quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

O INESQUECÍVEL ANO DE 2015




Em 2015, Dilma Roussef conseguiu destruir tudo o que Lula havia feito ou prometido fazer. O Ministério escolhido, onde se destacava Joaquim Levy, o ministro a mando das multinacionais e empresas bancárias, promoveu uma das maiores recessões artificiais que os brasileiros conheceram, com direito a inflação, perda de direitos trabalhistas e arrocho salarial. Para pagar os bancos que detêm a dívida pública, Dilma não poupou o povo, que deveria defender, e os trabalhadores, dos quais se diz representante. Chamou a esses descalabros de “ajuste fiscal” e colocou a culpa na situação internacional, apoiada por veículos de comunicação notadamente entreguistas, como rede Globo e Cia.
   Ao final do ano, ante muitas reclamações dos setores populares, Dilma trocou o ministro da Fazenda, e o novo ministro, um tal de Barbosa, prometeu aos banqueiros e multinacionais continuar a fazer exatamente o que Levy estava fazendo. Ou seja, a entrega do país ao capital estrangeiro, em detrimento do povo.
   Apavorada com a possibilidade de ser impedida de continuar a governar o país por ela falido, Dilma se entregou de pés e mãos amarradas aos setores da direita, com os quais sempre teve alguma afinidade.  
   Foi aos Estados Unidos para beijar a mão do imperador Obama, aceitando assinar alguns suspeitos acordos bilaterais, que tornou o nosso país ainda mais dependente da matriz norte-americana. O Acordo Bilateral Sobre Cooperação em Matéria de Defesa permite a realização de treinamentos conjuntos, cursos e estágios. O Acordo sobre Proteção de Matérias Sigilosas une os serviços de informação dos dois países. Ou seja, o Brasil volta à época da ditadura militar, pelo menos até o governo de Ernesto Geisel (que denunciou o então secreto acordo militar entre Brasil e Estados Unidos) quando soldados brasileiros eram treinados nos Estados Unidos e havia total subserviência aos serviços secretos norte-americanos.
     Por falar em ditadura, ela voltou. Só que agora não tem exército nas ruas, mas policiais invadindo casas e prendendo pessoas por mera suspeita, ao arrepio da Constituição. Novas leis ditatoriais promulgadas ainda durante o primeiro mandato da Dilma permitem que quaisquer pessoas sejam presas por tempo indeterminado, desde que determinado juiz que mora em Curitiba assim determine. E não adianta habeas-corpus. O STF não concede “nem que a vaca tussa” – como diria a Dilma.
    Mesmo assim, a direita insiste em tirar a Dilma, que fez tudo o que o Aécio faria, e ainda mais. Querem porque querem o poder. Provavelmente porque poder é poder, dá status e é mais fácil entregar o que resta do Brasil com um canetaço do presidente da República do que através de sigilosos conchavos maçônicos. E a maçonaria e amigos íntimos estão conspirando - como sempre fazem, por hábito histórico – para tirar a Dilma e colocar no seu lugar – imaginem? – um maçom, como o vice-presidente Michel Temer.

No outro lado do mundo, a Rússia, ao contrário do Brasil, resolveu impor-se como país soberano. Depois de sofrer um cerco da OTAN junto às suas fronteiras, escolheu a Síria como campo de batalha e enviou para o país aliado, que pedia a sua ajuda, as suas Forças Aeroespaciais. Em doze semanas, desde 30 de setembro de 2015, praticamente derrotou o Estado Islâmico, a Frente Al-Nusra e demais exércitos de mercenários financiados e treinados pelos Estados Unidos e cúmplices no crime – como Israel, Turquia e Arábia Saudita. Para isso conta com o renascido exército sírio, com o Hezbollah libanês e com milícias do exército iraniano. Além dos curdos que moram na Síria e são constantemente atacados pelo exército genocida turco.
Aliás, a Turquia - famosa por outros genocídios desde o império turco-otomano, como o genocídio dos armênios, em 1915, que matou mais de um milhão e meio de pessoas daquela etnia – está se prestando a ser o menino de recados da Otan e quer provocar uma guerra com a Rússia de todas as maneiras que entende possíveis. Primeiro, derrubou um avião russo, depois invadiu a fronteira com o Iraque, está apoiando o governo da Ucrânia com armas e soldados e ameaça invadir a Síria.
A Rússia, com a paciência do urso que conhece a sua força, tem apelado para os meios diplomáticos enquanto se arma às pressas para enfrentar uma guerra que está se tornando (quase) inevitável contra a Turquia, OTAN e Estados Unidos.
No ano de 2015, Vladimir Putin foi reconhecido universalmente como o maior estadista russo, desde Vladimir Ulianov, também conhecido como Lênin. E, a continuar assim, provavelmente ele e seus colegas de governo consigam o que parece impossível: a paz mundial - apesar dos Estados Unidos e comparsas, que foram devidamente desmascarados pela Rússiae aos quais só resta optar pela guerra ou dar uma guinada de 180 graus nos seus projetos de domínio mundial.
A paz. É o que todos desejamos para 2016.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

