quinta-feira, 26 de maio de 2016

OS DONOS DO BRASIL




O PT vem defendendo a tese de que o golpe é obra de duas ou três pessoas que teriam tanto poder de persuasão e barganha a ponto de convencerem dois terços da Câmara dos Deputados e mais da metade dos senadores, além de juízes, promotores e outros que tais, incluindo Maçonaria, Lyons, Rotary, clubes de mães, clubes de pais, clubes de filhos e clubes de babás, acrescentando-se a estas as babás formadas pelos guardiães da Constituição, também apelidados de ministros do Supremo Tribunal Federal, de que o golpe era necessário, muito necessário e que deveria ser feito de maneira branda, muito branda, através de votações no Congresso Nacional para que Dilma fosse afastada, dando lugar a um governo deles, somente deles, os donos do Brasil. 

   É uma tese minimalista e, por si mesma, fraca, fraquíssima, tão fraca que não convence nem o próprio Clube dos Golpistas e somente é aceita pelos ansiosos por encontrar em determinadas pessoas o necessário alvo para escracho e vitupério, como se tudo se resumisse a desacordos entre Dilma e seus antigos aliados da direita, razão pela qual energúmenos como Cunha, Renan, Temer e similares resolveram congregar todas as forças do Mal e dar o golpe. Por birra, capricho, pirraça. 

   Getúlio Vargas denunciou em sua carta-testamento: (...) “A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios” (...). 

Dilma, Lula e o PT disseram que a culpa é do Eduardo Cunha, do Temer e de mais um pequeno grupo de conspiradores. No entanto, as causas do golpe tentado em 1954 não diferem em nada do golpe de 2016. 

   Jânio Quadros, em sete meses de governo, restabeleceu as relações diplomáticas com a União Soviética e a China, condenou a invasão da Baía dos Porcos pelos Estados Unidos, em Cuba, nomeou o primeiro embaixador negro da história do Brasil, condecorou Che Guevara com a Ordem do Cruzeiro do Sul, criou a reserva indígena do Parque Nacional do Xingu, defendeu a política de autodeterminação dos povos, acabou com os subsídios ao câmbio que beneficiavam - à custa do erário público - grupos econômicos importadores, abriu centenas de inquéritos e sindicâncias, em combate aberto contra a corrupção. 

   No dia 21 de agosto de 1961 nacionalizou as jazidas de ferro de Minas Gerais, em prejuízo da empresa norte-americana Hanna. No dia 25 foi obrigado à renúncia pelos militares. Por trás dos militares estavam Júlio de Mesquita Filho, Roberto Marinho e Carlos Lacerda. Por trás desses três entreguistas estavam as multinacionais e o governo dos Estados Unidos. Um trecho da sua carta de renúncia: (...) “Desejei um Brasil para os brasileiros, afrontando, nesse sonho, a corrupção, a mentira e a covardia que subordinam os interesses gerais aos apetites e às ambições de grupos ou indivíduos, inclusive, do exterior” (...).  

Dilma, Lula e o PT disseram que a culpa é do Eduardo Cunha, do Temer e de mais um pequeno grupo de conspiradores. No entanto, as causas do golpe tentado em 1961 não diferem em nada do golpe de 2016. 

   João Goulart anunciou a realização da reforma agrária, reforma urbana, reforma educacional, reforma fiscal e reforma eleitoral. As reformas, que incluíam a nacionalização de vários setores industriais, foram bloqueadas no Congresso. No dia 13 de março de 1964, no comício da Central do Brasil, que reuniu cerca de 150.000 pessoas, João Goulart denunciou a oposição, dizendo que ela estava a serviço das grandes companhias internacionais e contra o povo. No dia 31 de março teve início o golpe militar, resultando numa ditadura que durou mais de 20 anos. Por trás do golpe militar estavam os grandes financistas internacionais e as oligarquias brasileiras. O golpe teve o apoio dos Estados unidos, que enviou a sua Sexta Frota para águas brasileiras.  

Dilma, Lula e o PT disseram que a culpa é do Eduardo Cunha, do Temer e de mais um pequeno grupo de conspiradores. No entanto, as causas do golpe concretizado em 1964 não diferem em nada do golpe de 2016. 

