segunda-feira, 29 de julho de 2013

ENQUANTO ELES PASSEIAM OS DOENTES ESPERAM


Médicos estão fazendo passeatas contra o programa “Mais Médicos”. Todos vestindo o seu jaleco branco, com nariz de palhaço. O povo olha, uns aplaudem, outros ficam se perguntando por que. Por que os médicos são contra mais médicos?

   Principalmente, são contra médicos estrangeiros, numa estranha manifestação de xenofobia ou, quem sabe, com medo de serem desmoralizados. O que é a medicina no Brasil de hoje, senão uma grande palhaçada, onde os circos são os consultórios, ambulatórios e hospitais e nós, o povo, os palhaços escolhidos para morrer na espera de uma consulta?

   Enquanto isso, eles passeiam, se dizem indignados, querem ganhar mais, mais, cada vez mais à custa das doenças, porque a medicina é a única profissão que enriquece profissionais da saúde com doenças. Médicos curam?

   Remédios podem curar ou amenizar males. Médicos passeiam. Estão sempre passeando. Adoram passear. Agora fazem passeatas, que devem ser cansativas para quem só está acostumado a andar de automóvel. Numa delas, em São Paulo, foram abordados por uma mulher, representante da ONG Mães Precoces Fragilizadas, que, entre outras coisas, disse: “Os médicos estão lavando as ruas de sangue ao invés de ajudar idosos e crianças. Não estão fazendo nada.”

   Isso aconteceu cinco dias atrás, quando eles estavam nas suas passeatas. Alguém noticiou? Mais greves e passeatas acontecerão se o governo Dilma não voltar atrás. O corporativismo dos médicos brasileiros afeta muito a saúde da população que não tem convênios, porque eles, os médicos, gostam muito de atender aos conveniados. Dá mais dinheiro. SUS? Nem pensar. Somente se e quando o SUS for privatizado, como nos países muito capitalistas onde os médicos dão uma figa para as doenças da população pobre.

   Mercadante, ministro da Educação, velho nome da direita do PT, também conhecido como uma espécie de “primeiro-ministro informal”, tem feito críticas à equipe do governo Dilma, ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao programa “Mais Médicos”, a Gleisi Hofmann, chefe da Casa Civil. É o homem do PMDB privatizante dentro do PT, como é comentado; tem fascinação pelo modelo neoliberal e é um neoconservador não declarado.

   É o Aloizio Mercadante quem está propondo que sejam trocados os dois anos adicionais de graduação, quando os formandos atenderiam no SUS, por dois anos de residência médica. Fazer Dilma ceder ao Conselho Federal de Medicina, ao mesmo tempo em que acena com a privatização da saúde no Brasil parece ser uma das funções do Ministério da Educação.

   Mesmo que seja uma privatização travestida de saúde pública. Em 2011 foi criada a EBSERH (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares nos Hospitais Universitários. Imediatamente percebeu-se a manobra, denunciada pela Frente Nacional Contra a Privatização da Saúde Pública, que emitiu um manifesto contra a EBSERH, revelando, entre outras coisas que a empresa criada pelo Governo, através do Ministério da Educação “é uma afronta”:

   a) “ao caráter público dos HUs e à sua característica nata de instituição de ensino vinculada à universidade;
  b) um desrespeito à autonomia universitária garantida no artigo 207 da Constituição de 1988;
  c) um risco à independência das pesquisas realizadas no âmbito dos HUs;
   d) uma forma de flexibilizar os vínculos de trabalho e acabar com o concurso público;
   e) além de prejudicar a população usuária dos serviços assistenciais prestados pelos Hospitais-escola e de colocar em risco de dilapidação os bens públicos da União ao transferi-los a uma Empresa.” (abepss.org.br)

   Diz o Manifesto que “a implantação desta Empresa representa uma séria ameaça para o Sistema Único de Saúde, consolidando o projeto privatista em curso”. Acrescenta que “a proposta apresentada intensifica a lógica de precarização do trabalho no serviço público e na saúde, pois, ao permitir contratar funcionários através da CLT por tempo determinado (contrato temporário de emprego), acaba com a estabilidade e implementa a lógica da rotatividade, típica do setor privado, comprometendo a continuidade e qualidade do atendimento em saúde. A saúde e a educação são bens públicos que não podem e não devem se submeter aos interesses do mercado”.

   E a EBSERH está aí, assim como estão aí as passeatas e greves dos médicos e a intervenção do Mercadante para acalmar o Conselho Federal de Medicina, descaracterizar o programa Mais médicos e, talvez, obrigar Dilma a ceder ponto a ponto. Em troca da aceleração da privatização da saúde.

   Eles não fazem passeatas somente contra a vinda de médicos estrangeiros, ou outras desculpas formais. A princípio, fingiam-se de apavorados, porque os estrangeiros seriam cubanos, conforme foi propalado. Medo, talvez, de serem influenciados com idéias socialistas. Logo eles, médicos brasileiros tão apegados ao seu capital. Agora que o Governo deixou claro que os médicos estrangeiros preferidos são de Portugal, Espanha e Argentina ficaram quase sem argumentos, mas continuam contra o programa “Mais Médicos”. Uma coisa é certa: não são a favor do povo.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

MÉDICOS NÃO QUEREM "MAIS MÉDICOS"


O programa “Mais Médicos” prevê o atendimento às populações carentes da maior parte do Brasil, através do oferecimento de vagas prioritariamente a médicos brasileiros interessados em atuar nas regiões onde faltam profissionais. No caso de todas as vagas não serem preenchidas, o Brasil aceitará candidatura de médicos estrangeiros, dando preferência aos médicos de Portugal, Espanha e Argentina, porque há carência de médicos, principalmente na periferia de grandes cidades e em municípios do interior do país. Estão previstos investimentos de 15 bilhões de reais até 2014 em infraestruturas de hospitais e unidades de saúde e para levar mais médicos para as regiões carentes de atendimento. Vinte e dois estados brasileiros possuem número de médicos abaixa da média nacional. E a média nacional é de 1,8 médicos para mil habitantes.

