. Não se pensou em cobrir o Brasil com uma rede de fontes de energias alternativas: isso não dá dinheiro.

     Mas, naquela época de Itaipu, a desculpa foi de que era uma decisão da ditadura militar que, só pelo nome de ditadura, já parecia algo maléfico. E ficou tudo explicado: uma ditadura mata, tortura, constrói reatores nucleares e destrói a natureza. A perversidade é típica das ditaduras. E adeus Sete Quedas.

     Mas agora há democracia no Brasil. Democracia para poucos, para quem tem dinheiro, mas você pode andar na rua sem ser preso. Ou não pode? Pode falar do que quiser, principalmente se for de futebol, não é? E pode ir para os estádios, gritar bastante; andar pelado durante o carnaval, coisas assim...

     Pode até ter o seu blog ou site, desde que seja comedido, caso contrário estará sempre apreensivo porque o Grande Irmão do Norte poderá mandar uma mensagem de desagrado para o Pequeno Vassalo do Sul e você poderá ter o seu veículo de comunicação bloqueado. Motivos não faltarão: você poderá ser acusado de terrorismo virtual, por exemplo. Democracia é isso. Você até pode votar naquelas máquinas suspeitas.

     Mas nesta democracia você não pode evitar que o governo democrático destrua a Natureza. Poderá gritar, escrever, amarrar-se em uma das árvores do Xingu, xingar a Dilma – que é apenas um instrumento – mas nada disso adiantará. Depois que o governo democrático decidiu, decidido está.

     Agora mesmo, mais de 60 organizações ambientais do Pará estão denunciando a liberação da licença ambiental para a destruição da natureza – também apelidada de usina hidrelétrica de Belo Monte - como sendo o primeiro grande crime da atual democracia, versão Dilma Roussef. E o Ministério Público Federal quer cassar essa espúria “licença ambiental”, que só aconteceu depois que o presidente do IBAMA foi demitido.

     Notícia no jornal Norte do Pará:

     “O MPF entrou com uma ação civil pública ambiental, com pedido de liminar, contra o Ibama, a empresa Norte Energia e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para que seja suspensa imediatamente a Licença de Instalação e a autorização de ‘supressão de vegetação’ emitidas pelo Ibama para obras do complexo hidrelétrico de Belo Monte.

     “Os procuradores federais também pretendem que seja imposta à empresa Norte Energia a obrigação de cumprir todas as condicionantes previstas na Licença Prévia 342/2010 antes de requerer novamente a Licença de Instalação, sob pena de multa diária. Ao Ibama, que seja determinado que se abstenha de emitir uma nova Licença de Instalação, enquanto as condicionantes previstas não forem integralmente cumpridas e que o BNDES não repasse qualquer tipo de recurso enquanto as Ações Civis Públicas contra o empreendimento estejam tramitando.”

     Você duvida que essa liminar não seja cassada?

     A construção de Belo Monte é um crime ambiental. O maior que será perpetrado no Brasil. Dilma, o PT, o governo, os aliados do governo, as empreiteiras interessadas, as multinacionais interessadas, todos eles sabem disso. Mas farão de tudo para construir Belo Monte. Mesmo que contra a lei, acima da lei ou fora da lei. Para governos democráticos como o nosso, lei ambiental, ecologia, ecossistema, meio-ambiente são expressões somente usadas em época de eleição.

     Eles não estão interessados com as conseqüências do que estão planejando; o que importa é o lucro.

     Eles pouco estão ligando para a Ariranha, a Onça, o Jacaré, o Boto Cor de Rosa, o Guará e tantas outras espécies da fauna paraense.

     Eles não estão preocupados com a Orquídea, a Mamorana, a Andiroba, a Copaíba, o Ajiru, o Muruci, o Cajueiro... Para eles, flora é sinônimo de lucro.

     Eles não estão nem aí para todas aquelas etnias indígenas que serão desalojadas da sua terra ancestral e legítima.

     Nesta democracia é assim: o governo não toma conhecimento do povo, da flora ou da fauna do seu país. Para os que governam o Brasil, país significa um território e território um produto a ser vendido, trocado, leiloado pelo maior preço. O que estiver dentro do território não interessa. Ou somente interessará se também representar um bom negócio.

     Haverá guerra.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

A EDUCAÇÃO DO GRANDE IRMÃO


A educação deve começar em casa. Mas quando não é possível começar em casa, porque as famílias estão desestruturadas e não existem mais valores a defender que não sejam aqueles ligados à luta pela vida – o que é uma coisa insana, porque vivemos em um país que joga todos contra todos e o maior come o menor e o menor, quando não morre, vai catar lixo e viver embaixo da ponte... Quando a estrutura da sociedade, em sua grande maioria, existe apenas como fator de sobrevivência, em 90% das supostas famílias, a educação passa para o Estado.

     E a educação pelo Estado tem sido sucateada propositadamente pelo próprio Estado, já faz mais de 16 anos. Compram-se computadores, kits escolares e constroem-se escolas, mas o ensino é péssimo. Em geral, os professores tem um baixo nível cultural, não passando de repetidores, e são muito mal pagos.

     Há frases de Paulo Freire nas paredes das escolas, mas Paulo Freire é apenas um nome que serve como uma vaga referência à educação ótima. O governo que se diz de esquerda optou pelo ensino de direita: nenhum desenvolvimento do senso crítico dos alunos, nenhum conhecimento da própria realidade.

