quarta-feira, 26 de maio de 2010

MEU PAI, ADVOGADO



Meu pai, Palmor Porto Brignol, foi advogado, um dos melhores que eu conheci. É claro que eu sou suspeito em dizer isso, mas quem o conheceu sabe que ele era muito bom. Mas não foi somente advogado, porque ele fez o curso de Direito depois dos 60 anos. Era militar e lutou em duas revoluções ao lado de Getúlio Vargas: 1930 e 1932. Eram tempos em que os militares – principalmente sargentos e tenentes – tinham um forte sentimento de nacionalismo.

     Para entrar na política, foi um passo. Elegeu-se vereador, em nossa cidade de Bagé na primeira vez que concorreu e, até onde me lembro, sempre foi vereador. Algumas vezes, Presidente da Câmara, em outra chegou a assumir o cargo de Prefeito Municipal. Era do PTB, no tempo em que o PTB era um partido atuante e realmente defensor do trabalhador. Ao mesmo tempo, era comerciante (parece ser uma característica na nossa família o ecletismo nas atividades e no trabalho em geral...), radioamador e, nas horas de folga, gostava de escrever os seus sonetos.

     Quando aconteceu o golpe militar de 01 de abril de 1964 ele tentou liderar a resistência em Bagé. Foi perseguido, preso e torturado. No quartel, porque era militar. Lembro de minha mãe perguntando se ele estava sendo torturado, nas raras vezes em que era permitida alguma visita. Ele respondia que não, “somente interrogatórios com uma lâmpada no rosto, para que eu não possa dormir”. Tortura. Mas não era comunista, por isto não foi cassado e continuou a sua luta como vereador, ao lado do povo. E quando o PTB foi extinto, entrou para o MDB, depois PMDB.

     Foi naquela época que decidiu ser advogado. Formou-se na PUC de Porto Alegre, depois de fazer parte do curso em Bagé. Era um idealista; acreditava que a advocacia seria um complemento de suas atividades como vereador. Montou uma banca  de advocacia junto com outros colegas e fez sucesso. Um daqueles advogados era meu primo-irmão, a quem eu admirava muito: Solon Brignol Porto. Solon era um ativista político e estava em Porto Alegre, meio perdido, quando meu pai o convidou para trabalhar junto com ele. Lembro do Solon, em plena fase da mais cruel ditadura militar no país, jogando foguetes na rua pela derrota dos Estados Unidos no Vietnam ou pela vitória dos sandinistas na Nicarágua.

     Eles, meu pai e meu primo, tinham seus defeitos pessoais como todo mundo, mas, ao mesmo tempo, a grande e rara virtude de preocupar-se com o mundo à sua volta, com as pessoas que sofriam injustiças, com aqueles que depois de passarem pela via crucis de procurar os seus direitos, batiam na porta do escritório de advocacia do Palmor e... eram atendidos! Não havia distinção de classes naquele escritório, que não era nem luxuoso nem feio, mas, com certeza, acolhedor. Ali dentro, havia três ou quatro advogados que acreditavam na Justiça. Hoje, seriam chamados de loucos ou de quixotescos, mas eram leais consigo mesmos. Lembro de um caso em que uma pessoa que teve a sua causa ganha, mas não podia pagar, levou uma goiabada de presente para eles. Foi uma festa!

     Daquela geração do meu pai restaram poucos advogados em Bagé que se possa, realmente, chamar de advogados. Não gostaria de citar nomes para não cometer injustiças, mas não posso deixar de lembrar dos irmãos Giórgis – José Carlos, o “Juca”, que hoje é desembargador aposentado, e o George, que continua advogando e talvez seja o melhor advogado de Bagé. Meu pai os conheceu desde que eram estudantes, e, depois, quando finalmente se formou em advocacia, era neles que ele se espelhava e era com eles que buscava conselhos e opiniões.

     Advogados bons – e até muito bons – ainda existem. Mas, mesmo os excelentes não preenchem todos os requisitos que eu enuncio na matéria abaixo, “PROCURA-SE UM ADVOGADO”. Ali eu coloco o meu ideal de advogado. Se eu precisar de alguém para me defender é claro que eu desejo que seja honesto, corajoso e engajado. Desejaria que não fosse um advogado mercantilista, que olhasse a pessoa antes de ver as custas da causa; alguém que acredite em si mesmo, na sua força pessoal, conhecimentos e experiência e que confie que uma causa sempre pode ser ganha, por mais difícil que pareça. Mas, principalmente, em primeiríssimo lugar, desejaria um advogado que fosse educado, sincero e respeitoso. 

