sábado, 30 de abril de 2011

O DIA DOS DOMESTICADOS



Para desvalorizar a data, o sistema chama de Dia do Trabalho, quando, na verdade, é o Dia do Trabalhador. No Brasil, um trabalhador cada vez mais preso às centrais sindicais que estão ligadas a um governo que escolheu o capitalismo e, portanto, a crueldade e o arrocho salarial. O que festeja, nesta data, o trabalhador brasileiro?

     Com certeza, teremos cínicos discursos em todos os lugares aonde se reunirem mais de 10 pessoas. Lembrarão a bravura e a força do nosso trabalhador e entoarão canções para os braços que sustentam o capital. E milhões de trabalhadores se sentirão engrandecidos, como todos os anos, e acreditarão realmente naquelas palavras que os colocarão no ápice da estrutura social. Porque estamos acostumados a ouvir e a acreditar em palavras bonitas e em discursos grandiloqüentes.

     Lula, Dilma e capachos outros serão entrevistados e falarão dos trabalhadores como quem fala de filhos que estão aprendendo a crescer e a se desenvolver graças aos seus conselhos. Lembrarão dos empregos concedidos graças às suas gestões, aos seus esforços enquanto presidentes; e Lula dirá, com lágrimas nos olhos, das suas antigas lutas quando era um sindicalista e de tudo o que passou até chegar a ser mais um presidente entreguista. E milhões de trabalhadores acreditarão que é necessário fazer o que o Lula fez para chegar a presidente, mesmo que um presidente traidor da sua classe, mas presidente.

     Esquecerão por um dia do salário mínimo tão mínimo e pensarão em seguir os conselhos paternalistas daqueles que representam um Estado que os esmaga diariamente. Os trabalhadores sindicalizados se sentirão ufanos no 1º de maio – mais um 1º de maio de falsa euforia – porque acreditarão que eles constroem o Brasil. Para os outros.

     Acreditarão que os seus sacrifícios de agora são passageiros e necessários para que, no futuro – e o Brasil é sempre um país do futuro – os seus filhos usufruam de todas as benesses agora prometidas, mas reservadas, por enquanto, apenas aos senhores do capital. E desejarão que os seus filhos venham a ser capitalistas – usineiros, latifundiários, políticos, empresários, jogadores de futebol ou mercenários de qualquer profissão que dê muito dinheiro. Porque se espelharão nos patrões, pessoas que lutaram, fizeram a vida, conforme os seus dossiês oficiais, e alcançaram, por fim, a suprema arte de iludir e explorar.

     Nada farão os trabalhadores, a não ser festejar o seu dia de acordo com a agenda e esperar o futuro que os aguarda com sorrisos, festas e eterna alegria - como aqueles religiosos que esperam a outra vida que será, inevitavelmente, bem melhor que esta passageira vida carnal. E beberão, explodirão em drogas e sexo, assistirão futebol e todos aqueles programas que insistem que são eles os heróis que a pátria aclama.

     Nada farão, porque perderam o sangue, a força de vida, o espírito de luta, a consciência social, a capacidade crítica e estão envolvidos neste mundo que lhes apregoa que se eles tiverem um celular e um carro serão vencedores, porque este é um mundo competitivo, feito somente para os muito trapaceiros, que os incita a atropelar os mais próximos, a cultivar o individualismo como religião e razão de vida e a esperar, com fervor, a próxima mega-sena. Em último caso, torcerão pelos seus times, gritarão nas arquibancadas e lutarão nas ruas por uma cor ou um distintivo, e se sentirão alforriados dentro da sua escravidão mental.

     Não desejarão saber que serão jogados no lixo assim que envelhecerem ou que as suas filhas poderão se transformar em prostitutas e os seus filhos talvez venham a preferir o caminho da criminalidade oficializada.

     Não saberão nem desejarão saber dos milhões de famintos e miseráveis deste Brasil que os engana e amortece. Desdenharão os que não tem emprego, os favelados, os escravizados e os enganados pela vida, que nada mais esperam a não ser a morte rápida.

     Chamarão de anarquistas aqueles trabalhadores – sindicalizados ou não – que saírem às ruas para protestar contra a instituição da mentira – e que serão reprimidos pela inconsciente polícia do sistema.

     Os trabalhadores sindicalizados da era pós-Lula tem as suas lutas, que chamam de lutas pontuais, lutas educadas e conservadoras, com exigências que nada exigem além daquilo que já foi combinado antecipadamente entre os seus líderes – que um dia serão deputados e senadores – e os patrões. Lutas individualistas, que se limitam a melhorias no local do emprego, a pequenos avanços salariais já previstos no orçamento das empresas.

     Trabalhadores sindicalizados da era Dilma não costumam fazer greve; muito menos greve geral por um Brasil dos brasileiros, contra a miséria e o desemprego. Preocupam-se apenas com o seu próprio emprego. Não participam das lutas dos oprimidos, dos sem-teto, dos sem-terra, dos povos indígenas, da maioria do povo brasileiro. Preferem olhar para os seus próprios pés, como bois mansos.

     Domesticados, inermes, no 1º de maio se regozijarão com a sua paquidérmica inação.

     Preferirão o momento estéril dos discursos de elogio. No dia seguinte, irão trabalhar e beber no fim de tarde e se queixar da vida. Até o próximo 1º de maio sem luta, sem força, sem vontade, sem a consciência da sua própria classe.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

A ADORAÇÃO DOS PRÍNCIPES


Milhares de pessoas de todos os países estão na Inglaterra para tentar entrever e fotografar o príncipe Williams e sua consorte. Talvez tenham sorte e consigam fotografias que guardarão a vida inteira e naquelas reuniões informais de amigos, no breve momento em que a conversa fora já foi recolhida para o lixo, a dona da casa dirá, displicentemente: “Pois estivemos lá! Eles passaram e conseguimos algumas boas fotos”.

     Será o suficiente para que todos queiram ver as fotos e saber detalhes de todas as circunstâncias que envolveram o casamento. Todas as circunstâncias e detalhes os donos da casa não saberão, mas algumas mentirinhas sociais indesmentíveis serão aceitas, e logo a conversa tomará novo fôlego, regada a uísque – “escocês legítimo, vejam!” – que acompanhará uma legítima torta de maçã inglesa. As senhoras preferirão chá. E todos ficarão felizes.

     Custo a acreditar que pessoas pensem e ajam assim. Mas é verdade. Em pleno século XXI o sentimento de vassalagem permanece no inconsciente coletivo de milhões de pessoas. E, provavelmente, no consciente. Não pasmem, existem pessoas assim. Pessoas que vivem pensando na riqueza das outras pessoas, nas roupas das outras pessoas, nas jóias das outras pessoas, nos carros das outras pessoas, nos filhos das outras pessoas, no penteado das outras pessoas, no modo de viver das outras pessoas – e até acreditam que as outras pessoas que elas tanto veneram tem sangue azul e merecem a sua devoção.

     Fiquei muito surpreso quando a Espanha, que aparentemente é um país democrático, concordou que o ditador Francisco Franco passasse o seu poder vitalício para Juan Carlos I, em 1975, aplaudido pela maioria dos espanhóis, que adoraram ter uma família real novamente simbolizando a nobreza dos espanhóis.

     Logo a Espanha que tinha passado por uma longa e sangrenta guerra civil, nos anos ’30, que derrubou a Segunda República espanhola e instituiu o fascismo, com Franco no poder. Fiquei surpreso, porque acreditava, ingenuamente, que os povos do mundo inteiro, aos poucos, não aceitariam mais casas reais para representá-los, como se fossem órfãos de vontade própria. E logo a Espanha...

     E Franco era muito amigo do atual rei da Espanha – aquele que quer a América Latina calada e submissa – e o colocou no trono. E os espanhóis ali, assistindo, sem nada fazer a respeito, deixando-se emburrecer cada vez mais pela sua mídia, porque não é só no Brasil que a mídia aliada ao Estado tem a função de deixar as pessoas parvas e submissas. Também na Europa, Estados Unidos e outros países que passam por desenvolvidos.

     Entre eles, a Inglaterra. A Inglaterra da mistificação da realeza, da pirataria, dos corsários; a Inglaterra que enriqueceu invadindo países mais pobres, que difundiu o ópio pelo mundo; a Inglaterra que desenvolveu o sistema bancário para melhor dominar a economia da maioria dos países; a Inglaterra que fingiu uma guerra com os Estados Unidos, deixou-o “libertar-se” para depois torná-lo no seu principal aliado na dominação das Américas.