ESTRATÉGIA DO TEMOR: RÚSSIA ADOTA TERRORISTAS DOS ESTADOS UNIDOS




O nome é Exército Livre da Síria, ou Exército Livre Sírio (ELS), um dos tantos grupos terroristas que atuam na Síria, patrocinados pelos Estados Unidos e aliados com o intuito de depor o governo sírio. Segundo a Wikipédia, o ELS surgiu de uma cisão no exército da Síria, em 2011. De acordo com a mesma fonte, a ruptura foi alimentada pelos Estados Unidos. “(...) O Exército Livre é armado e financiado por nações ocidentais e árabes (como Estados Unidos, Reino Unido e países do Golfo). Vários combatentes desse grupo também receberam treinamento de órgãos de inteligência americanos e europeus (...)” 

   No dia 24 de novembro de 2015, o jornal “Correio da Manhã”, de Portugal, em sua edição virtual ostentou o seguinte título: “Turquia vai formar 2.000 combatentes do Exército Sírio Livre”. O corpo da matéria: “A Turquia vai formar cerca de dois mil combatentes do Exército Livre Sírio, no seu território, depois de ter chegado a acordo com os EUA para esta formação, noticiou hoje o diário Radikal, no seu sítio na internet. Washington e Ancara estavam a negociar há algum tempo esta opção, preferida pelos turcos. Os combatentes vão ser treinados num campo situado na província de Kirsehir, na Anatólia Central, adiantou o diário de Istambul, citando fontes do Ministério dos Negócios Estrangeiros”. (http://www.cmjornal.xl.pt/cm_ao_minuto/detalhe/turquia_vai_formar_2000_combatentes_do_exercito_sirio_livre.html). 

   Portanto, o Exército Livre da Síria é formado por mercenários a soldo da OTAN. Assim como o Estado Islâmico. 

   Na mesma edição, sob o título “Combatentes do Exército Livre da Síria chegaram a Kobane”, o “Correio da Manhã” informa que um grupo de 50 “combatentes” do ELS teria chegado à cidade síria de Kobane – através da fronteira com a Turquia – para se juntar a mais 1.300 mercenários, ou “combatentes” do ELS. Diz, ainda, que os mercenários do ELS estariam ali para combater o Estado Islâmico, o que não é credível, pois o Estado Islâmico enriquece a Turquia com o petróleo roubado da Síria. O mais provável é que o ELS esteja protegendo o comboio de caminhões-tanques contra ataques do exército sírio. 

   No mesmo dia 24 de novembro de 2015, um caça russo Su-24 foi derrubado por um caça norte-americano F-16 sediado na base de Incirlik, na Turquia. A Rússia protestou, indignada, acusando o governo turco. E não reagiu. 

   Em 19 de dezembro de 2015, o jornalista Betho Flávio, do blog “Boilerdo”, assina a matéria sob o título “Líder do Exército Livre Sírio é um coronel norte-americano”. Um trecho: “O jornal egípcio AL-Arabi afirmou, na última sexta-feira, que um coronel norte-americano, chamado Cleveland, está supervisionando, treinando e fornecendo armamentos para o chamado ‘Exército Livre Sírio’. O jornal afirmou ter provas de que o coronel Cleveland está participando ativamente de campos de treinamento militar da organização, e contratando mercenários, chamados de ‘seguranças’, para integrar o Exército Livre. Algumas bases estão sendo construídas no norte da Turquia, no leste do Líbano e no Iraque, com todo apoio financeiro e militar norte-americano e assessoria da CIA e Mossad. O partido Irmandade Muçulmana está exigindo que todos os grupos rebeldes na Síria – alguns financiados pela Arábia Saudita, Qatar e Israel – utilizem apenas o termo ‘Exército Livre da Síria’, numa tentativa de centralizar as ações criminosas e terroristas contra o governo legítimo daquele país.” 

    Assim, verifica-se que o ELS não só é formado por mercenários a soldo da OTAN e treinado por oficiais norte-americanos, mas obedece a um estranho partido chamado “Irmandade Muçulmana”, provavelmente ligado ao Estado Islâmico. (http://boilerdo.blogspot.com.br/2011/12/lider-do-exercito-livre-sirio-e-um.html). 

