terça-feira, 30 de novembro de 2010

FICÇÃO


Vamos imaginar, apenas imaginar, uma grande empresa de telecomunicações que tem tanta influência, mas tanta influência em determinado pais, também imaginário, que é capaz de colocar e tirar presidentes, idiotizar completamente o povo, manipular consciências, provocar desejos e fazer até guerras civis.

     Virtuais, ou quase isso. Guerras civis sem o nome de guerras civis, sem o rótulo de guerras civis, mas guerras civis. Tudo pela audiência. Essa empresa se deu conta, desde a primeira guerra do Iraque, que guerra dá mais audiência que novela. As pessoas ficam hipnotizadas ao verem aquelas balas coloridas cruzando os céus, principalmente se for de noite, ouvindo explosões, vendo o fogo de prováveis alvos destruídos e ouvindo alguns narradores entusiasmados, que se revezam a cada hora, explicar como funcionam os ataques, as armas que são usadas, as situações que são criadas e as prováveis conseqüências de tudo aquilo. As pessoas acabam ficando entusiasmadas e a audiência é incalculável. Ganhos astronômicos.

     A empresa fictícia já tem o seu público certo, mas, também, existem outras empresas do mesmo ramo que estão crescendo e ameaçando abocanhar parte desse público. Então é necessário inventar algo novo. Por que não uma guerra civil? – diz alguém. É uma possibilidade. Tudo é possível, pois o país é tão fictício quanto a empresa. É claro que o país tem um território, pessoas dentro dele, um governo que governa as pessoas e essa empresa que governa o governo.

     Mas é um país fictício. Ninguém no mundo acredita em sua existência. Oficialmente ele existe – está delimitado em um mapa, tem uma História oficial, mitos particulares e a mística necessária em cima de tudo isso, tudo o que um país deve ter – mas é difícil acreditar na sua existência. As pessoas são sorridentes demais, acessíveis demais, cordatas demais, submissas demais, maleáveis demais, quase sem vontade própria, quase não são pessoas. Parecem animais domésticos, robôs programados. Dá um nervoso em todos os que chegam naquele país e sempre recebem um “sim” para qualquer pedido. Algo está errado naquele país. Ou certo demais.

     Mas aquela empresa, que manda em todos e em tudo, decide que algo deve ser feito, vamos mexer com esse povo, criar uma guerra civil, fazer com que se interesse por algo diferente daquilo que mandamos ele se interessar, precisamos de respostas e somente as enquetes não bastam, as inúmeras entrevistas estão ficando ociosas, alguém tem que nos contradizer em alguma coisa para que novos caminhos sejam abertos, precisamos fabricar um fato novo!

     Guerra civil. Mas como fazer uma guerra civil com um povo tão bom e pacifico? Supremo desafio! Surge uma idéia: existem bandidos no país...

- Bandidos? Mas não são aqueles que?...

- Aqueles mesmo!

- Mas são bandidos bons, somente seguem a tradição dos outros países...

- Mas usam e vendem drogas e drogas são proibidas.

- É claro que são proibidas! Mas faz parte do jogo: tudo o que é proibido é mais atraente, e as pessoas gostam de coisas assim, sentem-se motivadas.

- Pois é este o ponto. Mexer no fator de motivação das pessoas. Fazer com que elas se assustem, se entusiasmem.

- E depois?

- Depois, está criado o fato novo. E um fato novo gera novos acontecimentos, tomadas de posição, coisas novas acontecem dentro das pessoas e elas revelam desejos, contradições, mudanças de comportamento...

- Talvez fiquem mais alertas!

- Talvez fiquem mais alertas, despertem vontades adormecidas e nós estaremos aqui para satisfazê-las, e finalmente dominaremos todo o mercado.

- Genial! Dominaremos o mercado das vontades e das satisfações. Ficaremos anos-luz à frente das empresas concorrentes!

- Então, mãos à obra! Vamos fazer uma grande campanha, mostrando ao povo que os bandidos representam o Mal e que o Governo e as Forças Armadas estão do lado do Bem.

- Forças Armadas? Mas basta a polícia.

- Claro que basta a polícia. Mas o plano tem que ser completo. Não somente a idéia da luta do Bem contra o Mal. Olha só, faz muitos anos que as Forças Armadas estão desmoralizadas neste país. Houve aquela época da ditadura, quero dizer, do governo de exceção... Depois, o período em que o povo pode votar, uma nova Constituição, direitos civis assegurados...

- Estou começando a entender... Uma ditadura democrática, com as Forças Armadas sendo aplaudidas pelo povo...

- Ditadura democrática não. Vamos eliminar a palavra ditadura e trocá-la por Democracia Radical – o que você acha?

- Isso! E uma grande campanha na mídia mostrando o quanto as Forças Armadas são boas para o povo. Depois do primeiro impacto, quando a guerra civil estiver vencida, reconstrói-se a imagem das Forças Armadas. Esta é uma nova geração que aceita tudo o que dissermos.

- Perfeito, mas temos que analisar alguns detalhes.

- Claro. Por exemplo?

- Por exemplo, a relação da polícia com os bandidos, as milícias... Há um ganho muito grande – e para todos – com a venda de drogas. Não podemos acabar de repente com tudo isso. São muitos interesses em jogo.

- Interesses que continuarão sendo satisfeitos, ou você acha que a venda de drogas vai terminar? Nem pensar! É um dinheiro extra – e que dinheiro! – que, como você mesmo diz, é para todos. O problema é que aquele pessoal das favelas está pensando que é só para eles. Tem que levar uma lição!

- Mas e a polícia? E as milícias?

- Continuarão ganhando o seu. Apenas haverá uma transferência de funções. Incorporamos milicianos na polícia, fardamos eles... Fazemos um novo acordo, com bases mais satisfatórias para nós, com os traficantes.

- Mas não vamos combater os bandidos? Eliminá-los?

- Combater sim. Eliminar é outra coisa. Eles tem os contatos que viabilizam o tráfico. Continuará sendo essa a função deles.

- É claro que há alguns que deveriam ser eliminados...

- É claro. E serão.

- Uns cem, cento e cinqüenta...

- Talvez até duzentos, mas os outros serão necessários. Por isso a guerra civil: uma maneira de pegar esse pessoal oficialmente, ao mesmo tempo em que teremos uma audiência espetacular!

- Mas você sabe que algumas coisas ilegais – talvez até inconstitucionais – poderão acontecer...

- Nada que não possa ser justificado como ações pelo Bem Comum.

- Mas a Ordem dos Advogados, o pessoal dos Direitos Humanos e outros grupos do gênero poderão reclamar.

- Reclamar eles podem, mas falta para eles aquilo que nós temos: Poder. Um ou outro mais insistente poderá sofrer um acidente...

- Mas as leis...

- As leis existem para acalmar o povo. Ficções necessárias que atuam no subconsciente da massa para que ela se sinta mais protegida. A verdadeira proteção é física. E esta nós daremos a todos depois da guerra civil.

- É claro, o povo desejará a polícia ostensiva e a presença da Forças Armadas. Uma presença democrática...