     A Inglaterra que criou a sua própria igreja, mais como aliada política do Estado do que difusora do Cristianismo; a Inglaterra que criou a moderna Maçonaria, em 1717, não para buscar a Verdade, mas para ter um poder oculto em todos os países, para manobrar os seus governos; a Inglaterra que se tornou senhora do mundo, junto com os Estados Unidos, depois das duas guerras européias que a enriqueceram ainda mais.

     E devido a isso, a todo esse poder que manipula governos e fabrica mídias para embasbacar as pessoas e deixá-las a cada dia mais distante da sua própria realidade, tudo o que acontece na Inglaterra (e nos Estados Unidos) é tão ovacionado que as pessoas que estão vivendo neste século de tanta tecnologia estão se transformando em produtos utilizáveis e facilmente descartáveis, que entregaram a sua mente curta e o seu mínimo senso crítico aos meios de comunicação de massa. Porque realmente se tornaram massa; massa que pode ser moldada da maneira que bem apetecer aos donos do poder.

     E os próprios veículos de comunicação estão compostos, em sua grande maioria, por jornalistas que perderam a noção do que realmente é ou deveria ser o jornalismo e se transformaram em meros repetidores das informações que lhes chegam através das agências de notícias que pertencem aos donos do capital ilusionista.

     No Brasil – e talvez no resto do mundo – está havendo um massacre de informações - patrocinadas por esses repetidores - que vem diretamente da Inglaterra, devido ao casamento daqueles dois seres que tudo ganharão à custa do trabalho do povo, e o povo inglês – assim como o povo espanhol e outros povos que ainda tem um regime monárquico - não percebe que sustenta milionariamente uma família que nada lhes dá em troca, a não ser o fastio de uma visão de conto de fadas.

     Não percebem e não querem perceber que estão sendo usados, manipulados e que depois que tudo passar nada mais restará a não ser a visão da pobreza mental das suas vidas limitadas ao nada que escolheram.

     É uma verdadeira adoração dos príncipes. As pessoas não saem da frente da televisão, como tardos mentais, obcecadas pela novela real.

     Muitos irão a Londres unicamente na expectativa da passagem do casal multimídia e tentarão algumas fotos para mostrar aos amigos em alguma noite, não muito distante, quando se reunirem para beber um legítimo uísque que acompanhará uma torta de maçã. Alguns preferirão chá.

     Depois, surgirá o inevitável assunto:

     “Quem sabe a volta da família real ao Brasil? Quem sabe os Orleans, os Braganças? Pelé e Xuxa não tem sangue azul. Chega de Dilmas e Lulas, tão pobres até no linguajar! O Brasil só será respeitado quando tivermos um Rei. Imaginem as festas!... Só assim o povo saberá o seu lugar.”

     E a noite se estenderá com planos políticos e leves subversões intimas. Depois, sonharão com ducados e castelos. E desejarão ser ingleses ao acordar.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

ESBULHO


“O esbulho possessório é a retirada violenta de um bem (imóvel residencial, comercial ou rural) da esfera da posse do legítimo possuidor. Implica o crime de usurpação tipificado quando alguém invade com violência à pessoa, grave ameaça ou mediante concurso de mais de duas pessoas, terreno ou edifício alheio. Ocorrido o esbulho, o interessado pode entrar com ação de reintegração de posse e por perdas e danos. O "esbulho possessório" é crime. A sentença criminal pode condenar o esbulhador à detenção de um a seis meses e ainda, multa..”


     Convenhamos que a pena é mínima. Procurei o significado de esbulho na Internet, porque nós, brasileiros, estamos constantemente sendo esbulhados, não somente quando alguém toma o que é nosso, violentamente, mas de outras maneiras também violentas, não tipificadas na lei.

     Uma delas é o esbulho por omissão. Quando você sabe que está sendo roubado ou que estará prestes a ser roubado, reclama a quem de direito e nada é feito, ou é feito de maneira tão sutil e invisível que não se percebem os seus efeitos.

     Se você não tiver dinheiro sobrando, no Brasil, prepare-se para ser esbulhado. Inevitavelmente.

     O povo brasileiro é tido por otário pelo Estado, que o esbulha com os maiores impostos do mundo; esbulha a sua saúde ao não lhe dar condições de tratamento adequadas; esbulha a sua educação através de um sistema educacional perverso, que somente deseduca, com professores desmoralizados e mal pagos e diretores sem força ativa; esbulha imensamente os seus trabalhadores assalariados e aos não assalariados esbulha a vida; esbulha a verdade ao povo, através de veículos de comunicação especialistas em nada dizer e em maquiar a realidade.

     Cerca de 10% do povo brasileiro não é esbulhado. São os esbulhadores, donos da mais moderna tecnologia do esbulho. Os corruptos por natureza, por herança genética, por oportunidade, por escolha pessoal, por deterem um poder que lhes permite saciar a sua sede de esbulho e de corrupção e que tem consciência da sua impunidade. 

     Fábio Konder Comparato, na matéria “UM PAÍS DE DUAS CARAS”, revela que o Estado brasileiro segue, invariavelmente, a regra de dois pesos e duas medidas no que se refere a direitos humanos. E escreve:

     “Só há uma maneira: denunciar abertamente os verdadeiros autores desses crimes, perante o único juiz legítimo, que é o povo brasileiro. É preciso, porém, fazer essa denúncia diretamente perante o povo, pois em uma democracia autêntica é ele, não os governantes eleitos, quem deve exercer a soberania.”

     Ao mesmo tempo, percebe que isso é quase impossível:

     “(...) Acontece que, numa sociedade de massas, uma denúncia dessas há de ser feita, necessariamente, através dos meios de comunicação de massas. Ora, há muito tempo estes se acham submetidos à dominação de um oligopólio empresarial, cujos membros integram o núcleo oligárquico, que controla o Estado brasileiro.”

     Todas as pessoas que não fazem parte daquele clube oficial dos esbulhadores sentem-se lesadas diariamente neste Brasil de meias verdades. Não é necessário que tenham os seus terrenos invadidos, as suas casas tomadas. Este é o esbulho que a lei prevê. Mas o pior esbulho é o esbulho moral, quando sabemos que nenhuma lei vai nos ressarcir da vida que é tirada, aos pedaços e metodicamente, de todos nós. Para alimentar os corruptos.

     Somos esbulhados diariamente na nossa vontade, na nossa força, na nossa alegria de viver. E, às vezes, pensamos que é melhor deixar tudo de lado e dizer aos esbulhadores: “Foi péssimo ter conhecido vocês. Até nunca mais”.

     De nada adiantaria. Os esbulhadores pertencem a mais baixa estirpe moral dos seres humanos e somente ficariam tristes por ser menos um a esbulhar. São sanguessugas. Por falar nisso, o tal de Impostômetro significa o dinheiro arrecadado pelo Supremo Esbulhador ou apenas dá os números do esbulho imposto pela impostura dos impostores oficiais?

     Fiquei me perguntando por que não festejaram, este ano, o Dia de Tiradentes. Talvez para não lembrarem a História oficial que, mesmo sendo oficial, revela alguma coisa nas entrelinhas. Revela que a Inconfidência Mineira aconteceu porque, naquela época, em 1789, existiam pessoas que não aceitavam ser esbulhadas pacificamente. Era um tempo em que os brasileiros tinham consciência de quando estavam sendo roubados; um tempo em que o Estado não teria coragem de se autodenominar, sarcasticamente, de “Leão” ou ostentar um Impostômetro marcando os dígitos do seu gigantesco esbulho aos brasileiros.

     E essas pessoas reagiram e quando chegou a época da “derrama” – o esbulho oficial - em Minas Gerais, revoltaram-se e tentaram a separação do Império. Foram traídos e presos. Processados e condenados ao degredo nas colônias portuguesas pelo crime de lesa-majestade. Com a exceção de Tiradentes – que era apenas um pobre tira-dentes e não um senhor de engenho ou um bacharel formado em Coimbra ou um ruralista, padre ou militar. Tiradentes foi assassinado para servir de exemplo a todos aqueles que desejarem se revoltar contra o esbulho oficializado.

     Também não comemoraram o Dia do Índio. Passou em branco, menos para os indígenas, que não são nem querem ser brancos. Desde que os brancos chegaram aqui eles foram e continuam sendo esbulhados da sua liberdade, da sua cultura, das suas tradições, das suas terras, da sua força vital.

     Índio não é igual a branco que aceita tudo. Protestaram. Principalmente no Xingu, contra a construção da usina de Belo Monte, já condenada pela OEA e pelo mundo inteiro, mas que a arrogância de Dilma e de seus aliados empresários, políticos e banqueiros quer constituir, à força, no maior esbulho que os índios brasileiros já sofreram em toda a sua sofrida história de dominação pelos brancos.

