sexta-feira, 29 de março de 2013

PORTUNHOLANDO



- Pero que si, pero que no, si la Corea del Norte ataca...

- E dizer que o Palmeiras foi goleado! E o Grêmio perdeu! O Luxemburgo vai dançar a continuar assim. O time sem defesa...

- Una cerveza? No, yo no quiero una cerveza ahora. Pero, según le decia, una guerra nuclear...

- Eu sei. Pode afetar a Internet e a TV. Nem posso me imaginar sem o Face!

- Ellos están cercados. Vea usted que los ianques desean la guerra. Una prueba a las nuevas armas. Como consecuencia de ello, aniquilarse viejos enemigos.

- E ficaremos sem futebol na televisão! A única coisa boa é que a Dilma pode decretar feriado. Luto pelos mortos da guerra.

- No solamente las personas. Te as fijado en lo todo? la naturaleza a padecer.

- Já não basta a inflação? E se a guerra for no domingo de Páscoa? Eu estava pensando em fazer um churrasco com os amigos.

- Si, yo comprendo suyas agruras. El fútbol, como no. Repare que no solamente del pan...

- Churrasco!

- Uno churrasquito? Millones en lo horno!

- Eu não quero nem saber. Estamos do outro lado do mundo.

- Es un solo mundo, aprehende?

- Pra que aprender? Isso é conversa pra otário. Eu nem terminei o segundo grau e estou em todas, como diria o Lula. Por falar nisso, quer comprar o Pão de Açúcar? Faço um precinho camarada.

- Lula es chistoso! Camarada? Tú conoces a Don Pepe Mujica?

- Pra mim, quem muge é vaca!

- Vacaciones? Bien cosa de brasileño...

- Acho que não estamos falando a mesma língua.

- Por supuesto, por supuesto... Pero, como yo lo decía, la Corea del Norte aislada, la China actuando con felonia...

- Hoje é dia de Maria?

- No. Hoy es viernes santo.

- E quem gosta de vermes?

- Te gustan gusanos? No hablamos la misma lengua. Con permiso.

quinta-feira, 28 de março de 2013

A GUERRA SECRETA (2) – ILUMINISMO E ILUMINADOS


O século XVIII foi a época do Iluminismo. Em 1748, Montesquieu lança “Do Espírito das Leis”, propondo a divisão do governo em três poderes teoricamente independentes; Rousseau escreve “Do Contrato Social”, alertando contra uma humanidade desfigurada por leis que enjaulam o homem; Diderot, D’Alembert, Voltaire e Montesquieu escrevem A Enciclopédia, que pretende resumir todo o conhecimento humano até o momento, desafia os dogmas da Igreja e elogia pensadores protestantes. Composta por 33 volumes, a maior parte escrita por Diderot, A Enciclopédia exaltava as vitórias humanas em todos os terrenos, inclusive descrevendo os instrumentos manuais tradicionais e os novos dispositivos da Revolução Industrial da Inglaterra.

   Por trás da razão, além e abaixo, formavam-se outros grupos que se diziam iluministas, zombavam dos maçons racionalistas e propunham a busca do que consideravam  como a verdadeira iluminação.

   O inventor, cientista e filósofo Emanuel Swedenborg entrava em contato com seres superiores e revolucionava o quieto esoterismo e a retilínea ciência com as suas descobertas e publicações, e chegou a influenciar escritores como Jorge Luís Borges e William Blake e filósofos como Immanuel Kant e Laplace. Em seu livro Principia enunciou a teoria atômica, a origem solar da Terra e dos planetas, a teoria ondulatória da luz e a hipótese nebular, apropriada mais tarde pelo astrônomo inglês Thomas Wright. Criou o Rito de Swedenborg, que atraiu a muitos iluminados espiritualistas e (até então) ateus maçons iluministas. Ao mesmo tempo, é tido por muitos como o verdadeiro fundador da doutrina espírita, mais tarde codificada por H. L. Denizard Rivail (Allan Kardec).

   Martinez de Pasqually retomava a luta estritamente mística, fundando o Martinezismo que, segundo Papus (pseudônimo do médico e escritor Gerard Encausse), pretendia combater “os nefastos efeitos desses pedantes de lojas, desses pseudo-veneráveis que, abandonando o caminho a eles fixado pelos Superiores Desconhecidos quiseram tornar-se pólos no Universo e substituir a ação do Cristo pelas suas e os conselhos do Invisível pelos resultados dos escrutínios emanados da multidão”. Formavam-se grupos esotéricos, em sua maior parte oriundos da maçonaria, mas descontentes com os rumos políticos daquela ordem secreta.

   Na linha de Pasqually e de Swedenborg destacou-se o Martinismo, criado por Louis Claude de Saint-Martin, apelidado de “Filósofo Desconhecido”, que escreveu mais de 100 cadernos de instruções e pregava a iniciação individual. Junto a ele, Jean Baptiste de Willermoz, um dos primeiros discípulos de Pasqually, além de uma gama seleta de intelectuais que se consideravam os verdadeiros iluminados e se diziam rosacruzes, procurando resgatar o cristianismo esotérico sem combater a Igreja mas, também, sem considerá-la como única e verdadeira representante do Cristo. Não aceitavam os maçons, a quem chamavam de “templários” que somente se preocupavam com a vingança de Jacques De Molay e com a obsessão pelo poder material.

   Surgiram diversas associações. Os Iluminados de Avignon, organização esotérica fundada em 1766 por Dom Pernety; a loja A Perfeita Amizade, de Lyon, fundada por Willermoz nos anos 1750; a Loja dos Elus Cohen constituída por uma seleção entre os membros do Capítulo da Águia Negra, que havia sido organizado em 1765, eram as principais lojas de iluminados que pretendiam o contato direto com anjos ou seres evoluídos. Para isso faziam seus exercícios ritualísticos, especialmente nos solstícios e equinócios. E recebiam mensagens e canalizações.

   Talvez com a exceção do Martinismo, a maioria desses grupos foi posteriormente assimilada pela maçonaria. Não foi surpresa quando, naquele meio místico-esotérico formado por grupos de iluminados cristãos e iluministas ateus, surgiram os Illuminati, exatamente no dia de Beltaine ou Walpurgis, também chamado de Dia das Bruxas.

