quarta-feira, 30 de junho de 2010

NOVO AVISTAMENTO DE ORCS





(figura capturada na Internet)

Segundo fontes fidedignas, imensas hordas de Orcs atravessaram, há alguns dias, o Canal de Suez em direção ao Mar Cáspio, utilizando-se de treze grandes navios de guerra e de um porta-aviões. Ao que tudo indica, o seu objetivo é atacar a Pérsia, atualmente chamada de Irã, país que desejam destruir para evitar que se desenvolva ali uma fonte de poder que poderia impedir os seus objetivos de dominar completamente o Oriente Médio.

     Os Orcs, naturalmente, apenas obedecem as ordens do Lado Escuro da Força, através de Morgoth e seus comandados, como Sauron e Saruman, que teriam sido destruídos, na última guerra pela Terra Média, pelos seres humanos defensores da Chama Imperecível, doada por Eru Ilúvatar. No entanto, não é improvável que o Grande Líder do Império do Ocidente, Bar-Homabam - da mesma forma que o seu antecessor, Gébush - seja uma nova entidade do mal, emanada por Morgoth.

OS ESCOLHIDOS

     Como todos sabem, essas entidades do mal, apesar do seu imenso poder, são governadas, aqui na Terra, por seres oriundos de uma raça-religião que tem contato direto com Morgoth, a quem chamam de Grande Demiurgo. Essa raça-religião, que se autodenomina Os Escolhidos, é de origem semita, assim como a maioria dos povos que habitam o Oriente Médio. Mas grande parte do seu povo, justamente aqueles que detem o poder dentro e fora do seu pequeno país, tem a crença arraigada que são eles o povo escolhido para dominar toda a Terra. Essa crença é originária da sua mitologia religiosa, na qual aparece uma manifestação de Morgoth – ou Demiurgo, como eles preferem dizer entre si – que lhes promete o domínio sobre toda a Natureza.

     Ora, todos nós - que sabemos da existência da Chama Imperecível como originadora de tudo o que existe (de todos os mundos e de todas as dimensões), que contem o poder criativo de Eru Ilúvatar como base mantenedora do Cosmo - percebemos que aquele povo está terrivelmente equivocado, porque a Natureza não pode ser dominada, sendo dever dos seres humanos buscar a harmonia e não o domínio ou a destruição.

     Mas isso não impede que aquele povo oprima os demais povos à sua volta, seja através do ouro (e é deles o domínio sobre todos os bancos e entidades de crédito) ou do uso de suas forças armadas. E não só os povos à sua volta, como, também, os demais povos da Terra – através dos representantes dos impérios por eles organizados e manipulados, como o de Bar-Homabam - e, talvez, no futuro, o universo material conhecido. O seu objetivo é o poder pelo poder; a dominação pela dominação. São extremamente materialistas e agem como crianças que desejam um brinquedo a qualquer custo. Com a vantagem de que são adultos com um grande poder de barganha, obtendo sempre tudo o que desejam.

A NOVA GUERRA QUE SE APROXIMA

     Todos que viram passar os milhares de Orcs, dentro dos seus grandes navios de guerra, pelo canal de Suez, em direção ao Mar Cáspio, estranharam o silêncio que aqueles seres híbridos mantiveram durante o trajeto. Porque é próprio dos Orcs – seres estúpidos, quase inconscientes, que odeiam a todos, tendo como único objetivo ferir e destruir – gritar e cantar em sua língua gutural e bárbara, quando partem para a guerra. Como o canal pertence ao Egito, acredita-se que os governantes egípcios permitiram a passagem das embarcações dos Orcs do império de Bar-Homabam, do qual são aliados, mas suplicaram o silêncio das hordas de Orcs durante o trajeto. Tanto é assim, que testemunhas afirmaram que logo após os navios transporem o trecho de mar, os Orcs começaram a cantar uma estridente canção de guerra – se canção pode ser chamada – intraduzível para ouvidos de humanos normais, mas que repetia, como refrão, uma espécie de grito, que soava mais ou menos assim: “iésuíken”.