   O Brasil ocupa a 72º posição em um ranking de 139 países feito pela Organização Mundial de Saúde. O programa “Mais Médicos” pretende ampliar o atendimento público, porque o investimento no Sistema Único de Saúde (SUS), que é gratuito e atende aos 190 milhões de brasileiros, ainda é muito baixo. As despesas com o setor privado da saúde, a partir de convênios particulares, movimentam mais do que o dobro das finanças do SUS, sendo que os planos privados de saúde atendem a somente um quarto da população brasileira.

    O programa “Mais Médicos” tenta uma mudança no ensino da Medicina no Brasil. A partir de 2015, os alunos que ingressarem na graduação deverão atuar por um período de dois anos nas unidades básicas e nos serviços de urgência e emergência do SUS. Essa medida, além de aumentar significativamente o número de médicos atendendo no SUS, fará com que os formandos de Medicina tenham uma idéia clara da realidade da saúde da população brasileira, e pode ser que alguns dentre eles não se coloquem tão acima dos demais brasileiros que não são médicos e desenvolvam um mínimo de compreensão, solidariedade e sentimentos humanos.

   Não basta o juramento de Hipócrates, que muitos, no Brasil, apelidaram de “Juramento dos Hipócritas”. Leiam o que diz o famoso Juramento.

   “Eu juro por Apolo, médico, por Esculápio, Higéia e Panacéia, e tomo por testemunha todos os deuses e todas as deusas, cumprir, segundo o meu poder e a minha razão, a promessa que se segue: estimar, tanto quanto a meus pais, aquele que me ensinou esta arte; fazer vida comum e, se necessário for, com ele partilhar meus bens; ter seus filhos por meus próprios irmãos; ensinar-lhes esta arte, se eles tiverem necessidade de aprendê-la; sem remuneração e nem compromisso escrito; fazer participar dos preceitos, das lições e de todo o resto do ensino, meus filhos, os de meu mestre e os discípulos inscritos segundo o regulamento da profissão, porém, só a estes. Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém. A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda. Do mesmo medo, não darei a nenhuma mulher uma substância abortiva. Conservarei imaculada minha vida e minha arte. Não praticarei a talha, mesmo sobre um calculoso confirmado; deixarei essa operação aos práticos que disso cuidam. Em toda a casa, aí entrarei para o bem dos doentes, mantendo-me longe de todo dano voluntário e de toda sedução, sobretudo dos prazeres do amor, com as mulheres ou com os homens livres ou escravizados. Àquilo que no exercício ou fora do exercício da profissão e no convívio da sociedade, eu tiver visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar, eu conservarei inteiramente secreto. Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me seja dado gozar felizmente da vida e da minha profissão, honrado para sempre entre os homens; se eu dele me afastar ou infringir, o contrário aconteça.”

   Uma versão atualizada desse juramento é utilizada no Brasil:

   “Prometo que, ao exercer a arte de curar, mostrar-me-ei sempre fiel aos preceitos da honestidade, da caridade e da ciência. Penetrando no interior dos lares, os meus olhos serão cegos, minha língua calará os segredos que me forem revelados, o que terei como preceito de honra. Nunca me servirei da minha profissão para corromper os costumes ou favorecer o crime. Se eu cumprir este juramento com fidelidade, goze eu para sempre a minha vida e a minha arte com boa reputação entre os homens; se o infringir ou dele afastar-me, suceda-me o contrário.”

   Bonito. Algumas coisas foram retiradas do juramento original, mas nada que modifique muito. Observe-se que há uma promessa e não um juramento. E outros detalhes, como lembrar que médicos, com raríssimas exceções, não “penetram nos lares”. Não mais. Atendem em seus consultórios. Deus não é citado, tampouco a proibição de praticar aborto Jurar é um compromisso perante o sagrado; prometer, nem tanto.

   O Conselho Federal de Medicina não quer o programa “Mais Médicos”. É contra a probabilidade de contratação de médicos estrangeiros, na falta dos brasileiros. Prefere que a saúde pública continue como está ou é birra contra médicos estrangeiros? Não se sabe exatamente. É voz comum que os nossos médicos não são muito chegados a atender ao público pobre, às pessoas que recorrem ao SUS. Não dá dinheiro ou são mal remunerados, e todos sabem que médicos têm a suprema aspiração da riqueza e status social como motivo principal para cursarem Medicina. Você conhece algum médico pobre? Eu conheço um ou dois que não são exatamente ricos, mas pobres... Pois o Governo oferece R$10.000, mais auxílio disso e daquilo para os médicos que se candidatarem a trabalhar junto aos pobres. O Conselho Federal de Medicina é contra. Será que dez mil reais por mês é muito pouco para a classe médica brasileira?

   É um trabalho aparentemente simples. Veja que os médicos brasileiros são extremamente dependentes dos laboratórios, dos exames. Não conseguem diagnosticar sem o apoio laboratorial. Exceto quando atendem no SUS: nem olham para o rosto dos doentes e vão logo receitando. São especialistas em receitar remédios para sintomas. Talvez por isso as pessoas prefiram ir diretamente às farmácias, que tanto tem proliferado.

   O Governo faz o que pode, ou o que acredita ser o melhor, justamente em um momento em que se critica tanto a saúde no Brasil. Tenta soluções. Mas o Conselho Federal de Medicina deseja seus médicos como deuses e talvez seja o caso de se pensar em terapias alternativas à medicina alopata, que é considerada a única “verdadeira”.