 Provavelmente acompanhado de mais seis companheiros, assim como Loyola ao fundar a Companhia de Jesus, no dia 1º de maio de 1776, o jesuíta Adam Weishaupt, líder dos Illuminati, começava o contra-ataque contra a maçonaria usando a mesma arma dos maçons – a infiltração. Só que, desta vez, dentro das sociedades secretas que acreditavam estar dominando o papado e o mundo. Se os maçons gerenciavam a Igreja, a ideia era destruir a Igreja e as monarquias que a sustentavam, por a nu os segredos maçônicos tão conhecidos dos jesuítas e infiltrar a maçonaria através de um projeto de dominação que atrairia para os Illuminati os seus principais mestres sequiosos de poder.

   Uma agenda a longo prazo, mas que poderia ter alguns resultados imediatos no coração da Europa. O seu único e principal defeito é que tratavam a História como linear, acreditando que poderia ser traçada antecipadamente, prevista em detalhes os seus movimentos, monitorados por uma elite intelectual que acreditava que as grandes massas populares existiam para satisfazer os seus caprichos, desde que devidamente manipuladas e orientadas no caminho desejado.

   Os maçons, felizes com a momentânea vitória sobre o Cristianismo e acreditando que o seu principal adversário – a Companhia de Jesus - estava destruído ou fora de combate, deixaram-se infiltrar facilmente por aqueles iluminados que se revelavam tão misteriosos e apontavam novas possibilidades e portais esotéricos a ser desvendados. Além disso, na França, os maçons diziam-se ateus e eram hostilizados pela Grande Loja da Inglaterra, que tinha elegido um deus, chamado de Grande Arquiteto do Universo, com a esperança de granjear maiores simpatias na corte e entre os banqueiros burgueses sempre desejosos de um respaldo místico para as suas perfídias econômicas.

   Imagine-se a balbúrdia secreta. Todos aqueles conventículos formados por pessoas que se acreditavam ímpares, ciosas de seus segredos e ansiosas pelo contato com o Céu ou com o domínio da Terra, ou ambos, em uma França onde reinava o triste Luiz XVI e onde aportavam grandes magos como Cagliostro e o imortal Saint-Germain, com a sua indefectível chama violeta. Lyon, a capital da magia, das missas negras e brancas, dos duelos entre bruxos... Paris, com uma loja maçônica em cada esquina e com os senhores burgueses exigindo o seu pedaço de poder. De início, um poder pacífico, dividido com o soberano, mas, enfim, poder!

   Naquele momento de ebulição das ideias na egóica Europa que sempre se considerou o centro do mundo, maçons templários e ateus, rosacruzes iluminados e cristãos, jesuítas permeando a todos de maneira invisível, independência dos Estados Unidos promovida por maçons e reestruturação do mundo ocidental em mascarados feudos, uma nova proposta, a princípio muito secreta, começou a tomar forma e a atrair nobres e burgueses de todas as facções: a sinarquia.

   Desenvolvida oficialmente por Saint-Yves d’Alveydre durante a segunda metade do século XIX como um sistema mundial filosófico-político governado por sábios que dividiriam entre si o poder judicial, econômico e espiritual, a proposta sinárquica já existia muito antes do século XVIII de tantas luzes e era a razão da existência política de maçons e jesuítas, ou templários divididos nesses grupos, antagônicos na aparência.

   Com a diferença de que além do purismo de Saint-Yves d’Alveydre, que acreditava que a sinarquia tornaria o mundo mais justo, os sinarquistas maçons (e jesuítas) não pretendiam fazer do mundo um lugar de igualdade, mas a base de dominação de uma casta que, naturalmente, teria eles, os donos das ciências secretas que provocariam as necessárias reformas mundiais, como eleitos.

   Para isso, seria necessário destruir o mundo conhecido e impor uma nova ordem a que chamaram de democracia, baseando-se no termo ateniense, mas que jamais seria o governo do povo, apesar das demagógicas eleições e da divisão do Estado em três poderes que fingiam o fim do cego despotismo da nobreza ainda não esclarecida. Ao contrário, o povo deveria ser usado para corroborar e “oficializar” a ascensão das classes cada vez mais privilegiadas.


(Continua).

sexta-feira, 22 de março de 2013

A GUERRA SECRETA (1) – JESUÍTAS E MAÇONS





O Presidente do Uruguai, Pepe Mujica, foi coerente e preferiu não ir ao Vaticano para a posse do novo papa. Não é católico. Enviou o seu vice-presidente. Há uma grande diferença entre humildade e humilhação. Humildade é o que Jesus ensinou e que nos é tão difícil; humilhação também consiste em beijar o anel dos poderosos em troca de manchetes e prováveis votos. Em janeiro de 1077 o imperador Henrique IV, do Sacro Império Romano-Germânico passou pelo que foi chamado depois de humilhação de Canossa. Ficou três dias e três noites às portas do castelo de Canossa para que o papa Gregório VII revogasse a sua excomunhão. Em setembro de 1303, o rei da França, Felipe o Belo, esbofeteou o papa Bonifácio VIII, que não suportou a humilhação e morreu cerca de dois meses depois.

   Felipe o Belo foi o responsável pela perseguição e aparente desintegração da Ordem dos Templários. Em 13 de outubro de 1307 centenas de templários foram presos em todo o território francês, incluindo o grão-mestre Jacques De Molay, que foi morto em 1314, após um longo processo por heresia no qual nada ficou comprovado e quando o papa Clemente V já se dispunha a absolver a Ordem. Muitos outros templários foram mortos, mas a maioria conseguiu fugir, assim  como toda a grande esquadra templária. Supõe-se que receberam abrigo em países como Portugal, Espanha, Suíça e nas ilhas britânicas, principalmente Escócia.

  A maçonaria que, na Idade Média, era uma associação de construtores que guardavam com muito zelo os segredos da profissão através de palavras de passe e sinais, passou a atribuir-se inédito valor ao pesquisar suas origens e descobrir que sempre existiram construtores ou não haveria civilização. Ao contrário das outras corporações de ofício – ferreiros, marceneiros, tecelões, etc... – a corporação dos maçons (construtores) necessitava deslocar-se pela Europa para construir igrejas, fortalezas, estradas e todas as demais obras para as quais era contratada. Reza a lenda que entraram em contato com os templários, os quais, nas suas relações com as seitas e religiões do Oriente Médio durante as desastradas Cruzadas, teriam adquirido um conhecimento oculto superior.