- A nossa vantagem é que estamos numa democracia e devemos sempre reafirmar isso: tudo o que for feito será para o bem do povo, que é a maioria e democracia é o governo do povo, logo...

- E na falta de leis, uma pequena pressão no Congresso resolverá tudo.

- Perfeito. Agora só falta provocar a ação. Algo tem que acontecer para que as favelas sejam invadidas. Ônibus e carros queimados, por exemplo. Algumas ligações e pronto.

- Ligações para quem?

- Para os traficantes. Precisamos combinar essa guerra. Eles sairão perdendo no início, mas depois tudo irá se recompor em novas bases.

- Se tudo der certo, ao final teremos as Forças Armadas no poder, mas democraticamente. Esmagaremos a esquerda nesse país. Eles já são poucos, mas sempre incomodam.

- Com o apoio do governo democrático eleito pelo povo.

- Mas...

- Não se preocupe com mais nada. Só faltam aquelas ligações para confirmar detalhes.

- Para os traficantes?

- Para os traficantes, para o governo, para as Forças Armadas, para todos os interessados.

- Você falou na possibilidade de ônibus queimados, mortes...

- Natural. Não se faz um omelete sem quebrar os ovos.

- Os fins justificam os meios!

- Um brinde a isso, ou melhor, uma cafungada a isso: os fins justificam os meios!

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

ENTRE O DIREITO E A ILEGALIDADE MANDA O ESTADO FARDADO


O interessante é que a ordem de intervenção nos morros e favelas cariocas – através do apoio explícito da Marinha, Exército e Aeronáutica - contou com o assentimento, a ordem, do Ministro da Defesa, Nelson Jobim, que é famoso como defensor da Constituição. Mas também está ficando famoso por outros motivos, como atacar o Plano Nacional de Direitos Humanos – 3 (PNDH-3) e comandar, atualmente, as forças brasileiras - autodenominadas de “Forças de Paz” – que invadiram o Haiti em 2004 e estão lá até hoje à revelia da vontade soberana do seu povo.

     A invasão do Haiti, todos sabemos que fez parte da política de boa vizinhança de Lula com os Estados Unidos, uma espécie de sinal de que o Brasil continua sendo um aliado fiel, embora já não seja mais um país oficialmente dominado pelas Forças Armadas e sim um Estado democrático. Ou seja: um país onde o povo vota regularmente.

     Quanto aos ataques do ministro Jobim ao PNDH-3, é resultado da necessidade de encobrir os crimes das Forças Armadas durante o que foi chamado, eufemisticamente, pela imprensa dominante, de “período de exceção”.

     Muitas pessoas que não conseguem se acostumar com mentiras oficiais, ou que desconfiam das verdades oficiais, gostariam de saber exatamente o que aconteceu naquela época da ditadura militar. Assim como já está sendo feito na Argentina, por exemplo, com punição para os culpados, como deve ser no que entendemos uma democracia. Mas no Brasil não é possível. Permanecem as verdades da ditadura militar, como se ainda fossemos governados pela Forças Armadas, ora vejam!

     É claro que o governo democrático do senhor Lula da Silva, tão amigo dessas forças tão armadas a ponto de ceder a pressões e fazer um acordo militar com os Estados Unidos, já está no fim, faltando apenas um mês para Lula passar o governo para a sua digna sucessora, e transformar-se em abóbora.

     Mas, como na maioria dos aspectos do seu governo de oito anos, o fato de Lula ter aceitado servilmente os argumentos do ministro Nelson Jobim e recuar sobre o Plano de Direitos Humanos, com medo das reações das Forças Armadas é um sintoma de provável torpor das forças civis ante os adestrados soldados que lutam heroicamente contra o povo haitiano. Pela paz, é claro.

     Pois agora surgiu a necessidade de assumir o controle da maioria dos morros e favelas cariocas. Vem aí a Copa de 2104 e as Olimpíadas de 2016 e o Rio de Janeiro deve voltar a ser o cartão-postal do Brasil. A desculpa é a luta contra o narcotráfico. Melhor: contra os narcotraficantes. Não é uma tentativa de eliminação das drogas ou do vício que elas causam, mas ficou claro que é, principalmente, uma reconquista de território.

     Para que isso acontecesse sem maiores traumas por parte da população favelizada foi criada toda uma estratégia de mídia – Rede Globo & Cia. – para fazer do BOPE (Batalhão de Operação Especiais) - e demais forças policiais - de um órgão odiado por significantes parcelas da população mais pobre no nobre defensor das comunidades excluídas. Além da propaganda midiática intensiva foram utilizadas as chamadas “redes sociais”. E, como uma espécie de preparação de terreno, os dois filmes do Zé Padilha, que defendem a ação fascista como uma forma de combater o “mal”. O povo, acostumado com os enlatados norte-americanos, adorou. O capitão Nascimento virou herói.

     E invadiram as favelas da maneira mais descarada e inconstitucional possível. O povo acostumado a ter os seus direitos ultrajados diariamente, não só pelos bandidos, como pela polícia e pelas milícias, acha tudo muito natural. O Bem está lutando contra o Mal, Batman derrota o Coringa.

MILÍCIAS, BOPE, CORE... E SUAS CHACINAS

     As operações policiais, bem como as invasões, são apresentadas, cinicamente, como uma "ocupação pacificadora".  Isso ficou ainda mais evidente diante de um estudo do Instituto de Ciências Policiais da Universidade Cândido Mendes Paulo Storani, que revelou que longe de serem controladas pelo tráfico, as favelas são em sua grande maioria controladas pelas milícias paramilitares.

     De acordo com o documento, cujos dados foram obtidos por meio das informações de líderes comunitários e da própria Delegacia de Repressão ao Crime Organizado da Polícia Civil do Rio de Janeiro (Draco), "os grupos formados por policiais militares e civis, bombeiros, agentes penitenciários, aposentados e da ativa ocupam hoje mais territórios do que as grandes facções do narcotráfico no Rio. Na lista das 250 principais favelas pesquisadas (estima-se que na capital são mais de mil), 100 são controladas pelas milícias, 84 pelo Comando Vermelho, 35 pelos Amigos dos Amigos e 31 pelo Terceiro Comando Puro" (Estadão, 11/11/2010).

     No segundo filme de Zé Padilha – “Tropa de Elite-2” – o capitão Nascimento, mesmo continuando fascista torna-se herói ao denunciar as milícias, e o BOPE passa a ser adorado pela população. Mas o BOPE é especialista em chacinas e o povo tem memória curta.

     O jornal A NOVA DEMOCRACIA http://jornalanovademocracia.blogspot.com/2008/05/chacinas-policiais-nas-favelas-do-rio.html, na edição de 6 de maio de 2008, denuncia:

     “Em Bangu, dia 3 de abril, a polícia invadiu as favelas da Coréia e da Vila Aliança e matou pelo menos 12 pessoas. A chacina, que durou quase metade do dia, teve a participação de várias delegacias, entre elas a CORE (Coordenadoria de Recursos Especiais). De acordo com a diretora da creche comunitária da favela da Coréia, que ficou com medo de se identificar, crianças e educadores foram surpreendidos quando chegaram ao local antes das 7h da manhã e se depararam com uma base da polícia montada dentro da creche.