     Protestaram e prometeram reagir. De armas na mão, se necessário for. Índio não é como branco, que prefere a paz do carnaval e só reage xingando o árbitro quando o seu time é roubado.

     Em entrevista ao jornal “O Liberal”, de Belém, no dia 19 de abril, Sheyla Juruna afirmou: “Não tem o que festejar no Dia do Índio, a gente tem muito é que brigar mesmo, demonstrar a nossa insatisfação diante desse governo injusto, que está aí levando tudo do jeito que ele quer, contra o nosso povo".

     Sheyla destacou que os índios estão prontos para guerrear até a morte, se necessário for: "Não descarto essa possibilidade, porque é o governo que está instigando essa violência, essa guerra. E isso vai acontecer e a culpa será do governo. Nós não temos medo. O que tivermos que fazer para defender nossas casas, nós vamos fazer. Vamos nos defender até o fim desse governo que fala em acabar a miséria, mas está fazendo com Belo Monte mais miseráveis."

     Não saiu na mídia oficial, mas o Governo mandou soldados para Porto Velho, em Rondonia, onde trabalhadores da usina hidrelétrica de Jirau se revoltaram violentamente contra o esbulho da sua força de trabalho, em março. O canteiro da obra foi depredado.

     A região das obras das hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, em Rondônia, registra uma explosão de criminalidade e de casos de exploração sexual de crianças e adolescentes. Esbulho leva a mais esbulho.

     Os lagos formados pelas barragens das usinas hidrelétricas de Jirau e do Santo Antônio, que serão construídas ao longo do rio Madeira, em Rondônia, deverão ser maiores do que o sugerido nos estudos de impactos ambientais realizados por técnicos da Furnas Centrais Elétricas e da Construtora Norberto Odebrechet. A declaração é do doutor em Planejamente Energético pela Unicamp – Universidade Estadual de Campinas e professor da Unir – Universidade Federal de Rondônia, Artur de Souza Moret. “Os impactos ambientais dessas obras terão uma dimensão jamais vista na Amazônia.”

     Então imaginem o impacto ambiental que terá a construção da usina de Belo Monte – que será a terceira maior do mundo – na natureza, nos ecossistemas, na Amazônia. Porque os esbulhadores pensam somente em seus lucros. Não se preocupam com a fauna, a flora, pessoas, indígenas. Não se preocupam com nada. Para eles, esbulhar é natural, porque as suas naturezas são pervertidas.

     E são esses os que governam o Brasil e falam belas palavras e jogam moedas para o povo esbulhado e não se importam se não há liberdade, justiça ou pão. “Que comam bolos!”.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

A TORTURA COM NOBREZA



A presidente Dilma Roussef sabe que o ministro Nelson Jobim e militares de altas patentes das três armas são contra a Comissão Nacional da Verdade, prevista no Projeto de Lei 7376/10, do Executivo. E pede para que Jobim, generais e subalternos que consideram a ditadura militar ainda existente, embora oficialmente nas mãos dos civis, não se manifestem a respeito.

     Não manifestem contrariedade à Comissão da Verdade, para evitarem maiores danos à mentira instituída.

     Enquanto isso, cinco dias depois do massacre de Realengo, no dia 12 de abril, Nelson Jobim, militares e simpatizantes participaram, no Rio de Janeiro, da Feira Latinoamericana de Aviação e Defesa (LAAD, na sigla em inglês), que é a maior exposição de fabricantes de armamentos e equipamentos militares e de defesa. A Feira é latinoamericana, mas a sigla é em inglês, a língua adotada por militares saudosistas brasileiros.

     Foi bem no período em que o Governo aproveitou a mídia resultante do massacre de Realengo para propor um novo plebiscito visando o desarmamento geral do povo brasileiro. Só ficarão armados os bandidos, a polícia e as Forças Armadas. Ótimo para os bandidos.

     A tal feira de armamentos onde as empresas bélicas da América Latina expuseram as suas novidades, para delícia dos militares (e simpatizantes) durou cinco dias. O resultado foi a disposição do Governo em gastar cerca de 30 bilhões de reais, nos próximos 15 anos, para reaparelhar as Forças Armadas.

     Já no final de março, João Lucena Leal, pessoa estreitamente ligada aos órgãos de repressão da época da ditadura militar, fez a apologia da tortura, ao conceder uma entrevista ao jornalista Roberto Cabrini, veiculada na quarta-feira, 30 de março, no programa Conexão Repórter, do SBT. “Eu executava a tortura com nobreza”, disse ele. “Não tinha ideologia, apenas cumpria o meu dever de obter informações”. Lucena afirmou ter acompanhado a execução sumária de 15 guerrilheiros do PC do B na região do Araguaia, na década de 70. “O sujeito amarrado, algemado e o executor puxava o gatilho e matava”, narrou.

     Quando saiu a matéria, no mesmo período em que começou a novela do SBT, “Amor e Revolução”, os militares ficaram indignados e queriam se manifestar, dizendo que não é possível, como é que vão revelar os segredos tão zelosamente guardados sobre como eles matavam e torturavam. Por isto, Dilma pediu que ficassem quietos. O silêncio é o maior amigo da mentira.

     Mas não adiantou. Militares da reserva organizaram um abaixo-assinado pela retirada da novela do ar, encaminhado ao Ministério das Comunicações. Em oposição a isso, militantes do grupo Documento Tortura fizeram outro abaixo-assinado, pedindo a manutenção da veiculação. Não há indícios de que o governo tenha a intenção de tirar a novela do ar. Por enquanto.

     E o grupo Tortura Nunca Mais – RJ lançou um documento na Internet, intitulado “Dossiê de João Lucena Leal”, no qual você poderá ler que o defensor da nobreza da tortura – e não deverá ser o único defensor dessa tão nobre atividade militar - é atualmente advogado inscrito na OAB de Rondônia sob o n.º 52B. É advogado de Darly Alves da Silva, um dos acusados pelo assassinato do líder seringueiro Chico Mendes.

     João Lucena é citado em quatro diferentes listas do Projeto Brasil Nunca Mais, contidas no tomo II, volume III “Os Funcionários”. Na primeira lista “Pessoas diretamente envolvidas em torturas”, seu nome aparece 7 (sete) vezes, às páginas 26 e 32. É indicado como policial e/ou agente da Polícia Federal do Ceará e tais denúncias referem-se aos anos de 1970 e 1973.

     Mas isso tudo não interessa ao Nelson Jobim ou ao general José Elito de Carvalho Siqueira, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que disse em entrevista que não é motivo de vergonha para o País o desaparecimento de presos políticos durante a ditadura militar (1964-1985).

     É verdade que o general foi repreendido pela presidente e pediu desculpas, dizendo que era tudo culpa da imprensa. Mas mostra que a ideologia da segurança nacional, que foi motivo para tantos assassinatos e torturas durante a ditadura militar está renascendo durante o governo de Dilma, tão bem servida com ministros como o general José Elito e Nelson Jobim.

     A festa continua, para eles. Se Dilma cumpre o seu papel de puxar as orelhas dos ministros que falam demais, isso não tem a menor importância. Eles sabem que Dilma jamais se atreveria a ir além de um puxão de orelhas ou seria ela a ser demitida do cargo de Presidente.

     Tanto é assim, que o Nelson Jobim está para lançar, no dia 28, o seu Livro Branco das Forças Armadas. Seguindo o exemplo dos Estados Unidos, França, Argentina, Uruguai, Peru, Guatemala, Chile, El Salvador e Canadá - países militarizados ou em via de acelerada militarização. Honduras, Colômbia, Panamá, Guatemala, República Dominicana, Costa Rica e Haiti não terão Livro Branco, porque já estão ocupadas pelos Estados Unidos – direta ou indiretamente.

     Oficialmente, será uma declaração de princípios sobre como o Brasil deve encarar suas Forças Armadas, e permite que outros países conquistem a confiança em relação ao Brasil. Ou uma declaração de intenções.

     Estamos cercados por inimigos tão terríveis que será necessário que eles saibam que estaremos prontos para puxar o gatilho, se necessário for. Ou, conforme Nelson Jobim, é necessário defender as fronteiras contra o tráfico internacional, porque o Brasil não permitirá a internacionalização da Amazônia. Nos Estados Unidos as crianças em idade escolar aprendem que a Amazônia brasileira não é mais brasileira. Será que o recado do Jobim foi para os seus amigos norte-americanos?

     Na realidade, o Livro Branco da Defesa Nacional será uma arma dos militares contra as trocas de governo e os cortes orçamentários frequentes. Estará tudo ali, para ser lembrado – e cobrado – dos governantes. Ou talvez seja uma maneira de mostrar aos países que não estão alinhados com os Estados Unidos - como aqueles que formam a Aliança Bolivariana das Américas (ALBA) - que o Brasil está rearmando as suas Forças Armadas, e qualquer coisa...

