sábado, 17 de setembro de 2016

LAMÚRIAS




- Capitão, esta nossa conversa é particular e oficialmente não está sendo gravada. A gravação não oficial somente será usada em caso de força maior, entendido? 

- Sim senhor. 

- Sinta-se tranqüilo, pegue um café e conte sobre a sua missão. 

- Foi uma missão que visou detectar e destruir focos anarquistas e cripto-comunistas de movimentos rebeldes contra o governo. 

- Muito bem. E acredita que alcançou os seus objetivos? 

- Amplamente. Os movimentos foram devidamente infiltrados e eu me ofereci como boi de piranha, se me permite a expressão, para salvar os demais companheiros. Inclusive, alguns deles estão assumindo postos de liderança e, no devido tempo, também serão desmascarados para que a desconfiança crie as condições necessárias para a auto-dissolução desses grupos. 

- Quanto tempo calcula para que isso aconteça? 

- Dois a três meses, no máximo. Os protestos já estão arrefecendo e breve se transformarão em lamúrias. Foi usada a mesma estratégia que nos sindicatos do abecê e de outras letras do alfabeto. Nos sindicatos, aliança com os patrões, prêmios e promessas de cargos públicos; nos grupos de protesto manobras diversionistas destacando palavras de ordem como as utópicas “Diretas Já” e “Eleições Gerais”. Só o “Fora Temer” não foi possível evitar: pegou como uma praga. 

- O que até é bom. Uma de nossas táticas é manter os governantes do momento sob constante pressão para que não se esqueçam de quem realmente manda. Observe que “Fora Temer” é uma expressão que se dilui em si mesma ao colocar uma única pessoa como responsável pelo que eles chamam de golpe. E na hora certa, se necessário, nos livramos dessa pessoa - assim como fizemos com o Cunha - e colocamos alguém mais forte no seu lugar. Por enquanto, ele é necessário e está cumprindo a agenda proposta. Deixemos que se refestele no governo e brinque um pouco de presidente. Fale-me sobre os sindicatos, CUT, MTST, MST, esse pessoal... 

- Tudo sob controle. Os sindicatos, como a CUT, querem fazer greve geral porque insistem que o povo está desconfiando deles, mas já foram avisados que greve geral só se for por somente vinte e quatro horas, não mais que isso. Greves simbólicas, para marcar presença. Quanto ao MST, MTST, esse pessoal todo está apavorado com a lei antiterrorismo e só se arriscarão a fazer mais um ou outro protesto, com gritos e queima de pneus. 

- Dilma? 

- Quieta. 

- Que continue assim. E o Lula? 

- Será preso e esquecido numa cela. 

- Confesso, capitão, que não sei se seria a melhor estratégia. O Lula bem que poderia servir, futuramente, quando precisarmos de nova conciliação de interesses, entende? Ele é ótimo para essas coisas. Até andei falando sobre isso com aquele rapaz de Curitiba, que, às vezes, se mostra afoito demais. 

- Seria o caso de incentivar a proposta de Lula presidente em 2018? 

- É o caso. E na hora vence outro que estamos preparando na surdina, desde agora. Para o povo, eleições é o mesmo que democracia, e se houverem eleições em 2018, com o Lula candidato, quando ele for derrotado ninguém poderá se queixar de golpe. E caso ele vença, o que será quase impossível, será nosso, entende? 

- Um plano maquiavélico, senhor. 

- Obrigado. Está dispensado, capitão.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

DISSERAM PRA DILMA




Disseram pra Dilma que deveria participar do golpe e não repudiá-lo, pois seria um golpe contra o povo e não contra ela ou contra o seu governo, que eram necessários alguns ajustes fiscais feitos por um ministro ligado ao FMI e às grandes corporações bancárias, um judeu usurário clássico estilo Shylock, ou mesmo o Joaquim Levy que retiraria alguns direitos do povo que ela prometeu defender, alguns milhões, muitos milhões, na verdade vários bilhões, o que enxugaria a máquina pública restrita apenas aos políticos, demissões aqui, demissões ali e, quem sabe, de quebra, a aprovação de uma lei antiterrorismo para o caso das centrais sindicais ficarem muito alvoroçadas e se resolverem a protestar – o que ninguém acreditava e até hoje ninguém acredita – e, depois disso, tudo ficaria muito bem, o país voltaria a andar, um país para poucos, mas que fazer? 

   Disseram pra Dilma que o golpe era uma questão estritamente pessoal, conseqüência de conflito de temperamentos que indispuseram deputados e senadores contra a presidente e contra o seu partido, principalmente depois do fim do mensalão, ou dos mensalões, quando os congressistas deixaram de receber suas honestas gorjetas em troca de favores.