     “Dias depois da invasão, uma senhora foi até a Ordem dos Advogados do Brasil com a carteira de motorista, carteira de trabalho e contra-cheque do filho de 31 anos, executado pela polícia. De acordo com Margarida Pressburguer, presidente da comissão de direitos humanos da OAB, Clecio Amaral de Souza era motorista de vã e saia para trabalhar às 7h da manhã. Por causa do intenso tiroteio Clecio pediu abrigo na casa de um vizinho para se proteger. Policiais em um helicóptero viram Clecio entrando no barraco e ordenaram que policiais, em terra, invadissem o local. Depois de capturado, Clecio foi executado com um tiro na nuca e outro no peito, na frente de uma criança e de um homem, que seria o dono do barraco. O motorista que, mesmo desarmado, foi covardemente assassinado tinha anotações em sua carteira de trabalho desde os 15 anos, a última delas como gari da COMLURB.

     “Na manhã de terça-feira, dia 15 de abril o BOPE invadiu a Vila Cruzeiro, matou 9 pessoas e feriu outras 6. Nos dias seguintes à invasão o BOPE ocupou a favela e montou base no Posto de Policiamento Comunitário (PPC). Os traficantes fugiram para as comunidades vizinhas e os moradores, sem outra opção, seguiram suas vidas normalmente. Porém circular na favela com a presença do BOPE tornou-se um risco de vida iminente. Até agora outras 7 pessoas já foram mortas sem que se saiba a culpa de qualquer uma delas, já que nenhuma investigação foi, nem será feita.

     “Na tarde de sexta-feira, dia 25 de abril, policiais do BOPE invadiram a Cidade de Deus deixando onze mortos e pelo menos 5 feridos. Entre os feridos estavam duas senhoras, Maria José Silva foi baleada no glúteo, no braço e na perna, e Maria dos Anjos Mendes Cruz foi atingida no glúteo. Elas foram levadas para o hospital Lourenço Jorge e liberadas depois um período em observação. Já uma outra senhora, Jozélia Barros Afonso, de 70 anos, não teve a mesma sorte. Ela foi baleada quando estava dormindo e faleceu momentos depois, no hospital. O seu marido, Valdair da Conceição Afonso, era casado há 51 anos com Jozélia e disse ter certeza de que o tiro partiu dos policiais.”

     Dificilmente você encontrará nos jornais da mídia dominante, aliada do Governo, algum relato sobre chacinas policiais. Mas até em outros países as façanhas do “capitão Nascimento” e seus cúmplices fardados estão ficando famosas. O jornal português "INFORMAÇÃO", em sua edição online de 20 de agosto de 2010, em matéria assinada por Marta F. Reis, da Agência Lusa, sob o título “Brasil: mulheres retratam em "Luto como Mãe" chacinas policiais no Rio de Janeiro”, descreve:

“Com uma câmara na mão, 11 mulheres retratam a dor de ter perdido entes queridos, vítimas da violência policial no Rio de Janeiro, mas também revelam a sua luta pela justiça no documentário “Luto como Mãe”, com estreia hoje no Brasil.

     "Durante 70 minutos, o filme reproduz o rosto feminino da violência armada em crimes cometidos pela polícia que chocaram a opinião pública, como “chacina de Acari”, “chacina da Candelária”, “chacina da Baixada” e outras que caíram no esquecimento.

     “O filme fala de mães que perderam os seus filhos. É a luta para não deixar os casos caírem em esquecimento ou passarem impunes na justiça”, disse à Lusa o jovem cineasta luso-descendente, Luís Carlos Nascimento, que acompanhou de perto durante quatro anos o drama dessas mulheres.

     “É um retrato emocional de mulheres que foram jogadas de forma muito abrupta e não por opção pessoal. Mas que, de uma maneira curiosa, elas saem de um lugar da invisibilidade e passam a ser visíveis e se movimentam fazendo a diferença”, destacou.

     “A luta traz coisas boas, você pode ajudar outras pessoas. Antes eu não era ativista e comecei a ser em 1995 porque o meu irmão sobreviveu à chacina da Candelária”, disse à Lusa Patrícia de Oliveira da Silva, da Rede de Comunidades e Movimento contra a Violência.

     "A chacina da Candelária ocorreu na madrugada do dia 23 de julho de 1993, perto da igreja com o mesmo nome no centro do Rio: seis adolescentes menores e outros dois homens foram assassinados por polícias.

     "Patrícia, que ajudou na criação do filme e também na investigação histórica, contou à Lusa como foi filmar pela primeira vez. “Foi uma experiência muito rica saber que estava a ajudar a construir uma coisa que poderia trazer o debate para todo mundo.” O documentário traz ainda a possibilidade de discutir “a polícia e política nós queremos”.

     "O realizador explica que as mulheres “passaram a documentar momentos em que a câmara principal não estava”. É um olhar “totalmente delas nos factos”, ressaltou, “de uma pessoa que atingiu um ponto de maturidade a ponto de minimizar a dor, sabendo que está a contribuir para que novas mulheres não sintam o mesmo”.

     "Nas cenas do documentário, as mulheres dão os seus relatos: “Fui inspetora, perita, delegada, tudo aquilo que a justiça não quis ser para mim. Eu fui uma mãe”, diz uma das mães vítimas.

     "Outra mãe afirma numa cena comovente: “Não sei se vou conseguir vê-los (os criminosos) atrás das grades. Mas talvez se eu tivesse uma classe social boa, fosse branca e não morasse na favela, já teriam resposta para mim”.

     "Entre 1998 e 2008, mais de cinco mil pessoas perderam a vida em resultado de ações da polícia no Rio de Janeiro. Essas vítimas eram, na maioria, negros, jovens e pobres.

     "Feito em parceria com o Observatório sobre Género e Violência Armada da Universidade de Coimbra e o Centro de Estudos em Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, no Rio, “Luto como Mãe” foi exibido em antestreia no ano passado em Lisboa.

     O documentário foi produzido por Cinema Nosso, Jabuti Filmes e TVZero, e também exibido em 2009 no Festival Internacional do Rio, além de ter participado no 1º Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa – FESTin (Portugal/2010).

     Precisa mais? Então, mais uma. O jornalista e escritor RAUL ZIBECHI, em matéria publicada no site Argenpress - Web site: www.argenpress.info (IRCAMERICAS), posteriormente traduzida e veiculada no jornal virtual DIÓGENES - http://www.diogenes.jex.com.br/ - sob o título “MÃES DE MAIO: A DIFÍCIL DEMOCRATIZAÇÃO DO ESTADO GENOCIDA NO BRASIL”.

