segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

SINOS





Sinos de Natal
Denunciando o frio, hipócrita
Mundo desigual.

Sinos da riqueza
Badalando em catedrais
Com suave aspereza.

Sinos da incerteza
Clamando na solidão,
Miséria e tristeza.

Breve sino é a vida,
Avisando a urgência da luta
Sempre renascida.

SEU CHICO E O JOAQUIM



Seu Chico estava lendo jornais e revistas quando eu cheguei. Ofereceu um mate, apontou para os jornais e disse que o nosso jornalismo marrom está em fase de evolução.

     - Veja o senhor que agora não é somente marrom. Tem o verde-oliva, o rosinha esmaecido e o branco.

     - O branco?

     - O branco é o nosso, aqui dos pagos. Nada diz e se disser muito menos dirá. Sobrevive de releases e de matérias protelatórias – só pra usar a palavra da moda.

     - Mas tem gente boa aqui, seu Chico.

     - Claro que tem, eu não estou é lembrando os nomes, no momento. Deve ser a idade... Sabe como é, a memória fica um pouco enfraquecida.

     - O que são matérias protelatórias?

   - Protelatórias ou insinuativas. Aquelas que insinuam uma notícia, sem completá-la. O senhor deve saber que o jornalista deveria ser um profissional que informa. Pois as matérias protelatórias insinuam que talvez algo em algum lugar tenha acontecido. Isso acontece muito em rádio. Por exemplo, se alguém está sendo investigado ou foi preso e pertence a alguma daquelas profissões de intocáveis eles não informam quem foi e com isso colocam sob suspeita todos os profissionais da área.

     - Quem sabe o curso de jornalismo agora tem uma nova matéria que ensina a insinuar e não a informar, seu Chico?

     - Pois andei pensando nessa possibilidade e não a descarto, desde que descobri que tem jornalista que vive de boato e de achismo. Vão pra rua, que já está virando universidade, e perguntam pros amigos passantes o que acham disso ou daquilo. E depois fazem um belo programa de achismos. Às vezes, os ouvintes telefonam dando as suas opiniões e até informando os jornalistas.

     - Talvez seja um novo tipo de programa, seu Chico, onde os jornalistas são os ouvintes e vice-versa.

     - E tem aquelas rádios que vivem de informação em cadeia.

     - O que é isso, seu Chico? Alguma coisa relacionada com o Zé Dirceu?

     - Até pode ser. Elas só informam em cadeia com outras rádios. Preguiça de fazer jornalismo em plena era da Internet. Ou só contratam gente pra programa musical. O senhor sabe quanto ganha um jornalista formado, aqui?

     - Depende. Com exceção dos amigos de deputados, deve ser muito pouco.

     - Nada é impossível nesta terra. Já ouvi dizer que o prefeito vai tirar férias e passar o governo municipal para o povo...

     - Mas isto seria inédito e maravilhoso!

     - Brincadeirinha! Isto é achismo. Acha que ele iria largar o bem bom? Até nas férias fica analisando as futuras licitações, as fichas dos secretários...

     - O senhor quase me pegou.

     - Pois é nesses ‘quase’ que anda o nosso jornalismo. O jornalismo investigativo acabou. Penso que, de tanto investigarem, os nossos jornalistas investigativos sumiram junto com as informações.

     - Mas tem os colunistas sociais, as colunas culturais...

     - Pois esses são os salvadores da pátria! Investigam tudo! Mas, além deles...

     - Protelações?

     - Ao meu modo de ver. Por falar nisso, os mensaleiros condenados continuam soltos. O Joaquim Barbosa resolveu aceitar todos os recursos protelatórios dos advogados de defesa, que irão protelando, protelando, até o momento em que o STF decidir que os mensaleiros devem ficar presos somente entre as grades das fronteiras do Brasil.

     - Grades muito firmes, não é seu Chico?

     - Mas bah! Só passa contrabando combinado com antecipação. Isso me lembrou de um antigo amigo, também chamado Joaquim. Era alto, forte, voz grossa e costumava dizer que com ele ninguém podia.

     - Daqueles...

     - Pois é, daqueles. E sendo daqueles, um dia surgiu um desentendimento feio com outro sujeito que não era nem alto, nem forte, nem falava grosso e nem tinha razão e disse pro Joaquim que iria esperá-lo na esquina para “conversarem”.

     - Pobre do cara!...

     - Ficou famoso. O Joaquim não foi. Protelou. Disse que seria muito prevalecimento bater num qüera magrinho, ainda mais em época de Natal.

     - Era época de Natal?

     - Por coincidência.

     - E aí, seu Chico?

     - Até hoje. Passou um Natal, passou outro...

     - Na verdade, o seu amigo Joaquim deixou o cavalo passar encilhado.

     - É verdade... Mas não é mais meu amigo. Ficou sendo só conhecido.

     - E o nosso dinheiro, seu Chico? Fiquei sabendo que os mensaleiros não vão devolver nada.

     - Nem um centavo! Na hora de decidirem o principal do processo do Mensalão, que seria a devolução do dinheiro roubado, os juizes do STF engasgaram.