   O jornalista Finian Cunningham, publicou no dia 04/12/2015, no Irã News, a matéria “Massacre prova cumplicidade da Turquia e de Washington no terror contra a Síria”. Ele reporta um massacre na aldeia síria de Kessab, em 21 de março de 2014, perpetrado pelo exército turco, apoiado por brigadas das milícias do Exército Livre da Síria, a al-Nusra (organização terrorista ligada à al-Qaeda) e o Estado Islâmico. O ataque foi contra civis, e muitos deles foram degolados. 

    “Em 1º de abril de 2014, 12 dias após o assalto ter começado, Ahmad Jarba, o líder pelo ocidente do Conselho Nacional Sírio (SNC na sigla inglesa) chegou à aldeia Kessab. O SNC é a ala política (no exílio) do Exército Livre Sírio. Jarba é um protegido do regime saudita. Ele foi a Kessab para inspecionar a ocupação e felicitar os militantes na sua bem sucedida violação e entrada na província de Latakia. No mês seguinte, em maio, Jarba foi recebido na Casa Branca pelo presidente Barack Obama, onde também foi cumprimentado pela Conselheira de Segurança Nacional, Susan Rice.” 

    “O ‘estupro de Kessab’, como o Dr. Declan Hayes o denominou, foi conduzido pelos combatentes do Exército Livre da Síria – FSA na sigla em inglês – conjuntamente com as brigadas jihadistas das tribos turcomanas e da AL-Nusra, assim como com as do Estado Islâmico.” (http://www.iranews.com.br/massacre-prova-cumplicidade-da-turquia-e-de-washington-no-terror-contra-a-siria/). 

    E agora o título de uma matéria do “Sputnik News (antiga “Voz da Rússia”): “Exército Livre da Síria disposto a conceder dados para combater Daesh. Daesh é o Estado Islâmico. Leiam e se alarmem. Um “general” do famigerado ELS está disposto a colaborar com a Rússia, etc. Um pequeno trecho: “Em 11 de dezembro, o presidente russo, Vladimir Putin, disse que mais de cinco mil pessoas do contingente do Exército Livre da Síria, junto com as forças governamentais, fizeram os terroristas recuar”. (http://br.sputniknews.com/mundo/20151214/3063645/exercito-livre-da-siria-dipostos-a-conceder-dados-a-russia-para-combater-daesh.html). 

    E quem acredita que o exército governamental da Síria está combatendo ao lado do terrorista Exército Livre da Síria, contra o Estado Islâmico? Seria um suicídio e Assad não é bobo, mesmo que, neste momento, pareça estar como refém da política russa. E se é assim, não é improvável que a Rússia tenha aceitado a chantagem da OTAN e dos Estados Unidos para tirar Assad do governo e está se aliando com os terroristas “moderados”, mercenários treinados pelo ocidente. 

    A Rússia, que mandou a sua garbosa força aérea para a Síria, lutar contra os inimigos do governo sírio, agora está unida a esses mesmos inimigos do governo sírio. A Rússia que dizia que terroristas são terroristas e que todos eles devem ser combatidos igualmente, subitamente passa a selecionar os seus alvos, provavelmente atendendo às instâncias dos Estados Unidos e da Turquia que não desejam que os “seus” terroristas tão duramente treinados sejam alvejados pelos aviões russos. 

    Outra notícia, do site Terra, de 24 de outubro, um mês antes da derrubada do Su-24 russo: “Rússia oferece apoio à oposição síria”. “A Rússia estaria preparada para dar cobertura aérea ao Exército Livre da Síria (...) afirmou neste sábado (24/10) o ministro russo do Exterior, Sergei Lavrov, em entrevista a uma televisão estatal de seu país “Estamos preparados para também apoiar a oposição patriótica, incluindo o chamado Exército Livre da Síria, a partir do espaço aéreo. O principal, para nós, é apoiar as pessoas que podem, com autoridade plena, representá-los (os sírios) e representar grupos armados que combatem o terrorismo”. (http://noticias.terra.com.br/russia-oferece-apoio-a-oposicao-na-siria,5ad0011f2ea267e4d67c660b965326d741aph40o.html). 

    Quando o caça russo Su-24 foi derrubado por um caça provindo da Turquia e a Rússia não reagiu, a não ser através das vias diplomáticas, isso causou uma grande surpresa. Medo? Estratégia? Estratégia do Temor? 

    Quando tropas da Turquia invadiram o Iraque e a Rússia nada fez para defender o suposto país aliado, apenas protestou formalmente, muitos ficaram escandalizados. Mas, afinal, é no Iraque e não na Síria, foi a alegação geral. 

    No entanto, quando aviões da coligação liderada pelos Estados Unidos bombardearam o exército sírio, assassinando três soldados, causando 30 feridos e a destruição de armas e equipamentos, e a Rússia nada fez em defesa dos seus legítimos aliados, mesmo já tendo instalado os famosos mísseis S-400 na sua base da Síria – então, quem está acompanhando as peripécias bélicas no Oriente Médio percebeu que algo tinha mudado na política russa. 