     É uma entrevista que o jornalista argentino fez com um grupo de mulheres de São Paulo, intitulado “MÃES DE MAIO”, sobre chacinas ocorridas na Baixada Santista, em maio de 2006, praticadas pela polícia daquele estado. Uma parte da entrevista:

     "Meu filho se chama Edison e tinha 29 anos. Foi morto na rua, tinha ido comprar remédios e por gasolina em sua moto. Vivemos na Baixada Santista, um bairro de trabalhadores em São Paulo. Os policiais o seguiram e o mataram a 500 metros do posto de gasolina. Embora haja contradições nas declarações, o Ministério Público não fez nada e arquivou o caso", disse Débora Maria da Silva, uma mulher de 50 anos, mãe de outras duas filhas.”

     Outro trecho da mesma entrevista:

     “O Estado extermina os pobres e negros favelados por que é mais fácil matá-los do que dar-lhes educação e saúde, porque para eles os pobres sobram. Os rapazes negros são os mais vulneráveis. A política de segurança deste país é uma política de extermínio, eles preferem cárceres a escolas. Aos jovens é aplicada uma figura que é a "resistência seguida de morte", o auto da resistência, que não existe no Código Penal", diz uma Débora politizada pela sua experiência de vida.”

CONSTITUIÇÃO PARA QUÊ?

     No mundo inteiro, através dos veículos de informação não oficiais, que não pertencem aquele poderoso grupo de empresas de comunicação que somente veicula informações vinculadas ao Poder a que servem, o Brasil está famoso - também por suas chacinas promovidas por policiais. Mas a grande maioria do povo brasileiro não sabe de nada disso. Essa maioria está tão dominada mentalmente que somente aceita como verdade o que a mídia dominante disser que é verdade.

     E a mídia dominante disse que a invasão da Vila Cruzeiro, onde foram mortas várias pessoas pelas forças policiais e o cerco e invasão do chamado Complexo do Alemão foram ações legais. Mas diversos artigos da Constituição foram desrespeitados naquelas ações.

1. O Exército, Marinha e Aeronáutica apoiaram a ação da policia, mas a Constituição diz, em seu artigo 142, que

     “As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.” Destinam-se à defesa da Pátria.

     Mas os donos do poder sempre acharão um inciso qualquer de uma lei qualquer feita para situações como as que estão ocorrendo nas favelas cariocas. Por exemplo, poderão alegar que aquele trecho: “por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”, é conveniente para este caso. Mesmo assim, somente com a declaração de estado de sitio ou estado de defesa no Rio de Janeiro. O estado de sitio vem depois do estado de defesa e somente se este se revelar ineficaz. Está previsto no artigo 137 e somente pode ser acionado em caso de comoção grave de repercussão nacional ou declaração de estado de guerra a potência estrangeira. São casos em que as garantias constitucionais são suspensas.

     E no caso de decretação de Estado de Defesa, o Presidente da República e o Conselho de Defesa Nacional teriam de submeter a sua decisão ao Congresso Nacional, que decidiria por maioria absoluta. Teoricamente, estamos numa democracia.

     Qualquer medida sem a participação do Congresso Nacional consiste em fato e não poder assegurado pelo regime Democrático Constitucional brasileiro. E mesmo que tivesse sido decretado o estado de defesa, a sua duração seria, no máximo, por 30 dias. Mas o governador do Rio, Sérgio Cabral, diz que o Exército permanecerá nas favelas por até sete meses. O mesmo governador que disse que “lei e ordem vêm antes dos direitos humanos” - segundo a revista Veja online de 29 de novembro de 2010.

2. As forças policiais que invadiram o Complexo do Alemão estão fazendo uma varredura nas casas dos moradores, mas a Constituição diz, em seu artigo 5º, parágrafos X-XI:

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;

     Segundo a definição jurídica, encontrada no artigo 150 § 4º do Código Penal, considera-se "casa" qualquer compartimento habitado, aposento de habitação coletiva e também compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade (quarto, oficina, atelier, etc.).

2.1. A polícia está entrando em todas as casas da região, indiscriminadamente, mas há uma lei que diz:

Art. 243. O mandado de busca deverá:

I - indicar, o mais precisamente possível, a casa em que será realizada a diligência e o nome do respectivo proprietário ou morador; ou, no caso de busca pessoal, o nome da pessoa que terá de sofrê-la ou os sinais que a identifiquem;

II - mencionar o motivo e os fins da diligência;

III - ser subscrito pelo escrivão e assinado pela autoridade que o fizer expedir.

§ 1o Se houver ordem de prisão, constará do próprio texto do mandado de busca.

§ 2o Não será permitida a apreensão de documento em poder do defensor do acusado, salvo quando constituir elemento do corpo de delito.

2.2. E o Código de Processo Civil deixa claro:

Art. 841. A justificação prévia far-se-á em segredo de justiça, se for indispensável. Provado quanto baste o alegado, expedir-se-á o mandado que conterá:

I - a indicação da casa ou do lugar em que deve efetuar-se a diligência;

II - a descrição da pessoa ou da coisa procurada e o destino a Ihe dar;

III - a assinatura do juiz, de quem emanar a ordem.

3. Estão revistando todas as pessoas do lugar invadido, mas o art. 5º, XV da CFB prevê o direito de ir e vir, a saber:

"É livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens.”

4. Estão prendendo pessoas “a torto e à direito”, mas a Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso LXI, determina que

“Ninguém será preso a não ser que tenha sido pego em flagrante delito ou exista uma ordem escrita e fundamentada emitida pelo Juiz competente determinando a prisão daquela pessoa, ou seja, exceto nos casos de flagrante (estar cometendo um delito, ter acabado de cometê-lo ou ser pego com o objeto do crime, dando a entender ser o seu autor) deverá ser exibido um mandado de prisão assinado pelo Juiz, em que conste a identificação da pessoa que está prestes a ser detida, e o motivo da prisão.

     Se a prisão ocorrer fora dessas circunstâncias, estará havendo ilegalidade, como na chamada "prisão para averiguação".

5. Cercaram, intimidaram, ameaçaram e invadiram as favelas e depois se queixaram de que foram recebidos à bala, mas o artigo 21 da Constituição diz:

“Todos têm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos, liberdades e garantias, e de repelir pela força qualquer agressão, quando não seja possível recorrer à autoridade pública”.

     Curioso é quando a ordem provém precisamente de autoridade pública, o que não anula – antes reforça – o direito de resistência.

     E O Código Civil (artigo 6º) fixa um princípio geral de Direito: “a ignorância ou má interpretação da Lei não justifica a falta do seu cumprimento nem isenta as pessoas das sanções nela estabelecidas”.

     Então, o que estamos assistindo é uma total truculência do Estado contra os cidadãos nas favelas do Rio de Janeiro. Em outras palavras – ditadura.

     Pessoas estão sendo baleadas e as suas casas estão sendo invadidas e revistadas – ilegalmente. Pessoas estão sendo paradas nas ruas e revistadas - ilegalmente. Pessoas estão sendo presas como suspeitas de crime – ilegalmente. Pessoas estão sendo mortas pelo Estado.