     Algumas das testemunhas acreditaram que os Orcs, através daquela suposta canção, estariam pedindo uísque – uma bebida estimulante muito apreciada no império de Bar-Homabam – mas logo descartaram essa hipótese ao lembrarem que Orcs, assim como Nazguls e demais seres híbridos, criados por Morgoth e seus seguidores devotados do Lado Escuro da Força, também usam uísque, mas, nas guerras, preferem injetar em suas veias soluções químicas sintetizadas de plantas especiais, o que lhes dá uma sensação de invencibilidade, fazendo com que caminhem para a morte sem temor.

     O que se soube depois – e não foi surpreendente, mas assustador – é que além das imensas hordas de Orcs do império de Bar-Homabam, armadas com dispositivos bélicos de alta destruição, a elas se juntariam, já no Mar Cáspio, tropas de elite do temível exército d’Os Escolhidos. É sabido – também por fontes dignas de fé – que aquele povo desenvolveu uma nova tecnologia militar que incluiria a total ausência de emoções humanas de seus efetivos.

     Como Os Escolhidos não aceitam Orcs e outros seres híbridos ou mercenários em seu exército, porque acreditam que a perfeição pertence ao seu sangue, estariam preparando soldados especiais, imunes a quaisquer sentimentos ou sensações consideradas humanas. Esses soldados não hesitariam em matar e destruir, desde que recebam ordens para isso, usando todas as armas que julguem necessárias, incluindo as nucleares, porque consideram os demais seres humanos como inferiores que devem ser escravizados ou destruídos.

     Segundo as últimas informações, a assim chamada mídia oficial, que são os meios de comunicação do mundo inteiro dominados por executivos do império de Bar-Homabam, que, por sua vez, são manipulados pela elite d’Os Escolhidos, estaria encobrindo essas manobras militares ao dar especial ênfase àquilo que foi denominado Copa do Mundo de Futebol - uma modalidade esportiva onde 11 jogadores de cada lado chutam uma bola de couro. Ao contrário de outras ocasiões, quando o império atacou, destruiu e ocupou diversos países indefesos, com o objetivo de roubar os seus minérios, ocasiões em que a mídia televisiva esteve presente, mostrando o lado colorido dos ataques bélicos, desta vez a estratégia parece ser outra.

     Percebendo que o anúncio antecipado daquelas guerras anteriores, e, depois, o televisionamento dos bárbaros ataques que mataram e mutilaram milhares de seres humanos, provocou uma imensa reação negativa em todo o resto do mundo ainda não totalmente dominado, o império prefere, agora, atacar primeiro para mostrar, depois, apenas cenas maquiadas e escolhidas por seus verdadeiros senhores, Os Escolhidos. Esperam, dessa maneira, atrair menos ódio dos povos que poderão ser os próximos alvos, e uma menor reação da comunidade internacional, uma vez que se trataria de uma reação tardia ante o inevitável.

     Ainda resta a esperança de que essa guerra não venha a acontecer de imediato. Mas o fato do exército d’Os Escolhidos estar se unindo aos milhares de Orcs do império torna essa esperança mais remota, porque é notória a insensibilidade e a ganância d’Os Escolhidos.


quarta-feira, 23 de junho de 2010

A CORRUPÇÃO NOSSA DE CADA DIA

(foto capturada na Internet)

Deixei passar alguns dias, para não ser levado pelo momento, mas, depois que o Sport TV, na terça-feira, 22, elegeu o gol (aquele!) do Luis Fabiano como um dos três mais bonitos da segunda rodada da Copa do Mundo (aliás, o mesmo canal que durante o seu noticiário esportivo coloca uma apresentadora, com a bandeira dos Estados Unidos tremulando atrás, como parte do cenário), não pude deixar de escrever as mal traçadas, que seguem.

     Como jornalista, sei que esta profissão é a que mais influencia na formação de opiniões, e formar opiniões em um país como o Brasil, com milhões de pessoas que não sabem ler ou escrever e outros tantos milhões de analfabetos funcionais (pessoas que sabem ler e escrever, mas não entendem claramente aquilo que está escrito, com mínima capacidade de decodificar frases, sentenças e textos), é uma imensa responsabilidade. Maior, ainda, esta responsabilidade, se levarmos em conta as péssimas condições de ensino, principalmente após a celebração do acordo MEC/USAID, durante a ditadura militar, o que fez dos nossos estudantes robôs alienados sob a tutela da cultura estadunidense.