     - Engasgaram?

     - Foi um engasgamento e uma tossideira geral. Um dizia que não sabia como fazer, outro que muito menos, já um terceiro ficava perguntando aos céus se seria o caso de fazer um rateio entre os ladrões condenados e quando aquela palavra soou todos calaram.

     - Que palavra, seu Chico?

     - Rateio. Lembra aqueles bichinhos ladrões. Diz-que naquela hora todos ficaram se olhando sem jeito e em seguida preferiram encerrar a pauta. Agora virou jurisprudência: ladrão rico e importante pode ser condenado, mas não devolve o dinheiro nem é preso.

     - Quem sabe foi o tal de Espírito de Natal, seu Chico?

     - Pois este é um Espírito muito amigo da ladroagem, pelo visto. A não ser que os ministros do Supremo devolvam o dinheiro roubado dos bolsos deles e eu penso que o Espírito de Natal não chega a esse ponto.

     - E a imprensa não deu nenhum destaque para isso, que eu saiba.

    - É uma imprensa muito natalina. Mas o diacho é que eu fico procurando alguma notícia nestes jornais com letra miudinha e me informam que o comércio está vendendo muito. O contrário é que seria uma grande notícia. Também dizem que a cidade está muito bonita, com enfeites e coisa e tal. Fui ver. Parece carnaval, e deve ser esta a razão – vão deixar os enfeites até o Carnaval, que é um grande negócio para alguns. E não é a cidade, é só no centro. Tem até anjinho na praça que já foi de desportes e hoje é a praça da moto e daquela coisa côncava onde a gurizada fuma a sua maconha.

     - Este é um governo democrático, seu Chico. Construíram até o Maconhódromo. Primeiro arrancaram quase todas as árvores da praça e as que sobraram foram cercadas com pedras como quem diz “Não saiam daqui, não espalhem as suas raízes!”.

     - Pois não é? Tudo pela felicidade geral dos autômatos.

     - Por falar em auto, seu Chico, ouvi um radialista dizer que tem pedestre que não respeita os carros, provocando acidentes.

     - Deve ser daqueles pedestres que correm tanto que não tem tempo pra frear na frente dos pobres dos carros estressados. É um perigo isso de pedestre bater em carro. Depois tem que pagar o conserto da lataria. É tanto carro e moto que qualquer dia também tiram as calçadas.

     - Como diria uma amiga minha: “Quem te viu, quem te vê!”. Mas eu já viajei bastante e sei que esses fenômenos urbanos acontecem só por aqui. Santa Maria tem a Bozano, que é uma rua 24 horas. Para o pedestre, o cidadão. São Leopoldo fecha parte da Rua Grande nos fins de semana. E por aí vai. É uma questão cultural. Ou de ausência de cultura... O senhor se lembra que o prefeito falou muito em pavimentação durante a campanha eleitoral? E não lembro que ele tenha falado em ciclovias, aumento das calçadas, ruas 24 horas, respeito ao pedestre, calçadões... E muito menos em ecologia. E isso me recorda de um grande amigo, o Domingos, que era Secretário de Ecologia e quando fez o Calendário Ecológico foi corrido da Secretaria pelo ex-prefeito.

     - O que me leva a pensar, comparando as figuras, que o nosso atual prefeito não é um mau sujeito, mas me era mais simpático quanto tinha a sua Brasília amarela, parava pra conversar...

     - O poder transforma, seu Chico. Naquela época ele não era nem vereador.

     - E também transtorna, pelo visto. Mas nada está perdido, as coisas mudam... Veja que até o Calendário Maia, que terminou, estava certo.

     - Como certo, seu Chico, se nós estamos aqui conversando e o mundo não acabou?

     - Acaba. A continuar assim, acaba. Lhe digo que o Calendário Maia estava certo e foi mal interpretado. Referia-se ao pito que o Marco Maia deu no Joaquim Barbosa e no dia seguinte o famoso ministro do Supremo que já foi até lembrado para Presidente da República preferiu não mandar prender os mensaleiros. Protelou.

     - Como aquele seu amigo, o outro Joaquim.

     - Ex-amigo. Hoje é só um conhecido.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

MEDO E PIZZA



Medo. O soldado deve ter medo quando em combate; caso contrário, poderá ser ferido. Não o medo covarde, que é o medo dos covardes, mas um medo sadio, de autopreservação. Os destemerosos, aqueles que levantam com a bandeira na mão, serão feridos. Quase sempre. Deve-se ter medo de ser ferido – dizem os instrutores militares. Um soldado a menos dá trabalho.

     Errático, incerto e descabido é o medo de fantasmas, vampiros, lobisomens, mulas-sem-cabeça, lulas ou maias. Maias no final do seu calendário estão prestes a sair de férias e tem por hábito o grito destemperado, ou com algum tempero que possa assustar os que não viajarão imediatamente.

     Deve ser dolorido e demencial perder as férias por causa do aguerrido e ameaçador grito maia. É um grito que assusta, intimida, provoca solidão e dúvidas. Acabará o mundo?