   Era a época das descobertas e redescobertas e o hermetismo, a Cabala, as ciências ditas “ocultas” alegravam a vida dos enfastiados nobres e dos ricos burgueses que já estavam cansados do domínio nada esotérico da Igreja Católica e entendiam que o mundo devia  pertencer àqueles que tem mais armas e mais dinheiro. É muito provável que esses nobres e burgueses, ainda bem antes do Renascimento tenham usado a associação dos pedreiros livres como forma de agir subterraneamente contra o inimigo representado pela Igreja, mesmo que a Grande Loja da Inglaterra, a primeira organização maçônica a aceitar membros que não pertenciam à guilda dos pedreiros, tenha sido organizada oficialmente em 1717. Além de operativa, a maçonaria passava a especulativa e todos os mistérios do universo estavam à disposição dos ricos adeptos, incluindo os supostos segredos dos templários.

   Antes disso, bem antes, quando o Protestantismo tomou vulto em diversos países e a Igreja se sentiu ameaçada, Inácio de Loyola fundou a Companhia de Jesus, em 1540. Católicos e protestantes promoviam pios massacres, sendo o mais famoso a Noite de São Bartolomeu, quando mais de 2.000 protestantes foram mortos na França. Nos países protestantes houve a expulsão e assassinato de sacerdotes católicos e de cerca de 30.000 anabatistas. Na Inglaterra, católicos eram assassinados em massa.

   Um dos reformadores, o teólogo Thomas Munzer, levou a Reforma a sério, não a entendendo como uma luta entre reis e a Igreja, e em 1524 promoveu a revolta dos anabatistas na Alemanha - no que foi chamado de Guerra dos Camponeses – e propondo uma sociedade sem diferenças sociais e sem propriedade privada. Os camponeses foram massacrados e sobre isso ficou célebre a frase de Lutero: “Contra as hordas de camponeses, quem puder que bata, mate ou fira, secreta ou abertamente, relembrando que não há nada mais peçonhento, prejudicial e demoníaco que um rebelde”.

   Não é improvável nem impossível que Lutero (e demais reformadores) fosse maçom ou “templário”, como sugerem algumas lendas da época, incluindo o livro contemporâneo “O Papa Negro”, de Ernesto Mezzabotta, que, mesmo sendo pobre literatura de ficção, no seu primeiro capítulo “revela” que os templários teriam subsistido secretamente, desde a sua oficial dissolução no século XIV, preparando a vingança contra a arqui-inimiga Igreja Católica Romana, a começar pelas reformas protestantes. Mezzabotta – obviamente autor maçom – diz em seu livro que Inácio de Loyola pertenceria aos templários, conhecendo todos os segredos, mistérios, sinais e passes da organização, mas que teria se retirado, junto com mais seis companheiros para fundar a Companhia de Jesus, com o objetivo principal de defender a Igreja dos seus inimigos: protestantes e maçons.

   Os dois grupos – maçons e jesuítas – provinham da mesma base templária e desejariam a destruição da Igreja. Os maçons através de uma organização secreta que iria minar, aos poucos, as bases da Igreja. Loyola desejava (no livro citado) acabar com o espírito de rebelião, que tinha a Reforma Protestante como ponta de lança, defender e aumentar o Poder do Papa e da Igreja e, com o passar do tempo, fazer do catolicismo uma fonte de poder de onde poderia veicular facilmente as ideias templárias, o que daria aos jesuítas o domínio do mundo. Ou seja, os objetivos eram os mesmos; os meios a serem empregados para alcançá-los é que eram diferentes.

   Nos séculos XVI e XVII, os jesuítas cresceram muito, e além  de defenderem a Igreja da perniciosa infiltração maçônica, espalharam-se pelo mundo levando a mensagem do Cristianismo. O seu trabalho missionário foi único na história da Igreja. Eram cerca de 13.000 em todas as partes do mundo. Na América do Sul ficaram famosos os trinta povos guaranis, reduções jesuíticas que formaram uma república que, segundo vários autores, superaram em muito a civilização ocidental. Por quase meio milhão de quilômetros quadrados, no Paraguai, Argentina e Rio Grande do Sul, as "tierras de Dios", em cada missão, tinham tudo em comum. Os indígenas da nação guarani, antes considerados “selvagens”, alcançaram alto grau de desenvolvimento social e intelectual, formando o que foi considerado depois uma autêntica república socialista, que durou quase dois séculos – de 1610 a 1768. Uma ameaça à proposta de uma civilização capitalista que surgia na Europa maçônica. A República Guarani foi destruída pelos exércitos de mamelucos paulistas, escravagistas apelidados de “bandeirantes”, unidos aos exércitos espanhóis.

   No Oriente, os jesuítas promoveram a evangelização em países como Ceilão, Tibete, ilhas Molucas, Etiópia, Marrocos, Congo e, principalmente China e Japão – lugares onde o trabalho de São Francisco Xavier teve grande destaque. Crescia a Companhia de Jesus em todos os lugares, ao mesmo tempo em que ajudava a Igreja a fazer a sua Reforma Católica. E quanto mais crescia, mais era combatida. Intrigas surgiam de toda a parte e os chefes da Igreja, devedores de favores às casas reais, temiam aquela ordem formada por combatentes do Cristianismo.

   Após as guerras religiosas a maçonaria tomou a frente na luta semi-aberta contra  o papado e os jesuítas. Suas ideias gerais eram muito atraentes para aqueles que detestavam a Igreja: Jesus não era Deus; não havia céu ou inferno; não havia Trindade de pessoas divinas – somente o Grande Arquiteto do Universo. Premissas inaceitáveis para o catolicismo, que as combateu através de bulas papais colocando sob excomunhão todo aquele que pertencer a uma organização maçônica. Mesmo assim, e apesar da rápida expansão dos jesuítas, a Igreja e os governos europeus foram infiltrados pela maçonaria, sendo que na década de 1700 os estadistas mais poderosos pertenciam a lojas maçônicas: o marquês de Pombal, consultor-real de Portugal, o conde de Aranda, consultor-real na Espanha, o ministro de Tillot e o duque de Choiseul na França, o príncipe von Kaunitz e Gerard von Swieten na corte dos Habsburgos na Áustria, a família real da Inglaterra e quase toda a sua corte. Por extensão, as colônias européias nas Américas eram dominadas por maçons. Pouco depois da fundação oficial da Grande Loja da Inglaterra, em 1717, as principais lojas maçônicas européias tornavam-se inimigos da jurisdição papal centralizada e dos ensinamentos dogmáticos da Igreja.