   Acupuntura, shiatsu, medicina chinesa, fitoterapia, iridologia, florais, cromoterapia, reflexologia, naturopatia, radiestesia, homeopatia, reiki – são algumas das terapias alternativas. Com a vantagem de que tratam o ser humano como um todo, indo direto às causas e não se limitando aos sintomas. Não usam drogas agressivas, que sempre tem contra-indicações, como na alopatia. Por esta razão, não são dependentes da indústria farmacêutica.

   Imagine um médico alopata, hoje em dia, sem o apoio dos grandes laboratórios. Imaginou? Fechariam os consultórios. Esta a principal razão porque a medicina “oficial” combate tanto as terapias alternativas, chamadas de complementares por alguns. Existe, inclusive, uma não muito surda caça às bruxas e bruxos, com médicos famosos participando de programas midiáticos de grande público para “alertar” as pessoas contra as terapias alternativas. Sem contar as revistas e jornais que fazem grandes matérias a respeito, concluindo, ao final, que não está provado que as terapias alternativas funcionem.

   Quando acabou oficialmente a ditadura militar no Brasil, pensei que estava na hora de acabar também com outras ditaduras. Uma delas é a da medicina alopata, que provoca a dependência de remédios ao atacar sintomas e agredir os organismos. Esse tipo de medicina é tão ditatorial no Brasil que os médicos, quando se sentem ameaçados em suas regalias, fazem greve. E com a greve, passam a ameaçar a população, que fica desassistida. Como agora. Todos dependem deles. Até o Governo.