     Pior, muito pior ainda, se lembrarmos que esse processo de aculturação, além de tornar os jovens (e, até, muitos adultos) imbecilizados, enfraquece as raízes da nossa cultura e nos torna subservientes, mentalmente, a tudo o que venha dos Estados Unidos... E acrescente-se a tudo isso o fato de que os principais meios de comunicação brasileiros (senão toda a mídia) pertencem a grupos de empresários estreitamente aliados a grupos estadunidenses, cujo único interesse é fazer do Brasil uma filial cultural dos Estados Unidos, teremos uma idéia, mesmo que pequena e superficial, do que acontece com a mente dos brasileiros, todos os dias, no momento em que ligam uma televisão, abrem seus jornais e revistas, ouvem rádio ou entram na Internet.

     De alguns anos para cá temos assistido a uma intensa atividade da Polícia Federal, que, cumprindo a sua missão, tem prendido as mais diferentes quadrilhas de corruptos. (É claro que nem todos continuam presos, como no caso Daniel Dantas, que ficou notório). Muitos interpretam mal essa atividade, pensando que os casos de corrupção estão acontecendo agora. A verdade é o contrário: agora é que a PF brasileira tem agido com seriedade, apesar das múltiplas pressões que sofre. E porque tem agido assim, aparece parte da nossa realidade corrupta.

     Mas o que a maioria das pessoas não se pergunta é porque o Brasil tornou-se um país sinônimo de corrupção.

     Se analisarmos com isenção a história do Brasil, veremos que a corrupção nasce nas classes dominantes, dentro dos grupos de poder, desde a época do Império, passando pela República Velha, com um breve recuo na Era Vargas, que tentou ser nacionalista, mas recrudescendo após JK e intensificando-se durante os anos da ditadura militar e até agora.

     A corrupção nasceu dentro dos grupos de poder, ou seja, dentro daqueles grupos que detêm o capital, usufruindo de latifúndios, construindo indústrias, monopolizando os meios de comunicação, manipulando os seus representantes no poder constituído. E a luta entre esses grupos, que depois se dividiram oficialmente em partidos políticos, sempre teve como fator comum a deslealdade. E a deslealdade leva à corrupção. Quem tem mais dinheiro, ganha. E, é claro, sempre devido à semi-escravidão do povo, porque nada pode ser construído sem a força do trabalhador, não existe agricultura sem o camponês ou estâncias sem peões. Junte-se a isso a favelização e marginalização dos desempregados e temos um feio retrato do Brasil.

     Mas este nosso Brasil ficou mais feio ainda quando a cultura da corrupção se espraiou para as classes mais baixas. Aquelas classes que deveriam ser as responsáveis pelas mudanças nas estruturas do poder, passaram a se espelhar nas atitudes dos donos desse poder. E isto é clássico no capitalismo, pela falta de opções dos pobres que procuram seguir o exemplo das classes possuidoras. E mais ainda em países, como o nosso, em que o povo absorve diariamente lições de autofagia, através dos meios de comunicação (ao passarem a idéia, de maneira explícita ou subliminarmente, que somos um povo inferior, com cultura mesquinha), que vendem a cultura importada como sendo a única boa e verdadeira.

     Dentro da nossa “cultura popular”, surgiu o “jeitinho brasileiro”. Foi quando as pessoas passaram a acreditar que, se não podem conseguir as coisas legalmente, sempre haverá um jeito de alcançar os seus objetivos. E esse jeito passa pela pilantragem, pela esperteza. Aquele que consegue passar a perna no outro é considerado melhor, mais inteligente. Com o “jeitinho brasileiro”, surgiu a cultura da malandragem e até foi criada a figura do malandro: finório, bem falante, arrumadinho, eternamente não-empregado, mas ganhando dinheiro à custa da boa-fé do próximo, figura que foi encampada e promovida imediatamente pelos Estados Unidos, quando Walt Disney criou o “Zé Carioca” como estereótipo do brasileiro.