   Entre 1759 e 1761, todos os jesuítas de Portugal foram expulsos e os seus bens confiscados. Em 1767 aconteceu o mesmo na Espanha e colônias. Em 1769, o cardeal Lorenzo Ganganelli somente se transformou no papa Clemente XIV depois de prometer às potestades maçônicas que liquidaria com os jesuítas. Em 21 de julho de 1773, a bula papal “Dominus ac Redemptor” extinguia a Companhia de Jesus. Os maçons exultavam: agora só restava conquistar o resto do mundo. No entanto, na época da tentativa de extinção dos jesuítas, Catarina da Rússia e Frederico da Prússia negaram-se a aceitar o decreto de Clemente XIV e acolheram nos seus territórios o que restava da Companhia de Jesus. 

    Em 1776, um jesuíta que fora reitor da Faculdade de Direito da Universidade de Ingolstadt, na Baviera, fundou a Ordem dos Perfectibilistas ou Ordem dos Iluminados da Baviera, também conhecida como Illuminati.

(Continua).

quinta-feira, 14 de março de 2013

SEU CHICO E O BERGOGLIO 666

Jorge Mario Bergoglio, Papa Francisco I, ao lado do muito irmão e amigo general Videla, um dos maiores assassinos
da ditadura militar argentina.



- É o fim dos tempos! – exclamou seu Chico, quando nos sentamos para matear na  varanda da sua casa, logo após assistirmos a fala do novo Papa.

- Está meio friozinho mesmo, seu Chico.

- Não é pelo friozinho, criatura, que isso passa assim como tudo nesta vida – como diria uma letra de tango. É pela falta de vergonha! Não é que me vem um sujeito aqui dos costados, logo ali na Argentina, bota um anel de rubi no dedo, diz que virou Papa de repente, assim num átimo, e, ainda por cima escolhe o meu nome! Francisco! Mas não podia ser mais discreto, escolher Diego Armando, Messi ou o nome de algum daqueles ex-ditadores de quem ele era tão parceiro nas rodas de mate, como o Emilio Massera? Taí: Emilio dava um bom nome de Papa pra ele, mas Francisco...

- Não seria um nome muito santo, seu Chico. O tal de Emilio Massera foi um Almirante responsável por milhares de mortos durante a ditadura argentina.

- E eu não sei? Foi quando a Besta do Apocalipse estava se recreando aqui pelo sul das Américas. Depois é que mudou definitivamente lá pro norte. Gostou do MacDonald’s e da Dysneilândia. O senhor sabe que uma Besta do Apocalipse, por mais besta que seja, vez que outra tem que espairecer, e, como besta que é, escolheu logo o lugar oficial das bestas.

- O que eu não entendo, seu Chico, é como é que a autointitulada grande mídia ficou tão surpresa com a eleição do Bergoglio. Eles não sabem de tudo?

- E o senhor acredita que eles não sabiam? Não que eles saibam de tudo, porque quem sabe de tudo é Deus e é o que nos resta neste momento.

- E os favoritos que eles anunciavam? O Scola, o Scherer, cardeais dos Estados Unidos, Canadá, Gana e até Filipinas? Com que cara a mídia ficou com essa escolha que eles dizem inusitada?

- Com a mesma cara e ainda rindo por dentro, de nós que acreditamos neles. E agora Inês é morta e está entronizado como Papa um dos preferidos dos donos da mídia, que só é grande porque tem por trás gente com muito dinheiro que adora manipular a opinião pública, que é um dos brinquedos preferidos deles.

- E eu que pesquisei um bocado neste último mês também não me dei conta, seu Chico.

- Pois essa tal de grande mídia tem maneiras de descobrir e também de encobrir os fatos, quando lhe interessa. Saiba que o argentino que se transformou em Papa – e ainda por cima Francisco! – sempre foi o principal adversário de Bento XVI. Para não dizer inimigo. No conclave que elegeu Bento XVI, em 2005, quase foi eleito o Bergoglio e seria natural que ele fosse um dos favoritos agora.

- E ninguém falou nada, seu Chico.

- Se falassem ele seria “queimado”, como aconteceu em 2005. Então, foi encoberto por algumas fumaças escuras.

- “Queimado” por que?

- Pelos seus atos muito pouco católicos na época da ditadura militar argentina. É acusado de haver facilitado a prisão de dois jesuítas aos quais teria a obrigação de proteger – Orlando Yoris e Francisco Jalics. Além disso, o novo Papa foi citado em vários processos judiciais pela sua cumplicidade com a ditadura. Esses detalhes, e mais alguns igualmente escabrosos, estão no livro do jornalista argentino Verbitzky – “A Ilha do Silêncio”.

- Mas seu Chico, como é que um homem desses foi eleito Papa?!

- Eu é que lhe pergunto, embora tenha algumas idéias a respeito.

- Quais são?

- Foi ele quem, indiretamente, tirou o Lugo da presidência do Paraguai. E sabe como? Através da interceptação de documentos que deveriam ser confidenciais e entregues em mãos de Bento XVI. O senhor se lembra do escândalo do vazamento de documentos do Vaticano, que andam chamando de Vatileaks e coisa e tal? É coisa de mafioso, não é? Andaram prendendo o mordomo e sempre o mordomo é o culpado... Mas, na verdade, tem gente graúda por trás. Gente como o Bergoglio.

- Seu Chico, seu Chico... O senhor até pode não estar muito feliz porque o Bergoglio escolheu o nome de Francisco, mas daí a confundir o Vatileaks com a deposição do Lugo...