     Os números, segundo as fontes oficiais:

     50 mortos entre a população civil. 36 mortes de suspeitos registradas pela PM, 7 mortes registradas pela Polícia Civil e 7 registradas pelos hospitais públicos do Rio. 118 prisões, 130 pessoas detidas para averiguação, além de drogas e armas apreendidas.

     E o risível dentro do trágico é que o Estado utilizou 2.600 homens e mulheres das polícias cariocas e do Exército, Marinha e Aeronáutica, com o objetivo de prender cerca de 500 pessoas no Complexo do Alemão, sendo que, segundo a imprensa, para essas 500 pessoas tinham sido lavrados 100 mandados de prisão. E os supostos bandidos fugiram.

     A ditadura voltou, lenta e gradualmente.




sábado, 27 de novembro de 2010

TERRA ADORADA


O pipocar enlouquecido dos tiros
nos morros cariocas
- e muito em breve nos morros e não morros
em outras cidades do mesmo país doente –
e nas vielas, nas esquinas, nas estradas,
nos nichos e esconderijos,
nos mínimos e imperfeitos lugares
onde a pátria amada vai caçar os seus filhos
na solidão deste solo, para humilhá-los, prendê-los, matá-los heroicamente,
com o seu brado retumbante e a sua clava forte.

A terra mais garrida desce
sobre os inanimados corpos
deitados na vala comum
onde nossos campos tem mais flores
sob o formoso céu profundo,
em berço esplêndido.

O penhor desta igualdade
conquistada pelo braço forte
dos insones assassinos fardados,
amparados pela lei
dos raios fúlgidos nas balas vívidas
brilha no céu da pátria.

A imagem do Cruzeiro resplandece
nos binóculos de longo alcance
e os tiros se sucedem a matar, colossos,
em verde louro e no lábaro vermelho da barbárie,
os impávidos filhos desta terra verdejante.

Coturnos em marcha batida
invadem lares de amor eterno
ao ritmo de “Sal-ve!, Sal-ve!”,
em sonho intenso de grandeza bélica,
enquanto olhos míopes aplaudem
a voz histérica, vampiresca,
da mídia feroz, idolatrada.

Alguém, pouco antes de ser baleado,
diz que em teu seio, ó liberdade,
desafia o nosso peito a própria morte,
terra adorada,
ó mãe gentil!

És tu, Brasil, quem dorme
Hipnotizado
Em drogas plácidas,
Eternamente
No teu sono risonho e límpido.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

DESRATIZAÇÃO NO RIO DE JANEIRO


O boato histórico diz que Nero foi o responsável pelo incêndio de Roma, iniciado na noite de 31 de julho de 64. Roma era uma cidade velha, ocupada pela plebe e seus vícios e o incêndio, se não foi proposital, veio a propósito.

     Após o incêndio, Nero desenvolveu um novo plano urbanístico, incluindo a construção de um novo palácio, o Domus Aurea, e Roma ficou mais bonita, os plebeus foram despejados pelas chamas das casas que ocupavam no centro e os patrícios voltaram a dominar o seu primeiro e antigo território.

     O grande incêndio de Londres, que durou de 2 a 5 de setembro de 1666, não ocasionou vítimas entre os nobres, mas não se sabe quantos morreram, porque as pessoas pobres e da classe média não eram contadas. Destruiu 13.200 casas, 44 prédios públicos e a Catedral de St. Paul. O arquiteto Cristopher Wren liderou os muitos arquitetos que participaram da reconstrução, que deu origem à área conhecida como City of London, hoje um distrito financeiro. Os pobres foram empurrados para a periferia.

     Não importa quem morra – mulheres, crianças ou adolescentes – o importante é começar agora para deixar o Rio de Janeiro “limpo” para 2014.

     As Unidades de Polícia Pacificadora, que iniciaram a sua atuação e instalação através do BOPE (Batalhão de Operações Especiais), em novembro de 2008, na favela Tavares Bastos, nada mais são que tentativas de isolar “o Rio de Janeiro feio” da carioquíssima “Cidade Maravilhosa”.

     O tempo urge, o tempo ruge, e o Rio de Janeiro tem que voltar a ser aquela maravilhosa cidade antes da chegada dos primeiros turistas, em 2014, quando da Copa do Mundo, e estar ainda mais perfeito para 2016, quando sediará as Olimpíadas.

     Não importa se a invasão de vilas e favelas fere a Constituição, se atirar em cidadãos é um crime. No Estado fascista, os fardados tem sempre razão. E se não tiverem razão ficarão tendo. Sua ação os justifica.

     O importante é derrotar o que chamam de narcotráfico: facções de criminosos organizados que atuam na periferia do Rio de Janeiro. Não, não estou me referindo à polícia, mas aos civis que se organizam para vender drogas. De maconha para cima, porque a maconha já está liberada. Cocaína, heroína, estupefacientes em geral – aquelas drogas que deixam as pessoas entre estúpidas e estupefatas.

     É claro que a preocupação das autoridades não é com o vício. Este é um país de viciados. Os que não fumam, bebem; os que não bebem, cheiram. E há os que fazem tudo isso. Esta não é a questão. Os viciados continuarão fumando, bebendo e cheirando. E se matando a seu bel-prazer.

     O que está incluso na invasão das favelas do Rio é a disputa por território. Quando a plebe, por qualquer razão que seja, ameaça demarcar território, cobrar pedágio a ponto de tornar-se quase um estado dentro do Estado, o Estado oficial reage com fúria. Como ousas, Catilina? Quosque tandem? Cortem-lhe a cabeça!

     A estúpida plebe deve entender que é somente uma estúpida plebe. Pode até vender drogas para os patrícios, mas acanhadamente, com a cabeça baixa, de maneira servil como lhe convém. É um serviço necessário, a venda de drogas. Mas deve ser feito de maneira educada. A clientela é imensa e só tende a aumentar. Uma clientela rica, que pode dispor de milhões para seus vícios particulares. Aos pobres, o “crack”, coisa que os ricos nem pensam; para eles drogas especiais, puras, escolhidas.

     A plebe agiu muito mal ao pensar que tinha algum poder somente porque fornece drogas aos ricos. Os ricos tem meios de conseguirem as suas drogas preferidas aonde quiserem. Por isso são ricos.

     Agora, corram ratos, porque a polícia vem aí! E o Rio de Janeiro está precisando de uma limpeza étnica para ficar mais estético aos olhos dos turistas e dos muitos ricos. Corram, porque a policia, os blindados da Marinha, os soldados do Exército e, se necessário, as forças da Aeronáutica, estão atrás de vocês. E saibam de uma vez por todas que não há lei, justiça ou qualquer tipo de defesa para os que são desclassificados socialmente.

     Vocês cometeram o principal pecado em uma sociedade de classes bem delimitadas: desejar ter o seu próprio território. E se resistirem, insistirem em lutar pela própria vida, não se entregarem nos braços armados da Mãe Gentil, preparem-se para incêndios e devastações que trará, depois, uma limpa e educada reurbanização aos olhos do Corcovado.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

OS QUE NÃO SE IMPORTAM


Os que não se importam somente se importam com as suas razões. E com elas dormem tranqüilos, levam a sua vida, aceitam as verdades que consideram melhores para as suas consciências, preferem o surrealismo dos seus pensamentos eufemísticos, criam os filhos como robôs programados e os associam às mesmas sociedades dos ancestrais, onde reinam as verdades eternas e perfeitas.