     Quanto à Comissão da Verdade? Bem, parece que isso é coisa de civis e não interessa para o atual governo.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

O JESUS QUE EU CONHEÇO



Não consigo ver Jesus naqueles filmes hollywoodianos, onde fazem dele uma pessoa plácida, extremamente passiva, com voz mansa, cabelos loiros, olhos azuis e aquele jeito domesticado que até desanima. Aquele é o Jesus criado nos Estados Unidos.

     O meu Jesus é, antes de tudo, uma pessoa forte, destemida, com mãos calosas de carpinteiro e um olhar magnético que atrai a todos e a todos acolhe. Mas sem pieguice, sem maneirismos. Simples, cabelos longos maltratados, barba mal cuidada, com o seu único manto e somente um par de sandálias, que o levam para todos os lados, pregando a revolução da fé.

     É uma pessoa extremamente sincera. Detesta a hipocrisia, a falsidade, os meio-termos, as mistificações, ou expressões como “quem sabe...”, “vamos ver...”, “talvez...”. Não suporta pessoas indecisas ou os que tem medo da vida. Certa vez, passando por uma aldeia, um jovem disse que gostaria de segui-lo. Ele respondeu: “Que bom! Larga tudo e vem comigo agora”. O jovem retrucou: “Agora não dá. Eu tenho muito que fazer ainda: negócios a terminar, me despedir dos parentes, organizar a viagem. Depois disso tudo eu te sigo”. Era um jovem rico, apegado às suas coisas. Jesus o deixou de lado e fez aquele célebre comentário de que seria mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que uma pessoa rica ganhar o reino dos céus.

     Aliás, volta e meia ele faz esse mesmo comentário, com outras palavras e para outras pessoas, porque acredita que a repetição leva à compreensão. A compreensão de que aos ricos somente interessa a riqueza, que é o seu único deus.

     Jesus não gosta dos ricos. Disse que a moeda é de César, mas nem por isso justificou a riqueza. César que ficasse com a sua moeda; ele e os seus seguidores tinham mais o que fazer do que ficar admirando e juntando moedas. Ninguém pode servir a dois senhores ou acabará traindo um deles. Ou serve ao Pai ou serve ao Príncipe deste mundo, que adora coisas materiais e incentiva as pessoas a fazer a mesma adoração. Mas esta também não foi uma maneira de justificar a pobreza. Ao contrário. Indigna-se com a exploração das pessoas mais humildes e chegou a dizer que os que tem fome e sede de justiça serão saciados.

     Mas desde que lutem para isso. Porque os famintos e os sedentos não podem ficar esperando que a solução dos seus problemas caiam do céu. Quando os apóstolos pediam a ele alguma coisa, ele respondia: “por que vocês não fazem isso?!” Era o mesmo que dizer – “por que estão sempre pedindo?” E os imprecava: “Homens de pouca fé!” E completava: “Se vocês tiverem fé do tamanho de um grão de mostarda, poderão fazer o que quiserem, inclusive mudar uma montanha de lugar”.

     Da mesma maneira, hoje, e em todas as épocas, quando alguém pede para ele alguma coisa e fica esperando que essa coisa se realize sem nada fazer a respeito. Ele costuma repetir que aos inválidos e doentes ele ajuda. Inclusive aos inválidos e doentes de ânimo e de coração, mas espera dos sadios que tenham fé em sua própria capacidade.

     Ele veio pregar a fé. Mas não a crença cega. É claro que é ótimo e correto ter esperança e acreditarmos que seres espirituais nos ajudam; mas eles ajudarão mais ainda se acreditarmos no nosso interno secreto poder. O poder de transformarmos a realidade. E esse poder somente se revela através da fé que Jesus prega, da crença de que temos a capacidade de fazermos os mesmos milagres que ele faz.

     Por isso, ele mandou os seus seguidores, de dois em dois, por toda a Galiléia, para curarem os enfermos e ajudarem os necessitados a ajudarem a si mesmos. Não por qualquer magia secreta que tivesse ensinado, mas após despertar nos apóstolos a confiança – que é a verdadeira fé – de que poderiam fazer tudo aquilo que ele fazia. E depois eles voltaram exultantes, dizendo “Mestre, curamos enfermos, ajudamos as pessoas”. E ele sorria.

     Não um sorriso beatífico, mas o sorriso da certeza de que os seus ensinamentos estavam dando certo, que a semeadura encontrava terreno fértil. Talvez tenha sido esta a razão porque ele procurou os mais pobres e os mais humildes como seguidores – para horror dos muito ricos. Porque os humildes tem a capacidade e a presteza de aceitar novos ensinamentos, enquanto os ricos e aqueles que se pretendem sábios são o que Jesus chamou de sepulcros caiados: pessoas que se acreditam superiores às outras pessoas, porque adquiriram mais bens materiais. Estão mortos, mas não sabem disso.

     Jesus não é aquela coisa fraca que o cinema mostra. Ele detestava os fariseus, porque eram a classe dominante sobre os judeus daquela época e exploravam os demais judeus. Chamava-os de hipócritas e não tinha medo de destruir os seus falsos argumentos. Não hesitou em correr com chicotadas os vendedores que ficavam em volta do templo, assim como não hesita, hoje, em denunciar a hipocrisia que reina no mundo.

     Vocês não o vêem? Não ouvem as suas palavras? Não reconhecem os seus sinais?

     Talvez porque não observem bem. Ele continua ao lado dos mais fracos, dando-lhes fé para que prossigam na sua luta e acreditem na vitória final. Mesmo que o seu reino não seja deste mundo, ele se sente responsável com todos os que não desistem, apesar de sofrerem injustiças diariamente. Geração após geração, os hipócritas são desmascarados e os famintos e que tem sede de justiça são saciados, porque resolvem ter fé na sua própria força, e exigem a verdadeira justiça aqui na Terra.

     Ele está em todos os lugares, auxiliando e protegendo. E, principalmente, inculcando a verdadeira fé.

     Muitas vezes, o seu lado humano fraqueja, quando morre junto com os que são assassinados ou é humilhado ao lado dos que são humilhados ou tem as suas palavras mistificadas. É quando ele grita humanamente: “Pai, se for possível, afasta de mim este cálice!”. Mas depois pondera, e o seu lado divino exclama: “Mas seja feita a tua e não a minha vontade”.

     O Jesus que eu conheço é assim. Transforma a água em vinho diariamente, para que a festa da nossa união perdure para sempre. Oferece o seu corpo em alimento, para provar que a morte é apenas um rito de passagem e se ele conseguiu vencê-la, porque não conseguiremos?

     Mas se faz duro quando necessário, quando sentimos pena de nós mesmos, quando quase perdemos a fé. É quando mostra as suas chagas.

     Certa vez, não faz muito, eu estava me queixando da vida, de alguns achaques, de pessoas que eu julgava que estavam sendo injustas comigo. Na verdade, eu desejava mimos.

     Ele me olhou nos olhos e me levou até a sacada de minha casa. Ali, ele me mostrou um homem que estava catando lixo na rua e me disse: “Vê? Lá vou eu em busca do sustento diário. Mesmo injustiçado por esta sociedade podre, continuo na luta, acreditando que vou conseguir transformar esta situação, e mesmo que morra e grite naquele momento único ‘Pai, porque me abandonaste?’, saberei que foi apenas um momento de fraqueza, porque o Pai e eu somos um e sempre poderei ressuscitar.”

     O Jesus que eu conheço é esse. Não somente o que dá pão aos famintos, mas principalmente o que ensina a plantar o trigo.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

A VERDADEIRA PÁSCOA


A Páscoa cristã, este ano, quase coincidirá com a Páscoa judaica. A páscoa judaica é celebrada de 19 a 26 de abril e a páscoa cristã de 21 a 24 de abril, sendo que o dia exato é 24 de abril. Se houvesse a coincidência entre as duas páscoas, isso seria considerado quase como um sacrilégio pela Igreja Católica e demais igrejas cristãs.

     Para que nunca houvesse essa coincidência, a Igreja Católica transformou a Páscoa numa festa móvel com o decreto do papa Gregório XIII (Ugo Boncampagni, 1502-1585), Inter Gravissimas em 24.02.1582, seguindo o primeiro concílio de Nicéia de 325 d.C., convocado pelo imperador romano Constantino. A data de Páscoa foi definida como o primeiro domingo após a primeira lua cheia da primavera (no hemisfério Norte). Esta data é muito próxima a 14º dia de Nisan. No caso de a data assim determinada coincidir ou se antecipar à celebração da Páscoa judaica (14 de Nisan), a Páscoa cristã deve ser adiada em uma semana para que seja conservada a analogia com a sucessão dos fatos históricos.