sábado, 13 de julho de 2013

SEU CHICO E A ESPIONAGEM


- Li a sua matéria sobre a espionagem dos USA E ABUSA e não gostei – disse o seu Chico, enquanto chimarreávamos observando a chuva da varanda envidraçada da sua casa.
- Não gostou, seu Chico? E eu que pensava que o senhor era o meu leitor número 1...
- E ainda sou. Não gostei de saber que eles continuam com essa mania neurótica de espionar todo o mundo. São uns loucos. Mais que neurose, é paranóia. Que medo que eles têm das pessoas! Vêem terrorista em tudo o que é canto, desde que eles mesmos derrubaram as Torres Gêmeas, segundo o que consta, para poderem ter a desculpa de invadir Iraque, Afeganistão, e agora querem a Síria, depois o Irã, depois a Rússia e só vão parar quando acabarem com o mundo. Pois não é que andam envenenando presidentes para provocar câncer? O Evo Morales e o Pepe Mujica que se cuidem! Depois de muitas tentativas, conseguiram matar o Chávez, pensando que matar uma pessoa liquida com ideais. Eu nunca caí naquela de que o Getúlio se suicidou. A carta ele até pode ter escrito, mas para conclamar o povo à revolta contra os golpistas daquela época, que, aliás, são os mesmos de agora. E sempre com dinheiro dos Estados Unidos.
- E a gurizada vai atrás, seu Chico.
- A gurizada quer farra! E esses Anonymous? O senhor não imagina que deve ter alguns bons trocados por trás de toda aquela demagogia deles? É claro que muito corrupto deve ser corrido lá pra aquele país e tem muita coisa errada que deve ser corrigida, e já!, mas estão usando isso para derrubar a dona Dilma, provocar o caos político e chamar os milicos de volta, que estão muito faceiros e afiando as baionetas.
- Não vai ser tão fácil desta vez, seu Chico. Os trabalhadores se uniram no Dia de Lutas justamente para impedir o avanço da direita.
- Seria bom se fosse verdade. A classe trabalhadora está tão desunida que dá pra ver quem é quem só pelos sindicatos. A UGT e a Força Sindical não são sindicatos de direita que apóiam o neoliberalismo? O que sobra? A CUT, que nunca se sabe de que lado está, embora ostente ser uma quase esquerda e o CONLUTAS, que é do PSTU - um partido que se diz de esquerda e muitas vezes tem assumido as pautas da direita. É contra Fidel, contra Cuba, contra os governos bolivarianos, a favor da entreguista Yoani Sánchez e por aí vai... O PSTU é uma esquerda no mínimo muito suspeita.
- E olhe que eu já participei daquele partido, seu Chico. Foi quando me desiludi com o Lula e o PT.
- E não foi o senhor que me disse que foi a um seminário do PSTU em Porto Alegre, naquela época, e ficou apavorado com o analfabetismo político daquele pessoal, que usava expressões como “esquerdizante” e “trotskizante”?
- De lá pra cá pode ser que tenha mudado alguma coisa... O senhor não acha que é muita coincidência os movimentos populares contra a Dilma, o PT e a esquerda em geral e a descoberta da espionagem dos Estados Unidos no Brasil e no mundo?
- Na verdade, coincidências não existem, mas fatos que se relacionam. Eu li em algum lugar que os Estados Unidos estavam monitorando as manifestações no Brasil. Eles estavam e estão monitorando muito mais do que isso.
- Dizem que eles tinham um orelhão à disposição em Brasília, o que seria ridículo. Eles têm todos os satélites e todos os telefones que desejarem. Imagine, seu Chico, que tem gente que defende isso. Aqui no Brasil. Gente que acredita que serviço de espionagem é coisa muito bonita e ética.
- Cabeças fracas! Este país está ficando tão aculturado pela mídia vendida e perdendo tanto da sua cultura original que grande número de pessoas pensa que quem não fala inglês é que é analfabeto. Como naquela música ingênua do Caetano Veloso que diz algo assim: “Você precisa aprender inglês...”. De lá pra cá toda uma geração de cabeças fracas acreditou nessa grande “verdade”. Não que não seja importante aprender idiomas, mas em primeiro lugar o português e o espanhol, as línguas principais da nossa América. E lhe digo mais: viajar para os Estados Unidos nunca foi um dos meus projetos de vida. Agora, visitar a América Latina ainda é um sonho que vou realizar.
- E o Brasil primeiro.
- Sem dúvida. O que restar dele. Mas ainda antes o nosso Rio Grande. Já conheço grande parte e ainda pretendo conhecer todo o resto. Depois me mando pro Uruguai, Argentina... Não de motocicleta, mas de transporte público mesmo, parando em cada lugar e usufruindo a nossa cultura latina.
- Ou o que restar dela, não é seu Chico?
- Mas resta muita coisa! O Brasil é que é um país que está se deixando engolir pelos notórios espiões e golpistas e vai acabar se transformando em alguma coisa híbrida que ninguém mais vai entender. Não se pode confundir o Brasil com o Rio Grande e o restante da América Latina, que tem cultura muito própria e muito forte. O senhor gosta de ouvir rádio de noite? Pois para mim é um prazer, visto que televisão é aquilo que se sabe, internet ficou repetitiva e para variar com a leitura nossa da cada dia – que nunca se deve deixar! – nada como uma boa música portenha.
- Música portenha?
- Ou paraguaia, uruguaia... Saiba que eu bem que tento ouvir rádio brasileira, mas depois da meia-noite é a maior tristeza. Nas FMs nem pensar. Só música em inglês. É um tal de “Love, Love...”, quando tocam alguma música supostamente nacional é o terrível sertanejão com canções lacrimosas de gente que ama e sofre muito. De dar pena. Ou os programas evangélicos.
- E a nossa música, nada.
- Só em espanhol. Os donos da mídia dizem que MPB é a música feita no Rio ou em São Paulo, principalmente, quando não cantores baianos, mas se sabe que a Bahia culturalmente é uma espécie de filial do Rio de Janeiro, ou coisa parecida.
- Talvez não seja tanto, seu Chico.
- Quem sabe? Mas os cariocas adoram baianos, e vice-versa. Não duvido que exista muito baiano bom que não está na mídia justamente por amor à sua cultura. O senhor tem razão: não se pode fazer julgamento apressado. Mudando de saco pra mala, o senhor escreveu que a ABIN não está cumprindo com a sua função de defender a nossa soberania, entre outras coisas.
- Alertei pra isso. Pra que um serviço de informações que não informa nem desinforma, muito antes pelo contrário?
- Pois saiba que eu desconfio que a tal de ABIN está de conluio lá com os serviços de informação dos Estados Unidos e de outros países menos votados. Pode ser que eu esteja errado, mas será que a ABIN não é uma filial da NSA e da CIA. Eles não estão acima dos governos, como o senhor escreveu? E quem está acima do Governo... O Governo que se cuide!
- O senhor chega a me assustar.
- Globalização não é isso? Desde que eles inventaram essa palavra eu fiquei pensando no que realmente queriam dizer... E quando veio à tona esse caso das escutas e da internet e dos satélites e do resto tudo, e o senhor ainda escreve que a ABIN não funciona, fui juntando os pontinhos.
- Seria terrível, seu Chico! Não só estamos sendo invadidos como temos espiões aqui dentro, ouvindo tudo o que a gente fala e anotando o que é escrito para mandar para os chefes de Washington fazerem a sua avaliação – é isso?
- Mais ou menos. O senhor disse “aqui dentro”, mas aqui não!
- Como não, seu Chico, se eles podem nos vigiar até pelos telefones celulares, mesmo que estejam desligados. O senhor não sabe que pelo sistema de posicionamento global – o GPS -, composto por 24 satélites, eles podem lançar bombas ou identificar qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo?
- Saber eu sei, mas lhe repito: menos aqui no Rio Grande.
- Não estou entendendo.
- Pois lhe explico. Se eles têm o GPS, eu tenho o GPB. Gaúcho nunca pode se deixar pegar desprevenido. Logo que eu li aquela sua matéria, e ainda outras contando da espionagem entrei em contato com amigos de toda a fronteira da nossa pátria e armamos o GPB – Grandes e Poderosas Boleadeiras. Tem gaúcho em toda a fronteira com o Brasil e outros países vizinhos de boleadeira em punho e olhos no céu – e o senhor há de saber que olho de gaúcho alcança qualquer altura. Qualquer satélite que aparecer, boleadeira nele e o bicho cai gemendo “Love, Love, I do no...” e outras engrolagens.
- Mas como é que as boleadeiras alcançam, seu Chico?
- São boleadeiras mágicas. A gente vê o satélite, o drone, ou o que seja, até teco-teco se for o caso, atira a boleadeira e diz as palavras mágicas que elas atingem o alvo que é uma beleza.
- E quais são as palavras mágicas?

- Em primeiro lugar, tem que ter fé em São Sepé. Depois, é só mirar bem e dizer a célebre frase do santo guerreiro: “Esta terra tem dono!”

terça-feira, 9 de julho de 2013

FICOU MUITO FEIO PARA A ABIN


Agência Brasileira de Inteligência, que foi criada em 1999 e completou 13 anos em dezembro de 2012. É um produto, conforme pode ser lido no site da ABIN. Estamos em um mundo capitalista e basta existir para estar à venda. Entre no site (www.abin.gov.br), clique em “Institucional” – “Missão” e leia em “Objetivos Estratégicos”: 1. “Tornar o produto ABIN essencial para o processo decisório nacional”. (Qual é a tradução para essa frase?). 2. “Aumentar o valor agregado do produto ABIN”. Portanto, a ABIN tem um valor agregado que deve ser aumentado – conseqüentemente para vender mais? O que vende a ABIN? Vende a si mesma, enquanto produto?

   Continue lendo e saberá que a ABIN tem como missão “executar a atividade de Inteligência de Estado”. Na mesma página, o leitor atento saberá que a ABIN é um órgão de Estado e não de governo, porque o Estado é permanente, enquanto os governos são transitórios. Ao mesmo tempo, terá ciência que esse órgão de Estado se diz absolutamente apartidário, mas “seu compromisso ideológico é unicamente com a democracia”. Curioso, não? Um órgão apartidário que confessa ter um compromisso ideológico e que se coloca acima dos governos.