     Orgulhem-se os que não sentem medo. Terão vivido. Cícero fugiu de César e acabou sendo capturado e morto. O valoroso Heitor perdeu o valor na hora de enfrentar Aquiles e saiu correndo. Quando parou, tentou regatear a própria morte. E foi morto.

     Estamos vivendo um estado de medo. Pessoas se escondem com medo do fim do mundo. Alguns pensam no suicídio por medo da morte. Outros tentam acordos com arcanjos e Ets através de pias e duvidosas canalizações. Mantras são entoados às cortes angélicas para que afastem Nibiru, Hercólubus, o Planeta X que tudo devastará...

     Passaporte. Cuide do seu passaporte com carinho. Caso você seja um corrupto conhecido que roubou milhões do Estado e nada devolverá, porque os ministros do Supremo que o condenaram não tem o conhecimento necessário, não sabem como fazer para que você e seus amigos corruptos conhecidos condenados simbólicos devolvam o dinheiro roubado, esmere-se em cuidar do passaporte. Ele será a chave da liberdade para novas corrupções. Bastará entregá-lo e o Brasil será a sua imensa cadeia. Na dúvida, atravesse as nossas desmatadas e abertas fronteiras e compre um passaporte falso, caso deseje ir além, enquanto o  mundo não acaba. Grandes são as chances de sucesso e prestígio para os corruptos profissionais.

    Indignados cidadãos honestos que são escorchados a vida inteira pela impostura do Estado, pelos maiores impostos do mundo, chamarão você de ladrão. Não ligue, você já está acostumado a esta palavra amiga que regala os seus sonhos. Retruque dizendo que rouba, mas faz. Faz mais roubos, mas alguns não desconfiarão - aqueles que você paga para que o protejam e gritem que você é um grande herói.

     Zeros à direita. Muitos zeros à direita nos cheques que você troca para corromper e ser corrompido. Todos sabem disso, mas você é intocável: já entregou o seu passaporte.

     Zeros à esquerda, é como você considera aqueles que revelam os seus roubos. Nunca poderão ser mais que zeros à esquerda. Não tem a sua inquestionável esperteza e malandragem; não sabem e nunca saberão roubar; não entendem que política, gestão pública e esta nossa democracia que você tanto defende se relacionam estreitamente com muitos, muitos zeros à direita.

     Assustado? Você, com tantos amigos ilustres? Jamais! Finja-se de indignado. Ainda existem pessoas que acreditam em dignidade. Principalmente o povo humilde e submisso aos seus discursos enfáticos. É dele que depende o seu sucesso. Ele, inconscientemente, bobamente, o elevou à sublime e indevassável impunidade.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O FIM DO MUNDO



Alguns afirmam que acontecerá somente no Brasil, caso o ministro Joaquim Barbosa acolha o pedido do Procurador Geral da República e mande prender (finalmente!) os condenados no processo do Mensalão. Seria o fim do mundo. CUT e seus cutistas amestrados, Dilma e seus ministros submissos, o santificado Lula e seus adoradores, todos sairiam às ruas protestando contra a injustiça da Justiça. A torcida do Corinthians participaria ajudando a invadir o campo, Lula seria sacralizado como ditador perpétuo, José Dirceu seria o primeiro-ministro e Dilma faria as vezes de dona da casa do Planalto. O povo seria convocado para ulular de todas as maneiras. Grandes manifestações em todo o país. O fim do mundo! Aqui. Mais precisamente, no Rio e São Paulo. Talvez com o apoio de alguns estados nordestinos. Ivete sangalo faria um show em cima de um trio elétrico, Sarney reclamaria do barulho, Marco Maia vestiria uma camisa listrada e sairia com um canivete na cinta para inquirir enfaticamente Joaquim Barbosa sobre o seu excessivo e desmesurado ato e seria apoiado por Lewandovski com argumentos hermenêuticos. O fim do mundo e o início do carnaval. Rose, a musa petista, seria levada em carro alegórico. Políticos e assemelhados do Brasil inteiro pensariam na melhor maneira de lucrar com o nosso fim do mundo.

     Outros dizem que não. O fim do mundo é do mundo e não somente brasileiro. Os maias anunciaram que seria assim há muito tempo atrás: exatos 5.126 anos. No dia 21 de dezembro, caput! Fim dos tempos. Judeus ortodoxos, que estão no ano 5.773 neste 2012 ficaram muito contrariados. Está tudo planejado para os judeus dominarem o mundo exatamente no ano 2240; e se acabar o mundo agora, como é que fica? Na dúvida, quem sabe um ataque ao Irã?

     Se o fim do mundo está marcado, o planejado e anunciado ataque ao Irã nada faria senão corroborar essa antiga profecia. Depois, quando tudo recomeçasse, o Oriente Médio já estaria dominado... Quem sabe?

     É cíclico, dizem. Acaba o mundo no dia 21, mas já no dia seguinte tudo recomeça. Salvam-se os mais puros, ou os que tiverem mais dinheiro para estocar água, alimentos e esconder-se em... cavernas? Lugares protegidos para os selecionados.