     Aqueles que manipulam as mentes dos brasileiros gostaram muito daquela “criação”. Afinal, a partir de então encontraram uma boa desculpa para a pobreza do povo no Brasil: o brasileiro é que é preguiçoso, não quer trabalhar, não se esforça e gosta de bancar o malandro. Uma desculpa que vem se eternizando e até é aceita por pessoas engajadas, como parte do que entendem por cultura brasileira.

     É a lei da repetição aplicada à nossa realidade. Se você repetir uma mentira constantemente, as pessoas passarão a acreditar que é uma verdade. E pegou. De tanto ser repetida pelos midiáticos de plantão, grande parte dos brasileiros passaram a acreditar que quando cometem uma infração que dá certo, não é um erro de comportamento, mas uma esperteza, uma malandragem. Até a palavra “malandro” é malandra – pressupõe uma pessoa esperta, que lesa os outros por culpa dos lesados. Assim, surgiu a palavra “otário”, que seria aquele ingênuo que se deixa levar pela lábia do malandro. Daí, para maiores corrupções é um passo. A inversão de valores leva a pensar que o verdadeiro, o correto, é ser malandro. E ser malandro é ser corrupto.

     Temos no Brasil a cultura da malandragem, que nada mais é que a cultura da corrupção. Há casos famosos, como o de Ademar de Barros, que, quando acusado de corrupção, teria dito: “eu roubo, mas faço”. E o povo adorou. Ademar de Barros sempre foi bem votado. E tantos outros, que, se eu fosse nominar agora não terminaria nunca este texto. Mas vou citar apenas mais um exemplo. Conversando com uma pessoa de fora de minha cidade, perguntei como estava indo a política do seu prefeito. Ela respondeu que o prefeito parecia bom, mas que o anterior tinha sido melhor, mais esperto, porque tinha comprado duas estâncias em outro país, enquanto o atual ainda não tinha feito nada parecido. E completou: “que se saiba, é claro, hehe...”. O prefeito anterior tinha virado herói; o atual, quem sabe...

     Devido a essa cultura da malandragem, que faz com que o Brasil não seja um país sério – como disse Charles De Gaulle, certa vez – é que eu entendo porque os ícones da mídia futebolística, que tem uma audiência gigantesca, quase estão idolatrando o Luis Fabiano porque fez um gol usando os dois braços. A desculpa é que: “mesmo assim, foi um golaço!”. Uma total inversão de valores, porque o que é errado, irregular, não pode ser belo ou bom.

     E assim eles vão deseducando o povo brasileiro, com pequenas frases, expressões jogadas ao acaso, sem pensarem nas conseqüências do que dizem, ou, em outras vezes, de caso pensado.

     E o povo brasileiro está à mercê dessa mídia, não só dos especialistas em futebol, mas, também, os de outros setores. Observem como eles dizem “a seleção americana” e não “a seleção estadunidense” - que é o correto. É de caso pensado, e não um mau hábito, como fica insinuado. Vejam aquela propaganda em que o locutor diz: “Vai Brasil”, quando está escrito “Go Brasil”. É por acaso? A verdadeira dominação somente acontece quando a língua do dominador passa a ser a língua oficial. E eles, os jornalistas da chamada “grande mídia”, trabalham para que isso venha a acontecer. São pagos para isso, pelos seus patrões. Estão dentro do esquema – ou deverei dizer: “dentro do establisment”?

quarta-feira, 16 de junho de 2010

QUANDO EM SONHO


Quando em sonho, mais que sonho, fantasia...
Negando o Tempo e sua pressa, em fuga,
Minha mente cria espelhos, faz-se orgia...
(É a sedução de Ser que me desnuda?)

Quando em sonho, a suave fantasia
(Pureza que a ansiedade torna muda)
Dormitava em embrião, como se o dia
Instado a me nascer, só me madruga...

Havia um talvez quê de maresia,
Opressa nostalgia que refuga
Ao Cavaleiro essa dúbia travessia.