   Qual a democracia que a ABIN defende? Parece uma pergunta boba, mas não é se lembrarmos que os golpistas de 1964 se diziam democratas – e golpearam a Constituição. Qual a democracia que a ABIN defende? A representativa, a participativa, a popular, a social, a das elites, dos oligopólios, das multinacionais, das alianças com os Estados Unidos? Qual? Um compromisso ideológico tem que ser claro. Transparente.

   A ABIN não pode ser transparente, dirão os mais afoitos. É um órgão da Inteligência, espionagem, e deve permanecer secreta ou, no mínimo, discreta como a Maçonaria. São os maçons espiões, ou vice-versa? De quantas maçonarias é formada a ABIN? Existe uma ABIN além da ABIN, por trás da ABIN, acima da ABIN? Uma ABIN que sabe mais que a ABIN? Uma ABIN que se relaciona com serviços de inteligência do mundo inteiro para troca de informações muito sigilosas que não devem ser do conhecimento dos agentes comuns, burocráticos? Até onde alcança a inteligência da Inteligência brasileira?

   Ficou muito feio para a ABIN – que também é um órgão de contra-informação – o desconhecimento das ações dos serviços de Inteligência de Estados estrangeiros em território nacional. Muito feio e muito triste sabermos que os nossos órgãos de inteligência são incapazes de detectar a invasão cibernética da NSA (serviço de inteligência dos Estados Unidos) e da CIA nos computadores de todos os brasileiros. Temos os nossos e-mails, conversas eletrônicas, telefonemas, senhas, logins completamente devassados, e a ABIN?... Nada! Foi necessário que o senhor Edward Snowden, que já trabalhou para a CIA e ultimamente estava lotado na NSA revelasse publicamente as tramas do governo norte-americano, que incluem espionagem prioritária no Brasil para que o nosso governo – que, pelo jeito, também nada sabia – se mostre indignado.

   Mas senhores, que vergonha! O que está fazendo a ABIN? Vigiando o Uruguai, a Argentina, a Venezuela, a Bolívia, o Suriname, o Haiti, as ilhas Malvinas? E, ao mesmo tempo, sendo vigiada, espionada, desmoralizada pelos serviços secretos estrangeiros. Se os nossos serviços de inteligência não funcionam estamos completamente desprotegidos, o que é inaceitável.

   Será que a Dilma, o Temer, os responsáveis pelo Governo brasileiro já se deram conta da total ineficiência da ABIN? Não sei de nenhum congressista que tenha perguntado por que a ABIN é tão incapaz de evitar, através de medidas de contra-informação, a invasão do nosso país.

   Também no site da ABIN o indignado leitor poderá saber que o Diretor-Geral da nossa excelsa agência de Inteligência é o senhor Wilson Roberto Trezza, que possui todos os cursos da carreira da Inteligência, já passou pela iniciativa privada, “acumulando experiência em alta gestão e negócios”, possui formação acadêmica em Administração de Empresas e Análise de Sistemas, exerceu cargos em ministérios, recebeu medalhas e está perfeitamente habilitado para o seu atual cargo. E mesmo assim...


   Não vamos deixar a ABIN sozinha nesse imbróglio. Tenho certeza que o senhor Trezza faz o que pode e, às vezes, não consegue fazer o que deseja – por falta de assessoramento, tecnologia e desatenção dos outros serviços de informação, como os das Forças Armadas que, entendo, deveriam auxiliar a ABIN. Ou não deveriam?

   Salienta-se que a espionagem é feita através dos satélites que o Brasil aluga dos Estados Unidos. Todas as comunicações do país, incluindo as militares, passam por satélites de propriedade dos Estados Unidos. Que soberania é a nossa se somos dependentes da tecnologia de outros países? A inteligência dos nossos cientistas é tão pequena, tão miúda que ficou impossível lançar satélites brasileiros? O medo das Forças Armadas brasileiras é tamanho que preferiram se render às exigências norte-americanas depois que a última tentativa de lançamento de um satélite brasileiro literalmente explodiu no ar?

   Onde está o orgulho da brava gente brasileira? Na época da ditadura daqueles bravos existia no Brasil o SNI (Serviço Nacional de Informação), o DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) e o DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna). Tudo para vigiar os cidadãos, para prender, torturar e matar. Além de todos aqueles órgãos e da Polícia Federal, em cada quartel das Forças Armadas ainda há uma seção (apelidada de S2) preparada para agir em assuntos reservados e investigação, independentes entre as forças, mas com ligações de informações com as polícias e com a ABIN.

    Daqueles três órgãos da ditadura restou a ABIN. Ou melhor, aqueles órgãos foram cindidos na ABIN, fundada oficialmente em 1999. No entanto, os serviços secretos das Forças Armadas continuam intactos, fortes e atuantes, mesmo que seus membros sejam facilmente reconhecidos pelos disfarces civis que ostentam, tais como longas barbas, perucas, ou profissões como músico, pintor, poeta, especialistas em jazz, funk e baladas e outras façanhas tão demasiadamente civis que não podem passar despercebidas. Espião militar é assim.

   E mesmo assim, os espiões militares nada sabiam das atividades dos seus amigos estadunidenses? Ou sabiam e a força da amizade os impediu de revelar atentados contra a nossa soberania, direito internacional dos direitos humanos, violação do Estado de direito? Sabiam ou não sabiam? Falem senhores! O povo brasileiro está perguntando e, se não responderem corretamente à pergunta ficará a suspeita de que estão agindo em vínculo justamente com os serviços de informação que nos espionam.