     Antiga profecia bíblica diz que 144.000 serão os escolhidos. É pouco para um mundo tão grande, mas sabe-se lá como ficará o mundo depois do fim... Poderá ser tomado pelas águas... Terremotos, tsunamis...

     O fato é que esta civilização está fazendo de tudo para que o mundo acabe. A ganância do  Capitalismo é a maior de todas as pragas e está destruindo terras e mares. Só no Brasil a devastação é imensa, e a Dilma lá, brincando de Presidente. É o Governo da ecologia zero. E o povo aplaude, junto com políticos e empresários. Inconsciência generalizada. A grande pergunta é quando será o próximo jogo e quem vencerá.

     Deste jeito, o mundo acaba. Acaba mesmo. Poderá não ser amanhã ou depois, mas acaba. Tenho pena dos pássaros, que nos dão tanta alegria, dos bichinhos que Deus criou para nos darem o exemplo da pureza e que são tão maltratados por nós, que nos consideramos “superiores”.

     Para eles não existirá nenhum arcanjo Metraton, ou que nome tenha, para resgatá-los após a impiedade final.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O CONGRESSO NACIONAL DE JOELHOS


Risível a observação dos advogados do Senado ao divulgarem um texto que ataca o Judiciário. Entre outras coisas, afirmam que a determinação do ministro Luiz Fux de autorizar a votação do veto dos royalties apenas após a deliberação dos mais de três mil vetos pendentes de votação "usurpa prerrogativa do Poder Legislativo e o deixa de joelhos frente a outro poder”.

Observem que a causa é justa. Vetar os vetos de Dilma que dá todos o poder monetário ao Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo, porque em “suas” águas é extraído petróleo por empresas multinacionais que pagam royalties pela exploração é continuar com a mesma política colonialista de muito antes da Primeira República.

Então, se o Congresso ainda tem algum poder deve vetar os vetos da Presidente. Derrubar os vetos do Executivo sobre a Lei dos Royalties é uma questão de honra, ou a ditadura de Rio, São Paulo & Amigos continuará indefinidamente.

Uma ditadura que tem como base a força do dinheiro e que exporta para os demais estados desta combalida Federação uma cultura que só tem raízes naqueles lugares e que passa por “cultura brasileira”. Cultura para estadunidense ver.

Derrubar os vetos da Dilma – carioca de coração – poderá ser o primeiro passo para que o Brasil, um dia, venha a ser dos brasileiros, e não dos paulistas e cariocas.

A outra razão do ajoelhado Congresso reagir com, como direi... alguma hombridade? é a tentativa de afrontar o Judiciário. Os nossos “representantes” federais ficaram possessos porque os ministros do STF votaram por apertados cinco a quatro pela cassação do mandato dos deputados condenados no Mensalão. Cinco a quatro. Os tediosos Lewandovski e Tóffoli foram apoiados em seus votos pelas ministras eleitas por Lula e Dilma – as mesmas que ficaram com pena do José Dirceu e votaram pela sua absolvição.

O Congresso indignou-se. Mas como?! Cassaram os nossos companheiros tão companheiros! Cabia a nós votar pela absolvição desses amigos do peito. Como ousaram?...

O ministro Celso de Mello deu a resposta, durante o seu voto:

“A perda do mandato parlamentar resultará da suspensão dos direitos políticos, causada diretamente pela condenação criminal do congressista transitada em julgado, cabendo à Casa legislativa a qual pertence o condenado meramente declarar esse fato extintivo do mandato legislativo”.

E ainda:

“Não teria sentido que alguém privado da cidadania pudesse exercer mandato parlamentar.”

Foi Celso de Mello, em um de seus votos anteriores, quem resumiu mais claramente o Mensalão:

 “Este processo criminal revela a face sombria daqueles que, no controle do aparelho de Estado, transformaram a cultura da transgressão em prática ordinária e desonesta de poder, como se o exercício das instituições da República pudesse ser degradado a uma função de mera satisfação instrumental de interesses governamentais e de desígnios pessoais. Esse quadro de anomalia revela as gravíssimas consequências que derivam dessa aliança profana, desse gesto infiel e indigno de agentes corruptores, públicos e privados, e de parlamentares corruptos, em comportamentos criminosos, devidamente comprovados, que só fazem desqualificar e desautorizar, perante as leis criminais do País, a atuação desses marginais do poder”.

E o Congresso também está furioso porque o ministro Luiz Fux mandou os parlamentares trabalharem. Somente poderiam votar os vetos da Dilma que favorecem Rio de Janeiro e amigos consorciados depois que votassem mais de três mil vetos que estão parados, empilhados desde a nefasta época do Lula, alguns com mais de dez anos de espera.

Ora, todos sabem que trabalhar não faz parte da agenda dos nossos deputados e senadores. Preferem ganhar conversando e tentando discursos estéreis.

Sempre de joelhos.

Os advogados do Senado escreveram que votar os três mil vetos pendentes antes dos vetos da Dlma sobre os royalties "usurpa prerrogativa do Poder Legislativo e o deixa de joelhos frente a outro poder”.