   Disseram pra Dilma que dois ou três desses deputados e senadores eram os chefões da máfia do golpe, que esses chefões tinham comprado os chefetes e seus subordinados, com o apoio do submisso Judiciário e, por fim, decidiram que a maioria de golpistas no Congresso dava a eles o direito de depô-la e organizar-se em ilegal governo, legalizado aos olhos do povo midiotizado pelos comprados donos da imprensa e de todos os golpes e que esperam se tornar tão imensamente milionários que poderão passar o resto de suas vidas em degradantes festas e esfuziantes viagens e, ao morrer, se morrerem, serão guardados em imensos mausoléus enfeitados pela suástica e pelas clássicas máscaras da tristeza e da alegria. 

   Disseram pra Dilma que o Sérgio Moro faria uma limpeza no mar de lama que inunda o Brasil, por isso a operação se chama Lava Jato. Graças ao Moro e à Polícia Federal, ao FBI, à CIA, ao serviço secreto de Israel, aos Mórmons e à Maçonaria, o Brasil ficaria livre da corrupção, nada como a liberdade vigiada, que bom que ela, Dilma, tinha sancionado a lei que permite a prisão por tempo indeterminado, apelidada de prisão preventiva, os tempos são outros, prende-se sem provas e por ouvir dizer e depois os presos são julgados pelo mesmo juiz que mandou prender, admirável mundo novo, e o Moro, esse bom rapaz que estudou nos Estados Unidos e lá aprendeu tudo sobre corrupção, faria as prisões necessárias, e até as desnecessárias.  

    Disseram pra Dilma que não tem importância que os principais quadros do seu partido mofem na cadeia sem quaisquer provas que os incriminem - o que é um partido, nas atuais circunstâncias? Se for o caso, troca-se de partido, este é um país livre para os que ainda estão livres, e se o Lula também for preso será menos um a incomodar, a fazer pressão pelos direitos sociais e outras utopias obsoletas. 

   Disseram pra Dilma para não falar em ingerência externa, que mania de jogar a culpa nos Estados Unidos, é claro que eles são os responsáveis, mas não se pode falar nessas coisas em público, uma questão de diplomacia, de tato, de bom tom, roupa suja se lava em casa, este é um golpe doméstico, parlamentar, civil, os militares nem precisaram sair dos quartéis, para isso existe a policia militar e todas as outras polícias que botam qualquer exército no bolso, lembra do que aconteceu na Turquia, recentemente? As forças armadas daquele país tentaram um golpe e foram presas pela polícia, e olha que o Moro nem estava lá! Além do quê, em política nunca se sabe, vá que o STF ponha a mão na consciência, se arrependa, anule o ato jurídico do impedimento devido às suas óbvias imperfeições, a Dilma volta a ser presidente depois de um grande acordo para pacificar a insubordinada nação – e como é que fica com os USA com quem o Brasil tem tantos acordos, discretos e indiscretos, e a quem jura vassalagem? 

   Disseram pra Dilma que o golpe é passageiro e que ela ficará na História como a guerreira da nação brasileira, talvez até ganhe uma estátua, como o Romário, ou o Prêmio Nobel da Paz, como o Obama, por lutar pela união entre as classes, pela paz social, pela democracia burguesa, pelas pacíficas minorias insurgentes, pelo consumismo da nova classe média, pelo poder das devassáveis urnas eletrônicas, por incentivar a devastação da Amazônia com o Novo Código Florestal e com a construção de hidrelétricas megalomaníacas, como a de Belo Monte. 

   Disseram pra Dilma que tudo passa, tudo passará, menos ela e o seu governo, que enfrenta, é verdade, um breve período de estagnação devido ao Temer e sua quadrilha, que quer porque quer entregar o Brasil aos seus patrões, e já está entregando apressadamente, e tem a ânsia vampiresca de sugar o sangue dos brasileiros, e já está sugando com volúpia, mas que logo em seguida, devido ao grito das ruas e aos silenciosos conchavos palacianos, ela voltará nos braços do povo para constatar que o petróleo era nosso, mas já foi vendido e que a retirada dos direitos sociais é irreversível; mas, em compensação, ficará famosa ao chamar eleições gerais e acabar de vez com o seu próprio mandato.

domingo, 4 de setembro de 2016

SINTO MUITO





Sinto muito, Lula e direita do PT, não vai dar pra esperar até 2018. O povo quer é Dilma de volta à presidência já, no máximo até dezembro. Ou revolução. Será que o deus Mercado quer uma revolução no Brasil? Prefere uma ditadura? Sinto muito, também não vai dar. O povo acostumou com a democracia. Nenhum direito a menos. Pois é, houve o que apelidaram de “impeachment”. Sinto muito, deputados e senadores, não vai dar: vocês não representam mais ninguém, o povo quer os seus cargos de volta. Ah, o STF corroborou o golpe? Sinto muito, STF, não vai dar, chega de brincadeirinha jurídica. O povo quer justiça de verdade.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...