   Ficou muito feio para a ABIN e para os demais serviços de informação brasileiros. Ficou muito feio para o SISBIN (Sistema Brasileiro de Inteligência), que foi criado juntamente com a ABIN, no mesmo dia e na mesma hora, pela Lei nº 9883 de 7 de dezembro de 1999. O SISBIN tem como origem o SNI e congrega a Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, a Anvisa, entes da União, estados, municípios e Distrito Federal. A ABIN é responsável pela coordenação dos trabalhos do SISBIN. Vejam quanta burocracia! E quanto dinheiro jogado fora com milhares de empregos em tantos órgãos de segurança que não conseguem defender a soberania nacional.

   Também participam do SISBIN o Presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, Nelson Pellegrino, o Presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, Ricardo Ferraço, o líder da maioria da Câmara dos Deputados, o líder da minoria da Câmara dos Deputados, o líder da maioria do Senado Federal e o líder da minoria do Senado Federal.

   Nenhum deles sabia nada até a divulgação das denúncias de Edward Snowden. E fazem parte do SISBIN, que é o sistema de inteligência que reúne todos os órgãos de informação do país. Nada sabiam. O que fazem esses senhores deputados e senadores nas suas comissões de defesa nacional? Discursos aleatórios? Agora, se dizem muito preocupados e querem interpelar todo o mundo, desde as empresas de comunicação até o embaixador dos Estados Unidos, quem sabe o Obama... Conversa para boi dormir. Revelam apenas a sua descarada incompetência.

   Pior ainda o ministro das Relações Exteriores, que tem o expressivo nome de Antonio Patriota. Também não sabia de nada, é claro. Além disso, segue os conselhos de Washington e afirma que o Brasil não dará asilo a Snowden para não estremecer as ótimas relações com os Estados Unidos. Muito patriota o senhor Patriota.

   “Tens medo?” – perguntou a mãe do menino que não queria pular na piscina. De quantos medos é feito o nosso Governo? Patriota andou se reunindo com os ministros José Eduardo Cardoso (Justiça), Paulo Bernardo (Comunicações), e Celso Amorim (Defesa), para estudarem as “dimensões” da espionagem dos Estados Unidos no Brasil. Em outras palavras, para verificar o tamanho do estrago. O que os irmãos estadunidenses sabem? Tudo ou quase tudo? Ou, por outra: o que foi divulgado e o que ainda não foi e deve ser bloqueado para a opinião pública. Tens medo?

   Daqui a pouco menos de três meses Dilma vai visitar o Obama. Tratarão de assuntos bilaterais entre Brasil e Estados Unidos. Nada saberemos a respeito, a não ser o que a imprensa puder ou desejar divulgar. Trocarão sorrisos afetuosos. Após, haverá uma declaração conjunta reafirmando os estreitos laços entre os dois países. Ou apenas um grande laço muito estreito prendendo o Brasil. Enquanto isso, os “patriotas” dão gargalhadas. E a ABIN...

domingo, 7 de julho de 2013

DEMOCRACIA RADICAL


Os golpistas acusam o governo Dilma de tentar um golpe ao propor um plebiscito sobre a reforma política. De acordo com matéria da Veja, de 02/07/2013 o ex-ministro do STF, Carlos Velloso teria dito: “Nesse tipo de processo, há um risco muito grande de o povo ser usado para legitimar as posições do plantonista do poder. Ditadores sempre se valem de plebiscitos”. O que não é verdade. Ditadores são ditadores e execram a opinião popular. Plebiscito é exatamente o oposto da ditadura. Além do que, se é verdadeira essa declaração do ex-ministro do Supremo, ele está inferindo que estamos vivendo em uma ditadura. Inferindo ou afirmando, o que é muito grave, principalmente em se tratando de alguém que deveria conhecer a Lei e a diferença entre ditadura – ou “estado de exceção”, como preferiam os militares teleguiados por Washington – e estado de direito.

   Nem todas aquelas manifestações foram de golpistas, mas a maioria foi por eles monitorada e manipulada de acordo com os seus interesses. Veja-se o vandalismo organizado e obviamente planejado – porque ninguém fabrica bombas incendiárias apenas para desopilar. Acrescente-se a isso a repetida frase “Nenhum partido!”, que parecia, a princípio, negar a representatividade oriunda dos partidos políticos e é palavra de ordem emitida pelo grupo Anonymous, o mesmo que se diz apartidário e que afirma que não é socialista, capitalista ou anarquista, muito antes pelo contrário.

   No entanto, se lembrarmos que no período pré-’64 surgiram muitos movimentos que se diziam apartidários, como a TFP (Tradição, Família e Propriedade), a Campanha da Mulher pela Democracia, a União Cívica Feminina, a Fraterna Amizade Urbana e Rural – que culminou com a Marcha da Família Com Deus pela Liberdade, no dia 02 de abril de 1964, unindo todas aquelas pessoas que detestam democracia, reforma agrária ou qualquer tipo de fraternidade, urbana ou rural, e que acreditam que o mundo foi feito para eles que tem o poder do dinheiro - não é de estranhar que o redivivo golpismo use das mesmas armas que deram certo naquela época.

   Não são muito criativos, concordo, mas essas armas aparentemente pacíficas servem como ensaio do golpe, tentativa de legitimar o uso das armas militares, que ferem, matam ou, no mínimo, servem para “prender e arrebentar”, segundo expressão utilizada pelo não muito saudoso general-ditador Figueiredo, antigo chefe do Serviço Nacional de Informação.

    Usa-se a juventude porque se supõe (e, às vezes, corretamente) que a grande maioria dos muito jovens pode ser facilmente insuflada, principalmente em momentos de inflação em alta, de fuga de capitais que desestimulam o mercado, e de corrupção.

    Dilma herdou do triste e desmoralizado Lula não só a herança de um governo corrupto e que se acreditava intocável, posto que social-democrata e adotando o liberalismo econômico que favorece somente o capital estrangeiro, ou seja, agradando a matriz sediada em Washington e revelando um PT submisso, como também o hábito de corromper os supostos adversários, a suposta oposição, através de cargos, através do “é dando que se recebe”, acreditando que assim, corrompendo os corruptíveis, poderia governar da maneira que bem entendesse.