     Infelizmente, ao ler alguns dos comentários que a minha matéria (abaixo) recebeu, comentários de pessoas que se dizem advogados(as), percebi como essas pessoas estão longe do que entendo por um advogado(a) de verdade. Até uma ou duas delas dizem que me conhecem, mas duvido muito. Dificilmente eu teria algum contato com pessoas que revelam um nível cultural e educacional tão baixo e, principalmente, tamanha falta de caráter. Até chego a duvidar que sejam advogados(as)... Mas, se realmente fizeram um curso de advocacia e se tiverem um mínimo de consciência não deveriam advogar, porque poderão confundir a nobre profissão de advogado(a) com a de esbirro.
     Mas penso que nenhum deles é advogado. Não tenho, que eu saiba, desafetos, mas agora eu sei que existem pessoas que não gostam de mim. Acredito que não sejam advogados porque - além de fazerem acusações infundadas, verdadeiras difamações, e no anonimato, revelando um caráter covarde e tacanho - escrevem muito mal: xadrez com acento circunflexo (xadrêz),  valorosos com "z" (valorozos), hombridade sem o "h" (ombridade), ego com acento agudo (égo), e por aí vai... Claro que temos direito a nossos erros gramaticais, de vez em quando, mas não tantos. E nenhum advogado de verdade pode dar um atestado tão grande de semianalfabetismo. Chego a pensar que deve ter sido uma única pessoa, devido à coerência do ódio destilado.

     No entanto, se forem realmente advogados, fico triste por essas pessoas e apreensivo por aqueles que, porventura, venham a ser seus clientes.

     É a este tipo de advogado - que empesta a profissão e a faz tão denegrida, muitas vezes - que se refere aquela anedota tão famosa nos meios forenses:

     - Dois advogados saíam do Foro e um deles falou para o outro: “Vamos tomar alguma coisa?”

     - O outro respondeu: “Vamos. De quem?”

sexta-feira, 21 de maio de 2010

PROCURA-SE UM ADVOGADO



Procura-se um advogado que, além de ser honesto, tenha respeito e consideração pelo seu cliente.

Procura-se um advogado que não faça acordos, conchavos ou se preocupe apenas com os próprios ganhos e honorários, porque não será um advogado justo.

Procura-se um advogado que não pense, prioritariamente, em fazer concursos, porque nunca será um advogado de verdade.

Procura-se um advogado que não seja especialista em determinadas causas, porque nunca será um advogado por inteiro.

Procura-se um advogado que, no decorrer de um processo, não fique pedindo orientações para o Juiz sobre como deverá agir em relação ao próprio cliente, porque não será um advogado leal.

Procura-se um advogado que, sendo bacharel, não tenha em sua placa, na parede do escritório ou residência, um “DR”, porque doutor é aquele que faz um curso de doutorado e tem a sua tese aprovada por uma banca idônea – mesmo no Brasil.

Procura-se um advogado que não se considere um semideus somente porque cursou Direito, e não pense que porque aqui é o Brasil - “em terra de cego quem tem um olho é rei” - as pessoas devam se dobrar às suas ordens.

Procura-se um advogado que não pense que, ao lhe dar uma procuração, o seu cliente abdica de raciocinar.

Procura-se um advogado que, mesmo sabendo que a Justiça é cega, tenha consciência de que o Juiz tem os dois olhos bem abertos.

Procura-se um advogado que seja corajoso.

Procura-se um advogado que seja corajoso e lute pelo seu cliente como se fosse por si mesmo – não devido aos honorários que irá receber, mas por amor à justiça.

Procura-se um advogado que, além de ser corajoso e valente, nunca considere uma causa perdida e acredite em sua capacidade de superação.

Procura-se um advogado que, mesmo sendo corajoso e valente, não seja arrogante ou pretensioso, demasiado confiante ou demasiado humilde, mas tenha certeza de sua força interior sem alardeá-la.

Procura-se um advogado que veja no cliente um ser humano e na causa uma forma de aperfeiçoamento.

Procura-se um advogado que não se limite ao estudo do Direito, mas tenha uma visão abrangente e atualizada de todas as áreas do conhecimento humano.

Procura-se um advogado que perceba a natureza predatória e bárbara do sistema que segrega e humilha a maioria dos seres humanos e destrói a natureza, e que se posicione como um ativista na vanguarda das lutas sociais.

Procura-se um advogado que ame o ser humano e a natureza igualmente e tenha consciência de sua pequenez ante o universo.

Procura-se um advogado.

terça-feira, 11 de maio de 2010

DUNGA: CRAQUE? NEM PENSAR!