     Professores que são meros repetidores, aos poucos ficam desprovidos de idéias. E os alunos que recebem aquelas aulas ocas, que em nada lhes estimulam a curiosidade pelo saber, preferem faltar, não estudar, preencher a sua força de vida, a sua vontade de agir e de não somente pertencerem ao mundo, com coisas que julgam interessantes, como as drogas. E, como viciados ficam ainda mais imbecilizados.

     O Estado facilita tudo isso. As faltas não são computadas, ou raramente o são, não é colocado nenhum limite ao educando, que faz o que quer durante as aulas e as provas não são referenciais do saber, porque no novo ensino brasileiro o aluno passa de ano automaticamente, estudando ou não.

     E em toda escola pública existem os pequenos traficantes, patrocinados por maiores traficantes, conhecidos por todos, inclusive pela polícia, mas nada é feito a respeito. Existem leis que não permitem prender menores e os menores do nosso país podem cometer quantas infrações desejarem. Inúmeras são as denúncias de que os policiais são cúmplices do tráfico, que não reprimem porque recebem dos grandes traficantes para não agirem, da mesma forma que fazem com o jogo do bicho.

     E as escolas passam a ser um centro de ensino de infrações. Ali se formam os pequenos marginais, que depois serão os grandes marginais.

     Sucatear a educação nas escolas públicas, torná-la cada vez pior e alvo de todas as críticas faz parte da estratégia de fazer do ensino pago e privado o único que poderá oferecer uma educação de verdade, aos olhos da população.

     Este é um país cada vez mais capitalista e no capitalismo a educação também é um produto que somente poderá ser adquirido por aqueles que tem dinheiro.

     O ensino pago é extremamente alienante, formando castas sociais que passam a deter o saber que é orientado de fora do país, da matriz. Aqueles que se formam em escolas privadas tem uma educação voltada para a competição, para o ganho a qualquer custo, com nenhuma preocupação social, porque se julgam superiores à grande maioria que é jogada nos ghetos escolares do Estado.

     É tamanho o descaso do Estado com a educação – e também com a saúde – que as verbas destinadas ao Esporte são quatro vezes maiores que as destinadas à Saúde e duas vezes e meia maior que as verbas destinadas e Educação, em 2011.

     A obscenidade é ainda maior. Maior anunciante do país, o governo federal tem à disposição R$ 622,8 milhões para aplicar em publicidade neste ano. Deste valor, o equivalente a R$ 210,3 milhões referem-se a anúncios diretamente vinculados à Presidência da República, que tem o maior orçamento entre todas as pastas dos Três Poderes.

     Para um governo assim, a educação deve ficar em último lugar, porque não dá retorno.

     Se as famílias estão desestruturadas e a escola pública é uma vergonha, sempre o governo terá a televisão e as drogas para iludirem o povo.

     Na televisão, para um povo drogado e submisso, tem aqueles programas estúpidos e licenciosos, que dizem ao povo que ele é “livre” para fazer o que quiser. Os BBBs e as novelas ensinam que você deve matar – ou eliminar – o próximo, para o seu próprio bem. Estimulam a concorrência desleal, a perfídia, a corrupção.

     Um programa como o BBB deveria ser proibido pelo próprio Ministério da Educação, se houvesse alguma lógica na moral do governo. Mas o governo precisa da televisão – mesmo com os seus programas podres – para domar as pessoas e fazê-las acreditar na liberdade de passar fome, de não ter saúde e de ser ignorante.

     Os mesmos veículos de comunicação que promovem esse tipo de programa são pagos para fazerem a propaganda governamental, e um governo que precisa de propaganda é um governo que não acredita em si mesmo e tem medo do despertar do povo.

     Para que esse despertar nunca aconteça, continuará promovendo, com a sua política de educação zero, o amor pelo futebol e pelo carnaval, pela maconha e pelo crack.

     Para os mais ricos, cocaína.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

NO FUTEBOL, SANTANDER DEBOCHA DE BOLÍVAR


Em homenagem aos libertadores da América do Sul e Central - José Artigas, Simón Bolívar, Dom Pedro I, José de San Martín, Antonio José de Sucre e Bernardo O'Higgins Riquelme – está começando esta semana a 51º edição da Copa Libertadores da América.

     Considerado como o maior evento esportivo latino-americano – porque clubes do México também são convidados – é patrocinada, desde 2008, pelo espanhol Banco Santander.

     Com exceção de Dom Pedro I, que apenas participou da independência do Brasil, patrocinada pelas lojas maçônicas – quase um golpe contra os seus próprios interesses – os demais homenageados foram verdadeiros guerreiros que lutaram pela independência da américa hispânica.

     Artigas é o herói nacional do Uruguai, principal responsável pela libertação do seu país, primeiro em relação à coroa espanhola e depois à Argentina e ao Brasil.

     Sucre foi o companheiro inseparável de Bolívar na luta pela libertação da Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia. Pretendia, junto com o Libertador, formar a Grã-Colômbia.

     Na verdade a Grã-Colômbia chegou a existir, de 1819 a 1831. Era formada pelos antigos territórios do Vice-reino de Nova Granada, Capitania Geral da Venezuela e Real Audiência de Quito. Seu território também era constituído pela parte norte do atual Peru, pequena parte do sul da atual Costa Rica e de uma pequena parcela do atual estado brasileiro do Amazonas. Hoje está dividido entre a Colômbia, Venezuela, Equador e o Panamá.

     Bernardo O'Higgins Riquelme foi uma das figuras militares fundamentais da independência chilena e o primeiro chefe de estado do Chile independente, sob o título de Diretor Supremo, entre 1817 e 1823.