   A principal dessemelhança com as tentativas de golpe em 1954 e 1961 e com o golpe militar de 1964 é que, ao contrário dos governos de Getúlio Vargas, Jânio Quadros e João Goulart, o governo petista derrubado provisoriamente não pode ser caracterizado como claramente nacionalista ou, mesmo, revolucionário. As grandes conquistas sociais do PT foram o programa Bolsa Família e o programa Minha Casa, Minha Vida. E, assim mesmo, a pau e corda, abaixo de alianças com a direita no Congresso Nacional. 

   Um toma-lá-dá-cá que resultou no fim da reforma agrária, no fim da sempre falada e jamais tentada reforma urbana, em um programa agrário que somente beneficia o latifúndio, no apoio às oligarquias nacionais e empresas multinacionais, na despolitização do operariado, devido ao atrelamento da CUT e de outras centrais sindicais ao PT, no endividamento com os bancos estrangeiros, que compraram ao FMI a dívida externa, na dependência externa em tecnologia, na aceitação do papel de um país meramente agrário e exportador, na adoção de uma política educacional desmotivadora e alienante, no ajuste fiscal para pagar os bancos internacionais, na lei antiterror contra os movimentos sociais e nas suspeitas alianças com os Estados Unidos e demais países imperialistas. 

   E, apesar de tudo isso, o golpe. Apesar do triste jogo das alianças com a direita em nome de uma governabilidade absolutamente aparente, entregue a ministros de partidos com tendências ideológicas diversas e opostas e na qual Dilma fez o papel de rainha da Inglaterra. Em nenhum momento Lula ou Dilma tiveram a coragem de governar para os trabalhadores. 

   Ao contrário de João Goulart, que denunciou a oposição entreguista, Lula e Dilma aliaram-se à oposição lesa-pátria. Diferente de Jânio Quadros, que acreditava que o Presidente da República seria respeitado em suas decisões, Lula e Dilma temeram a reação da direita e uniram-se a caciques corruptos como José Sarney e Paulo Maluf. Longe, muito longe do governo nacionalista de Getúlio Vargas, que preferiu o suicídio para evitar um golpe militar que entregaria o país aos Estados Unidos, Lula e Dilma foram ao encontro dos traidores e foram por eles traídos. 

   A falta de conhecimento político, das leis que regem o movimento da sociedade, a ausência de profundidade, o tratamento da política através de um pueril pragmatismo, o assistencialismo como meta e não como meio, políticas sociais que defendem minorias, mas que não alavancam o progresso da maioria, tudo isso agregado à aliança com partidos reacionários fez do governo petista, desde o primeiro dia do primeiro mandato de Lula, um aglomerado de indecisões que somente favoreceram os planos da direita. 

   Então, por que o golpe? Por ódio à Dilma e ao Lula e para acabar com o PT, um partido de centro (centro-esquerda ou centro-direita, como preferirem) que serve como amortecedor para a luta de classes? Assim como outros partidos centristas, o PT agrega setores da população que poderiam ficar à deriva ou entrar para partidos marxistas. Provocar a extinção do PT seria um erro estratégico, dando espaço a partidos não tão confiáveis para os que se consideram donos do país e fazem das eleições uma panacéia para as massas iludidas. Para a direita, o PT é um partido útil e necessário, evitando revoltas no campo e freando o movimento sindical - além de passar um “ar” de esquerda light tão agradável para a classe média da geração celular e Facebook, que se compraz em fazer diárias revoluções virtuais. 

VENEZUELA É O ALVO 

   O golpe tem outras causas e a principal delas é a situação internacional. Assim como nos anos ’60 e ’70, a guerra fria voltou com toda a intensidade e tudo indica que, em breve, se tornará muito quente. E não se trata apenas da guerra contra os terroristas no Iraque, Síria e Líbia. Aquilo é um ensaio. Observem a situação internacional, com a China sendo ameaçada no seu próprio mar por forças norte-americanas e com a Rússia cercada em todas as suas fronteiras pela OTAN. É uma declaração de guerra, só falta começar o tiroteio. E não esperem que, desta vez, a Rússia vá se render antecipadamente. Putin não é Gorbachev. 