     Os que não se importam são especialistas em arrazoados. Através deles enxergam os demais, que consideram como naturalmente inferiores, mas necessários para os trabalhos mais rudes. Julgar, para eles, é um dever natural, posto que são deuses, e acreditam que não só o presente mas também o futuro lhes pertence – colorido e cheio de prazeres -, mas somente a eles, porque os demais são considerados como servos a serem utilizados pela sua suprema inteligência.

     Os que não se importam também fingem se importar. Tomam a frente nas ações cívicas com data marcada; orgulham-se de ajudar aqueles que exploram o ano inteiro. Ficam felizes consigo e com o universo que demarcaram quando se despojam de seus restos em favor dos muito necessitados, já acostumados a viver do lixo dos que freqüentam academias para emagrecer.

     Os que não se importam com a aridez do deserto dos seus escravos ou com a fome dos deserdados, porque os seus jardins são floridos e tem a gula sempre satisfeita, são os que acreditam fervorosamente no deus cúmplice que mora nos brancos templos dos shopping-centers onde só entram os selecionados pelo valor dos seus cartões de crédito.

     E preferem o mundo virtual, embalsamado e asséptico, à visão dos corvos e famintos em torno à vala comum do lixo do seu desprezo.

     Os que não se importam dedicam-se à metafísica ou a outras volúpias mentais onde encarceram os seus olhos medrosos e fugidios, trocando-os por uma mente passiva, gorda, satisfeita com o seu mundo linear.

     Os que não se importam tem medo quando estão fora dos seus condomínios ou quando, inadvertidamente, dão alguns passos nas ruas poluídas pelos infectados comuns. As grades lhes são afáveis e nelas encontraram a maneira da segregação perfeita.

     Os que não se importam adoram o trágico e o inusitado, desde que representado em salas escolhidas, afastadas da ruidosa multidão, que sobrevive na comicidade do seu cotidiano insosso e frustrado e sem nenhum fulgor heróico. São os que patrocinam a arte abstrata, que não incomoda, não tem cheiro ruim nem revela olhares ansiosos de vida ou perdidos na solidão. Para eles, a arte é revelada através das instalações, sempre penumbrosas e sutis, apenas a percepção do vago – muito além do mistério da luta pela vida, do dissabor da angústia dos que deixaram de sonhar e que não são sutis, nem vagos, mas apenas bruscos na sua metodologia da sobrevivência.

     Os que não se importam determinam a vida e a morte, a política e as relações sociais, a paz e a guerra, o amor e o ódio, de maneira equilibrada, sazonal, entre pequenas perfídias e grandes traições.

     Fabricam a sua própria moral, de acordo com a moda e as circunstâncias, mas a resguardam para si, para os seus brinquedos lúdicos, para a sua alegria plastificada, metódica, prevista para os momentos de medida insensatez.

     A outra, a moral oficial, é reservada para controlar e domesticar a fúria dos servos em seus impulsos primários, resultado de genes mestiços e confusos.

     Para os que não se importam todas as reações dos seres inferiores são catalogadas e estudadas com a natural frieza científica dos dominadores. Sua secreta tecnologia permite-lhes interferir nos sonhos, induzir pensamentos, promover paixões e determinar momentos de calma e de euforia.

     Os que não se importam estão acima e além de qualquer possibilidade de sentimento ou emoção.

     Apenas espreitam, observam, manipulam, mas não se importam.

     São os que constroem imensos mausoléus e não se importam de morrer depois que usarem toda a sua cota do secreto elixir da longa vida, desde que tenham a certeza da reverência póstuma.

     Seus clones continuarão como eles a perpetuar a estirpe escolhida e a não se importar.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

ALÉM DA SUPERFÍCIE


Com diversos eventos em todo o país está sendo comemorada a Semana da Consciência Negra. Trata-se de uma tentativa de resgate do que realmente significou a escravidão no Brasil e do que, até hoje, significa a discriminação pela cor.

     O nosso é um país essencialmente mestiço. Dificilmente encontram-se pessoas de “raça pura”. Mas, procurando, nos estados do sul – Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul – há predominância de brancos, resultado da maciça emigração ocorrida durante o Segundo Império, incentivada na Primeira República e até meados do Estado Novo, nos anos ’30.

     Também para São Paulo foram levas de emigrantes, principalmente italianos e japoneses. O objetivo era substituir os negros nas grandes lavouras de café, com o fim da escravidão. Do Sudeste para cima – e o Brasil é imenso –, quase somente mestiços. A miscigenação entre brancos, negros e índios deu origem a cafuzos, mulatos e caboclos.

     De acordo com a Wikipédia, “mestiços são pessoas que são descendentes de duas ou mais etnias ou raças humanas diferentes, e possuem as características das “raças”. Por exemplo, com antepassados negros e brancos ou negros e índios. São também chamados de mistos em Moçambique e de pardos no Brasil; e também se usam como adjetivos, nas expressões “raça mestiça” ou “cor mestiça”.

     Atualmente – e principalmente depois do advento do ”politicamente correto” – a classificação das raças no Brasil perdeu o seu conteúdo científico, principalmente porque não houve mais incentivo para que especialistas e estudiosos intentassem essa classificação. Qualquer tentativa científica de classificação de raças, no Brasil atual, poderá ser chamada de racismo.

     Vivemos um perigoso momento de provável institucionalização do racismo. Não pela raça, mas pela cor. Há um grande interesse do governo em captar para si o que chama de minorias, como as mulheres e as pessoas de cor negra. Na verdade, as mulheres são maioria e, muito provavelmente, as pessoas de cor negra também.

     Acho ótimo que exista um Movimento Negro, desde que não segregue os brancos, amarelos e indígenas. Mas também acho perigoso um Movimento Negro atrelado ao Estado. Mesmo que se chame de Movimento, se é assim, transforma-se em mais um aliado político da coligação dominante. E a coligação dominante é fascista. Da mesma forma que seria a outra coligação – do Serra – se tivesse vencido as eleições.

     E entendo fascismo como o apadrinhamento do Estado a todas ou à maioria das instituições, partidos e movimentos, de forma a torná-los órgãos ou partes do próprio Estado, mesmo que de maneira mascarada.

     Qualquer movimento popular que exista, se for apadrinhado pelo Estado será tudo menos movimento. O Sistema, estruturado em qualquer tipo de Estado, quando dominante, tem a tendência de tragar os movimentos populares e usá-los para os seus objetivos de perpetuação das oligarquias escolhidas, que o representam.

     As lutas populares devem ser bem mais profundas, ir além da superfície, além da cor da pele.

     Deve-se organizar não um movimento de negros ou de brancos ou de amarelos ou de indígenas, mas um movimento do povo brasileiro, visando desmistificar a farsa democrática em que vivemos. Objetivando a participação real do povo - de todo o povo e não somente de alguns segmentos sociais – no poder e no governo.