Risível, não é?

Logo o Legislativo que passa o tempo todo de joelhos frente a outro Poder: o Executivo. Vendem-se facilmente em troca de ministérios, secretarias, cargos de confiança e o que mais surgir, a tal ponto que já devemos ter mais de trinta dílmicos ministérios. Para premiar os amigos do Legislativo.

Chamam a isto de “base aliada”. Partidos que se vendem em troca de cargos para que o Executivo faça o que bem entender.

O Legislativo está de joelhos há muito tempo.

domingo, 16 de dezembro de 2012

PASSANDO A LIMPO...






Marcos Valério foi condenado a 40 anos de prisão por corrupção dentro do governo Lula e disse que Lula foi o mandante, o verdadeiro chefe do Mensalão. Lula diz que Marcos Valério não tem credibilidade porque foi condenado por corrupção dentro do seu governo. Lula admite a corrupção e o Mensalão ao desqualificar Marcos Valério, mas afirma que não sabia de nada.

     Passeando pelo mundo com o nosso dinheiro, Dilma atribui a Lula "nova etapa do combate à corrupção no Brasil", segundo a BBC. Assustadora declaração. Um simples cidadão, como o Lula, vai combater a corrupção no momento em que é acusado de corrupto.

     Em entrevista ao "Le Monde" Dilma tenta defender o seu padrinho, afirmando que foi Lula quem iniciou a atual etapa de luta contra as práticas corruptas na política. Percebe-se.

     Esclarecedora frase de Dilma em entrevista ao "Le Monde": “Não são as pessoas que devem ser virtuosas, mas as instituições". Ficamos sabendo pela nossa sábia Presidente que as instituições funcionam sem a participação das pessoas. Dilma está ficando tão filósofa quanto a Marilena Chauí que, ao defender a aliança entre o PT e o malufismo justificou que um dos 10 mais procurados pela Interpol é um engenheiro digno.

     O chefe oficial do Mensalão, José Dirceu, condenado a 10 anos e 9 meses de cadeia pelo STF, faz mini-passeata em Porto Alegre, acusando os que o condenaram. Pessoas gritavam que ele é um herói... Corrupção se transformou em ato de heroísmo? Para os seguidores de Dirceu, com certeza.

     Faltando um voto para o STF decidir se os deputados condenados no Mensalão - João Paulo Cunha (PT-SP), Valdemar Costa Neto (PR-SP) e Pedro Henry (PP-MT) - perderão ou não os seus mandatos, o ministro Celso de Mello, que daria o voto de Minerva, adoeceu. Infecção  nas vias aéreas. No dia 1º de julho dois Mirage da Aeronáutica fizeram um vôo rasante na Esplanada dos Ministérios, quebrando praticamente todos os vidros do Supremo. Vias aéreas continua sendo um grande problema para o STF.

     O placar está quatro a quatro. Além dos óbvios votos de Dias Tóffoli e Lewandovski para que o Legislativo aliado decida que os aliados deputados condenados continuem com os seus mandatos, os outros dois votos pela não cassação foram das ministras Rosa Weber e Carmen Lúcia. Rosa Weber foi indicada por Dilma para o STF; Carmen Lúcia foi indicada por Lula. As duas ministras, junto com Lewandovski e Tóffoli, também votaram a favor da absolvição de José Dirceu.

     Os quatro votos pela absolvição de José Dirceu (Lewandovski, Toffoli, Rosa Weber e Carmen Lúcia), que foi condenado por 6 a 4, dão direito a que os advogados do "chefe da quadrilha" entrem com recursos - embargo infringente e embargo de declaração - requerendo ao Supremo o esclarecimento de eventuais dúvidas ou contradições expostas no acórdão, texto que transcreve o resultado do julgamento e solicitando a revisão do julgamento.

     Não esperem que Dirceu vá para a cadeia tão cedo. Não esperem que Dirceu seja preso. Continuará fazendo passeatas e ofendendo o STF, com exceção dos ministros e ministras que o defendem.

     Especula-se em salões de barbearia e outras universidades afins como deve ser cumprido o regime semiaberto. Conhecidos corruptos que dormirão na cadeia levarão a sua pizza, terão quarto (cela?) especial e mordomias outras, porque serão apenas semi-presos? Semiaberto é um regime prisional híbrido, indeciso. Não é aberto ou fechado. É semi, quase, talvez, uma espécie de castigo de palmatória sem palmatória. Os corruptos presos nesse regime poderão exercer as suas funções corruptivas durante o dia. De noite, em conversa com o diretor da prisão, confessarão seus malfeitos. Serão perdoados e poderão assistir o filme que desejarem - "O Bebê de Rosemary", "Rambo"... Ou poderão jogar xadrez. Receberão visitas conjugais durante a noite? 