  A todas essas, os Estados Unidos desejam assegurar-se do que consideram o seu quintal: a América Latina. Na Argentina, muito dinheiro foi investido para eleger Maurício Macri, que já planeja instalar bases norte-americanas no país. No Brasil, não foi diferente, mas Aécio perdeu as eleições e o golpe de Estado tornou-se obrigatório. 

   O golpe foi organizado dentro do Instituto Millenium, filial oficiosa do USAID norte-americano e que congrega as forças mais reacionárias do Brasil, com o apoio dos Estados Unidos, através da embaixadora Liliana Ayalde, a mesma que organizou o golpe no Paraguai, em 2012, e em Honduras, em 2008. E no mesmo estilo daqueles dois golpes anteriores – impedimento do(a) Presidente, votado nos Parlamentos, sem prova de qualquer crime. Sabe-se que em Honduras e no Paraguai foram “investidos” milhões de dólares para convencerem os parlamentares. No Brasil não deve ter sido diferente. 

   A operação Lava Jato serve de cortina de fumaça para o golpe e para acostumar o povo a um Estado policial. Assim como em 1964, a desculpa é o combate à corrupção. Sérgio Moro é um juiz que serve aos interesses da direita, assim como a maioria do STF, e será descartado na hora certa, quando começar a se tornar incômodo, como aconteceu com Eduardo Cunha.  

  O impedimento de Dilma não é igual ao impedimento de Collor, ao qual sucedeu o tranqüilo Itamar Franco. Temer tem pressa em executar planos fascistas porque sabe que poderá sair assim que completar o estrago. A tendência natural é Dilma voltar ao governo, mas só depois de muitas alianças em segredo dentro do Senado e só depois do “governo” de Temer concluir adequadamente o serviço para o qual foi contratado. Daí a afobação. São duas as missões de Temer. A primeira consiste em promover todas as piores mudanças contra a nação e entregar o país ao capital estrangeiro. Ao mesmo tempo, deve ajudar o império a liquidar de vez com a Venezuela, Equador e Bolívia – últimos países com governos nacionalistas na América do Sul. 

   Um verdadeiro golpe de Estado nunca descarta as Forças Armadas. Às vezes, como em 1964, elas dão o golpe ostensivamente; outras vezes permanecem nos quartéis até serem chamadas. E já foi anunciado o chamamento. Sob a desculpa da realização das Olimpíadas do Rio de Janeiro, em agosto, Temer anunciou que vai mobilizar cerca de 30.000 efetivos para guardar as fronteiras. Sem contar a Polícia Federal e todas as demais polícias, ABIN e provável ajuda dos serviços secretos dos sócios do norte das Américas. Ao mesmo tempo, 12 bilhões serão destinados para a reestruturação das Forças Armadas. 

  E o Brasil faz fronteira com a Venezuela. Recentemente, Nicolás Maduro mobilizou cerca de 500.000 efetivos das três armas face à iminente ameaça de ataque dos Estados Unidos e aliados. Muito provavelmente, devido ao vazamento do documento “Operação Venezuela – Freedom 2”, do Comando Sul dos Estados Unidos. Ali está detalhada a estratégia utilizada para derrubar o governo venezuelano, incluindo o ataque militar que será iniciado através de bases dos Estados Unidos na Colômbia, após autorização da ONU, assim como fizeram na Líbia de Khadafi. Não por acaso o embaixador da Venezuela ainda não apresentou as suas credenciais ao “governo” Temer. 

   Talvez as Forças Armadas brasileiras se limitem a fechar as fronteiras, mas não é improvável que desejem se exercitar, participando da guerra anunciada, que somente acontecerá se a planejada guerra civil na Venezuela não der certo. O prêmio será parte do petróleo venezuelano e uma grande ascendência geopolítica sobre a região do Caribe. 

   Não é coincidência que a embaixadora Liliana Ayalde esteja saindo do Brasil por estes dias, com a missão golpista cumprida, para dar lugar a Peter Michael Mckinley, que é filho de pais norte-americanos, mas nascido na Venezuela. O novo embaixador é pós-graduado em Estudos Latinos Americanos pela Universidade de Oxford e autor do livro “Caracas Pré-Revolucionária: Política, Economia e Sociedade”. 