     José de San Martín é considerado o herói da independência argentina. A exemplo de D. Pedro I, no Brasil, San Martín era orientado pela maçonaria da Inglaterra, que tinha grande interesse no enfraquecimento da Espanha em terras americanas para depois dominar os países independentes através do domínio econômico. Como, de fato, aconteceu depois.

     Simón Bolívar tinha como único interesse a libertação dos povos americanos. Não só a libertação política, como a libertação econômica. É considerado o grande Libertador da América hispânica Além de fundar, junto com Sucre, a Grã-Colômbia, que teve poucos anos de duração, participou da libertação do Peru, Colômbia, Venezuela, Equador e da criação da Bolívia. Seus principais objetivos eram:

     • Nações livres, sem o comando das metrópoles da época;

     • Independentes, tanto política como economicamente;

     • União dos povos, tanto com objetivo de formar blocos, sejam políticos ou econômicos, como para discutir problemas de ordem mundial.

     Morreu ao 47 anos - segundo a História oficial de tuberculose. Mas vários historiadores independentes acreditam que ele tenha sido envenenado pelo seu principal inimigo: Santander.

     Francisco de Paula Santander era vice-presidente da Venezuela na época em que Bolívar lutava pela independência dos povos latino-americanos. Da Venezuela, Santander tramava para alcançar o poder, chegando ao ponto de apoiar inimigos de Bolívar, quando este se encontrava no Peru.

     Além disso, Santander é apontado como responsável pelo assassinato de Sucre, do coronel Leonardo Infante, do general José Sardá, do general Mariano París, do botânico e intelectual Francisco Antonio Zea e do próprio Simón Bolívar.

     Segundo pesquisadores, Bolívar não teria morrido de tuberculose, mas envenenado a mando de Santander.

     A Copa Libertadores da América, de futebol, tem esse nome para homenagear aqueles que lutaram pelos seus povos contra a coroa portuguesa e, principalmente, contra a coroa espanhola. E dentre todos os homenageados o que mais se destaca é o Libertador Simón Bolívar, que tinha como principal “inimigo na trincheira” a Santander.

     A Copa Libertadores da América tem como patrocinador o Banco Santander, da coroa espanhola.

     Obviamente, é um deboche, talvez involuntário, mas deboche aos latino-americanos e ao título dado à referida Copa.

     Os que foram vencidos nas armas voltam como vencedores na economia, porque é sabido que todos os países que se libertaram de Portugal e da Espanha acabaram contraindo imensas dívidas externas que os subjuga ao capital estrangeiro e norteia as suas políticas.

     Quando o governo Lula mentiu que havia pago a dívida externa brasileira foi somente para fins eleitorais. Na verdade, o governo brasileiro no máximo consegue pagar os juros da dívida. Em julho de 2010 a dívida externa brasileira estava em US$218,329 bilhões. E crescendo. E assim todos os demais países latino-americanos, que tem gigantescas dívidas, principalmente com bancos dos Estados Unidos, que é o país que realmente manda na América do Sul e América Central.

     Para nós resta somente o futebol, esporte praticado por jogadores ambiciosos que desconhecem a nossa História. E nem querem saber. São mercenários, vendem-se a quem pagar mais. E os dirigentes incentivam essa atitude, porque o seu único interesse é fazer dos seus clubes empresas e aliar-se ao capital estrangeiro de outras empresas – e com isso ganhar muito dinheiro.

     A Copa Libertadores da América perdeu a sua razão de ser, mas as torcidas são cegas. E, no Brasil, há um povo que aceita ser cúmplice da sua própria desventura.

     Aqui, o futebol é tido como o grande acontecimento nacional e as torcidas vão para os estádios levando grandes bandeiras com o rosto de Che Guevara. Apenas por modismo.

     Não sabem que Che também foi um dos grandes libertadores da América. Assim como Fidel Castro, Sandino, na Nicarágua, Manuel Marulanda na Colômbia, Toussaint Loverture no Haiti, Emiliano Zapata e Pancho Villa no México, Salvador Allende no Chile, e tantos outros que a História oficial faz questão de esquecer ou de vilipendiar.

     Agora a História é outra e são outros os libertadores da América. Os povos acordam em todos os países. Menos no Brasil. Aqui se joga futebol. E também se joga no bicho e em todas as loterias possíveis. É um povo que vive de ilusões e gosta disso. Aceita as mentiras dos seus governantes naturalmente, desde que ganhe algo em troca. Acostumou-se a ser corrompido e a corromper.

     Aqui se joga futebol e o povo se mostra brioso somente quando o seu time preferido vence. Depois, volta a dormir até a próxima partida.

domingo, 23 de janeiro de 2011

A ROSA



Disseram-me para escrever sobre a rosa, posto que a rosa é mais valorosa. Ou será saborosa? É tão bela a rosa!... Todos gostam da rosa, mas em primeiro lugar os poetas. Quando um poeta busca inspiração ele pensa logo: a rosa! Pois. A Rosa.

     Disseram-me para escrever mais sobre a rosa e sobre as coisas belas da vida. Escrever sobre governos, tramas, maldades, maquiavelismo, já está ficando demodée. Deixa eles!... Façam o que quiserem.

     Disseram-me que isso sempre existiu e sempre existirá. O correto é escrever sobre a rosa. Quem não gosta da rosa? Escrever sobre a rosa é escrever sobre o que todos gostam. As pessoas ficam felizes quando lêem sobre aquilo que gostam. Vou escrever: Rosa. Gostaram?

     Não passa aquela sensação melíflua, pura, sincera, natural, cósmica, telúrica, virginal, sossegada, tranqüila? Ou, como direi? bela? Todos não ficam felizes quando lêem a palavra rosa? Ou quando vêem uma rosa?