   É certo que essa maneira de fazer política vem desde antes de Fernando Henrique Cardoso – aquele que rejeitou os próprios livros -, um pragmatismo político que inclui a total ausência de ética como conseqüência do afastamento do povo das decisões mais importantes, uma vez que o sistema representativo permite que o povo apenas participe na hora de votar.

    Também se diz que a corrupção vem desde o Brasil colônia (e quando deixamos de ser colônia?) – o que não justifica, apenas explica que esse tipo de maldade é planejada e aceita como natural pelos donos do poder.

    Não acredito que Dilma seja corrupta, mesmo que tente corromper, a qualquer preço, o Xingu, através da construção da nefasta usina hidrelétrica de Belo Monte. Talvez não seja uma corrupção consciente. Talvez ela acredite que aquela construção é para o bem da nação, esquecendo-se que o mal provocado no presente não poderá jamais ser justificado pelo futuro e que milhares de indígenas e não indígenas da região do Xingu têm a sua vida ameaçada exatamente neste momento. Sem falar nos gravíssimos problemas ecológicos ocasionados com a construção daquela e de outras usinas hidrelétricas na região amazônica.

    Fora isso, não vejo em Dilma uma pessoa corrupta. Não é um Lula maquiavélico ou um político daqueles que se vende a quem der mais. Lembra mais uma burocrata que tem como política a defesa das minorias, as causas assistencialistas nitidamente capitalistas e a tentativa de fazer do Brasil um Estados Unidos da América do Sul, uma filial do império do norte que, para que esse plano aconteça sem percalços, coloca as suas escutas provavelmente até dentro do Palácio do Planalto.

    O Plano B é o golpe. E talvez seja o Plano A para a extrema-direita que não consegue nunca vencer uma eleição importante e está sequiosa do poder e de seus lucros. E golpe significa ditadura militar, a verdadeira ditadura que esta geração de manifestantes desconhece e contra a qual pensa lutar.

    Uma ditadura de verdade não permite passeatas, protestos, manifestos; não propõe plebiscitos. Não ouve o povo e detesta partidos políticos. É um bloco fechado e nunca se saberá o grau de corrupção dos ditadores, porque a imprensa estará calada e até a Internet será censurada e vocês não poderão ler os meus protestos contra Belo Monte ou contra a monopolização da política pelos cegos políticos do PT e amigos dos outros partidos.

   Também não será possível protestar contra a desinformação dos meios de comunicação que estão sempre ao lado do poder, seja ele de que lado for, usurpando ao povo a capacidade de crítica.

    Uma ditadura é por si só massificante e dentro de uma ditadura não se pode gritar contra a massificação – como tentamos fazer agora. Uma ditadura de verdade não oferece opções. “Brasil: Ame-o ou Deixe-o” era o lema da ditadura militar, esclarecendo que aquele Brasil deles deveria ser aceito; caso contrário, a guerrilha ou a fuga.

    Devemos propor, sim, a ditadura da democracia. Protestar contra tudo o que estiver errado e obrigar aqueles estranhos seres que formam o Congresso Nacional a legislar para o povo e deixar de esconder corruptos conhecidos e condenados, como José Genoíno, entre outros menos famosos.

    E legislar para o povo é dar ao povo o que é do povo, com transparência e honestidade. Não só o Congresso Nacional. Também aqueles que algumas vezes se julgam legisladores e que compõem o Supremo Tribunal Federal devem aprender a conviver com o radicalismo da democracia. Enfim, todos aqueles que exercem qualquer cargo devem ouvir antes de pensar em mandar.

    E não adianta voto distrital isto, voto assim ou voto assado, porque está provado que dentro desta democracia os votos não funcionam democraticamente, ou não teríamos movimentos sociais nas ruas, com ou sem anônimos oportunistas.

    A única democracia verdadeira é a democracia participativa, quando os representantes deverão obedecer àqueles que os elegeram ou deixarão de ser representantes. Se é para haver uma reforma política que seja nesse sentido, ou de nada adiantará, apenas estará adiando – ou o golpe ou a revolução.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

UM SNOWDEN NO SAPATO IMPERIALISTA


Ao contrário do que é veiculado, Snowden não era agente da CIA, mas da agência Nacional de Segurança (NSA), aquela que faz auto-propaganda através da série “24 Horas” e que tem mais poder que o FBI, a CIA ou qualquer outra agência de espionagem do mundo inteiro. Talvez seja mais poderosa que o próprio governo dos Estados Unidos, pois pode grampear os telefones de Obama e de seus assessores e relatar tudo o que ocorre não só dentro dos Estados Unidos como no mundo inteiro. Vigilância naquele país significa espionar todos os seus cidadãos. E também os governos e pessoas do mundo inteiro.

   Isto foi o que Edward Snowden revelou no início de junho através dos jornais “The Guardian” e “The Washington Post”, talvez acreditando que iria ajudar a salvar a democracia norte-americana, que derivou para o fascismo desde o 11 de setembro de 2001, impondo a lei da força à força da lei em todo o mundo e foi prontamente obedecida, principalmente pelos países da União Européia, que comungam com os Estados Unidos a mesma sensação do poder bélico, da força nuclear, de um grande exército mundial chamado OTAN, o domínio da mídia mundial e a detenção do poder tecnológico que permite invadir e intimidar países e destruir nações.

   Mais que isso. Snowden revelou também que usando servidores de empresas como Google, Apple e Facebook, a espionagem dos Estados Unidos mantém ampla base de dados telefônicos no mundo inteiro, coletam dados de nove empresas da Internet e podem usar dados de inteligência sem mandado. Junto com o Reino Unido (e, muito provavelmente, Israel) os Estados Unidos espionou as reuniões do G-20 desde 2009, penetram e espionam os computadores da China e demais países que consideram ‘potencialmente perigosos’, como a Rússia, e grampeiam telefones inclusive dos mais apegados aliados, como os governos da União Européia.