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

LULA FOI TOMBADO POR SARNEY





Para escapar à fúria devastadora da Polícia Federal e outras polícias, Lula foi tombado. Pelo Sarney. E todos sabem: quando o Sarney fala, acontece. Afinal, quem manda no país? Alguns dirão que é o próprio Lula, outros, que é o Zé Dirceu, mesmo preso (o que dificilmente acontecerá). Ainda outros lembrarão ingenuamente a Presidente Dilma e não faltará quem fale em Maluf e genuínos chefes de quadrilha. Mas não é o Sarney?...

     Com 82 anos, o mais antigo político do país continua político, o que é um grave sintoma de apego ao poder. Transformou-se em Presidente do Brasil quando Tancredo Neves morreu oportunamente. Foi amigo de todos os demais presidentes e manda no Senado, talvez nas duas Casas do Congresso. 

     Certa vez, quase foi derrrubado do trono, quando a CPI da Corrupção, em fevereiro de 1988, detectou repasse de verbas para uns e outros amigos não somente no Maranhão. O seu ministro do Planejamento, Aníbal Teixeira, depois de exonerado deu entrevista transferindo as acusações de corrupção para o presidente Sarney e o secretário geral do Ministério, Michal Gartenkraut. Inclusive, o presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), dom Luciano Mendes de Almeida, divulgou nota condenando a corrupção no governo Sarney. O genro do então Presidente, Jorge Murad, foi acusado de intermediar o repasse de verbas federais para o estado do Maranhão, reduto eleitoral dos Sarney. Não deu em nada, como vocês podem imaginar. Algumas acusações aqui, outras ali, mas quem é que manda no Brasil?

     Diziam que era o Toninho Malvadeza, conhecido por ACM (Antônio Carlos Magalhães), mas o ACM, apesar do apelido maldoso, nunca fez alianças com o PT. Ou o Mercadante, por causa do nome, e este é um país muito capitalista. Erro. Tampouco o PCC, como supõem blogueiros da direita explícita; nem o BOPE, apesar dos filmes. Não é Pelé ou a Xuxa, soberanos eleitos por globais. Engano.

     Pois o José Sarney resolveu defender o Lula. Amigos são amigos. Com a descoberta das atividades extracampo do ex-presidente e, principalmente, depois das declarações de Marcos Valério à Procuradoria Geral da República, incriminando Lula no Mensalão, muitos foram em socorro do filho do Brasil, que não é do Maranhão e sim de Pernambuco, dizendo que não, não é possível, não é verdade, Lula era incapaz de fazer ou de saber; os outros sim, ele não. Ele?! Jamais!

     Entre esses tantos, José Sarney. E o que foi que disse o presidente dos presidentes, senhor do Maranhão?

     Afirmou que Lula é um símbolo, um patrimônio brasileiro. Pronto! José Sarney falou, tá falado. Não se toque mais no assunto, porque a última palavra já foi dada em tom de indignação. Lula já pode voltar para o Brasil e dizer que as elites estão tramando contra ele um novo tribunal de exceção. Ou coisa parecida. Não se sabe com certeza se ele sabe dizer coisa parecida, mas não é improvável.

     Lula respondeu (o que faz Lula no Cazaquistão?): "O senador tem história no Brasil suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum". Lula e Sarney não são pessoas comuns. Estão acima de tudo. Da lei, da Constituição...

     Lula foi tombado por Sarney. Brevemente se tornará imortal, como o seu dileto amigo. É um patrimônio e patrimônios são intocáveis.

sábado, 8 de dezembro de 2012

SEU CHICO E O CAIXA TRÊS




Seu Chico estava espairecendo ao lado da estátua de Silveira Martins, que um dia acolheu um ninho de joão-de-barro para horror das autoridades constituídas e também das não constituídas, e foi logo me dizendo que estava pegando um ar.

- Porque nesta cidade para achar um arzinho só saindo à cata. E hoje em dia eles estão ficando ariscos, se valorizando como político corrupto - o que é uma redundância, o senhor não acha?

- Qual é a redundância, seu Chico?

- Político corrupto. Neste país, porque aqui bem pertinho temos o espartano exemplo de Dom Pepe Mujica, Presidente do Uruguai. Mora em uma casa de três ou quatro peças e diz que está satisfeito. Ele e a esposa, sem empregados. Não é dado a maus hábitos, como o consumismo que grassa por aqui como peste na lavoura.

- É verdade, seu Chico. Eu conheço gente muito pobre que não passa sem celular, três ou quatro chips, gasta um dinheiro que não tem só para dizer que tem.

- E vão atrás de todas as propagandas. Imagine os que tem dinheiro sobrando, a cabecinha... Dia desses vi na Internet, num daqueles chats chatos em que um diz nada e o outro muito menos e eu ali abiscoitando pra me divertir um pouco... E conversa vai, conversa vem, eu já quase desligando de enjoado, porque a vida também é feita de coisas não virtuais, quando li uma frase que muito me impressionou.

- E o que foi, seu Chico?