     Eu também.

     Escreverei sobre a rosa. Ou Rosa. Como preferem, rosa ou Rosa? Tem a rosa vermelha, da paixão, a rosa amarela, que não pode ser melindrada, a rosa rosa, que fica entre cá e lá e a rosa branca, da paz e da felicidade. Da calma e do amor sincero. E tem outras cores de rosa, que eu já nem sei quantas são. Hoje em dia, criam-se rosas de todas as cores e até de cores desconhecidas. Transgênicas, é claro, mas rosas.

     Ó meu Deus! Lá vou eu de novo... Mas que coisa, já está virando mania! Falar em transgênicos numa matéria sobre a rosa...! Que falta de tato com os meus cinco leitores. Peço perdão. Humildemente. Escrever sobre a rosa deve ser uma ação contemplativa, embevecida, apática, para deixar os leitores felizes. Mas não se deve dizer simplesmente: rosa. Fica meio brusco. De preferência, dentro de uma poesia que, necessariamente, será lírica.

     E precisamos de lirismo nesta nossa vida tão atribulada e cheia de percalços (gostaram do “cheia de percalços”?).

     Lá no Pará já estão tomando chá de rosas. Com exceção dos indígenas, que declararam guerra ao governo. Mas são indígenas... Seres inferiores que ainda usam arco e flecha...

     Dizem que é pra espantar o fantasma de Belo Monte. Viram só? Belo Monte já virou fantasma, antes mesmo de existir. Chá de rosas é ótimo contra esse tipo de fantasma. Receita do Dr. Bach. Não se pensa mais a respeito e quando acontecer o desastre ecológico, já aconteceu e pronto! Todos estarão felizes e fingindo que não é verdade. Os milhares de bichinhos que morrerem são irracionais e a flora que for destruída um dia crescerá, se Deus quiser. Se Deus não quiser, ele é quem sabe.

     Portanto, chá de rosas. Com um pouco de ayahuasca e cannabis sativa. E recite um mantra quando tudo explodir. Em posição de lótus, visualizando uma rosa. E tudo correrá bem para você. Terá visões fantásticas e percepções mediúnicas. Fantasmas de toda a fauna e flora lhe dirão que não se preocupe porque eram apenas matéria e o que interessa é o espírito.

     O que interessa é a rosa.

     Talvez uma rosa com forma de bomba atômica, “com cirrose/estúpida/inválida/hereditária” – mas sempre rosa.

     O que interessa é a rosa. De preferência em versos líricos, metrificados, apaixonados, recitados em noite de luar quando a leve brisa beija os cabelos da sua amada e você beija a rosa e a joga para ela. Mais perfeito impossível.

     Não se preocupe com a fome, a pobreza, a miséria, as injustiças. Isso é kármico. Uma questão de lei cósmica. E você não tem nada a ver com isso. Portanto, não se revolte. Aceite tudo com resignação.

     Olhe a beleza da natureza, enquanto ela ainda existe. Admire a perfeição da rosa, mesmo que transgênica ou artificial.

     Pense só em você. E na rosa.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

NÃO VEREMOS PAÍS NENHUM?





Em “Não Verás País Nenhum”, o escritor Ignácio de Loyola Brandão apenas antecipou o que já começamos a ver no Brasil da monocultura: a desertificação do solo devido à ausência da rotatividade de culturas e da presença de agrotóxicos cada vez mais sofisticados.

     É um livro que foi lançado nos anos ’80, período em que também líamos George Orwell (“1984”), Anthony Burgess (“1985”) e Ray Bradbury (“Fahrenheit 451”) que, em seus romances mostravam um futuro globalizado, com multidões hipnotizadas pela mídia e um mundo decadente devido à exploração desmesurada de todas as terras agricultáveis e sua conseqüente desertificação.

     “1984”, de Orwell, foi contestado por “1985”, de Burgess, mas a divergência era penas ideológica, ou quase isso. Ambos concordavam que o mundo seria dominado pelos podres poderes que, depois de exaurirem a terra, formariam castas que continuariam a explorar o povo formado por semi-escravos.

     Ray Bradbury, em “Fahrenheit 451”, ia um pouco mais longe. Previa um mundo em que o poder centralizado combatia a cultura representada pelos livros. Uma espécie de Inquisição obrigava a todos a amontoar e queimar os seus livros em praça pública. A cultura, e os livros principalmente, eram acusados de serem os culpados de tudo o que tinha acontecido de mal ao mundo. E, naquele romance, todo o mal tinha acontecido ao mundo. O romance de Ray Bradbury é de 1953 e praticamente antecipou o que houve durante a Revolução Cultural da China, que foi lançada em 1966.

     Mas, ao contrário de Orwell e Burgess, Bradbury não era o que se costumava chamar de um “intelectual”, não pertencia aos círculos acadêmicos. O seu livro foi pouco notado e, no máximo, foi chamado de “reacionário”.

     Ignácio de Loyola Brandão, mais conhecido pelo best-seller “Zero” (1975), em “Não Verás País Nenhum” (1981) retrata o que será o Brasil, caso nada seja feito agora: desertificação, fome e miséria. Menos para os governantes.

     Os governantes governam e, ao governarem, pensam que o país é deles, que podem dispor do território e do povo. Tirando aquelas classes que os cercam como vassalos, o povo para os governantes é um produto descartável. E o território também é tratado como um produto que pode ser manipulado até o último “bip”. Até lá eles terão o seu presente e o seu futuro garantidos e o povo, que é descartável, estará descartado.