Quando João Saldanha foi convidado para ser o técnico da seleção brasileira, em 1968,  os seus colegas jornalistas perguntaram qual era a sua seleção. Respondeu na hora: tinha dúvidas quanto ao goleiro, ficava entre Félix e Leão, mas achava que o Félix era mais experiente e merecia ser titular. Na lateral-direita, Carlos Alberto era unanimidade; na zaga-central, o melhor, sem dúvida era o Brito, mas como quarto-zagueiro tinha sérias dúvidas, iria testar vários jogadores. Na lateral-esquerda, Rildo era o que mais se destacava, mas também iria testar outros laterais.

     Depois, João Saldanha citou os outros seus titulares do momento: Clodoaldo, Gerson, Rivelino; Jairzinho, Pelé e Tostão. Foi aplaudido. João Saldanha classificou o Brasil nas eliminatórias com aquele time, variando na quarta-zaga e na lateral-esquerda, e, às vezes, testando Dirceu Lopez, Piazza, Ademir da Guia, Paulo César “Caju” no meio-campo, entre outros tantos. Era muito criticado por não achar um quarto-zagueiro titular, mas foi muito sincero ao admitir que o Brasil não tinha um jogador naquela posição à altura dos demais da seleção. O problema da lateral-esquerda estava resolvido: Everaldo aparecia como grande destaque no Grêmio e acabou titular, com Rildo na reserva.

     Então, surgiram os problemas melhores. Quem jogaria como centro-médio? Ele tinha Clodoaldo e Wilson Piazza, os dois melhores centro-médios do país, e não queria deixar nenhum deles de fora. Pensando assim, ele resolveu o problema da quarta-zaga, escalando Piazza para aquela posição e encaixou o time. Piazza jogaria na defesa, mas, também, faria às vezes de segundo centro-médio, apoiando o meio de campo e liberando Clodoaldo para armar e atacar junto com os demais, quando necessário.

     Mesmo assim, foi muito criticado pela imprensa oficial, que, no intuito de desgastá-lo, dizia que estava errado ele colocar tantos jogadores que usavam o pé esquerdo do meio de campo para frente, porque assim o time ficaria “torto”. Esses jogadores eram Gérson, Tostão, Rivelino (às vezes Dirceu Lopes e Paulo César). Ele respondeu que não estava escalando posições, mas jogadores e que aqueles eram os melhores jogadores do país e não poderiam ficar de fora de uma Seleção Brasileira.

     Mas o ditador militar da época, o general Médici, descobriu que João Saldanha era comunista e, às vésperas da Copa de 1970 resolveu substituí-lo pelo Zagalo. Zagalo, bom moço, pegou o time pronto e o melhor que ele fez como técnico foi não mexer no time que o Saldanha tinha montado. E aquele time ganhou a Copa.

     Vejam a diferença para o Dunga. O Dunga sempre foi um centro-médio “trombador”, com pouca técnica, mas daqueles que param o atacante de qualquer maneira, estilo Guiñazu. Ganhou a confiança do Parrera e até participou bem naquela copa que o Brasil venceu nos pênaltis, em 1994. Mas nunca foi mais do que isso.

     Ao contrário do João Saldanha, que gostava de bom futebol e só convocava craques porque – óbvio! – eram craques, o Dunga convocou uma seleção à sua imagem e semelhança, com alguns jogadores um pouco melhores que os outros, mas uma seleção – convenhamos - mais parecida com a seleção da Áustria. A seleção do Dunga poderá até ganhar a Copa, mas não deixará de ser medíocre.

     Se o Brasil ganhar a Copa com esta seleção significará apenas que terá sido uma das piores Copas do Mundo de que teremos notícias, porque as outras seleções terão sido bem piores que a triste seleção brasileira convocada pelo Dunga.

sábado, 8 de maio de 2010

LOUVEMOS AS MÃES DE TODOS OS MAIOS



Louvemos as mães de todos os maios,
De todos os meses e todas as messes,
Que guardam o segredo de saber-se mães.

As mães das estradas, escuras esquinas,
Abrigo de abraços de perdidos filhos,
As mães desnutridas de sentir-se mães.

Uivemos o uivo das mães torturadas,
As mães deserdadas do amor de mãe,
As mães usurpadas de doar-se mães.

As mães despejadas no exílio de asilos,
As mães adotadas pela solidão,
De olhar tão magoado ao lembrar-se mães.

Lutemos com as mães de todos os maios,
De todas as praças e todas as preces,
A quem a esperança esqueceu de ser mãe.
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