     Mesmo havendo uma fórmula para determinar a Páscoa a cada ano, tornando-a distante ao menos uma semana da Páscoa dos judeus, o curioso e quase alarmante para os cristãos é que este ano quase coincidiu e a Igreja nada fez a respeito, ou seja, não adiou a Páscoa de uma semana, como seria o correto. Talvez essa inação por parte da Igreja seja consequência direta das tentativas de ecumenismo, o que pode parecer bom na aparência, mas poderá levar o Cristianismo novamente a diluir-se dentro do Judaísmo, perdendo a sua razão de ser.

     Novamente, porque nos primórdios do Cristianismo, quando da feitura da Bíblia – erradamente chamada de Bíblia cristã – juntou-se a ela, além dos 27 livros do Novo Testamento, incluindo, muito mais tarde, o Apocalipse, os 46 livros, atualmente considerados canônicos da religião judaica, chamados de Velho Testamento – que incluem o Torá ou Pentateuco , os Livros Históricos, os Livros Poéticos ou Sapienciais (Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos – algumas outras igrejas cristãs adotando os livros Sabedoria e Eclesiástico) e os Livros dos Profetas. Além desses livros, considerados canônicos ou aceitos como verdadeiros pelas duas religiões, ficaram de fora 52 livros do Velho Testamento e 61 livros do Novo Testamento – todos considerados apócrifos.

     Mas os livros que são a base da religião judaica, ou Velho Testamento, nada tem a ver com o Cristianismo. Foram adotados pelos cristãos, em momento de confusão quanto à verdadeira mensagem de Jesus, ou de tentativa de proselitismo entre os judeus. A própria religião judaica é completamente diferente da religião cristã. A única relação que existe com o Cristianismo é o fato de Jesus ter sido Judeu, porque a mensagem que ele passou é oposta à da religião dos judeus.

     Ele disse que deixava aos seus seguidores apenas dois mandamentos: 1º Amar a Deus sobre todas as coisas; 2º Amar ao próximo como a si mesmo. Nada mais. E no momento em que ele falou isso, deixou claro que os dez mandamentos da religião judaica não tinham mais validade. Também colocou o amor no condicional: devemos amar ao próximo na mesma medida em que amarmos a nós mesmos. Se não gostarmos de nós, nunca poderemos amar, verdadeiramente, aos mais próximos. Ele era um judeu, submetido às leis do seu país, como todo judeu, mas trazia uma nova mensagem, que foi a mensagem do amor, da paz e da igualdade.

     Nada tenho contra a religião dos judeus, que foi criada para unir um povo nômade e forjar uma raça. Mas o deus Judeu, Javé, era chamado de “Deus dos Exércitos”, enquanto Jesus pregava a paz. Em nenhum momento do Novo Testamento é encontrada a palavra Javé, ou Jeová. Jesus, ao referir-se a Deus falou de um deus de bondade, a quem deu o nome de Pai e que está sempre pronto ao perdão. O deus Jeová dos judeus, de acordo com o Velho Testamento, mandava matar a todos os inimigos da nação hebraica e quando o primeiro rei judeu, Saul, desobedeceu essa ordem, depois de uma batalha, foi destituído da sua realeza.

     No entanto, as igrejas cristãs pregam o Judaísmo junto com o Cristianismo, o que é um absurdo. Isto, graças ao fato de que o livro que deveria pregar unicamente a mensagem de Jesus – a Bíblia – foi unido ao chamado “Velho Testamento”, que prega a mensagem do Judaísmo. E uma religião que estava confinada a uma raça, por vontade explícita dessa raça, e que somente era divulgada entre os membros dessa raça, em uma faixa estreita do Oriente Médio, graças ao Cristianismo é conhecida pelo mundo inteiro.

     Porque o Cristianismo foi – e continua sendo - o principal veículo de divulgação do Judaísmo.

     A Páscoa da religião judaica significa “passagem” ou “libertação", porque, segundo a fé dos judeus, o seu deus os teria tirado do Egito no dia 14 do mês de Nisan do ano 5771, de acordo com o calendário judaico. Naquele dia, depois de muito insistir com o Faraó para que o povo judeu pudesse sair do Egito, Jeová teria mandado o seu anjo para matar todos os primogênitos das famílias egípcias. Enquanto os egípcios choravam os seus filhos, os judeus foram embora, depois de um jantar que incluía um cordeiro assado e pão sem fermento.

     Desde aquele dia, os judeus comemoram esse feito no dia 14 do mês de Nisan.

     Os cristãos faziam o mesmo, nos primórdios do Cristianismo, porque os primeiros cristãos eram judeus. E provavelmente Jesus participou muitas vezes da celebração da páscoa judaica. A última vez foi chamada de Santa Ceia, ou Última Ceia, quando Jesus disse que ele era, doravante, o cordeiro de Deus, aquele que tirava os pecados do mundo. E disse que o pão que eles estavam comendo era o seu corpo, o corpo do cordeiro de Deus, e que o vinho que estavam bebendo era o seu sangue, o sangue do cordeiro de Deus. E pediu aos apóstolos que fizessem isso, seguidamente, para lembrá-lo. E foi naquela santa ceia que foi instituída a eucaristia.

     O significado de eucaristia é "reconhecimento", "ação de graças". E uma celebração em memória da morte e ressurreição de Jesus Cristo. Também é denominada "comunhão", "ceia do Senhor", "primeira comunhão", "santa ceia", "refeição noturna do Senhor".

     O evangelista Lucas registrou esse mandamento da seguinte forma: "E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo: Isto é o meu corpo oferecido por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este é o cálice da Nova Aliança [ou Novo Pacto] no meu sangue derramado em favor de vós." (Lucas 22:19-20, e também Mateus 26;26-29, Marcos 14:22-25, I Coríntios 11:23-26).

     Naquela noite ele foi preso, depois de ser entregue pelo traidor Judas Iscariotes ao Sinédrio, que era uma espécie de conselho maior da religião judaica. Os sacerdotes judeus o entregaram ao braço secular romano. Poncio Pilatos, que era o governador da Galiléia, entregou Jesus ao tetrarca da Galiléia, Herodes Antipas, alegando que Jesus era da jurisdição de Herodes, o qual, depois de humilhar Jesus de todas as maneiras, enviou-o de volta a Pilatos. Cabia a Pilatos a decisão. Jesus foi interrogado, açoitado e Pilatos não achou nele culpa alguma.

     Naquele tempo havia o costume judeu de libertar um prisioneiro durante a Páscoa. Pilatos perguntou se queriam libertar Jesus ou Barrabás, que era um perigoso criminoso. Os judeus disseram que queriam que Pilatos crucificasse Jesus e que soltasse Barrabás. Pilatos lavou as mãos, simbolicamente, dizendo que estava isento daquele crime e que a culpa recairia sobre os judeus. Os judeus retrucaram dizendo que assumiam a culpa do crime.

     Jesus foi crucificado na sexta-feira, véspera da Páscoa dos judeus, que era no sábado. Morreu e ressuscitou ao terceiro dia, no domingo, que passou a ser o dia sagrado dos cristãos, porque naquele dia Jesus venceu a morte.

     Durante o I Concílio de Nicéia (325 d.C.), entre outras questões doutrinárias ficou estabelecido que a Páscoa cristã deveria ser celebrada separadamente da Páscoa judaica, porque os significados das duas Páscoas eram diferentes e também porque os judeus é que tinham mandado matar Jesus. Isso foi referendado pelo Concílio de Antioquia (341 d.C.) que proibiu os cristãos de comemorar a Páscoa junto com os judeus. Já o Concílio de Laodicéia (363 d.C.) proibiu os cristãos de observar o Shabbat e de receber prendas de judeus ou mesmo de comer pão ázimo nos festejos judaicos.

     Assim, quando da instituição do Calendário Gregoriano, ficou fixado que a Páscoa aconteceria no primeiro domingo após a lua cheia que ocorre em ou logo após 21 de março. Sendo que 21 de março nem sempre é o dia do equinócio, mas para a Igreja era necessário encontrar um dia fixo, para basear a sua fórmula que estabelece a Páscoa a cada ano. Mas, principalmente, era importante que os dias da Páscoa cristã – a Semana Santa – jamais coincidissem com os dias da Páscoa judaica, porque o significado da Páscoa cristã difere completamente do significado da Páscoa judaica.