     Os governantes tem uma estranha noção do que seja governar. Pensam que é o mesmo que ganhar muito dinheiro. Locupletar-se – conforme se usava dizer na época do livro do Loyola. E eles se locupletam, e como se locupletam! São especialistas em locupletação.

     Em plena época de luta ecológica, de desastres e de tragédias provocadas pela má preservação do meio ambiente, a presidente Dilma insiste em construir a usina hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, entre os municípios de Altamira e Anapu, no Pará. A usina inundará cerca de 400 quilômetros quadrados, destruindo fauna e flora e expulsando 40.000 indígenas de suas terras já demarcadas, provocando um incalculável desastre ambiental.

     A quem interessa construir Belo Monte? Ao Governo e às grandes empreiteiras. Empresas com capital multinacional. E que participaram do leilão da hidrelétrica. Um acontecimento extremamente suspeito, que foi realizado apesar de três liminares para cancelar o leilão. Todas cassadas pelo Tribunal Federal da Primeira Região a pedido da Advocacia Geral da União.

     Há muito dinheiro envolvido. Não se trata de desenvolvimento ou de aceleração do crescimento, mas de muito dinheiro.

     Aliás, essa história de aceleração do crescimento tem um quê de neurastênica, justamente no momento em que muitos estudiosos afirmam que os países capitalistas tem seguidas crises porque necessitam crescer a todo o custo. Ou não seriam capitalistas. E esse custo é a miséria e o desrespeito à natureza.

     Há quem afirme que seria o momento de se pensar em um decrescimento – que não significa estagnação – porque crescer desmesuradamente é o mesmo que devorar e destruir o que a natureza nos deu tão bondosamente. E o Brasil é um gigante pela própria natureza, mas não deve apequenar-se moralmente ao destruí-la.

     No atual governo, que já dura mais de oito anos – ou mais de dezesseis anos, conforme alguns - crescer não significa dar melhores condições de vida ao nosso povo, mas cuidar de negócios os quais não reverterão em bem para a nação – apesar da propaganda oficial em contrário.

     A impressão que passa é que Dilma Roussef foi colocada na presidência principalmente para construir Belo Monte. Ela é suficientemente insensível para passar por cima de tudo e de todos, até da suposta lei, para dar seguimento a uma agenda que já se propôs a cumprir. O Lula não faria isso. Mesmo pressionado por todas as multinacionais interessadas, ele pensaria primeiro na sua imagem. Além disso, Lula é mais sensível, aparentemente.

     Na semana passada, enquanto todo o Brasil estava atento para a tragédia da região serrana do Rio de Janeiro, o presidente do IBAMA, Abelardo Bayama Azevedo, foi exonerado, devido às pressões exercidas sobre ele para que desse a licença ambiental para construir Belo Monte. Seu antecessor, Roberto Messias, também renunciou pelo mesmo motivo, ano passado, e a própria Marina Silva renunciou ao Ministério do Meio Ambiente por desafiar Belo Monte.

     Com certeza, o novo presidente do IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) será escolhido a dedo. A ministra Izabella Teixeira, do Meio Ambiente, o mesmo ministério que era de Marina Silva, diz que não está preocupada com o(a) substituto(a) e que o IBAMA “segue trabalhando normalmente”. Por enquanto, o presidente substituto do IBAMA, Américo Tunes, diretor de Uso Sustentável da Biodiversidade e Florestas, está no cargo. Alguém de confiança.

     Assim como de muita confiança de Dilma é a ministra do Meio Ambiente. Izabella disse que o Ministério do Meio Ambiente está finalizando um conjunto de regras setoriais para dar mais agilidade ao licenciamento ambiental.

     Portanto, o governo vai conseguir essa licença ambiental de qualquer jeito, mesmo que a própria presidenta a fabrique. Vocês não acham que existem muitos interesses em jogo na construção forçada de Belo Monte?

     As empreiteiras irão investir, de início, cerca de 19 bilhões de reais. Para começar. Mas o projeto está orçado em torno de 30 bilhões, podendo chegar a mais de oitenta. Para fazer um buraco do tamanho do canal do Panamá em plena floresta amazônica e enche-lo com a água do Xingu. Imaginem quanto irão ganhar com a exportação de energia para os países vizinhos – República da Guiana, Suriname, Guiana Francesa, Venezuela, Bolívia... E a Eletronorte irá lucrar mais ainda com a venda de energia para o norte do país.

     E como sempre acontece em países capitalistas como o nosso, a Eletronorte será privatizada num futuro não muito distante, e estaremos comprando a nossa própria energia como resultado da devastação de parte da nossa Amazônia. Se é que a nossa parte da Amazônia ainda é nossa.

     Ninguém do governo levou em conta opções energéticas, como a energia eólica e a energia solar. Não. O que querem é a construção de Belo Monte.

     O governo de Dilma é tudo, menos ecológico. Nada contra a pessoa dela. Até parece simpática, às vezes. E todos sabemos o que ela passou durante a ditadura - a acreditarmos na propaganda de sua campanha política para presidente. Coisas que afetam a sensibilidade da pessoa.

     Mas a presidente deve entender que o Brasil é patrimônio de todos os brasileiros e não apenas de uma classe, uma casta que está no poder. Ela não deve tratar o Brasil como quem trata uma empresa, como se a nossa terra fosse apenas um grande negócio muito lucrativo.

     Outros fatores devem ser considerados e o principal deles é o futuro. Teremos futuro com esse tipo de governo?

     Um governo que estimula o plantio de transgênicos no sul, a monocultura no sudeste e centro-oeste, o grande latifúndio no norte, a desertificação no nordeste e que não hesita em destruir e em matar plantas e animais nativos e em expulsar milhares de indígenas de suas terras, é um governo confiável?