     Delegar poderes para partidos e coligações políticas, como tem sido feito até agora, é um vício de uma política ultrapassada que somente visa a domesticação das pessoas – de qualquer cor.

     O Estado é feito pelo povo e não pelos políticos. Mas a mentalidade do povo brasileiro, de sua maioria, ainda é semifeudal quanto a isso, porque acredita em governantes messiânicos, acredita na centralização do poder em alguns poucos escolhidos, acredita que o senhor que mora no castelo foi ungido pelo deus das urnas para governá-lo.

     Ir além da superfície da pele é perceber que a pobreza e a miséria não tem cor neste Brasil. E, se ontem eram os escravos que sofriam sob a chibata e depois aqueles negros que acreditaram que negro tinha que ser comportado e apenas jogar futebol e fazer samba, atualmente a principal segregação é entre os que depositam os seus dólares no exterior e querem a entrega do nosso país ao capital estrangeiro e entre os que não tem o que comer e são ludibriados a cada 2 e 4 anos por promessas eleitorais.

     Ir além da superfície da pele também é ir além da consciência negra, que deve existir, mas deve abranger todo o povo brasileiro sofrido e enganado. Hoje não existem mais capitães do mato, mas existe a polícia e o exército que todos os dias invadem favelas onde se refugiam brasileiros de todas as cores.

     Ir além da consciência negra é ir além da cor da pele e transformar a própria consciência em consciência de justiça e de igualdade social.

domingo, 21 de novembro de 2010

O SUJEITO OCULTO


Suspeita-se, quase se tem certeza da sua existência. Às vezes a sua sombra é vislumbrada, a sua presença é intuída, deduzida. Mas apenas isso. Ele permanece oculto. Quem investiga não acha; quem procura não encontra.

     Afirmam que é um sonho, uma ilusão, no máximo uma possibilidade muito distante, uma ilação de cérebros desocupados. Os mais radicais dizem que é uma invenção que não deve nem ser considerada. Outros - uma pequena minoria de seres quase incógnitos - preferem não falar no assunto. Quando são abordados a respeito, sacodem a cabeça e atravessam a rua. Ou escondem-se em subterrâneos inacessíveis aos inquiridores.

     Muitas teses foram escritas sobre ele. Temos inúmeros mestres, doutores e pós-doutores que alcançaram as suas graduações ao provar a probabilidade da sua existência.

     Teses cheias de circunlóquios, com verborrágicas introduções sobre o Ser e o Não Ser; o Ente e as particularidades ínfimas do pensamento humano, escritas por pensadores iluminados, mesmo que esquálidos devido às inúmeras noites em claro dedicadas às pesquisas de campo.

     Quando de suas dissertações, limitam-se a explicitar as pontuações existentes em seus trabalhos, com inúmeras pausas significativas entre uma simples vírgula e um ponto final que determina uma oração absoluta. Ou quase. Sempre fica a indagação. Perene, embora equívoca: filosófica. São aplaudidos entusiasticamente, ao final. Embora permaneça a dúvida, a natural dúvida inerente às abstrações perfeitas.

     É claro, há os céticos, que negam totalmente a sua existência e somente acreditam na realidade dos cinco sentidos. Simplesmente negam. Os ainda mais céticos nem negam, riem-se quando alguém lhes fala a respeito. Olham fixamente para o interlocutor, perguntam as horas e depois se afastam, lentamente, certos de suas verdades quietas e perfeitas.

     Não se ocupam em interrogações íntimas. As suas preocupações têm como base o que entendem como algo concreto, iniludível. Detestam interjeições, não se perdem em sofismas e descartam tudo o que for volátil e impreciso. Não escrevem versos nem lêem Nietzsche. Abominam as sombras dos fins de tarde. Escondem de si mesmos as prováveis angústias, se auto-definem como seres sérios e realistas, caminham firme, dirigem corretamente, falam de maneira clara e incontestável, tem a sua vida agendada em horários fixos e pré-determinados, fazem amor por dever físico e moral – jamais pelo simples prazer da sensação -, participam de clubes literários, onde apresentam sonetos alexandrinos escritos em momentos de quase meditação. Quando morrem é de maneira contida, passiva e sóbria.

     Mas também existem os românticos. São aqueles que afirmam sem saber e aceitam sem pesquisar. São propensos à crença quase dionisíaca, devido ao seu temperamento orgíaco e exaltado. Geralmente procuram o apoio dos que preferem a vida claustral e meditativa e não são dados a saltos de imaginação, mas buscam as inatas ideias que os levam a crer sem paixão.

     Estes são os organizadores, os que fazem da crença um culto e do culto uma verdade. Para eles, não há qualquer dúvida a respeito da existência do Sujeito Oculto, mas dedicam-se a prová-la, mesmo assim. Certos da verdade que defendem, arregimentam prosélitos através de palestras e conferências onde provam a inexistência do Nada e, portanto, a mais que provável certeza daquele que não ousam citar o nome.

     Sacralizam-no e orgulham-se disso, porque o tem como seu e acreditam na perfeição daquilo ou daquele que julgam possuir. São como amantes devotados, que tornam o ser amado objeto de adoração.

     Com o passar do tempo, um grupo dentre eles evoluiu em suas pesquisas. Aqueles que, mesmo crendo, desejaram a confirmação da sua crença através da lógica, do raciocínio implacável.

     Isso provocou uma divisão que persiste até hoje.

     De um lado, os crentes, que afirmam que não é necessário mais que a fé no que passaram a chamar de intangível e absoluto. De outro lado, os que se autodenominaram amantes da sabedoria e que consideram o absoluto não tão absoluto assim, mas indeterminado e passível de ser descoberto através de suas diversas virtudes ou características próprias.

     Os primeiros formaram igrejas, onde recebem todos aqueles que apenas aceitam a não existência do Nada - o que consideram como obviedade da quieta presença do S.O. Entendem que essa presença pode operar milagres, mesmo sendo quieta, e alguns afirmam que tem a certeza disso: vidas foram transformadas, pessoas se declararam curadas de males que se eternizavam, lares foram recompostos – apenas pela fé nos poderes do S. O. Passaram a receber dízimos dos acólitos, a realizar liturgias onde o ponto máximo é o sibilar conjunto das duas letras sagradas.

     Os outros, formados pelos lógicos, que pesquisam a razão de ser do Ser que poderá ou não ser S. O ou S. I, ao se afastarem dos românticos ou simplesmente crentes se agregaram em sociedades muito discretas – ou ilegalmente secretas, como preferem dizer os seus detratores – que somente podem ser frequentadas por membros escolhidos que prestam juramentos recíprocos de total silêncio sobre os mistérios que descobriram a respeito do Oculto ou Indeterminado. Silêncio que não poderá ser quebrado sob pena de morte em vida.