     Mesmo que o Cristianismo tenha sido o veículo através do qual o Judaísmo ficou conhecido no Ocidente, devido à união da mensagem das duas religiões em um só livro, a Bíblia, são religiões diferentes com objetivos diferentes e mensagens quase opostas.

     A religião judaica, de acordo com a lenda, foi criada pelo seu deus, Jeová ou Javé, para unir o povo judeu em torno do objetivo material de conquistar a Terra Prometida, que seria, hoje, a Palestina. Mesmo sofrendo todas as perseguições conhecidas através dos tempos, o judeus nunca se afastaram dessa linha religiosa e usaram-na para invadir a terra dos palestinos e confiná-los na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. Com o apoio da ONU, que em 1948 criou o Estado de Israel em uma terra povoada por palestinos.

     Mas o Cristianismo, ao contrário, não é uma religião materialista. Jesus costumava dizer: “O meu reino não é deste mundo”. E pregava aos seus seguidores a humildade, a paz, o amor e a busca da igualdade entre os povos.

     Mesmo com todas as contradições e erros da Igreja através dos tempos, essa mensagem de Jesus atravessou os séculos e perpetua-se como o esteio espiritual do Cristianismo. Além disso, persiste o erro histórico de se considerar o deus dos judeus o mesmo deus que Jesus chamava de Pai – e passará ainda um bom tempo antes que esse erro seja suprimido de vez.

     Nesta Páscoa devemos lembrar que a ressurreição está presente em todos nós. Como seres materiais devemos, naturalmente, morrer, mas mesmo a morte é a contraparte da vida conhecida e devemos encará-la como mais uma etapa a ser percorrida sem o corpo material. Talvez uma etapa de preparação para uma vida superior e mais espiritualizada.

     O ovo da Páscoa - apesar da sua utilização comercial pelo nosso atual mundo mercantilista - simboliza a ressurreição, porque tudo está em tudo e a vida é eterna, em suas diferentes formas ou aparências. Mas o principal símbolo, eternamente vivo, que devemos sempre lembrar, é o deixado por Jesus através do seu sacrifício, para nos lembrar que a vida é muito mais do que a matéria conhecida e que a busca da transcendência deve ser uma constante em todos nós.

     Ele disse: “Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, mesmo que esteja morto, viverá.”

AMANDA KARSBURG



Neste final de semana, durante o feriadão de Páscoa, Amanda estará lutando em busca do inédito título de Campeã Brasileira de Xadrez Feminino sub-20. Foi indicada pela Federação Gaúcha de Xadrez para representar o estado no campeonato aberto de Campinas.


     Ano passado, com apenas 15 anos, Amanda foi vice-campeã gaúcha de Xadrez na sua categoria, habilitando-se para representar Bagé e todos os gaúchos. Agora parte para nova etapa, tentando a vitória no Campeonato Brasileiro Aberto de Campinas.

     Bagé é terra de ótimos enxadristas, mas principalmente de ótimas enxadristas. Ano passado, Mayara Acosta venceu a etapa regional dos Jogos Escolares do Rio Grande do Sul. Mayara e Amanda são duas enxadristas que se decidiram a ir além, a buscar mais, a sair da casca asfixiante dos torneios citadinos e mostrar a todos os seus talentos.

     Treinadas por Carlos Jeismann - sempre dedicado a incentivar o xadrez bajeense - as nossas duas maiores pérolas estão revelando, aos poucos, o seu brilho e pedindo passagem para maiores conquistas.

     Lembro de Amanda e Mayara enfrentando o mestre de Xadrez e hexa-campeão gaúcho Paulo Sérgio de Castro Oliveira, quando ele deu uma simultânea em Bagé para mais de 20 jovens enxadristas, em 2009. Foram as duas últimas a deitar o Rei e Mayara ainda se deu ao luxo de sacrificar a sua Dama pelas duas Torres de Paulo Sérgio, o que levou a um final complicado, fazendo Paulo Sérgio sentar e meditar muito, só vencendo devido ao maior conhecimento e experiência. Naquele dia, Paulo Sérgio me disse, após a simultânea, que aquelas duas gurias tinham muito talento. Nós, que acompanhávamos a evolução das meninas, já sabíamos disso.

     Era só uma questão de impulso para que elas decolassem, e tenho o orgulho de ter ajudado a dar aquele primeiro impulso, quando, no mesmo ano, representando a FGX, promovi a realização da etapa da Copa QI em Bagé, ocasião em que Amanda e Mayara conquistaram os dois primeiros lugares na sua categoria.

     Agora, Amanda está em Campinas, se preparando para o maior desafio de sua carreira enxadrística. Talento não lhe falta e já é uma das 32 melhores enxadristas do Brasil, na categoria sub-20. Mas a sua viagem quase não aconteceu, devido à falta de patrocinadores. A mãe de Amanda declarou ao jornal Folha do Sul que conseguiu algum apoio depois de muita insistência.

     “Temos o ressarcimento das passagens de ônibus e de avião feito pela prefeitura, mas é um processo quase humilhante. A devolução do dinheiro ocorre em 30 dias e justamente por esses fatores fiz o pedido apenas duas vezes” – declarou ao jornal Mara Karsburg, lamentando a falta de patrocínio para um dos maiores talentos esportivos que já surgiu em Bagé.

     Bagé é uma cidade que, muitas vezes, destaca-se pelo reacionarismo. Lembro que a tricampeã mundial de levantamento de peso, a bajeense Jane Morales Costa, também suou muito para poder participar das competições em que foi vencedora. Há muitos empresários em Bagé, que gastam milhões por ano para promover as suas empresas e alguns que adoram a autopromoção. Mas quando se trata de reconhecer o talento, encolhem-se como se estivessem enciumados.

     A Prefeitura, através da sua lenta burocracia e depois da família da Amanda insistir duas vezes, irá ressarcir a família dos gastos com a viagem de Amanda, daqui a 30 dias. Mas, se Amanda sair bem colocada ou vencer o campeonato talvez, então, consiga um patrocinador de verdade.

     O Grande Mestre Steinitz disse, certa vez, uma frase que se eternizou: “O Xadrez não é para almas tímidas”. E, certamente, a alma da Amanda não é tímida. Tenho certeza que ela fará o melhor. Para isso, não lhe faltam raça, vontade, arte e talento. Independente do resultado que obtiver no campeonato já será uma vencedora. Mas, se conseguir classificar-se bem, o próximo passo será o Campeonato Mundial, em Nova Délhi.

     Por enquanto, ficamos todos torcendo.

terça-feira, 19 de abril de 2011

NARCISOIARA


Ah!, eu quero as barbas brancas!,
Exclamativamente brancas.
Eu quero a pureza das praias cristalinas
De secretos corais.

Caretamente,
Na dimensão em que nasci,
Perceber no marulho o chamado
Do refluxo das águas,
Chama líquida de só esfinge
A indagar o meu porque.

Poraquê! - exclamarei, pensando pensar.
Por aqui ... rimarão as alucinógenas Ondinas.

NarcisoIara,
Não poderei negar
Ao orvalho de minhas barbas
- Por minhas barbas! -
O salino suor da imensidão das águas.

sábado, 16 de abril de 2011

A SAGRADA FOME DO ESTADO

                              (Quadro de Salvador Dali) 

    "Sou contra a usina de Belo Monte pelo impacto que vai causar na região, além de não ser a solução para a nossa energia. Tínhamos o Xingu como marco da preservação no Brasil e agora o ‘progresso’ chegou de vez para poluir a região e aumentar o desequilíbrio ambiental, causando mais pobreza e desigualdade!" – Marcos Palmeira.

     "Não se pode usar como álibi o progresso, quando milhares de pessoas estão morrendo por negligenciarem o desmatamento e a mudança do curso de rios" – Letícia Spiller.

     "Fico preocupada com Belo Monte. Será que é uma obra de que o mundo precisa?" – Christiane Torloni.

     "Sou contra Belo Monte, pois sou contra a destruição de qualquer floresta, destruição de qualquer população indígena e sua cultura, contra a ignorância de alguns governantes que afirmam de peito estufado que temos o direito de destruir nosso meio ambiente porque ele é nosso, nos pertence" – Victor Fasano.

     O governo pensou que manipular o povo seria muito fácil, depois da vitória nas eleições. Realmente, é muito fácil manipular as pessoas mais pobres materialmente – que são a imensa maioria no Brasil – porque não tem consciência do que realmente está acontecendo no Brasil, além de estarem sendo bombardeadas diariamente com propaganda a favor do governo e de suas obras. E também é facílimo manipular os pobres de consciência social ou os meramente obedientes à própria mediocridade e ao Estado que os alimenta, que proliferam em todas as classes sociais, mas o mundo inteiro está de olho na mega-monstruosidade que está sendo construída no Pará.