     No livro de Loyola Brandão, “Não Verás País Nenhum”, ele descreve um Brasil assim, mas depois que já foi explorado ao máximo pelos seus governantes.

     Não podemos, como brasileiros e seres humanos, deixar isso acontecer. Deve haver um gigantesco “Não!” à construção de Belo Monte, como o primeiro sinal de que ainda estamos vivos, conscientes e a favor da nossa terra. Ou seremos cúmplices omissos daqueles que querem transformar o Brasil num imenso balcão de negócios.

     Caso contrário, em um futuro próximo não veremos país nenhum.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

CINZAS DA TERRA


Estranha Idade Média
Feita de chips e discos rígidos
E improvisada sabedoria binária.

Clonados palimpsestos
Em laboratórios alquímicos
Revelam novos seres
E novo beber místico
Em águas metálicas.

Choram os humanos que restaram,
Ao se lembrarem de si mesmos,
De seu antigo sentir e pensar
E de árvores e plantas orgânicas
E de pedras que não se desfazem
Como bolhas ao desejar do toque,
Ávido por sentir, e rios
Onde corria a água originária,
Encobrindo multitudinária fauna
Ensandecida pelo prazer da vida
E do viver.

Estranha, tortuosa, trevosa
Idade Média
Dos plácidos homens de plástico
E de mulheres virtuais

... Onde não há por do sol
E a Lua é um antigo mito
Narrado na eterna noite
Provocada pelas cinzas da Terra.

domingo, 16 de janeiro de 2011

DOE PARA QUEM A VIDA DÓI MAIS


A escritora, arqueóloga e historiadora Urda Alice Klueger – maior referência literária de Santa Catarina - estava em sua casa em Blumenau quando aconteceu o que ela chamou depois de “Tragédia das Águas”. Viu o mundo desandar à sua volta. Foi em 2008, no mês de novembro, e as enchentes afetaram 60 cidades e mais de 1,5 milhão de pessoas. Oficialmente faleceram 137 pessoas.

     Os mais pobres, como sempre, foram os que realmente sofreram. Mas choveram doações do Brasil inteiro. Em dinheiro e em espécie. No entanto, mais de 100 dias depois da tragédia, as pessoas atingidas, não só em Blumenau, como em todo o Vale do Itajaí, continuavam vivendo em barracas e recebendo o mínimo de roupas, de alimentação e de objetos de higiene.

     Urda atestou o que viu em Blumenau. Formou-se o MAD (Movimento dos Atingidos Pelo Desastre das Águas em Blumenau). Através desse movimento, as pessoas aprenderam a reivindicar, mesmo em tempos de Lula. Mas, 100 dias depois as pessoas pobres se alimentavam com restos de comida e recebiam roupas estragadas.

     Em Santa Catarina, foram estocadas 200 toneladas de donativos. Onde foram parar?

     Urda escreveu uma série de artigos a respeito, que foram lidos em todo o mundo, publicados desde sites na Internet a jornais como o Le Monde Diplomatique. O mundo inteiro soube o que aconteceu em Blumenau e em todas as regiões atingidas pelas chuvas, em Santa Catarina. Não só devido às matérias de Urda, mas também à ação de diversos outros escritores e escritoras e ativistas do Brasil inteiro.

     Mas as grandes redes de televisão não tocaram no assunto. O povo brasileiro, que vive grudado naqueles canais (des)informativos não ficou sabendo que o flagelado povo catarinense passava sede e fome, apesar das toneladas de doações do Brasil inteiro.

     Um trecho de uma das crônicas de Urda:

     “E João foi em busca de comida para a sua gente.

     "- Amiga – ele me disse – perdi a conta de quantos cadastros tive que fazer aqui e ali para ganhar algo para trazer para as crianças. Se eu conseguisse um quilozinho de arroz que fosse já ficaria feliz – não havia mais nada para as crianças comerem.

     "Pois vocês acham que João ganhou um quilozinho de arroz? Ganhou nada! E tinha gente ganhando carros tão cheios de comida que as rodas ficavam meio arriadas de tanto peso! Quem será que levou tanta comida para onde?”

     Outro trecho da mesma matéria (EUROPA BRASILEIRA 4 – ASCO):

     “Daí fico lembrando de outras histórias ouvidas nestes últimos 105 dias, como o daquele homem que estava num abrigo, e ajudou a descarregar de um caminhão caixas e caixas e mais caixas de sobrecoxa de galinha desossada, pitéu caro e raro, e ficou com água na boca, esperando para comer ao menos umazinha, quando ela fosse servida, só que naquele abrigo nunca se comeu sobrecoxa de galinha desossada. Para onde foram aquelas caixas todas? Para um supermercado, ou talvez para os amplos congeladores de burgueses que fedem?”

     E jogaram comida fora. Não quiseram dar para os pobres porque eram pobres, ou porque queriam ganhar dinheiro com a comida doada, e parte da comida perdeu a validade e começou a apodrecer, conforme conta Urda, na mesma matéria:

     “E agora estão jogando comida fora, comida cuja validade venceu! Quantas toneladas estão jogando? Não sei, mas desta vez não tenho como passar por mentirosa, pois antes de mim a imprensa radiofônica e televisiva noticiou, com as devidas imagens e tudo – disseram-me também que saiu em jornais de papel, mas eu, pessoalmente, não botei os olhos neles, e então não faço afirmações a respeito. Mas o quilo de arroz que foi negado às crianças de João está lá no lixão da cidade, e tantas outras coisas, tantas outras! Quando a imprensa começou a noticiar, as autoridades disseram que era coisinha de nada, comidas que já tinham chegado vencidas há 105 dias atrás. Uma ova que era! Era a comida que foi negada a tantos Joões e tantas crianças, brancas e pretas, decerto para se ver quem podia levar maior vantagem com o que sobrasse.”