Cega certeza, travessa ironia:
Andante eu me queria e o passo estuga,
Quando em sonho, em suave fantasia...

quinta-feira, 10 de junho de 2010

AS CHUTEIRAS NA PÁTRIA




Está começando o espetáculo. Durante quatro anos todos se prepararam para ver a seleção brasileira de futebol entrar em campo, jogar e ganhar. O Hexa! Dunga foi o menino escolhido para escolher os outros meninos que darão tanta glória à pátria. Ficaremos tão felizes com esta sexta conquista! Aqueles denodados jogadores, que chegaram de tão longe para tão mais longe irem - tão fortes e tão habilidosos, tão sorridentes e alegres, tão eufóricos e confiantes, tão patriotas – terão a missão honrosa de zelar pelos brios da pátria que conheceram um dia, quando ainda muito mais jovens, e da qual ainda lembram com aquele sorriso de carnaval e samba, e com a qual tanto se preocupam a ponto de darem o seu sangue – se preciso for – nas arenas da mãe África, como modernos gladiadores, apenas pelo amor à pátria, sem nada pedir que não mereçam - como os seus milionários contratos com as multinacionais para calçarem determinadas marcas de chuteiras –, nada que não seja extremamente merecido pelo seu esforço hercúleo de jogar futebol – como os salários pantagruélicos que recebem em seus clubes de origem e que serão aumentados com prêmios homéricos, caso tragam a Santa Taça graálica –, nada que não esteja ao alcance de qualquer brasileiro que jogue futebol em países tão distantes; que culpa eles tem se os outros brasileiros optaram por profissões menos rendosas, ou, em sua maioria, nem profissão tem, vivendo nas vilas-favelas e desertos-caatingas, trabalhando nas fábricas como robôs limitados ao salário tão mínimo, nas florestas-malária, nos pântanos, em palafitas ou nas cidades - subumanos lugares de múltiplas desilusões, assassinatos, injustiça social, degradação moral e opressão? Eles são heróis e sabem disso, acima das mazelas da pátria-mãe que tão grande PIB ostenta para os miseráveis que dormem nas ruas, os pedintes crianças que fazem malabarismos para ganhar as suas diárias moedas de escárnio, os catadores de papel e plástico que vivem do lixo dos menos pobres, os sem terra que só querem plantar, os sem teto que só querem um lugar para morar sob este céu anil – enquanto as Bolsas dos mercadores do sangue brasileiro estufam nos diabólicos pregões onde se vende, diariamente, o país, ao preço do dia. Eles, os futeboleiros da seleção, são os ungidos, graça aspergida pela nação, através daqueles jornalistas somente dedicados à realidade brasileira futebolística, que tanto amor tem à pátria quando gritam o gol anestesiante, orgásmico e eufórico que a todos faz vibrar, esquecer e sonhar com aquelas chuteiras no coração do brasileiro, que as prefere ao cotidiano tiro perdido, à voz dos demagogos e politiqueiros charlatães e a este dia a dia brasileiro cada vez mais transgênico e fraudado.

terça-feira, 8 de junho de 2010

A LETRA DA LEI



Há alguns dias atrás, li uma notícia que me deixou perplexo. Um homem tinha sido preso por acorrentar seu filho a uma cama. A razão? O filho estava viciado em crack, já tinha estado em várias clínicas e nada adiantara. De volta para casa, começou a efetuar pequenos furtos na vizinhança. O pai, desesperado, não encontrou outra maneira senão prende-lo em casa. Por isto, foi denunciado e preso sob a acusação de cárcere privado.

     E eu fiquei perplexo. Não pelo pai, que prendeu o filho. No meu modo de ver, na hora do desespero ele fez o que pensou ser o melhor: tentar tirar o vício do filho “à força”. Também não foi pelo filho que eu fiquei perplexo. Essa droga, o crack, está entrando em todas as cabeças fracas, e as mais fracas cabeças sempre são as dos jovens. Eu fiquei perplexo pelo nosso sistema, que, mais uma vez, revela a sua ineficácia – para dizer o mínimo.

     É um sistema que oscila entre a extrema frouxidão e o extremo rigor. Entre esses dois extremos está a incompetência. Vejam só: deixam entrar a droga, sem nada fazerem a respeito e, depois, combatem os viciados, como se estes fossem os culpados por aquilo que a nossa própria sociedade podre lhes ofereceu. De vez em quando, combatem os traficantes, mas nunca vão na origem do tráfico, nunca prendem aqueles que fabricam a droga. Por que será?