     Bacharel em Física e diretor de cinema, o canadense James Cameron – autor dos dois maiores filmes em bilheteria na história do cinema, Avatar e Titanic – vai filmar um documentário sobre Belo Monte e tornou-se o principal interlocutor internacional dos movimentos de resistência à barragem.

     No ano passado, a atriz Sigourney Weaver foi a Altamira e encontrou-se com os indígenas, que agradeceram a sua participação na luta contra a barragem.

     Até Arnold Schwarzenegger (quem diria!), a convite de James Cameron e do líder kaiapó Raoni, participou do Fórum Mundial de Sustentabilidade, que aconteceu em Manaus – de 24 a 26 de março deste ano. Enquanto isso, a atriz Dira Paes narrou a versão em português do filme "Defendendo os Rios da Amazônia", cuja versão em inglês fora narrada por Sigourney Weaver (Defending the Rivers of the Amazon).

     E a Organização dos Estados Americanos (OEA) – através da sua Comissão Interamericana de Direitos Humanos - pediu ao governo brasileiro para suspender o licenciamento e a construção da barragem de Belo Monte e deu ao Brasil até o dia 15 para responder esse pedido. O dia 15 chegou e o governo brasileiro respondeu retirando a candidatura de Paulo Vannuchi à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, o que significa, na prática, um rompimento com aquele órgão da OEA, que já tinha obrigado o governo brasileiro, em dezembro do ano passado, no prazo de um ano, a investigar e, se for o caso, “punir graves violações de direitos humanos” ocorridas durante a ditadura militar.

     A Lei de Anistia perdoou também os torturadores e assassinos da ditadura militar, ao contrário dos demais países latino-americanos, que também sofreram com ditaduras, mas encarceraram esse tipo de monstro humano. A OEA não perdoou o Brasil. O Estado brasileiro foi considerado culpado pelo desaparecimento forçado de pelo menos 70 pessoas, entre os anos de 1972 e 1974, por não ter realizado uma investigação penal com a finalidade de julgar e punir os responsáveis.

     O governo brasileiro nem ligou. Militares e governo agora estão muito próximos e não querem desfazer essa amizade.

     Com a nova condenação da Comissão de Direitos Humanos a respeito de Belo Monte, o governo ficou muito indignado e bateu o pé. Não querem mais o Paulo Vannuchi participando da CIDH da OEA. Significa apenas que os arquivos secretos da ditadura não serão abertos, conforme deseja o atual Ministro da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.

     Eles vão construir Belo Monte porque é uma questão de Estado e, para eles, o Estado não se relaciona com os cidadãos do país. O Estado se constitui em uma entidade venerada, acima de todos, e as suas razões somente podem ser interpretadas pelos supremos sacerdotes que o servem, comumente chamados de Presidente da República, ministros de Estado, submissos congressistas e aliados muito amigos do STF.

     Somente esses seres escolhidos sabem o que o Estado quer; quais são as suas razões, os seus motivos, as suas intenções secretas, os seus desígnios divinos. Entre esses desígnios secretos e reverentes está a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte. Contra tudo e contra todos. Literalmente.

     O Estado - e os seus sagrados intérpretes - sabe que a construção de Belo Monte será um grande mal que provocará outros grandes males. Mas quem disse que o Estado é um deus bom?

     Lendas e mitologias antigas falam de deuses que exigiam sacrifícios sangrentos, muitas vezes sacrifícios humanos. O deus Estado e o seu irmão gêmeo, o deus Mercado, provavelmente também sejam deuses que exijam sacrifícios humanos.

     Na ausência de guerras, incitam os seus devotados sacerdotes do governo a construir artefatos similares aos bélicos, que provoquem destruição e morte. São deuses modernos, deuses tecnológicos, servidos por sacerdotes obedientes e igualmente modernos, mas, infelizmente - talvez como resultado da devoção constante aos seus deuses - vítimas de uma doença moderna apelidada de “crescimento acelerado”, cujo sintoma principal consiste em uma extrema voracidade por bens materiais.

     E um desses artefatos bárbaros é a usina de Belo Monte. Aparentemente não molestará ninguém. Consistirá em represar as águas do Xingu e colocar turbinas que moverão geradores de eletricidade. Só isso: gera-se e acumula-se energia que, depois, é distribuída. As razões aparentes do deus Estado para essa construção, verbalizadas pelos seus sacerdotes do governo, é a necessidade de energia.

     Mas sabe-se que é bem mais que isso. Para que a usina seja construída e pareça uma coisa inerme e pacífica, uma espécie de monstro numa lagoa, será necessário desalojar pessoas e fazê-las sofrer; um pequeno tsunami será criado, devastando fauna e flora, e fauna e flora sofrerão com a devastação. Mais ainda. As conseqüências ecológicas em toda a Amazônia são imprevisíveis e, com certeza, incrivelmente nefastas.

     O Estado se nega a aceitar sacrifícios realmente pacíficos. Como na mitologia hebraica da criação do mundo intitulada Gênesis, quando narra que o deus dos judeus preferiu o sacrifício de um cordeiro oferecido por Abel e repeliu a oferta de cereais e frutas de Caim – o que teria provocado o primeiro homicídio. O Estado não quer energia limpa, que poderia ser gerada pela própria natureza, como a energia dos ventos (eólica) ou a energia solar. O Estado prefere a brutalidade do sacrifício de sangue, a violência contra a natureza.

     O que para nós parece horrível, coisa de doidos, para o deus Estado será imensamente prazeroso. Junto com o deus Mercado, ganhará muito com a destruição provocada e verá os seus sacerdotes fiéis satisfeitos e agradecidos, porque poderão mitigar os sintomas da sua doença e o crescimento acelerado que os aflige será saciado por um breve momento. Depois, tudo recomeçará e o deus Estado, em conluio com o deus Mercado, escolherá nova vítima.

     E o povo, a fauna e a flora do país continuarão sendo oferecidos em sacrifício aos deuses do governo, enquanto durar esse tipo de moderna ditadura. Por razões de Estado. E de Mercado.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

O NOSSO IMPERIALISMO


Não é só a Dilma, não é apenas uma birra de menina mal-educada - principalmente mal-educada ecologicamente. Tampouco é somente um maquiavélico plano do ex-governo Lula, que é chamado de PAC, no qual está incluído a construção de hidrelétricas e, principalmente, de Belo Monte, no Pará, que será causa de destruição e morte da natureza naquela região.

     Não é só o PT e seus aliados loucos por cargos e por dinheiro; empresários e empreiteiros, multinacionais e tudo aquilo que se sabe.

     É todo um projeto para fazer do Brasil uma cópia dos Estados Unidos.

     Os Estados Unidos são um país que destruiu quase todas as suas florestas e matou quase a totalidade dos povos nativos. Em nome do desenvolvimento. Um país predador.

     Para conseguir fazer isso, as elites estadunidenses contaram com apoio dos grandes sindicatos, que amordaçaram os trabalhadores em suas lutas sociais e, principalmente, com uma política claramente fascista, que liquidou com qualquer tentativa de democracia naquele país – principalmente a partir dos anos ’40, durante o Macartismo.

O MACARTISMO

     Joseph McCarthy foi um capitão do exército, juiz e, posteriormente, em 1946, senador do Partido Republicano dos Estados Unidos. Apoiado pela ala mais fascista do seu partido e pelos serviços secretos dos Estados Unidos, como FBI e CIA, reprimiu os movimentos sociais, perseguindo e liquidando com toda a esquerda norte-americana.

     No seu primeiro dia de trabalho como senador propôs que, para acabar com uma greve de mineiros, estes fossem mobilizados para o exército. Se continuassem a recusar trabalhar deveriam ir a tribunal marcial.

     Durante todo o período que vai de 1946 a 1956, todos aqueles que fossem meramente suspeitos de simpatia com o comunismo, tornaram-se objeto de investigações e invasão de privacidade. Pessoas da mídia, do cinema, do governo e do exército foram acusadas de espionagem a soldo da URSS. Muitas pessoas tiveram suas vidas destruídas pelos macartistas, inclusive algumas sendo levadas ao suicídio.

     Foi uma época em que o medo do comunismo e da sua influência em instituições americanas tornou-se exacerbado, juntamente ao medo de ações de espionagem promovidas pela OTAN. Originalmente, o termo foi cunhado para criticar as ações do senador americano Joseph McCarthy, tendo depois sido usado para fazer referências a vários tipos de condutas, não necessariamente ligadas às elaboradas por McCarthy.