     E para “poupar” mais dinheiro, as autoridades públicas resolveram colocar os desabrigados em grandes galpões. Dentro dos galpões, muitas supostas habitações divididas por madeira. Os desabrigados ficaram encaixotados. E quem não tem nada aceita qualquer coisa, até viver em caixotes. É assim que essas “autoridades” raciocinam.

     Muito dinheiro, mandado tanto pelo governo federal como por particulares, foi “poupado”. Para quais poupanças foram?

     Shirlei Azevedo, assessora em saúde do trabalhador e militante no movimento de mulheres, em 10 de fevereiro de 2009 denunciava:

     “Quase 70 dias depois, continuamos repetindo as mesmas perguntas. Onde estão sendo aplicadas as doações? Quando o governo do estado prestará conta? Como será a prestação de contas? Quem está definindo as prioridades? Continuamos sem as respostas.

     “Queremos a fiscalização da aplicação dos recursos doados tanto pela sociedade civil brasileira quanto pelo governo federal e com a nossa participação na tomada de decisões.

     “Temos que agir rápido antes que a grana suma. Por isso, pedimos mais uma vez a vocês, brasileiros. Juntem-se a nós. Sejam mais uma vez solidários. Agora, para fiscalizar o destino do dinheiro doado às vítimas das enchentes. Ajudem-nos a evitar que escorram pelos "ralos" errados.”

     Qual o resultado dessa denúncia? Shirlei dizia que cerca de 32 milhões de reais tinham sido doados somente para os desabrigados de Blumenau, mas não se via o resultado dessas doações.

     E as roupas doadas? No seu artigo “EUROPA BRASILEIRA – ABRIGOS -1”, Urda escreveu:

     “(...) E as roupas sujas de menstruação que se deram às pessoas do abrigo tal, para que as usassem (nada havia sido salvo das suas casas), enquanto gente do Brasil inteiro mandava roupas novinhas novinhas... Começa a pergunta: quem ficou com tantas coisas? (...)”

     E acrescenta, na mesma matéria:

     “A lista das humilhações e falta de respeito é tão grande que nem pensaria em tentar coloca-la aqui. Mas taí uma amostra. E mesmo assim, esses trabalhadores da minha cidade terão que deixar o abrigo dia 30.01. Muitos e muitos já acabaram desistindo dos maus tratos e das humilhações e indo para a casa de amigos, ou voltando para as zonas de risco, assinando documentos em que se declaram auto-responsáveis pelo que vier acontecer, caso algo lhes acontecer. Eles têm que se ir, sumir; a vida nos abrigos tem que ser a pior possível, para que os moradores desistam, sumam das estatísticas - é bem diferente construir mil casas do que cinco mil casas - sobra um dinheirão para os bolsos não sei de quem.”

     Sobrou um dinheirão para os bolsos de não sei quem. A auto-intitulada grande imprensa ou grande mídia, que mais parece imprensa oficial, aquela das novelas e dos BBBs e do futebol a toda hora, que domina completamente as mentes e as emoções de milhões de brasileiros, falou disso? Escreveu sobre isso?

     Vocês sabem que não. Este é um país onde tudo é maquiado, principalmente a miséria e a corrupção. Quando acontecem as cada vez mais freqüentes grandes catástrofes os especialistas em corrupção já começam a urdir seus planos. Sabem que o brasileiro tem a alma boa, o coração mole e que vai doar e preparam-se para abocanhar grande parte dessas doações.

     Em Santa Catarina, em 2008, somente o governo do Lula, conforme escreve Urda na sua matéria “colocou 1 BILHÃO e 700 milhões de reais à disposição dos atingidos - é um dinheiro ENORME. Sei que isso abrange, também, construção de pontes, rodovias e correlatos, mas sobra MUITO dinheiro para construir casas para os nossos trabalhadores. Parte será emprestada por meio de financiamentos, mas parte também será repassada a fundo perdido. E nada se faz.”

     Ao contrário do que se diz, aqui não é o Haiti. No Brasil temos um Produto Interno Bruto gigantesco, que deveria ir justamente para o Povo Interno Brutalizado, mas não vai. Vai para contas secretas em algum lugar secreto. Ao contrário do Haiti, aqui temos um governo e uma constituição. E a Constituição diz, em seu artigo 3º, inciso IV:

     “IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.”

     O Estado tem a obrigação de “promover o bem de todos”. Em caso de catástrofes ambientais ou climáticas também. E talvez principalmente. Quero dizer com isso que cabe ao Estado prever e evitar catástrofes como a de Santa Catarina em 2008 e as das enchentes em São Paulo, Minas Gerais e no Rio de Janeiro, este ano. E tantas outras. Caso não consiga prever e evitar, deve cuidar do bem estar dos cidadãos atingidos. Tanto por inundações como por secas.

     É uma obrigação constitucional do Estado promover o bem estar de todos. Significa que os cidadãos brasileiros não precisam fazer doações em caso de catástrofes, mas sim exigir do Estado a sua imediata ação. Mas as doações existem porque nós, brasileiros, sabemos que o Estado não cumpre a sua função constitucional. Ou a cumpre apenas em parte.

     Mas, se você se sentir na obrigação moral e ética de fazer uma doação ou trabalho voluntário, em caso de catástrofes como as de agora, escolha os lugares certos.