- Não é confusão. Às vezes eu atropelo os assuntos... Mas veja bem: um bispo do Paraguai, Dom Rogelio Livieres, entregou em mãos de Bento XVI um documento secreto em que ele avisava que o bispo e presidente do Paraguai, o Lugo, tinha “filhos segundo a carne”. Eu li isso no blog... Espere aí... “La Cigüena de La Torre”. Olhe a cópia. E isso foi em 2008. Está percebendo?

- Aqui fala em um tal Dom Pedacchio.

- E leia mais abaixo que provavelmente foi esse Dom Pedacchio que, como oficial encarregado do Congresso dos Bispos no Paraguai, passou a informação para o Bergoglio e como o atual Papa não gostava muito do Dom Rogelio Livieres, do Paraguai, deixou a informação “transpirar” – como se diz na famosa grande imprensa. E isso desestabilizou o Lugo. Na primeira chance, tiraram ele. Por isto que eu digo que, indiretamente, quem depôs o Lugo foi o Bergoglio.

- Mas e daí para o Vatileaks?

- Pois o Bergoglio não tem uma corrente de informantes, como esse tal Dom Pedacchio, por exemplo? E não deve ser só aqui pelos arredores. O senhor transponha para o Vaticano, principalmente depois que o Bergoglio perdeu a eleição de 2005 para o Ratzinger. Está pegando? Ele pode ter descoberto um punhado de coisas sobre aqueles cardeais que se viram na obrigação de elegê-lo.

- Mas, se é assim, ele vai acabar depondo a Cristina Kirchner.

- Se vacilar, até a dona Dilma, com o Lula de quebra. E veja o título desta outra matéria, que transcreve aquela em português: “A Máfia Argentina do Cardeal Jorge Mario Bergoglio”. Matéria escrita em 2011. Se fosse de agora, aquele pessoal que gosta de ler a Veja iria dizer que começou a onda de difamações, mas quando foi eleito o Ratzinger eles foram os primeiros a difamar, ou coisa que o valha. E isto porque o Bento XVI não era da turma deles, dos clubes, das Lojas... Já o Bergoglio... Quer apostar como o tal de Francisco I vai abafar o caso do Vatileaks?

- Ele tem a obrigação de revelar o resultado das investigações, seu Chico. Afinal, o Bento XVI disse que somente o seu sucessor poderia ler esse documento. E todo mundo vai cobrar do Francisco, ou Bergoglio. Era o que mais se falava antes do conclave.

- Mas olha só a televisão, vivente! Já não estão criando uma imagem beatífica do cara? Anda de ônibus, faz a própria comida, vai nas favelas, mora num pequeno apartamento, um homem simples, bom, e por aí vai... Tudo conforme o script. Se alguém voltar a falar nos documentos que revelam quem eram os corvos que faziam vazar os documentos confidenciais do Papa Bento XVI para o Silvio Berlusconi e seus capangas da imprensa, sabe o que vão dizer agora?

- O que?

- Vão dizer que já passou, o novo Papa está eleito e que aquilo não tem mais importância. E ai do bispo ou cardeal que se animar a cobrar do Bergoglio! Fora os que votaram nele, os demais devem estar bem ressabiados e falando fininho. Eu imagino como deve ter sido o conclave. O primeiro dia foi só para medirem as forças; o Bergoglio queria saber quantos votos os amigos do Ratzinger receberiam. Viu que estava fácil, que as vaidades se dividiam e foi para o segundo dia confiante. Na dúvida, falando com um e com outro – e imagine-se lá o que terá falado! – e quando ainda houve indecisão de manhã, aí pelo meio-dia, na hora do almoço, deve ter se levantado, feito uma rápida e humilde oração para que todos se aquietassem e depois falou: “Bueno, senhores, este conclave já está demorando mais que a pedida e jo quiero preguntar se, afinal de contas, vão ou não vão me eleger Papa? Tiengo comigo algunos papelitos comprobadores...” E sentou-se. De tarde foi eleito.

- A sua imaginação é algo, seu Chico!

- E quem sabe se é só imaginação? O escritor Horácio Verbitzky – aquele que escreveu “A Ilha do Silêncio” que deixa clara a participação da Igreja argentina durante os anos da ditadura que matou quase dez mil pessoas – disse, sobre Bergoglio: “Eu não conheço casos modernos de bispos que tiveram participação política tão explícita”. Veja que, na época, o Bergoglio era somente bispo.

- Mas ele não fez uma espécie de “mea culpa”, depois?

- Fez. Os tempos mudavam e, com os tempos, os donos do poder e ele queria permanecer junto ao poder. Com o Menem ele conseguiu. Já com os Kirchner... E não pense que foi só aquele caso dos dois jesuítas sequestrados, ou do Lugo traído. Ele foi cúmplice do roubo de bebês que nasciam de mães presas pela ditadura.

- E as mães?

- As mães eram assassinadas. Jogadas de aviões. Fizeram isso com centenas de pessoas. Era um dos brinquedos preferidos dos militares argentinos.

- O Bergoglio ajudou a sequestrar os bebês, seu Chico?

- Não exatamente. Mas não lhe duvido que, se fosse convidado, não resistiria à tentação. Eram prisões clandestinas, centros de tortura. Muitas das mulheres que eram presas nesses lugares estavam ou ficavam grávidas. Geralmente, eram estupradas pelos militares. Bergoglio sabia. A omissa Igreja argentina sabia e os ingênuos crentes iam pedir ajuda logo para a Igreja. Numa dessas, Alícia de La Cuadra, que foi a primeira presidente das Avós da Praça de Maio – aquelas que tiveram seus filhos e filhas assassinadas pela ditadura dos Bergoglio, Massera, Videla & Cia – solicitou a intervenção de Bergoglio para achar a sua neta, que fora sequestrada. O atual Papa deu a ela uma carta dizendo que o bispo argentino Mario Piqui intercederia no caso. E o bispo declarou que a criança teria sido adotada por um bom casal e que não haveria como voltar atrás. Este é apenas um dos casos sobre a cumplicidade da Igreja com a ditadura militar, na Argentina.

- Estou ficando apavorado, seu Chico. E lhe faço a mesma pergunta anterior: como é que uma pessoa dessas foi eleita Papa? Parece o Bórgia do século vinte e um.