     Agora mesmo, em grandes cidades, como Rio de Janeiro e São Paulo, está havendo uma guerra civil disfarçada contra as pessoas pobres que vivem em favelas, sob a desculpa de combate ao tráfico. Todos os dias prendem e matam alguns supostos traficantes. Mas o tráfico continua – curioso, não? Todos nós sabemos que os traficantes apenas traficam, vendem as drogas, mas não as fabricam. E são eles e os viciados os perseguidos. Os que produzem as drogas, onde estão? Se estivessem presos, não haveria mais drogas; logo, continuam soltos e à vontade.

     Mas, voltando ao crack. Primeiro, o sistema fez o que sempre tinha feito com as outras drogas que apareceram no Brasil: deixou acontecer. Chamavam de “a droga dos pobres”, e se os pobres estiverem drogados não poderão questionar, olhar em volta, revoltar-se contra a sua situação de marginalizados sociais. Então, droga neles. Mas, aos poucos, pessoas da classe média e de classes mais altas passaram a usar o crack, e o sistema se sentiu atingido. Foi quando começaram a fazer as campanhas contra o crack. Eles chamam isso de “campanha de conscientização”: adesivos onde está escrito: “Crack Nem Pensar!” A pergunta, irônica e inevitável, logo surge: - “só o crack?” É que as outras drogas ou são muito mais caras ou não viciam na primeira vez. Ah, bom!... Como nós somos bobos, não é?

     Em algumas ocasiões, o sistema foi desmascarado a nível mundial. Por exemplo, durante a guerra do Vietnã, quando os soldados estadunidenses usavam drogas diariamente, devidamente compradas e passadas a eles pelo seu governo. E não era só a maconha, que aparece nos filmes sobre aquela guerra. Drogas mais pesadas. E o sistema fingindo de bonzinho, de campeão da luta contra as drogas. Suprema hipocrisia. Também fiquei sabendo, diretamente de um ex-combatente, que na guerra que desmembrou a Iugoslávia em vários países, nos anos ’90, os soldados da OTAN usavam heroína. E é claro que eles não iam ali na esquina comprar, escondidos, a sua heroína de todo dia. Há quem diga que a guerra no Afeganistão é mais que uma guerra por minérios. O Afeganistão é o maior produtor de papoula do mundo. E quem domina a terra da papoula, domina a produção de heroína e drogas correlatas. E é muito dinheiro, mais do que vocês imaginam. Talvez tanto ou mais dinheiro quanto o comércio da venda de armas, que patrocina todas as guerras. Mas dizem que é uma guerra pela democracia e pela liberdade. Talvez a liberdade de usar armas e drogas.

     Enquanto isto, aquele cidadão brasileiro que queria livrar o seu filho do vício do crack está na cadeia. Como foi preso em flagrante, ainda deve estar na prisão, ao lado de verdadeiros criminosos. Curioso sistema, o nosso. Sempre pensei que os juizes existissem para interpretar a lei e não apenas para cumpri-la. E não somente a lei, mas as diversas situações, as mais diferentes, como no caso relatado, que surgem nas relações humanas. Porque, se não for assim, para que juiz? Bastaria um computador, onde estariam arquivadas, em um gigantesco banco de dados, todas as leis e as respectivas penas, no caso de transgressão. Por exemplo, o cidadão é preso e, no próprio carro da polícia, um terminal daquele computador dá a sentença: “bip-bip, prisão em flagrante? bib-bip, cárcere privado? bip-bip – cadeia!, bib-bip”.

     E por que ele foi preso? Porque o sistema oferece a droga mas não proporciona a cura do vício. De quem a verdadeira culpa?

quarta-feira, 2 de junho de 2010

MAGA ESTRADA



Maga estrada
prateada, petreada
que se curva morro além
onde, andarilho, aprendo
a lapidar minhas pernas
quando sigo a senda estreita
tentando domar cavalos
que, por dentro, corcoveiam
eu, Ermitão,
me contemplo
em meu sereno sertão.
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