    Convenhamos que a Rússia é um país capitalista e está na Síria não só para mostrar a sua força, mas também para divulgar e vender os produtos da sua indústria de armamentos. Mesmo assim, ninguém imaginava que a “Mãe Rússia” fosse trair. Ou recuar. Ou se intimidar. Ou se amesquinhar. Muito menos se imaginava que Putin fosse usar a máscara de Gorbachev. Mas espero estar errado.

sábado, 5 de dezembro de 2015

TEATRO DO ABSURDO NO ORIENTE MÉDIO




O caça F-16 armado com mísseis ar-ar que derrubou o caça-bombardeiro russo Su-24, que estava desarmado, partiu da Turquia, mas o seu piloto era turco ou estadunidense? A força da Turquia reside no apoio dos Estados Unidos que somente este ano enviaram muitos caças F-16 e F-15 para a base aérea de Incirlik, a alguns segundos de vôo da fronteira com a Síria. Também em Incirlik calcula-se que existam cerca de 90 bombas nucleares B-61, que poderiam ser jogadas facilmente sobre os sírios ou iranianos, não fosse a instalação dos mísseis S-400 da Rússia, que agora supostamente protegem todo o território sírio, e os mísseis S-300 que protegem o Irã contra as veleidades bélicas da OTAN. 
   Falar-se em Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) no Oriente Médio é um absurdo. Ou um eufemismo. A Turquia, por exemplo, que pertence àquela organização, tem acesso ao mar Negro e ao Mediterrâneo, mas está longe do oceano Atlântico. E, no entanto, possui o segundo maior exército da OTAN, calculado em mais de 400.000 soldados. Sua marinha está bem equipada, com seis submarinos, corvetas, fragatas, navios de assalto e – o mais importante – o apoio incondicional da marinha de guerra dos Estados Unidos. No dia 5 de novembro, o Ministério das Relações Exteriores da Turquia anunciou que o destróier USS Donald Cook e outros navios de guerra norte-americanos estarão sempre no leste do mar Mediterrâneo para proteger a Turquia. 
   Proteger de quem? Não do aliado Estado Islâmico, que poderia ser rebatizado para Estado Islâmico da Turquia, do Qatar, da Jordânia e da Arábia Saudita Sob Proteção dos Estados Unidos e de Israel. Na mesma ocasião (05/11/2015), a representante do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Laura Seal, comunicou que jatos F-15C se juntariam a cerca de uma dúzia de jatos A-10S na base aérea de Incirlik, na Turquia. “Eu não disse que não era motivado pela Rússia”, declarou Laura Seal ao Daily Beast, quando também falou que o reforço aéreo estadunidense serviria para garantir a segurança de aeronaves turcas.