   Se Dilma voltar, será obrigada a aceitar as reformas de Temer, e a única razão para a aceitação do seu retorno ao governo através do Senado será a paralisação das manifestações populares, ou uma não improvável chamada a novas eleições com cartas marcadas, que elegeriam outro fascista do mesmo grupo que governa agora, como Aécio Neves. Mas é mais provável que Dilma seja deposta pelo Gilmar Mendes, depois de perder a votação no Senado. E não devido às nefastas influências de Cunha, Temer, Calheiros ou Fernando Henrique, mas por uma questão de segurança nacional dos Estados Unidos, os verdadeiros donos do Brasil desde a morte de Getúlio Vargas.

terça-feira, 17 de maio de 2016

O GUINCHAR DOS RATOS




Eles ainda não começaram a prender, a torturar e matar, mas é uma questão de tempo. O Vice-Presidente Michel Temer, no exercício da usurpação do governo, licença concedida pelo Congresso e pelo STF golpistas, acredita-se o grande ditador da república que voltou à velhice do século dezenove, logo após o golpe contra a Monarquia efetuado pelos ufanistas militares, vencedores do Paraguai com o apoio do ouro da Grã-Bretanha. Desde aquela época começou a tradição dos golpes militares e civis no Brasil, sempre com a ajuda de traidores e de potências estrangeiras. 

   O civil traidor do momento é Michel Temer, e não somente ele, mas deputados, senadores, juízes, membros do Ministério Público, açulados pela imprensa vendida ao capital estrangeiro. Este é um país de traidores que se revezam, geração após geração, com o mesmo DNA entreguista, nos porões onde os ratos costumam guinchar e conspirar.  

   Curiosamente, por mais alto que guinchem os ratos quase ninguém os ouve durante os períodos de aparente democracia, quando o povo que acredita em discursos faz fila para votar, nas datas aprazadas por histriônicos ratos cúmplices. Alguns escutam o guincho, mas preferem acreditar que é o canto das sereias e cobrem os ouvidos. Outros, dizem que são apenas ratos, nada mais que ratos, e passam ao largo. 

   Ainda outros, afirmam que o barulho dos ratos é apenas uma demonstração de que a democracia funciona, pois não é a democracia feita de guinchos de diferentes tons? O que permite aos ratos se organizarem, guinchar cada vez mais alto, engordarem e se prepararem para tomar o poder. A dentadas. Em seguida, propagam a peste do fascismo, que liquida com uma ou duas gerações de desorientados, esperançosos e passivos democratas pequeno-burgueses. 

   Detectam-se os passivos através de suas reações, obviamente passivas. No máximo, exclamações de surpresa e gritos acompanhados de palavras de ordem. Quando acontece o golpe, eles gritam “Fora Golpe”, em inútil tentativa de exorcismo, como se, aos gritos, pudessem assustar e espantar para bem longe a peste já declarada. Com o passar do tempo, gritam cada vez menos e, por fim, calam-se e vão cuidar dos seus jardins. 

   Muitos dentre os passivos preocupam-se com a maquilagem do golpe. Somente entendem que é golpe se ele estiver fardado; caso contrário, dizem que é golpe, mas é “branco”, um golpe fantasiado de leis. Passivos assumidos em sua passividade observam candidamente a aparência do golpe, para julgá-lo se é mais ou menos golpe. Por exemplo, no atual golpe a maioria dos passivos está indignada porque o novo “governo” não tem mulheres ou negros.  

   É o mesmo que dizer que, se houvesse negros e mulheres entre os “ministros” golpistas, o golpe seria mais bonitinho, menos golpe. Admiram-se porque o golpe tão branco e levemente amulatado é formado por fascistas e racistas notórios; homofóbicos e machistas. Não perdem por esperar. Logo, o usurpador oficial, para consolar os passivos, colocará mulheres submissas e negros nazistas em secretarias e ministérios. E todos dormirão tranqüilos. 

   Tranqüilos dormem os golpistas pela ausência de resistência ao golpe. Não se pode chamar de resistência manifestações cada vez menores e, principalmente, aquelas marcadas com antecedência para “a próxima quinta-feira” ou “o próximo domingo”. Isso não é resistência, mas cerimônia para bater o ponto. Por certo, existem grupos de pessoas destemidas que identificam golpistas em diversos lugares e esbravejam contra eles. O máximo que conseguem é assustá-los. Ratos têm o hábito de fugir, agrupar-se e atacar raivosamente quando cessam os gritos. 