- E talvez seja, e acredito que, agora, quem vai fazer a sua própria comida será o Bento XVI. Mas como ele foi eleito? Parece ser muito simples: a maioria maçônica o elegeu. E os que não são maçons e participaram do conclave foram chantageados. Não há outra explicação lógica. Nem todos os membros da igreja argentina foram colaboradores amigos da ditadura. Inclusive, muitos foram presos e mortos. Bergoglio foi um dos acusados e negou, é claro. Mas veja o que diz o jornalista e escritor Horacio Verbitzky: “Tenho detalhes de uma ilha chama El Silencio, no delta do Tigre, que foi vendida pelo episcopado argentino para a Marinha para servir como centro clandestino de prisão. Mas isso foi negado pelo cardeal perante os juízes. Ele (Bergoglio) negou fatos que eu tenho claramente documentados”.

- Mas há corroboração dessas acusações?

- Bergoglio foi denunciado pela primeira vez por crimes de cumplicidade com a ditadura em 1986, no livro “Igreja e Ditadura”, escrito por Emilio Mignone, defensor dos direitos humanos e que teve a sua filha desaparecida. E novas acusações se sucederam. Os argentinos esclarecidos devem estar mais apavorados do que nós com esse conclave que elegeu o próprio poderoso chefão. Ou a Besta 666.

- Pois eu estava olhando o nome do Bergoglio, que ofende a memória de São Francisco, e olhe só! Bergoglio tem o nome GOG inscrito, o que lembra o Apocalipse e a batalha contra Gog e Magog.

- Não será GOG de “Grande Oriente Governando”? E o Magog o senhor pode encontrar juntando o MA de Mario, embora fique um pouco forçado.

- Nada deve ficar encoberto, disse Jesus. E o 666? Ele é o Papa de número 266. Há dois seis; falta o terceiro.

- Quem sabe multiplicando o 2 pelos dois 6? Ou seja: duas vezes seis é igual a 12 e mais duas vezes seis novamente é igual a 12.

- E 12 mais 12 é igual a 24; 2+4 igual a 6! E temos o 666! Seu Chico!... Será?...

- Devemos orar muito para que não seja.

quarta-feira, 6 de março de 2013

HUGO CHÁVEZ - ETERNO REVOLUCIONÁRIO



Certa vez disseste, em um início de discurso: “ALCA... ALCA... Al carajo! Não me lembro do ano, mas sei que foi na época em que eles tentavam impor a ALCA – Aliança para o Livre Comércio das Américas, para o livre comércio deles nas Américas. Os outros governos latinos já estavam quase se curvando, em “fase de negociações”, e tu disseste: “Não!”. Todos estremeceram. A Venezuela dizia não. Logo depois, a Bolívia, o Equador, parte da América Central repetiam o não. Os grandes países em território da América Latina – Argentina e Brasil – não souberam dizer nem sim nem não. Outros, disseram um tímido “sim”, que foi se calando aos poucos.

  Passado algum tempo, a Argentina ainda nacionalista, concordou em dizer não. O Brasil de Lula, que se fingia de esquerdista, continuou quieto. Traçava suas estratégias: acordos bilaterais com os governos mais sorridentes, Mercosul, amizade explícita com o ôba, ôba do Obama, ajudar a invadir o Haiti, navios brasileiros na costa do Líbano,  Lula se transformando no Cara – quantas caras?

     Percebeste logo que não era possível contar com um Brasil tão carnavalesco.

  Bolivarianismo, um socialismo diferente dos tradicionais, baseado no amor à pátria e na defesa das suas riquezas. Uma proposta que o povo venezuelano adotou e que foi seguida por outros países. Em lugar da ALCA nasceu a Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América – Tratado de Comércio dos Povos, ou simplesmente ALBA – Aliança Bolivariana para as Américas. Venezuela, Cuba, Bolívia, Nicarágua, República Dominica, Equador, Antigua e Barbuda, São Vicente e Granadinas. Pequenos países com um grande ideal: comércio e autodefesa contra o inimigo comum.

     Bolivarianismo, um socialismo tão diferente que até os partidos comunistas mais rançosos se surpreenderam e reagiram. O que estava acontecendo e como poderia acontecer sem uma vanguarda do proletariado, sem o leninismo do início do século XX? Ainda não sabiam que a força do povo é a sua própria vanguarda. A direita esperneou: “Chávez é um ditador, mesmo que eleito, porque ser eleito várias vezes não faz parte do jogo democrático!” A direita sempre esperneia em relação a tudo o que é novo. Tem medo de mudanças.

    Bolivarianismo, exatamente o oposto do neo-liberalismo: saúde, educação, emprego, moradia, consciência política, luta pela salvação do planeta, cultura, principalmente a verdadeira cultura, a que brota do povo. E tudo isso alicerçado pelo dinheiro que vem da terra, pela estatização dos bens naturais.

    Foram poucos os líderes mundiais que conseguiram transformações sociais em pouco tempo e raríssimos, talvez nenhum além de ti, os que fizeram revoluções pacíficas. Para isso, é necessário muito amor e desprendimento, diferente do individualismo que consome as pessoas neste momento em que vivemos uma nova idade das trevas que tenta apagar o espírito.

     Dizem por aí que morreste. Não liga, dá uma daquelas tuas gargalhadas. Talvez não te ouçam por aqui, planeta dominado por seres demasiado densos, quase tenebrosos. Agora estás livre, conversando com Deus sobre novas revoluções; com Chê Guevara, Martí, Rosa Luxemburgo, o velho Marx, tantos... Aprendendo novas coisas, porque a vida é eterna, bela e revolucionária e não plácida e serena como o céu dos conformados.

sábado, 2 de março de 2013

A ESTOLA E O AVENTAL (5) – CONSPIRAÇÃO E RENÚNCIA



Em 28 de setembro de 1978, morria aos 65 anos João Paulo I, o italiano Albino Luciani, 33 dias depois de ser eleito Papa. Oficialmente morreu de infarto, mas o cadáver de um pontífice nunca é submetido a autópsia. Em 28 de fevereiro de 2013, outro Papa defensor da Igreja deixou o Vaticano. Desta vez, antecipou-se ao muito provável infarto, caso não se decidisse a renunciar. E mesmo após deixar de ser Papa, o cardeal Joseph Ratzinger ainda corre o perigo de um ‘mal súbito’ e por isso prefere a clausura – um lugar onde poderá, supostamente, ficar seguro daqueles que não se contentaram com a sua renúncia.