O IMPÉRIO TURCO-OTOMANO  
A Turquia é a ponta-de-lança dos Estados Unidos contra Irã e Síria. E contra a Rússia. Localizada entre a Europa e a Ásia, com o seu território ocupando toda a península da Anatólia e se estendendo pela Trácia Oriental, no sudeste da Europa, provavelmente é o país melhor localizado estrategicamente. Constantinopla, hoje Istambul, foi a capital do Império Romano do Oriente, ou Império Bizantino, de 395 d.C. a 1453, quando foi tomada pelos turcos. 
   O Império Otomano (fundado por Otman, de onde deriva o nome ‘otomano’) compreendia a Anatólia, o Oriente Médio, parte do norte da África e do sudeste europeu. O seu território abrangia uma área de cinco milhões de quilômetros quadrados e estendia-se desce cerca do estreito de Gibraltar, a oeste, ao mar Cáspio e ao golfo Pérsico, a leste, e desde as fronteiras com a Áustria e Eslovênia, no norte, ao Sudão e Iêmen, no sul. Com a seqüência de guerras, principalmente contra os russos, foi perdendo territórios até acabar o Império Otomano, e hoje se restringe à República da Turquia, dominada e manipulada pelos Estados Unidos e pela OTAN. 
   Antes disso, muito antes, onde hoje se situa o sítio arqueológico de Hisarlik, na Anatólia, a concordarmos com Homero e com o arqueólogo alemão Heinrich Schliemann aquela foi a região da lendária Tróia, assediada pelos aqueus durante dez anos e finalmente conquistada graças aos ardis de Odisseu. Também foi a terra do império Hitita, dos trácios, dos frígios e dos lídios, até ser conquistada pelos romanos e, posteriormente, pelos turcos otomanos. A capital Constantinopla permaneceu capital do Império Otomano até a dissolução do império, em 1922, e foi oficialmente renomeada Istambul pela República da Turquia, em1930. Hoje, a capital é Ancara, com mais de quatro milhões de habitantes, e Istambul – a maior cidade do país - tornou-se uma referência histórica que atrai milhares de turistas anualmente. 
   E desde aquela época, com um pé na Ásia e outro na Europa, os sucessivos governos turcos seguem uma política ambígua, em geral unindo-se ao bloco político aparentemente mais forte. Durante a Segunda Guerra Mundial a Turquia declarou-se neutra até 1945 quando, verificada a derrota do Eixo, uniu-se aos vencedores.  
   Graças à sua posição geográfica, a Turquia exerceu uma função preponderante na diplomacia com os países do Oriente Médio, sempre se destacando como aliada de Israel. A Turquia foi o primeiro país de maioria muçulmana a reconhecer o Estado de Israel – em 1949. Apesar de algumas aparentes diferenças, Turquia e Israel têm interesses econômicos em comum. Há evidências de que Israel ajudou a criar o Estado Islâmico; existe a certeza de que a Turquia defende o Estado Islâmico. Em troca, Turquia e Israel compram petróleo barato roubado pelo Estado Islâmico na Síria e no Iraque e revendem o excedente para países da Europa. 
  De acordo com o jornal israelense “Globes” (http://www.globes.co.il/en/article-israel-buys-most-oil-smuggled-from-isis-territory-report-1001084873), contrabandistas turcos e curdos são os encarregados de negociar o petróleo com o Estado Islâmico e depois oferecê-lo ao governo de Israel e ao governo da Turquia. O petróleo chegaria na cidade de Zakho, no Curdistão iraquiano junto à fronteira com a Síria e Turquia, onde é feita a mediação do preço do óleo cru com compradores da Turquia e de Israel. Em seguida, uma rede de contrabandistas se encarrega de distribuir o petróleo diretamente para seus clientes. 
   Segundo o jornal ‘Al-Araby al-Jadeed” o petróleo é vendido entre 15 e 18 dólares o barril, enquanto as marcas WTI e Brent são comercializadas ente 41 e 45 dólares por barril, no mercado internacional. Diariamente, o Estado Islâmico vende cerca de 40.000 barris de óleo cru, equivalentes a mais de um milhão e meio de dólares. Em agosto, o ‘Financial Times’ informou que 75% do óleo cru que Israel havia comprado nos últimos tempos procedia do Curdistão iraquiano. Mais de uma terça parte desse contrabando passou por Ceyhan, um porto turco no Mediterrâneo (https://actualidad.rt.com/actualidad/192971-desvelar-ruta-crudo-estado-islamico-turquia). Turcos e israelenses agem como se fossem nações irmãs.