     Organizaram-se em graus, que correspondem à sua evolução no conhecimento secreto, sendo que os graus mais altos, segundo se afirma entre os apenas neófitos, são aqueles em que a sabedoria do S. I. (ou S. O.) é aspergida sobre a alma e o intelecto dos Ascensionados (pois assim são chamados os Mestres acima dos Mestres), dando-lhes incríveis poderes sobre a vida e a morte e lhes revelando mistérios que não podem sequer ser murmurados.

     Certa noite, eu estava, descuidadamente, pensando nessas veleidades humanas e na arrogância daqueles que desejam ser mais que os outros e no fanatismo daqueles que se dizem donos de extremada fé... Pouco antes de dormir, pouco antes de ler alguma coisa antes de dormir, pouco antes de comer um docinho antes de dormir – porque a vida também é feita de docinhos, beijinhos e cafunés e eventuais outros prazeres tão simples – quando percebi a cortina do meu quarto se mexer. Pensei que fosse o meu gato, que adora subir nas cortinas somente para que eu o tire de lá. Mas não era. Era um roçagar leve das cortinas (roçagar é ótimo, não?) que interrompeu o meu pensamento.

     Olhei melhor e percebi um quase vulto. Quando ia me levantar, assustado, uma voz disse: “Não vos assusteis!”. Uma voz entre lúgubre e adocicada. Com a minha surpresa, o vulto tornou-se mais claro, destacando-se das cortinas e repetiu: “Não vos assusteis, porque estou aqui para dirimir as vossas dúvidas!”

- E quem é você? - perguntei.

- Eu sou aquele que é! – disse, enfaticamente, a voz.

- Mas eu já li essa frase em Alexandre Dumas, acho que em “Memórias de Um Médico” – retruquei.

- Alexandre Dumas mal sabia o que escrevia!

- Não vem que não tem!, seja você quem for! Eu gosto muito de Alexandre Dumas, Michel Zevaco e todo o tipo de folhetim antigo. Mesmo você sendo aquele que é não precisa ofender!

- Acalmai-vos!

- Está bem. Estou quase calmo, mas um pouco nervoso, porque não é toda noite que eu recebo o Ser dos Seres, assim, de repente... E que dúvidas você veio dirimir?

- As suas. Perguntai e eu responderei.

- Você está me parecendo mais uma espécie de Gênio da Lâmpada...

- Não sejais sarcástico! Estou apenas lhe fazendo um favor!

- Um favor? Não estou entendendo...

- Você estava me incomodando. Eu emanava vibrações em minha perpétua eternidade – ou eternidade perpétua, se preferirdes – quando os seus pensamentos de fim de noite começaram a interferir no meu contato com outros seres iluminados, embora inferiores. Por isso, resolvi acalmá-lo com a revelação de pequenas verdades para o seu pequeno e inquieto cérebro.

- Ah!, bom... Então eu vou perguntar: o que é a Verdade?

- Isso eu não posso responder e você não se chama Pôncio Pilatos!

- Mas cara...

- Por favor, chame-me apenas de Aquele Que É.

- Está bem, Aquele Que É, se você não pode responder o que é a Verdade porque está aqui?

- Eu posso dizer o que é a Verdade, mas não para você, que é apenas um mero humano.

- Mas se eu sou apenas um mero humano, porque se abalou a vir até aqui para “dirimir as minhas dúvidas”, conforme você disse?

- Eu não vim até aqui. Estou em todos os lugares.

- Isso é bem cômodo.

- Natural para a minha natureza. Agora faça mais uma pergunta.

- Quantas perguntas eu ainda posso fazer?

- Três perguntas. E você ainda tem mais duas.

- Eu disse que você me parecia o Gênio da Lâmpada! Sempre três perguntas...

- A história do Gênio da Lâmpada é uma metáfora sobre mim. Aladim era parecido com você. Vivia duvidando da minha existência e eu apareci para ele, na forma de gênio, para provar as virtudes metafísicas do meu poder genial. Tudo é três no Universo: criação, conservação e dissolução. Por isto, você tem direito a somente três perguntas. Faça a segunda.

- Está bem, Aquele Que É. Você parece ser um bom filósofo. Diga-me: por que você se autodenomina “Eu Sou Aquele Que É”?

- Isso eu também não posso responder. É um mistério arcano arcaníssimo, que somente os muito sábios poderão vislumbrar!

- Mas me parece óbvia a resposta, Aquele Que é. Você é Aquele Que É porque não poderia ser outra coisa senão aquele que é. Da mesma forma que eu sou o que sou porque não poderia ser outro, além do que sou.

- Deixe de sofismas, mero mortal! Faça a terceira e última pergunta, porque já está ficando tarde.

- Eu pensava que para você não houvesse tempo...

- Já está ficando tarde no seu tempo. E não tente me confundir!

- Oquêi! Não precisa ficar bravo... Relaxa... Aí vai: você é o Sujeito Oculto ou o Sujeito Indeterminado?

- Isso eu também não posso responder. Essa verdade está reservada apenas àqueles que buscam persistentemente a Verdade. O que importa é que Eu Sou O Que Sou, ou, se preferir, Eu Sou Aquele Que É. Alguns me chamam apenas de “Eu Sou” – um termo incompleto que eu relevo, porque eles me amam sem indagações, apenas pelo que eu sou... Err... Perdão pela redundância.

-  Não se preocupe com as palavras, Aquele Que É, porque às vezes elas só atrapalham.

- Você o disse! Isto é, você disse porque eu pensei através do seu pensamento.

- Um momento, Aquele Que É, e o livre-arbítrio?

- O que mais me incomoda é esse livre-arbítrio. Desde a época de Adão...

- Mas você o castigou feio, não foi? Isso de colocar um querubim guardando a Árvore da Vida, depois que ele comeu do fruto da Árvore do Bem e do Mal, me pareceu um ato muito egoísta. Por que só você quer ser imortal?

- Não posso responder mais nenhuma pergunta, mortal irritante. Sinto muito.

- Meu caro Aquele Que É, você tem toda a razão, já está ficando tarde no meu tempo e é hora de dormir. Acredite, você conseguiu dirimir todas as minhas dúvidas. Não se preocupe mais com isso.

- Como assim? Você está me despedindo?!

- Em absoluto, Aquele Que É. Como poderia despedi-lo se você está em toda a parte? Fique e acomode-se, se quiser. Mas agora é o meu momento de ler um pouco antes de dormir. Você não se incomoda com isso, não é?

- Bem...

     Naquele momento, a sua voz parecia mais lenta e desarticulada. Ele começou a sumir ou a desfazer-se ou, simplesmente, a deixar de estar ali na aparência – embora eu o percebesse menos oculto e sim implícito, desinencial.

     Mas tinha conseguido acabar com as minhas dúvidas. Agora eu sabia que Aquele Que é realmente É. Que grande honra a sua visita! E isso que eu não pertenço nem à Igreja que reverencia o S. O. nem à ultra secreta sociedade que busca as verdades eternas do S.I.

     Era hora de dormir. Apaguei a luz, mas estava sem sono. Acendi a luz, de novo, e peguei um folhetim do Michel Zevaco. Agora eu poderia divagar pelos universos da imaginação. Pena que o Aquele Que É não soubesse disso. Ou saberia?
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