     Em Minas Gerais, cerca de 80 cidades estão sofrendo muito com as enchentes, Em São Paulo, muitas cidades estão quase submersas e milhares de pessoas passam fome, sede e todo tipo de necessidade. No Nordeste a seca sazonal acontece também este ano e já existem 179 municípios em estado de emergência. No Norte, uma estranha grande seca, que teve início em 2010, está matando flora e fauna, além de prejudicar em muito o povo da região. No Sul, 12 cidades já decretaram estado de emergência por causa da seca.

     Se você pode e quer ajudar, escolha os mais necessitados, como os nordestinos, por exemplo. Ou os nortistas. Promova ações para realmente ajudar os povos mais pobres a quem o governo trata com descaso quando não é época de eleições.

     Nada contra o pessoal da serra do Rio de Janeiro, que está sofrendo muito com as inundações. Mas aquele é o estado mais rico da federação, a menina dos olhos de Dilma Roussef. Acredite que todos os esforços estão sendo feitos para cuidar com muito carinho dos atingidos pelas enchentes nas cidades do Rio. Nada faltará para eles.

     Mas se você realmente quer ajudar, olhe para o Brasil como um todo e não somente para os lugares onde domina a classe média alta.

     E depois de fazer a sua doação, exerça controle. Exija saber para onde realmente foi o seu dinheiro, de que maneira foram distribuídas as doações, se realmente foram para as pessoas necessitadas ou para desconhecidos lugares.

     Não faça doações apenas por desencargo de consciência, porque você tem mais dinheiro que a maioria dos outros brasileiros. Mas, se o fizer, doe para quem a vida dói mais.

     Não somente em época de catástrofes – enchentes ou secas ou o que for. Temos milhões de pessoas, no Brasil, passando fome e sede e todo o tipo de necessidades essenciais. E estão assim porque o governo não olha para eles, não cumpre o seu dever constitucional.

     Aproveite o momento e procure saber mais do Brasil. Quando pensar em sair de férias, visite o Brasil; vá para lugares que não estão nos mapas turísticos. Descubra a verdade que querem esconder de você.


quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

PORQUE ELES MATAM



Ganhar dinheiro! Tudo se resume nisso: ganhar dinheiro! Assim, exclamativamente. Eles fazem de tudo para ganhar dinheiro. Cada vez mais. Tem a Síndrome do Tio Patinhas – querem um cofre gigantesco cheio de dinheiro onde possam mergulhar todos os dias e terem um orgasmo monetário.

     Desde o século XVIII que eles estão assim. Talvez antes, mas no século XVIII apareceram os sintomas maiores de ganância crônica. Surgimento de novas tecnologias, revolução industrial...

     Os antigos donos de navios corsários que roubavam uns dos outros – principalmente dos outros – e depois adotaram o comércio de escravos para as Américas, na mesma época em que plantavam e exportavam ópio para a China e para todo o oriente...

     ... E invadiram a África, roubando as suas riquezas e escravizando os seus habitantes... E a Índia, graças aos seus poderosos canhões e fuzis e homens industriosos que não hesitavam em matar. E descobriram novos continentes e liquidaram com os seus nativos e aborígenes, e os povoaram com pessoas brancas e desejosas de ganhar dinheiro, muito dinheiro.

     E na América do Norte jogaram os seus bastardos e com eles se aliaram para dominar o restante do mundo e propuseram: “Tudo te darei se me obedeceres”. E eles obedeceram, porque era um ótimo negócio dominar o restante das Américas. E depois o mundo, e ganhar dinheiro, muito dinheiro.

     E uniram-se em sociedades secretas onde adoram um deus muito poderoso e sedento de sangue que lhes diz que matar não é pecado, porque eles foram os escolhidos para dominar todos os homens e a Natureza, e ganhar dinheiro, muito dinheiro.

     E acreditaram naquela Palavra. Um pouco porque o sentimento de tudo dominar já está nos seus genes, posto que herdeiros de sanguinários senhores feudais. E também porque se sentiram superiores a todos os demais seres humanos, porque somente eles conhecem o Segredo e o Poder. De ganhar dinheiro, muito dinheiro.

     E quando os povos começaram a se revoltar, desenvolveram e aplicaram novas tecnologias bárbaras, que lhes permitem matar à distância, através de mísseis ou armas químicas e biológicas e utilizar ondas sísmicas e a energia telúrica para provocar tempestades, tufões e terremotos nos lugares onde as pessoas são mais desobedientes.

     E depois dominá-las através de drogas, das suas grandes empresas, que tudo fabricam e de sua imprensa amestrada para mentir e vender ilusões. E com isso, ganhar dinheiro, muito dinheiro.

     E conquistaram, com muito dinheiro, grupos de pessoas em todos os países dominados por eles. E com essas pessoas os seus exércitos, e as convenceram de que é possível, sim, destruir tudo para tudo ganhar depois. E, principalmente, ganhar dinheiro, muito dinheiro.

     E quando a Natureza se enfurecer com tanta ignomínia, e começarem as catástrofes e inundações e o céu abrir as suas comportas e o dia se tornar em noite, eles estarão em seus lugares secretos e seguros...

     ... Esperando que dois terços da humanidade desapareça, não se emocionando com a destruição de plantas e de animais, porque a tudo e a todos poderão clonar, quando necessário.

     Os humanos restantes serão seus escravos e quando uma nova natureza virtual for criada e o mundo se tornar novamente habitável, mesmo que com robôs e clones insensíveis, eles poderão, então, lutar entre si para ver quem ganhará mais dinheiro, muito dinheiro.
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