A DÉCIMA TERCEIRA TRIBO
Arthur Koestler, judeu sionista, no seu livro “A Décima Terceira Tribo” defende a tese de que turcos e israelenses possuem uma origem étnica comum: o império turco Khazar. Em defesa dessa tese, o geneticista molecular israelense Eran Elhaik, da universidade John Hopkins, afirma que as raízes askhenazi dos judeus residem no Cáucaso – fronteira da Europa com a Ásia, situada entre o mar Negro e o mar Cáspio – e não no Oriente Médio. Esses judeus são descendentes, argumenta ele, dos khazares, um povo turco que viveu num dos maiores estados medievais da Eurásia e depois migrou para a Europa Oriental, nos séculos 12 e 13. 
   Os khazares foram convertidos ao Judaísmo no século VIII, e essa conversão generalizada é a única maneira de explicar o enorme crescimento da população judaica européia para 8 milhões no início do século XX, a partir de sua minúscula base na Idade Média. Os convertidos ao Judaísmo não estavam por nenhuma razão antropológica ligados à Palestina.  
  Arthur Lilienthal, historiador e jornalista judeu anti-sionista, escreveu diversos livros sobre o Oriente Médio, incluindo o famoso “A Conexão Sionista”. Em 1989 lançou “A Que Preço, Israel?” onde afirma: “Judeus que haviam sido banidos de Constantinopla por Leo III acharam um lar entre os khazares então pagãos e, em competição com os missionários muçulmanos e cristãos, converteu-os à fé judaica. Sinagogas e escolas foram construídas para dar instrução sobre a Bíblia e o Talmude”. (...) “Os bizantinos estavam temerosos e invejosos dos khazares e, numa expedição conjunta com os russos, conquistaram a parte khazariana da Criméia, em 1016 (Criméia era conhecida como “Chazar” até o século 13).” (...) “Os judeus khazarianos se espalharam através da Rússia e da Europa Oriental.” 
   Os judeus khazares que migraram para a Europa Oriental foram chamados de askhenazi. De acordo com o Gênesis, capítulo 10, versículos 1 a 3, Asquenaz era filho de Gomer que era filho de Jafé. Assim, além dos khazares askhenazis não terem origem no Oriente Médio, tampouco são semitas, mas descendentes de Jafé e não de Sem ou de Cam. (De acordo cm o Gênesis, Sem, Cam e Jafé foram os três filhos de Noé que repovoaram o mundo após o dilúvio). Ou seja, os judeus khazares askhenazis não são os judeus do Livro, mas khazares turcos que se converteram ao Judaísmo. Os judeus de origem semita, ou judeus legítimos, são chamados de sefarditas. 
   Os sefarditas são descendentes dos judeus oriundos do Oriente Médio, após a segunda diáspora, estabelecidos em Portugal e na Espanha (em hebraico Sefarad) até serem expulsos no final do século 15, em 1492, fugindo para diversos países ribeirinhos do Mediterrâneo, como Líbia e Marrocos, assim como para os Bálcãs e, em menor número, Europa Ocidental. Os judeus sefarditas, na sua maioria são de pele escura. Os askhenazi são brancos. 
  Geneticamente, sefarditas e askhenazis são diferentes. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer, as judias askhenazis tem muito mais chances de portar as mutações que aumentam o risco de câncer de mama e de ovário. (http://zh.clicrbs.com.br/rs/vida-e-estilo/vida/noticia/2013/12/exame-para-identificar-gene-do-cancer-gera-dilema-em-israel-4356310.html). Por coincidência ou não, o câncer é a segunda causa de morte na Turquia (a primeira são as doenças cardiovasculares), e, nas mulheres turcas, o câncer de mama tem alta incidência. As características genéticas de judeus askhenazis e turcos são muito parecidas. 
   Mais de 80% dos judeus que moram no Estado de Israel são askhenazis. E os askhenazis, que são brancos, discriminam a minoria sefardita de tez escura. Na Europa, os askhenazi falavam o iídiche, língua da família indo-européia, não semítica. Os judeus sefarditas, além do hebraico, falam o ladino, que tradicionalmente foi escrito usando o alfabeto hebraico, com a escrita da direita para a esquerda. É a linguagem de Maimônides, do poeta Yehuda Halevi e de toda a tradição da Cabala, o Zohar, e do Código da Lei Judaica, pelo rabino sefardita Joseph Caro. 
   A elite israelense é dominada pelos askhenazis de origem khazar, gentios que não descendem dos israelitas bíblicos. Conforme Arthur Koestler, os khazares assumiram o nome de askhenaz porque Yirmeyahu (Jeremias) profetizou que Asquenazim e seus aliados conquistariam a Babilônia. As versões históricas árabes sobre os khazares, e as versões ocidentais, concordam que os khazares foram um dos povos turcos que viviam na área que se estende entre o mar Cáspio e a fronteira da China. Seriam descendentes de Togarma, neto de Jafé, ancestral de cada tribo turca. Togarma teve dez filhos, o sétimo deles foi Khazar. (http://www.brasildefato.com.br/node/10417). A elite do Estado de Israel é turca.