“(...) E oxalá que todos, julgando a árvore pelos seus frutos, soubessem reconhecer o germe e o princípio dos males que nos acabrunham, dos perigos que nos ameaçam! Lidamos com um inimigo astuto e fecundo em artifícios. Ele prima em fazer cócegas agradavelmente nos ouvidos dos príncipes e dos povos; tem sabido prender uns e outros pela doçura de suas máximas e pelo engodo das suas lisonjas.” (Leão XIII).

     Em Bagé, onde eu moro, e que já foi uma cidade católica, no dia 28 esperei o ressoar dos sinos – o que seria, no mínimo, um sinal de gratidão ao Papa que se afastava. Nada. Entrei em uma das igrejas e ali estavam duas ou três pessoas. Da mesma maneira no restante do mundo, com honrosas exceções. Desde o anúncio da renúncia de Bento XVI, as reações que houveram foram, senão de euforia, de indiferença. Aqui, temos um bispo distraído. Passa a impressão de que uma ordem secreta, emanada, talvez, do que seriam as catacumbas no início do Cristianismo, ou de lugares ainda mais estreitos em espírito, fez com que as pessoas, incluindo os pseudo-católicos, vissem a renúncia do Papa como um acontecimento “normal”, indigno de maiores manifestações.

     Não era um Papa carismático e agradável aos donos do mundo, como João Paulo II, Paulo VI ou João XXIII. Ao contrário. Parecia-se  muito com João Paulo I. Desejava uma Igreja forte, independente e realmente cristã. Liderava a resistência à impiedade representada pela infiltração maçônica em todos os setores da Igreja, e que ameaça destruí-la. Foi atacado de todas as maneiras e não só se defendeu como contra-atacou. Certa vez, falou: “Diria que uma Igreja que procura ser acima de tudo atrativa já está no caminho errado. Pois a Igreja não trabalha por si, não trabalha para aumentar seus próprios números, e assim o seu poder. A Igreja está a serviço de um Outro”.


     Não admitia a Igreja subserviente aos interesses políticos de governos corruptos. Em outra ocasião, deixou claro: “Um governo sem princípios morais não passa de uma quadrilha de malfeitores”. Bento XVI incomodava muito pela sua força moral, pelo seu conhecimento da religião e, principalmente, pelo discernimento que revelava ao combater o principal inimigo da Igreja. “Estamos nos dirigindo a uma ditadura do relativismo, que não reconhece nada como definitivo e tem seu mais alto valor no próprio ego e nos próprios desejos”.


A CONSPIRAÇÃO


Comenta-se que a conspiração começou em 2010 ou, mesmo, logo após a sua posse. Os maçons, dentro e fora da Cúria, teriam decidido que Bento XVI estava ficando inconveniente.


     Após inúmeras pressões para que o Papa desse continuidade ao “espírito” do Concílio Vaticano II – o que levaria à diluição e gradativa destruição da Igreja Católica, em um dos seus momentos de luta mais ferrenha Ratzinger desabafou: “Às vezes, o ar que respiramos em nossas sociedades não é saudável, está contaminado por uma mentalidade que não é cristã, porque está dominada por interesses econômicos, preocupada apenas com as coisas terrenas e privada de uma dimensão espiritual”.


    Em 2009, o Papa resolveu reabilitar o bispo britânico Richard Williamson, que nega a existência do Holocausto e, por essa razão, tinha sido excomungado por João Paulo II. Junto com Williamson, outros três bispos tiveram as suas excomunhões revogadas, mas Williamson é um caso à parte. Para os judeus e sócios, negar o Holocausto é um pecado grave e, como todos sabem, João Paulo II fazia do Judaísmo a sua segunda (ou primeira) religião. Além disso, Williamson afirma que os ataques ao World Trade Center, em 11 de setembro de 2001, originaram-se dentro do governo dos Estados Unidos. Duplo pecado mortal.


    Williamson criou polêmica ao questionar a existência das câmaras de gás. “Se eu encontrar provas (do Holocausto) então retificarei o que disse” – mas considerou que o pedido de desculpas ainda poderia demorar muito, visto as provas ainda não terem sido encontradas. Assim, foi excomungado por João Paulo II, por delito grave de livre pensamento, e reabilitado por Bento XVI.


    Não tardaram as manifestações de repúdio. O teólogo suíço Hans Küng pediu a renúncia de Bento XVI, afirmando ao jornal “Franfurter Rudschau”: “É hora de substituí-lo”. Simples assim.


     Traçou-se um plano, como sói acontecer em todas as conspirações. Atacar o Papa diretamente daria motivo a sábias defesas e Ratzinger é exímio esgrimista com as palavras. O correto seria agredir, injuriar aqueles que estavam mais próximos ao Papa. O alvo principal: Tarcisio Pietro Evasio Bertone, 78 anos, cardeal Camerlengo e primeiro-ministro do Estado do Vaticano.


   Em abril de 2010, quando o cardeal Bertone declarou, baseado em informações de psiquiatras e psicólogos, que o homossexualismo estava ligado à pedofilia, a imprensa do mundo inteiro bradou que os homossexuais sentiam-se ofendidos com as declarações de Bertone. Seguiram-se discussões, informações e desinformações até o assunto se esgotar. No mesmo ano, em junho, Tarcisio Bertone era acusado de encobrir escândalos sexuais nos Estados Unidos durante os anos 1970 – o que foi negado, sendo que Bertone afirmou que a Congregação para a Defesa da Fé teria agido imediatamente.


     Seguiram-se meses de ataques à Igreja, como se ela fosse a culpada pela pedofilia no mundo e a única igreja ou associação a conter homossexuais e pedófilos. Observe-se, por exemplo, que a igreja Anglicana aceita padres declaradamente homossexuais, mas como é uma igreja dominada por maçons é muito protegida. Durante todo o período do seu pontificado Bento XVI interveio severamente quando de casos confirmados de pedofilia dentro da Igreja, o que não aconteceu durante João Paulo II e não é cabível que a imprensa estivesse tão cega antes de Bento XVI.