   A ausência de manifestações foi preenchida por cerca de cinco mil candidatos a zumbis, que resolveram fazer a anual marcha pela liberação da maconha, em São Paulo, provavelmente em homenagem à alienação reinante. Estavam tão chapados que ainda não se deram conta de que a maconha já foi liberada há muito tempo, ou não poderiam fazer a marcha fumando maconha. Grupos virtuais, como o Mídia Ninja e o Jornalistas Livres reportaram a marcha, ecoando a rede Globo, como se fosse um grande ato de contestação social, do que se depreende que falta muito, ainda, para a gurizada recém formada em Jornalismo – e não somente eles - aprender a separar alhos de bugalhos. Ou consciência social de bagulhos. 

   Embevecidos pela fácil vitória, os ratos decidiram entregar tudo para os seus chefes – grandes e gordos ratos estrangeiros – em troca, somente, do prazer de governar restritamente o povo ainda obediente. Para garantir essa obediência, o usurpador Temer nomeou como seu Ministro da Justiça e Cidadania um cidadão chamado Alexandre de Moraes, que já foi advogado de Eduardo Cunha e de uma empresa ligada ao PCC (Primeiro Comando da Capital), a máfia de São Paulo. Para Ministro-Chefe do Gabinete de Segurança Institucional, o novo SNI da nova ditadura, foi nomeado o general Sérgio Etchegoyen, um dos mais fascistas militares brasileiros. Entre os demais ministros, muitos são acusados de crimes os mais diversos, especialmente corrupção, mas nada acontecerá a eles. A Irmandade dos Ratos protege os seus fiéis ratos. 

   Antes que o povo acorde da letargia provocada pelo trauma pós-golpe, Temer e Corruptos Associados pretendem privatizar tudo. Até o SUS. Seguem as ordens de Washington e contam com a tradicional lerdice dos deputados e senadores do PT, acostumados a acordos com a oposição que agora é situação e, por ser situação e dada a situação de ditadura embrionária, não mais aceitará conchavos, mesmo que Dilma apareça apocalipticamente montada em um cavalo branco. Ou em uma bicicleta enfeitada. Os ratos já estão fumando maconha importada, a da lata, e breve, se a resistência ao golpe continuar tímida e medrosa, seus guinchos serão mais fortes, e então começarão as prisões, as torturas e os assassinatos.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

O DIA DA VERGONHA




Maçons e Illuminati têm fascinação pelo número 11. Planejaram iniciar o golpe a partir do simbólico dia 11. E o golpe é maçônico. E Illuminati. O objetivo? Trazer o Brasil de volta ao redil dos países colonizados. Uma nova grande guerra está sendo preparada e o principal protagonista – o império Illuminati dos Estados Unidos - necessita tomar de vez as nossas riquezas, principalmente petróleo e água, para o esforço de guerra. Pensavam conseguir isso através da farsa das eleições, como na Argentina. Não conseguiram. Então, o golpe. Um golpe arquitetado cuidadosamente com o auxílio do Legislativo e do Judiciário. Quando Dilma tentou reagir, era tarde demais, e reagiu da maneira errada, ignorando que o Judiciário está envolvido no golpe. 

  Sociedades secretas procuram unir o mundo objetivo com o mundo oculto, através de práticas que incluem a formação de egrégoras, formas de pensamento. E usando a Cabala. Não por acaso Temer é chamado de satanista, quando, na verdade, deve ser luciferiano. Não se trata apenas de uma questão de terminologia. O satanista faz missas negras e acredita no Mal, para usufruir da sua força. O luciferiano talvez faça rituais muito parecidos com missas negras, mas acredita que Mal e Bem são uma e mesma coisa, dependendo do ponto-de-vista. O luciferiano é amoral por princípio e busca apoio em forças da natureza que não estão ao alcance de meros profanos. Esse apoio visa sempre a conquista do poder material, uma vez que entende espiritualidade como extensão da matéria em mundos invisíveis. Acredita em um deus que tem vários apelidos iniciados com a letra G: Gnose, Geometria. Ou Goécia, magia negra. 