ÁRABES E TURCOS
Deve-se lembrar que árabes e turcos são etnias diferentes. Os árabes são originários da península Arábica, de onde se espalharam, a partir do século 7, em uma grande corrente migratória provocada pela expansão do islamismo. O principal fator de união entre os árabes, além da religião muçulmana, é a língua, que pertence ao tronco semítico, assim como o hebraico. Os turcos são originários da Ásia Central, de onde migraram por volta do século 10, formando mais de 80% dos habitantes da Turquia. O seu idioma era escrito em caracteres arábicos até 1929, quando adotaram o alfabeto latino. 
   Durante seis séculos, até a Primeira Guerra Mundial, os árabes do Líbano e da Síria foram dominados pelo Império Turco-Otomano. Quando da migração de sírios e libaneses para o Brasil, no início do século 20, eles usavam passaportes turcos. O passaporte era turco, mas o portador era árabe. Disto resultou uma confusão, que gerou o hábito dos demais brasileiros chamarem os árabes de turcos. 
   A maioria dos árabes brasileiros sente-se ofendida quando chamada de turcos. Não suportam os turcos, que são considerados bárbaros em relação aos árabes, que tem uma longa tradição cultural e artística. No século 6, enquanto os europeus mergulhavam na escuridão da Idade Média, os árabes absorviam o conhecimento da antiga Pérsia em conjunto com a herança do helenismo. A invasão da Península Ibérica pelos árabes, a partir de 711, e a sua ocupação durante quase oito séculos levou aos europeus que ainda não estavam divididos em países uma cultura jamais imaginada.  
   Houve grandes avanços na medicina, navegação, astronomia e matemática, assim como na agricultura, na culinária, na arquitetura e em todas as artes. Os árabes deram a conhecer o fabrico do papel e da pólvora, divulgaram a bússola e instrumentos de navegação pelos astros, assim como o astrolábio. O conceito de “zero”, descoberto por um matemático muçulmano hindu mudou a forma dos europeus realizarem cálculos e expressar números, ao adotarem os algarismos indo-arábicos. Aliás, o matemático persa Al-Khwarizmi deu origem à palavra “algarismo”. Abu al-Qasim Maslamah al-Majriti foi o mais antigo astrônomo árabe espanhol. Ibn Sina, conhecido por Avicena, foi um dos maiores nomes da historia da medicina. Na língua portuguesa, os árabes acrescentaram cerca de seiscentas palavras. O palácio do Alhambra, em Granada, é considerado uma das maravilhas da arquitetura.  
   A Turquia aderiu à OTAN em 1952. No ano anterior, na primavera de 1951, a base aérea de Incirlik foi construída pelos Estados Unidos e ali se instaurou o poderio aéreo do império, ameaçando todo o Oriente Médio. Sem os Estados Unidos e a OTAN a Turquia não teria poder algum e sua influência na região seria mínima.  
   Os turcos têm especial ódio aos russos, com os quais travaram diversas guerras nos séculos 17, 18 e 19, invariavelmente sofrendo grandes derrotas. No primeiro desses confrontos (1677-1681) a Rússia conquistou a região da Ucrânia. Em 1783 a Rússia conquistou a província da Criméia. Na guerra de 1787 a 1791, a Turquia perdeu a Bessarábia. De 1828 a 1829, nova guerra, com a Rússia conquistando a desembocadura do Danúbio e o direito de estabelecer um protetorado sobre a Moldávia e a Valáquia. Na guerra da Criméia (1853-1856) o Império Otomano aliou-se à Sardenha, Grã-Bretanha e França e conseguiu recuperar Moldávia e Valáquia (província da Romênia). Em 1877, nova guerra com vitória da Rússia, que conquistou um grande território no Cáucaso, na Dobruja e na região do delta do Danúbio. 
    De 1908 a 1922, depois das várias derrotas contra a Rússia e guerras contra outros países, como Grécia e Itália, o Império Otomano foi se diluindo, com a cessão do Kwait e da Albânia em 1913, e finalmente foi vencido pelos russos, britânicos e franceses durante a Primeira Guerra Mundial, na batalha de Galípoli. Em 1919, o Império Otomano foi dissolvido.  
   Os turcos, filhos de Jafé, estão espalhados pelo mundo – desde a Europa Oriental e Mediterrâneo à Sibéria e oeste da China. Cerca de 180 milhões de pessoas tem uma língua turca como sua língua nativa e mais de 20 milhões falam uma língua turca como segunda língua. Há seis países turcos independentes: Azerbaijão, Cazaquistão, Quirguistão, Uzbequistão e Turquia. Das 83 subdivisões da Federação Russa, 10 são turcas, com bandeira, parlamento, leis e língua oficial de estado (junto com o russo). Talvez por isso – e também por uma questão de lógica e bom discernimento – Vladimir Putin, presidente da Rússia, ao acusar o governo da Turquia de traição e perfídia por ter derrubado o caça russo Su-24, fez questão de salientar que somente o governo era o responsável por tais atos, e não o povo turco.