- Pois não é que um dos qüeras disse pro outro assim, mais ou menos: "Hoje eu fui na cidade e comprei um trator só pra desopilar". Fiquei a cismar sobre qual a pior corrupção. Se a do político que se vende ou compra outros ou a do cidadão que só pensa em si e não olha pros lados. E esta é uma corrupção interna que vai se arraigando e, com o tempo, acaba deixando a pessoa muito nervosa se não tiver dinheiro para comprar, seja um celular ou um trator.

- É triste seu Chico. Fico pensando se não seria o caso de refundar o Brasil.

- Pois ouvi essa expressão ainda hoje mesmo. Um petista destemido, em entrevista radiofônica, falou que o PT gaúcho teria mandado a proposta de refundar o partido, depois dos últimos acontecimentos. Proposta que não teria sido aceita, mas por aqui salvaram a cara, porque foi o mesmo que dizer: Nós não! Foram vocês!"

- Deve estar havendo uma briga de foice no escuro nesse partido, seu Chico.

- Mas!... O Lula viajando por causa da descoberta das suas aventuras com uma pistoleira que seria ou não de aluguel, um escândalo atrás do outro, corrupção sobre corrupção, CPI do Cachoeira que querem abafar porque bate lá na porta do Palácio do Planalto, o caso dessa menina, que seria chefe de quadrilha ou coisa muito parecida. Pipocando em tudo o que é lugar e agora é a dona Dilma que diz que não sabia de nada. E quando fica sabendo apelida de "malfeitos", porque deve achar a palavra corrupção muito feia. Isto, quando os "malfeitos" são descobertos; caso contrário, serão "bem feitos". Além do Mensalão.

- E como ficou, seu Chico? Serão que vão ser presos mesmo?

- Cadeia não foi feita pra gente rica neste país. Eles vão inventar uma maneira de deixar os bandidos soltos, o senhor pode ter certeza. E nessa entrevista que ouvi, o valente petista reafirmou a tese do caixa dois. Deu a entender que não teria sido roubo, somente um acúmulo de dinheiro para momentos de incerteza, coisas assim...

- Mesmo com todas as provas, seu Chico?

- Provas sobejando. Praticamente assaltaram o Banco do Brasil, BMG, Banco Rural. Fizeram de tudo e mais um pouco e ainda se dizem injustiçados, acusando o ministro Joaquim Barbosa, o maior amigo deles no STF.

- Maior amigo?

- Parece uma palhaçada, não é? Observe que no estado que estavam as coisas seria impossível inocentar os principais responsáveis pela roubalheira. Mas sempre há um jeitinho, e o ministro relator achou por bem relatar que eram três processos e não somente um.

- Não estou entendendo, seu Chico.

- Não é sua culpa, muita gente ainda não entendeu. Veja que se o processo não fosse dividido em três núcleos, inevitavelmente os chefes iriam pegar uma pena muito alta. E o que estava e está em jogo nesse processo é salvar os chefes, José Dirceu & Cia, porque se forem realmente presos aí sim o PT terá que ser refundado ou afundará de vez. O que fez o ilustre ministro? Dividindo o processo em três núcleos facilitou para os líderes políticos, que foram julgados apenas por dois ou três crimes, cada um deles com pena muito pequena.

- E quem pagou o pato foi o Marcos Valério?

- Que era do núcleo publicitário. Ele e mais alguns do seu núcleo e do núcleo bancário. Quando chegou a hora de julgar o núcleo político foi o que se viu: gente solta que fingirá dormir na cadeia e um ou outro preso que acabará sendo solto. Saiu tudo conforme o PT desejava, dadas as circunstâncias, mas político é político e eles caíram em cima do juiz que mais os favoreceu para que todos os ingênuos pensem que é uma espécie de inimigo. Mas adivinhe se eles não estão faceiros?

- E eu que pensava...

- A maioria. Até aqueles blogueiros de revista de direita ficaram muito felizes com o Barbosa. Um jogo muito bem jogado, devemos admitir.E eles ainda insistem na tese do caixa dois. Insistem e vão continuar insistindo, o que só indica uma coisa: que o caixa dois era caixa três. Outra confissão de crime. Parece que estão ficando especialistas. Se foram julgados e condenados (alguns, e daquele jeito!) por uma ação penal que conhecemos como Mensalão, confessando que houve caixa dois anunciam um novo crime, o senhor não acha?

- Que ficará impune, seu Chico.

- Como todos os outros. O poder é um só. Uno, indivisível, pétreo como esta estátua que tem pernas e braços, mas representa uma só pessoa. E o poder não tem por hábito dar tiros nos seus membros.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

A DOUTRINA DILMA




Existiam dúvidas a respeito. Sabe-se que nasceu no estado de Minas Gerais e trabalhou no Rio Grande do Sul. Muitos se perguntavam: de que estado é a Presidente de todos os brasileiros? Agora ficou claro: Dilma nasceu em Minas, mas é tão mineira quanto o Lula - que pensa que é paulista - é pernambucano. O espírito de Dilma está no Rio de Janeiro. Dilma é carioca. Além disso, somente oficialmente é a Presidente de todos os brasileiros.