   Quantos, entre os homens do Supremo Tribunal Federal, são maçons? Todos? E as duas mulheres – Carmem Lúcia e Rosa Weber - serão, provavelmente, “sobrinhas” ou “cunhadas”. Deve ser o grupo dos 11, que a ditadura instalada em 1964 procurou tanto e não achou. Perceberam? No dia 11 de maio, os 11 do STF carimbam o golpe. 

STF ALINHADO COM O GOLPE 

   14 horas. Teori Zavascki deu o mote, negando o pedido de liminar da Advocacia Geral da União para suspender o processo golpista no Brasil. O Supremo Tribunal Federal está alinhado com o golpe, ao contrário do que muitos – inclusive eu – desejavam acreditar. As razões? Teori deve ter encontrado muitas razões para justificar o golpe. Agora sabemos que não adianta confiar no STF, que assume definitivamente o nome de Senhor de Todos os Flagelos e que é, muito provavelmente, o mentor do golpe, o sustentáculo “legal” que permite rasgar a Constituição. O STF é uma ilusão jurídica feita de números e letras e coberta por togas pretas, muito pretas, a cor do fascismo. 

   Entre 16 e 17 horas. Cristovam Buarque se declara golpista. Todos aqueles partidos que se dizem de “centro-esquerda” e, na verdade, são de direita, como o PPS de Cristovam, PDT, Rede, PSB (PT?) tiram as máscaras e se revelam cadáveres políticos. Começa a escurecer e um nojo retumbante esconde o sol da liberdade. 

   A partir das 17 horas. Manifestantes contra o golpe dirigem-se à Esplanada dos Ministérios. Vai ter luta? Em Belo Horizonte os manifestantes estão cercados pela polícia. Começou a ditadura. O senador Humberto Costa, do PT, dá entrevista aos Jornalistas Livres e diz que pode ser isto ou aquilo, depende, quem sabe, vamos ver... O mesmo Humberto Costa, após a votação no Senado, cerca de seis horas da manhã do dia 12 de maio, dirá que agora o PT é um partido de oposição, mas uma oposição comportada, construtiva... 

   A partir das 18 horas. A Conferência Nacional das Mulheres, com 3.000 integrantes, sai em direção ao Senado em apoio à Presidente Dilma. Seria ótimo se levassem palmatórias para apoiar nas costas dos senadores. Indígenas das etnias Xuburu, Funiô, Tabeba e Tremembé caminham rumo ao Senado entoando seu canto de guerra. Vai ter luta? 

   A partir das 19 horas. Polícia e tropa de choque da ditadura usam viaturas para impedir a passagem da marcha pela democracia, em Brasília. Manifestantes a caminho da Esplanada dos Ministérios estão sendo revistados. Em frente ao Senado, mulheres rasgam o título de eleitor. Acabou a democracia, acabou o pacto democrático. Eleições perderam a razão de ser. Desobediência civil é um dos caminhos. 

“MEU ÓDIO NÃO TEM TAMANHO” 

   19h30m. Mais de 1.500 policiais da ditadura recém instaurada agridem os manifestantes em Brasília. Dezenas de pessoas estão feridas e passando mal. O golpe revela-se em ódio. Dentro do Senado, oportunistas corruptos discursam sobre democracia. No blog dos Jornalistas Livres, um depoimento de Paulo Mattos:

“Não tenho palavras para descrever minha revolta pela covardia de que fomos vítimas, eu, minha esposa, e nossas duas bebês de sete meses na Esplanada dos Ministérios agora, dezenas de milhares de pessoas sendo atacadas com gás lacrimogêneo e de pimenta! A polícia está jogando bombas em pais com bebês! Éramos muitos, uma cena dantesca, todos fugindo, mulheres, pais com seus bebês e crianças, meu ódio não tem tamanho, não temos mais o direito de sair às ruas! Quando saíamos correndo e passamos pelos policiais da revista, eles riram cinicamente da situação da nossa fuga com as crianças e os bebês tossindo, não acreditei em tamanha covardia, o que faço com a minha revolta???” 

   Ó pátria amada, idolatrada, salve, salve??? Salve quem? Salve Temer e quadrilha? Salve o STF covarde? Salve o Moro e sua trupe? Salve o Tiririca? Salve a palhaçada? Salve o eterno carnaval? 