TEATRO DO ABSURDO
Ficou comprovado que o governo de Recep Erdogan, presidente da Turquia, não só está envolvido com o Estado Islâmico, como o patrocina – assim como o Qatar, a Arábia Saudita, a Jordânia, Emirados Árabes Unidos Paquistão e Israel. E, por trás de todos esses países estão os Estados Unidos, a Grã-Bretanha, a França, a Alemanha... todos os membros da OTAN e da União Européia. Ou quase todos. Talvez alguns desses países, como Grécia e Portugal, pertençam à União Européia e à OTAN a contragosto, como se estivessem metidos em uma camisa de força, mas é quase certo que também estes não deixam de receber os dividendos do petróleo barato roubado pelo Estado Islâmico na Síria e no Iraque. 
   Desmascarada a OTAN como organização terrorista, seria adequado que mudasse o nome. Quem sabe Organização Terrorista da América do Norte ou Organização Terrorista dos Amigos Nazistas. Ou amigos do alheio. Mesmo com o Ministério da Defesa da Rússia apresentando fotos de satélites e um vídeo onde se vêem caminhões-tanque cruzando a fronteira com a Turquia sem inspeção, o Departamento de Estado e o Pentágono, apesar de confirmarem que as provas fotográficas são verídicas, afirmam que não vêem os postos fronteiriços com caminhões-tanque que cruzam a fronteira. 
   O major-general Igor Konashenkov reagiu: “Quando os oficiais norte-americanos afirmam que não vêem o petróleo contrabandeado por terroristas para a Turquia, isso parece mais um patrocínio do que astúcia”(http://br.sputniknews.com/mundo/20151205/2980675/russia-declaracoes-dos-eua-sobre-siria-sao-teato-do-absurdo.html). Na verdade, um latrocínio. 
   Um representante do Pentágono afirmou: “O que eu não vi é a fronteira com caminhões que atravessam a fronteira, e isso é porque eu não acredito que exista”. Konashenkov retrucou: “Em geral, as recentes declarações de representantes do Pentágono e do Departamento de Estado fazem lembrar um ‘teatro do absurdo’, com base em padrões duplos e jogo de palavras. Primeiro eles vêem algo, depois já não vêem. Eles dividem a oposição em terroristas moderados e não-moderados. Mesmo os terroristas, nas suas opiniões, são ruins ou muito ruins”. 
  A imprensa ocidental também não vê nada. Coitados, são tão maus jornalistas que se contentam com as notícias repassadas por agências de informação, tipo Reuters ou CNN. O paciente major-general russo acrescentou: “Se isso não é suficiente para os nossos colegas americanos, aconselhamos que eles assistam a um vídeo de seus drones na fronteira sírio-turca e regiões petrolíferas controladas por terroristas, que aumentou em três vezes nos últimos anos”. Konashenkov declarou, ainda, que a Rússia tem conhecimento que a base aérea de Incirlik, na Turquia, é usada por drones e aeronaves norte-americanas que operam nos territórios da Síria e do Iraque. 
   Quem não sabe que não só a base aérea de Incirlik, mas o governo da Turquia está sendo usado? Talvez os comprados jornalistas ocidentais, que participam do jogo da cegueira promovido pelos Estados Unidos. “Como podemos entender a declaração do chefe do Pentágono, o senhor Carter, que durante o último mês os Estados Unidos selecionaram os seus alvos de acordo com o fator custo-benefício? Durante um ano e meio destruíram só os objetivos dos terroristas que não eram rentáveis? Agora ficou claro de onde os terroristas conseguem dinheiro para a compra de armas, o recrutamento e a perpetração de atentados sangrentos e porque o território sob controle do Estado Islâmico é agora cem vezes maior” - completou Igor Konashenov. (https://actualidad.rt.com/actualidad/193396-rusia-eeuu-estado-islamico-financiacion). 
  Cem vezes maior desde que começou o “bombardeio” da coalizão liderada pelos Estados Unidos. E aumentando. Os terroristas que fugiram da Síria devido à ação do exército sírio e da força aérea russa estão invadindo o Afeganistão e conquistando amplos territórios naquele país, com o apoio de parte do Talibã. Também invadiram a Lìbia, que foi transformada em terra de ninguém depois da invasão da OTAN que derrubou o governo e assassinou Moamar Kadafi. Agora é terra dos mercenários da OTAN. 
    Enquanto isso, o governo Russo informou que, de 26 de novembro a 4 de dezembro, a aviação russa cumpriu 431 vôos de combate, infligindo ataques pontuais contra 1471 alvos de terroristas na províncias de Aleppo, Idlib, Latakia, Hama, Homs, Deir ez-Zor e Raqqa. 
    Durante esses ataques foram destruídos um grande depósito de armamentos e munições, 12 estações de processamento de combustível, 8 campos de petróleo e mais de 170 estações de distribuição de petróleo, além de postos de comando, campos de treinamento e depósitos de armamentos menores. O Estado Islâmico está sendo dizimado na Síria. O cerco a Palmira já foi completado e breve teremos notícias da tomada pelo exército sírio da mais importante região estratégica do país. Apesar de todo o apoio dos Estados Unidos e aliados, o exército mercenário de terroristas está sendo derrotado em larga escala, na Síria, e tentando se reagrupar em países como Afeganistão e Líbia. 
   Estados Unidos e aliados não querem perder o petróleo da Síria e do Iraque e, como resposta, mandaram a Turquia colocar tropas na fronteira, ameaçando invadir a qualquer momento, sob pretexto de atacar os curdos. Estão fazendo de tudo para provocar uma guerra com a Rússia, mesmo sabendo que as chances de vitória ou derrota são iguais para os dois lados. A Turquia, entusiasmada com o apoio da OTAN, resolveu, nesse meio-tempo, brincar de guerra no Iraque, logo ali, ao lado da Síria. Uma brincadeira que se diz pacífica e tem como desculpa ajudar os mesmo curdos que a Turquia combate na Síria. 
   Um verdadeiro teatro do absurdo, se não ficassem ainda mais claras as intenções da OTAN de invadir a Síria, uma vez que os seus terroristas não estão dando conta do recado. Tropas estão sendo mobilizadas na Alemanha e Grã-Bretanha, assim como nos Estados Unidos. Brevemente estarão desembarcando na Síria, desejosas de derrubar o governo sírio. É uma guerra por etapas, como disse o Papa Francisco. Até agora.
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