     Dilma reeditou a Doutrina Monroe no Brasil, com algumas alterações. O Presidente Monroe, dos Estados Unidos, afirmou, no século XIX, "A América Para Os Americanos". Ficou claro que para os americanos do norte, principalmente os Estados Unidos. E os estadunidenses passaram a invadir e orquestrar golpes de estado na América Meridional. Mais de 200. Algumas vezes eles não invadem diretamente. Compram as Forças Armadas e os dirigentes do país desejado. É um trabalho menor e que tem a mesma eficácia das invasões tradicionais. A penúltima vez foi em Honduras, a última no Paraguai.

     Dentro do Brasil, Dilma deixou claro que o Brasil é dos cariocas. De lambuja, mais dois ou três estados, como São Paulo, Espírito Santo e, talvez, Minas Gerais. A região sudeste, especialmente o Rio de Janeiro.

     Afinal, o Rio de Janeiro continua lindo. Tem o Corcovado, o Cristo Redentor, Ipanema, Copacabana e outras praias bacanas e é a cidade-estado onde nasceu o samba - e quem não gosta de samba bom sujeito não é. Mulatas, museus, balangandãs, balacobacos, tico-tico no fubá e aquela turma que bebe caipirinha na beira da praia. Também tem balas perdidas, ROTA, invasão de favelas, uma mini guerra civil e alguns arrastões por semana - mas essas coisas não contam. O que conta é aquele abraço, a torcida do Flamengo e outras torcidas menores, o bondinho do Pão de Açúcar, as escolas de samba e o petróleo. O petróleo que seria dos brasileiros, segundo a Constituição, mas é só dos cariocas e amigos mais próximos, segundo Dilma.

     De preferência, bem próximos do Governo Federal que - todos sabem - é carioca. A Doutrina Dilma diz que o Brasil é para os cariocas. E amigos. Uma questão de dinheiro. Royalties do petróleo que não é mais nosso - é deles. Chamam a isso de pacto federativo: quem tem mais ganha mais; quem tem menos pede esmola. O país é de todos, mas até certo ponto. Na verdade, é um pacto capitalista.

     A República Federativa do Brasil tem sido construída por oligarcas e não pela maioria do povo. A cada dois anos acontecem eleições, ocasiões em que o povo é levado a acreditar que está participando quando delega os seus direitos para alguns representantes e passa a ter outros direitos: o direito de pagar impostos, o direito de sambar (nos dois sentidos), o direito de buscar emprego na país dos desempregados, o direito à miséria, à falsa educação, a esperar nas filas do INSS e do SUS, o direito a ser enganado diariamente e ainda agradecer quando o roubo é pequeno, o direito a assistir os políticos assaltando, o direito a ser violentado em seus direitos e - a base de todos esses direitos - o direito à desigualdade social.

     A correta tradução de capitalismo é a de um sistema que adota a desigualdade social como meio para aumentar a riqueza dos que já são ricos. Em nome do que chamam de liberdade - a liberdade de ser injustiçado socialmente. É claro que a Constituição brasileira diz que o Governo é responsável pelo bem-estar dos cidadãos e é claro que isso não acontece à medida que o Governo promove a desigualdade. Para o sistema capitalista não há nada mais democrático do que a desigualdade.

     O caso dos royalties do petróleo, que são do país e de todos os cidadãos e estão sendo usufruídos somente por dois ou três estados entre 26 é um exemplo. Vejam que as máscaras políticas e ideológicas caíram quando se tratou de defender o dinheiro nosso que fica no Rio & Associados. Todos os representantes dos partidos cariocas - do falso partido que se diz comunista (PCdoB) ao assumido partido da extrema direita (DEM), passando por renitentes, medrosos ideológicos (PPS, PSB, PV) e até pelo corrompido PT - saíram às ruas para pedir à Dilma que vetasse o projeto que redistribuía parcamente o dinheiro oriundo dos royalties. Todos se uniram em nome do dinheiro. Chamam a isso de pacto federativo. Dilma vetou.

     Entenda que as águas do Rio de Janeiro não são águas brasileiras, apenas cariocas. Uma cidade capital de um estado que domina todos os demais estados brasileiros, porque é imensamente mais rica. Existe maior exemplo de desigualdade social? Seria o caso dos outros estados que são supostamente brasileiros e não são beneficiados com o dinheiro do petróleo que seria nosso e ficou pra eles se rebelarem e se desligarem da União? Para que serve a União se é a união de dois ou três estados contra os demais?

     Essa é a Doutrina Dilma, que não está escrita, mas subentendida. Ou claramente entendida.

     Os parlamentares de outros estados que não a cidade-estado referida lutarão no Congresso contra o veto de Dilma. Nada adiantará, porque são tantos os que estão presos politicamente ao Governo - este é um país de presos políticos corruptos em liberdade - que nada adiantará. A maioria do Congresso é governista e imagina-se quantos mensalões poderão existir naquelas duas mal-cheirosas Casas.

     Alguns gritarão: Quosque tandem? Até quando? Catilina está nas fronteiras, Lula está sem barba e Dilma não gosta de Joaquim Barbosa. E o povo, até quando será abusado na sua paciência?
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