     Em fevereiro de 2012, o jornal “Il Fatto Quotidiano” anunciou a possibilidade de um complô contra a vida de Bento XVI. O arcebispo de Palermo, Paolo Romeo, ao visitar a China teria comunicado que o Papa seria assassinado dentro de 12 meses – até novembro de 2012. Angelo Scola, monsenhor de Milão, seria o sucessor e, além disso, o Papa viveria em constante conflito com Tarcisio Bertone.


    O mesmo jornal publicara, a 4 de fevereiro, acusações de corrupção no Vaticano, atribuídas ao núncio dos Estados Unidos, Carlos Maria Vignó. Por outro lado, Bertoni também era acusado de esconder as supostas verdadeiras revelações do Terceiro Segredo de Fátima.


     Atacava-se por todos os lados. O cerco começou a ficar sufocante mesmo para o corajoso Ratzinger quando, em maio de 2012, o jornalista Gianluigi Nuzzi publicou um livro – “Sua Santidade” - basicamente composto por documentos confidenciais do Vaticano e que tinha como principais alvos o cardeal Tarcisio Bertone e o monsenhor George Ganswein, secretário particular de Bento XVI – justamente a pessoa que tinha detectado o vazamento das informações.


     No livro aparecem todo o tipo de fofocas e intrigas no Vaticano, acusações de encobrimento de escândalos sexuais e os confrontos com a chanceler da Alemanha, Ângela Merkel, sobre aqueles que negam o Holocausto.


    O vazamento dos documentos foi apelidado de “Vatileaks” e se descobriu que um dos responsáveis era o mordomo do Papa, Paolo Gabriele, que admitiu a culpa, dizendo que fizera tudo sozinho para defender o Papa e a Igreja. Enquanto Gabriele estava preso e sob investigações novos documentos foram publicados, em primeira mão pela revista Panorama, do grupo Mondadori, propriedade de Silvio Berlusconi – maçom pertencente à Loja Propaganda Due.


     Os documentos também apontavam para Ettore Gotti Tedeschi, presidente do Banco do Vaticano (IOR), investigado por lavagem de dinheiro e por passar informações confidenciais a terceiros. Nas suas cartas a Bento XVI Tedeschi teria demonstrado temor de ser demitido por Bertone devido à sua política de transparência.


     Para acalmar os boatos que não se confirmaram, Tedeschi foi realmente demitido e chamado para ocupar o seu lugar o advogado alemão Ernst Von Freyberg, pessoa da confiança de Ratzinger – imediatamente acusado pela imprensa de ser ex-membro do quadro executivo do estaleiro Blohm+Voss, que fabrica navios de guerra.


     A estratégia da conspiração em andamento era caluniar e afastar os mais próximos ao Papa. Primeiro, foi cooptado o mordomo que servia a Bento XVI, para roubar documentos secretos do Vaticano. Esses documentos foram manipulados por aquele tipo de mídia para colocar sob suspeita a Tarcisio Bertone e George Ganswein, secretário particular do Papa. Ao mesmo tempo, colocava-se em atrito aberto o presidente do banco do Vaticano, Ettore Tedeschi com Tarcisio Bertone, que foi obrigado a demiti-lo.


   Daniel Estulin, um dos últimos jornalistas investigativos do mundo, autor de “A Verdadeira História do Clube Bilderberg”, uma espécie de anti-Dan Brown, em entrevista à televisão espanhola, declarou: “O Vaticano é o principal inimigo de algumas das principais sociedades secretas do mundo e a maçonaria está muito infiltrada no Vaticano. Nas últimas décadas, os postos importantes recaíram em mãos da maçonaria e Bento XVI era um rival muito incômodo”.


     Estulin não é o único a constatar o óbvio. O que não tem sido dito, no entanto, é que a maçonaria é a mãe do capitalismo, do consumismo e do suicídio espiritual. O principal objetivo dos lluminati, que usam a maçonaria, é o domínio do mundo e a imposição de uma nova ordem, com um governo mundial e uma religião que sirva a todos os gostos, travestida de ecumenismo. E para que isso aconteça, faz de tudo para destruir as grandes religiões: Islamismo e Cristianismo.


     Bento XVI, em sua última mensagem de ano novo disse claramente que a mentalidade egoísta e individualista é o resultado de um capitalismo financeiro descontrolado. Pediu um novo modelo econômico e regras éticas para o mercado, dizendo que a crise financeira global é prova de que o capitalismo não protege os mais fracos da sociedade. Condenou as desigualdades entre ricos e pobres e se referiu aos focos de tensão e confronto gerados por essas diferenças sociais. Acrescentou que a humanidade tem uma vocação inata pela paz e rezou pelo dom da paz, citando palavras de Jesus: “Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus”.


     Ou seja, o Papa apontou diretamente a maçonaria e sua visão materialista como responsável pelo Mal que governa o mundo, provocando desigualdades e opressões. Depois disso, a 11 de fevereiro, anunciou a sua renúncia, consciente de que preservar a própria vida e tentar morrer de morte natural, fazendo parte da corrente de fé e orações que luta pela sanidade da vida espiritual, é mais coerente do que se expor a um acidente ou inesperada doença fatal.


    Deixou para o seu sucessor o resultado das investigações sobre o roubo dos documentos secretos do Vaticano, realizadas por três cardeais: Julián Herranz, 82 anos; Salvatore De Giorgi, 82 anos e Josef Tomko, 88 anos.


     Não incluiu nesse grupo Angelo Sodano, 85 anos, considerado por muitos como o líder da maçonaria eclesiástica no Vaticano. Sodano representaria o poder paralelo e oposto a Bento XVI. Devido à idade, não poderá votar no próximo conclave, mas deverá exercer forte influência sobre grande número de cardeais.


     Vários são os candidatos, mas uma corrente (dizem maçônica) está promovendo o cardeal de Gana Peter Kodwo Appiah Turkson. Correm por fora Angelo Scola, Tarcisio Bertone, Angelo Bagnasco, Gianfranco Ravasi, Mauro Piacenza e, inclusive, o brasileiro Odilo Scherer.


     Quem será o eleito e o que fará? Por seus frutos o conheceremos. Uma certeza fica do curto pontificado de Bento XVI: caíram as máscaras.
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