     O Macartismo realizou o que alguns denominaram "caça às bruxas" na área cultural, atingindo atores, diretores e roteiristas que, durante a guerra, manifestaram-se a favor da aliança com a União Soviética e, depois, a favor de medidas para garantir a paz e evitar nova guerra. O caso mais famoso nesta área foi Charles Chaplin.

     O posicionamento político de Chaplin sempre foi esquerdista. Durante a era de macartismo, Chaplin foi acusado de "atividades anti-americanas" como um suposto comunista, e J. Edgar Hoover, que instruíra o FBI a manter extensos arquivos secretos sobre ele, tentou acabar com sua residência nos EUA. A pressão do FBI sobre Chaplin cresceu após sua campanha para uma segunda frente europeia na Segunda Guerra Mundial em 1942, e alcançou um nível crítico no final da década de 1940, quando ele lançou o filme de humor negro Monsieur Verdoux (1947), considerado uma crítica ao capitalismo. O filme foi mal recebido e boicotado em várias cidades dos EUA, obtendo, no entanto, um êxito maior na Europa, especialmente na França. Naquela época, o Congresso ameaçou chamá-lo para um interrogatório público. Isso nunca foi feito, provavelmente devido à possibilidade de Chaplin satirizar os investigadores. Por seu posicionamento político, Chaplin foi incluído na Lista Negra de Hollywood.

     Em 1952, Chaplin deixou os EUA para o que orginalmente pretendia ser uma breve viagem ao Reino Unido para a estréia do filme Luzes da Ribalta em Londres. Hoover soube da viagem e negociou com o Serviço de Imigração para revogar o visto de Chaplin, exilando-o do país. Chaplin decidiu não voltar a entrar nos Estados Unidos, escrevendo:

     "(...) Desde o fim da última guerra mundial, eu tenho sido alvo de mentiras e propagandas por poderosos grupos reacionários que, por sua influência e com a ajuda da imprensa marrom, criaram um ambiente doentio no qual indivíduos de mente liberal possam ser apontados e perseguidos. Nestas condições, acho que é praticamente impossível continuar meu trabalho do ramo do cinema e, portanto, me desfiz de minha residência nos Estados Unidos". Chaplin decidiu então permanecer na Europa, escolhendo morar em Vevey, Suíça.

     Joseph McCarthy foi a pessoa utilizada pelo sistema fascista norte-americano para estar à frente de toda a repressão política e social, transformando os Estados Unidos em um país de pessoas amedrontadas pelo Estado.

     O resultado de toda essa perseguição política foi a formação de dois blocos partidários que se revezam no poder, mas que tem o mesmo objetivo: um Estado fascista que se impóe aos seus cidadãos - alicerçado por uma imprensa corrompida - e que, graças ao seu poderoso aparato bélico, tenta fazer com que o mundo inteiro siga a sua ideologia da farsa, da mentira e da degradação.

     Na América Latina foram inúmeros os golpes de estado que os Estados Unidos patrocinaram e continuam patrocinando (o último foi em Honduras, em 2009 – mas estão rondando Cuba, El Salvador, Venezuela, Bolívia, Nicarágua, Equador e já se adonaram do Haiti e da Colômbia) para impor as suas ideias e o que eles chamam de democracia, que nada mais é que o revezamento no poder, através de eleições, de duas correntes partidárias que estão unidas pelo mesmo objetivo político.

     Existem muitos outros partidos nos Estados Unidos, mas isso faz parte do jogo político – alimentar nas pessoas a ideia de que participar de um partido institucionalizado é uma maneira de participar do poder. Na verdade, o poder é repartido apenas por aqueles partidos conhecidos: O Partido Republicano e o Partido Democrata.

     Os demais partidos são apenas as “bases aliadas” dos dois partidos que se revezam no poder. Ou existem apenas para satisfazer veleidades de pequenos grupos. Os nomes de alguns partidos norte-americanos chegam a ser ridículos, como o Partido Oligárquico Americano, Partido Plutocrático Inglês ou o Partido Reacionário-Conservador Liberal-Democrata Americano. Existe até um Partido Comunista, mas completamente domado e emudecido.

O MACARTISMO BRASILEIRO

     O macartismo brasileiro esteve representado pelo golpe de 1964, quando militares treinados em bases norte-americanas tomaram o poder aos civis e instituíram uma ditadura terrorista contra os cidadãos. O objetivo era claro e declarado: acabar com todos os esquerdistas do país.

     Conseguiram em parte. E, depois que consideraram que o “perigo vermelho” não representava mais nenhum perigo no Brasil, fizeram uma aliança com as elites civis e permitiram as eleições livres, sempre cuidando para que os partidos mais à esquerda fossem, aos poucos, empurrados contra a parede e relegados a um último plano.

     Quando um partido de esquerda, reunindo várias tendências, surgiu com força no cenário político, foi cooptado e comprado aos poucos.

     Assim, conseguiram copiar os Estados Unidos, com dois partidos fortes revezando-se no poder, fingindo de democracia, e diversos outros partidos apenas participando como aliados desse mesmo poder e dessa mesma farsa. E a esquerda colocada atrás dos muros, como os palestinos da Faixa de Gaza.

     Além disso, esse poder conta com o apoio explícito da grande imprensa brasileira, que atua como filial dos grandes veículos de comunicação norte-americanos, que reproduzem as ideias e a ideologia fascista norte-americana, influenciando geração após geração.

     E o que entendemos como governo brasileiro, na verdade é um governo compartilhado, não só pelos aliados do governo mas também por aqueles que fazem o papel de oposicionistas.

     Ao PT e seus aliados e ao PSDB e seus aliados foi dada pelos Estados Unidos a chance de transformar o Estado brasileiro em uma cópia da sua maneira de fazer política.

     Há um plano de governo no Brasil, que não se limita ao período da duração de um mandato presidencial e que inclui os dois grandes blocos partidários. Um plano que surgiu junto com a abertura política dos anos ’80 e vem sendo arquitetado com todo o cuidado pelas elites norte-americanas, em aliança com as elites brasileiras, para transformar o Brasil no grande aliado no sul das Américas.

     Para isso, surge a necessidade de Forças Armadas fortes, de uma polícia bem estruturada, de uma mídia que seja a lei dentro da mente das pessoas, de mesadas para os mais miseráveis e de manobras diversionistas que pareçam ao povo uma verdadeira razão de viver – como futebol em abundância, carnaval, shows, feriados prolongados, novelas e toda a propaganda intensiva do modo de viver norte-americano, ou o “american way of life”.

     Enquanto isso, as coisas mais importantes vão acontecendo sem maior resistência, como o domínio das multinacionais dos transgênicos e das multinacionais da indústria farmacêutica, a plantação extensiva de cana de açúcar, para extrair o biodiesel que é exportado, o aumento dos latifúndios, a destruição da Mata Atlântica, a degradação da Região Amazônica.

     E a desertificação do solo, a entrega da Amazônia brasileira ao estrangeiro e a construção de grandes barragens hidrelétricas (reconhecidamente, pelos cientistas, como fatores de energia suja) – contra toda a lógica e em desfavor dos ecossistemas onde são construídas – para favorecer empresários, politicos, empreiteiras, multinacionais.

     E a extração do petróleo, explorado pela Petrobrás, que já não é toda brasileira. A extração dos minérios, através da Vale, que já não é brasileira. E, através de outros meios não institucionalizados, o roubo dos nossos minérios.

     Nesse plano estão juntos quase todos os membros do Congresso Nacional, independente de partidos políticos. Não somente a Dilma e o PT. Todos são compráveis, conforme mostram os mensalinhos e os mensalões.

     Em troca da entrega de nossas riquezas, a promessa da conquista da América do Sul. Primeiro, através de negócios com os países mais pobres, como Bolívia, Equador, Uruguai, Venezuela, Colômbia, Paraguai..., tornando-os dependentes da nossa economia gradativamente. Depois, o domínio do Mercosul apenas pelos países mais ricos, como Brasil e Argentina – esperando-se que a Argentina venha a tornar-se uma forte aliada. E o esvaziamento da ALBA (Aliança Bolivariana da Américas), através do seu isolamento e, se necessário, com o fechamento das fronteiras do norte, sob a desculpa de se evitar o tráfico de entorpecentes.

     Essa a razão de Forças Armadas tão bem armadas e da submissão do governo a elas. Na verdade, não é uma verdadeira submissão, mas uma aliança entre militares e civis do governo.

     O Brasil está chegando ao ponto que os Estados Unidos sempre desejaram. Tornando-se um país predador e autofágico; extinguindo, aos poucos, as populações indígenas indesejáveis, formando uma população cega, corrupta e subserviente às benesses do poder, revelando-se como um país imperialista dentro da América do Sul.

     Não é somente a Dilma.
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