   Noite. Em São Paulo, a polícia da ditadura reprime violentamente as manifestações contra o golpe. Bate e efetua prisões. Será que já elegeram o novo torturador oficial, ou toda a polícia é especializada em tortura? Dos filhos deste solo és mãe gentil? Ou madrasta? 

  Quantos discursos no Senado! Uns dizem sim, outros dizem não. Todos eles querem defender as instituições podres. Querem continuar senadores. Lembro de uma música do Gonzaguinha: “Palavras, palavras, palavras... Eu já não agüento mais!”.  Não agüento mais. 

   Vou dormir e sonho que estou sendo assaltado por uma multidão de pessoas muito ricas vestidas com uniformes da polícia e brandindo urnas corrompidas. Nas suas testas está gravada a letra T e, pouco acima, o Olho que tudo Vê, formando Ankh, a cruz Ansata dos magos negros. Tentam me convencer que o assalto aos pobres é legítimo para que elas fiquem ainda mais ricas. É uma questão de meritocracia: quem tem mais armas assalta melhor. 

   Acordo algumas horas depois e eles ainda estão falando. Já é dia 12, mas continua o Dia da Vergonha, e continuará não se sabe por quantos anos. Cardozo insiste com a fraca e míope tese de que a culpa do golpe é do Cunha. O PT nunca aprende. Não quer admitir que capacho é capacho e existe para ser usado e descartado quando muito sujo. Como fizeram com o Cunha. Só o PT finge não saber que o golpe é via Washington, como todos os golpes acontecidos na América Latina.  

   Eles gastaram todas as palavras e agora fizeram rápida e simbólica votação eletrônica. A hipocrisia costuma ser séria. Dilma está deposta e Temer, o usurpador, quer assumir a presidência imediatamente, para evitar a sexta-feira 13. Não se sabe se ele vai pôr o Brasil a leilão no mesmo dia ou esperar para a próxima semana. Vai ter luta? 

  Prometem eleições para outubro. Prometem eleições para daqui a seis meses, quem sabe dois meses ou amanhã. Com eleições o povo deverá se acalmar. Além disso, o Campeonato Brasileiro está começando, assim como novas novelas. E as Olimpíadas! Um achado! Vamos fazer de conta que nada está acontecendo e torcer para os nossos nobres e valentes atletas. Golpe é golpe e contra a força não há resistência. Ou há? Vai ter luta? 

   Dizem que o golpe vai durar 180 dias e que Dilma será reconduzida ao governo. Se fosse assim, não seria golpe. A Dilma só voltará se o governo de Temer falhar, e, se voltar, será abaixo de acordos com a direita. Golpe é golpe, e golpistas tem o hábito de se eternizar no poder. Já devem ter achado a fórmula de vencer as próximas eleições, em 2018, que passa pela prisão e morte de Lula. Morte natural. Toda morte é natural, algumas são apressadas naturalmente. A partir deste momento as eleições se tornaram em piada e só irá às urnas o pessoal da direita e os analfabetos políticos. O que é quase a mesma coisa. As instituições faliram e provocaram a sua própria derrocada com o golpe. Um novo pacto social? Agora é luta. 

   De tarde, no mesmo absurdo e imenso Dia da Vergonha que marca o número 12 na folhinha e veio para nos ensinar a nunca mais confiar na conciliação de classes, leio uma mensagem que sintetiza tudo, da colega e amiga Maro Silva: 

“Fico pensando nas borboletas... tem uma espécie - a Monarca - que vai do Canadá e dos Estados Unidos para o México em várias gerações. Uma morre, mas a que nasce já sabe o que tem que fazer e por onde ir. O problema é que não somos como as borboletas. Não aprendemos com o que passou. Muitas vezes o caminho fica tão inverossímil que não acreditamos no que estamos vivendo. Tínhamos obrigação de saber como se comportam as elites. Mas, ao contrário, quando desconfiávamos diziam: teoria da conspiração. Muitas gerações se passaram depois do golpe de 64 e acho que a doença do esquecimento nos pegou. A genética social até segue mandando informações para os que vêm vindo, mas alguns não seguem as instruções e nem identificam os sinais. Assim também algumas borboletas não chegam ao México. Se elas saíssem do Brasil, talvez fossem dar no Panamá.”
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