   Segundo o que publicou o Washington Post, o programa de vigilância da Internet coleta dados de provedores online, incluindo e-mails, serviços de chats, vídeos, fotos, dados armazenados, transferências de arquivos, videoconferências e logins.

   Também são especialistas em vírus. Recentemente, o governo iraniano denunciou a tentativa de invasão virtual das suas instalações industriais através de um vírus chamado Stuxnet. O Kasperski Labs disse que o ataque só poderia ser conduzido com o apoio de um “Estado-Nação”. “O Stuxnet é um protótipo funcional e temível de uma arma de computação que pode levar a uma nova corrida armamentista mundial”, afirmou a companhia a respeito do vírus. Especula-se que a primeira usina de energia nuclear iraniana, em Bushehr, pode ter sido alvo de tentativa de sabotagem ou espionagem.

   Somente em março de 2013, a Agência Nacional de Segurança, dos Estados Unidos, coletou 97 bilhões de dados, 14% deles de países considerados “críticos”. Em junho, Snowden divulgou o que os governos já sabiam: que a rede serve, principalmente, para espionagem. Não somente usada pelos Estados Unidos.

   De acordo com pesquisas do professor de direito Bruno Magrani, da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro, o governo brasileiro pode ter acesso a dados que cidadãos cederam a empresas. Através de duas maneiras: por meio da Anatel, e por meio de acordo com empresas como Google e Facebook. Os dados obtidos poderiam ser compartilhados entre a Polícia Federal e a ABIN (Agência Brasileira de Inteligência), porque o SISBIN (Sistema Brasileiro de Informação), do qual a ABIN e diversos outros órgãos federais fazem parte, determina que haja compartilhamento de informações.

   O que Edward Snowden fez, ao revelar toda a trama que os Estados Unidos promovem contra a liberdade, seguidos por seus Estados vassalos, foi revelar ao público que a democracia – palavra tão usada pelos demagogos – é um sistema que permite aos governos vigiar os seus cidadãos através dos meios de comunicação, como a Internet, que foi disponibilizada justamente para que todos fiquem desprotegidos em sua privacidade.

   E isso o sistema não perdoa. Acusado de espionagem, Snowden fugiu e se refugiou primeiro em Hong-Kong, até que a China foi pressionada a permitir a sua extradição. No dia seguinte ao pedido, embarcou para Moscou e ficou na área de trânsito do aeroporto de Sheremetyevo, na capital russa. A viagem foi feita com o apoio do WikiLeaks, que enviou Sarah Harrison para ajudá-lo. Da Rússia, Snowden pediu asilo político a 21 países, incluindo o Brasil.

   E foi somente através de pressões e pedidos que Dilma Roussef se manifestou sobre a tentativa de seqüestro de Evo Morales, presidente da Bolívia, que voltava de Moscou e teve seu avião retido na Áustria, após Portugal, Espanha, França e Itália, subservientes aos Estados Unidos, impedirem que o avião presidencial sobrevoasse os seus territórios, devido à suspeita de que traria Snowden para a Bolívia.

   O avião de Evo Morales permaneceu retido durante toda a noite de terça para quarta-feira em Viena, somente obtendo permissão para decolar na manhã de quarta-feira. Pepe Mujica, presidente do Uruguai, Cristina Kirchner, presidente da Argentina, Nicolás Maduro, presidente da Venezuela e Rafael Correa, presidente do Equador, telefonaram para Evo Morales, oferecendo-lhe apoio e revelando a sua indignação com os países europeus e com os Estados Unidos. Dilma permaneceu quieta até o momento em que ficaria muito feio não se manifestar e somente o fez depois que a embaixada da Bolívia pediu uma posição da presidente do Brasil, quase um dia depois do acontecido. Declarou-se indignada.

   “Causa surpresa e espanto que a postura de certos governos europeus tenha sido adotada ao mesmo momento em que alguns desses mesmos governos denunciavam a espionagem de seus funcionários por parte dos Estados Unidos, chegando a afirmar que essas ações comprometiam um futuro acordo comercial entre este país e a União Européia” – disse a Presidente. Foi categórica e firme, como a dizer: “São hipócritas!”.

   Uma pena que não fará mais que isso. Tenta sobreviver aos quinze dias de manifestações orquestradas, à greve dos caminhoneiros e a todas as greves e movimentos que estão sendo planejados para desestabilizar o seu governo na tentativa de um ‘golpe branco’, como aconteceu com o presidente do Paraguai, que foi destituído pelo Congresso a pedido dos Estados Unidos.

   Mas teria que dizer alguma coisa, mesmo que bata de frente contra o império e açule ainda mais as hordas dos golpistas que em 2014, ano da Copa do Mundo, festejarão 50 anos do golpe de 1964 e pretendem reeditá-lo. Golpe de estado é a moda do momento. No Egito, o presidente foi derrubado pelos militares amigos do Ocidente (leia-se Estados Unidos, Inglaterra e seguidores). Na Turquia, o governo está vacilando, devido às manifestações incitadas através do Facebook pelo estranho e mascarado grupo Anonymous, que se diz apartidário.

   Snowden abriu uma brecha no sistema que se pensava invulnerável, ao arrancar-lhe a máscara e revelar o seu frágil, assustado e decrépito rosto. A vileza e a covardia da espionagem a nível mundial jamais poderá ser perdoada. Os países da América Latina, considerados “inferiores” por seus colonizadores começam a acordar para a realidade e provavelmente tomem alguma posição, embora nada se possa esperar de governos como o do Brasil, Colômbia, Peru e Chile – ainda atrelados aos Estados Unidos.
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