sexta-feira, 11 de maio de 2012

ELES MATAM ELEFANTES


O rei Juan Carlos, da Espanha, caiu e fraturou o quadril enquanto caçava elefantes, em Botsuana, África. Depois do susto – e da dor – o rei foi encaminhado para um hospital onde fez uma cirurgia para implantar uma prótese. O rei pediu desculpas aos espanhóis (não aos elefantes!), depois de sair do hospital. Mas sabe-se que, pelo menos, desde 2006 (como mostra a foto capturada da Internet), o rei Juan Carlos, provavelmente por não ter o que fazer, que é o fazer dos reis, tem estado a matar elefantes. Dizem que é um rei muito bom e espiritualizado. Inclusive, pertence a uma famosa organização ambientalista.

     Todo o povo espanhol ficou indignado porque o seu rei tem o vício de caçar elefantes. Um vício ancestral, talvez genético. Afirma-se que os reis tem essa mania de caçar elefantes. Mesmo os reis bonzinhos, como o rei da Espanha, sucessor de Franco, que matou apenas metade dos espanhóis, nos anos 30 e 40, naquela guerra civil muito mal contada pelos historiadores. Só matou gente, de todos os tipos e tamanhos; que se saiba, nunca matou elefantes. Matar elefantes é um privilégio reservado para reis. Por vezes, alguns vassalos também exercem esse esporte, mas com licença real.

     Não se sabe se a rainha da Inglaterra já participou de uma caçada de elefantes, mas não é improvável.

     Em algum momento na vida dos reis (e rainhas) surge aquela vontade quase inexplicável de... matar elefantes. Alguns – muito poucos – vencem a tentação, não caçam elefantes e se contentam em apenas reinar, dominar, tripudiar e, quando morrem, são chamados de reis santos. Mas a maioria dos reis (e rainhas), em algum momento das suas vidas, mesmo quando estão muito velhos – como o rei da Espanha – acabam se deixando levar pelo sangue real e saem a matar bichos de todos os tipos – principalmente elefantes.

     Antigamente, bem antigamente, matavam raposas, javalis, veados e todos os bichos que encontrassem pela frente, em caçadas suntuosas, que, às vezes, duravam dias. Levavam centenas de pessoas, armavam imensos acampamentos e passavam dias brincando de matar. Narram os cronistas que era um divertimento e tanto! Não era raro reis convidarem outros reis para essas grandes caçadas, ocasião em que também tratavam de negócios e combinavam as próximas guerras entre eles – outra brincadeira que adoravam. Para o povo era guerra, para os reis uma espécie de competição. Um jogo.

     Depois que descobriram a África e escravizaram todos os seres humanos que puderam, inventaram os safáris. Matar os animais africanos se transformou em um grande negócio. Há quem pense que tudo isso acabou, que os safáris não existem mais, que as organizações ambientalistas e a ONU não permitem que essas coisas feias aconteçam, que estamos vivendo em um mundo tão virtual – mas tão virtual! – que talvez isso aconteça, de vez em quando, por descuido e muito virtualmente.

     Necas de pitibiribas! Se você, mesmo não sendo rei ou rainha, decidir-se a caçar elefantes, por alguma premência interna que lhe diz que matar elefantes deve ser o máximo dos máximos, a grande aventura da sua vida, o objetivo final da sua existência neste mundo - ou apenas para preencher o imenso vazio ocioso em que se transformou a sua vida, como deve ter acontecido com o rei da Espanha – basta ter algum dinheiro sobrando.

     Em Botsuana, uma licença para caçar elefantes custa entre sete e trinta mil euros. Somente a licença. Lembre dos custos da viagem, a organização do safári e todos os demais itens necessários para uma bela e satisfatória caçada de elefantes que lhe trará, ao final, um imenso prazer, além das estórias e histórias que poderá contar aos amigos e conhecidos ao revelar-se como ousado e bravo aventureiro em terras inóspitas onde elefantes esperam para serem abatidos pela sua arma que lança balas que fazem explodir a cabeça do seu alvo preferido.

     Matar faz bem, pensam os reis. Mesmo reis como Juan Carlos, rei da Espanha, que é presidente de honra da World Wide Fund for Nature (WWF), uma das maiores organizações ambientalistas do mundo.

     São organizações como essas que preservam animais para que reis os matem. Se não fossem preservados, como reis, banqueiros e outros seres mais broncos, como a bancada ruralista no Congresso brasileiro, poderiam encontrar animais para matar?

     Matar um elefante por dia tem sido um ditado recorrente entre a população brasileira. É claro que é apenas uma maneira de dizer que o esforço é muito para sobreviver em um país tão maravilhoso como o nosso, abençoado por Deus, bonito por natureza e com tanta gente ganhando tanto dinheiro às nossas custas. Embora a maioria deles prefira roubar.

     Vejam o escândalo do Mensalão 2, também apelidado de Cachoeira, onde todas as águas estão rolando. Quiseram pegar - e pegaram! – o Demóstenes, depois de três anos de investigações auditivas em que o senador nem imaginava que tinha a sua inviolabilidade civil e parlamentar violada – provavelmente porque o Lula disse, em um dos seus momentos de raiva estentórea, que iria acabar com o DEM. E acabaram sendo pegos.

     Todos os homens (e mulheres?) do presidente e da presidanta parecem estar envolvidos – ou quase todos. Ficaram com tanta raiva que, provavelmente, saiam a matar elefantes.

     E os elefantes tem culpa? O que esses senhores e senhoras agregados(as) e agarrados(as) ao Poder de tal maneira que se permitem crimes para conservá-lo, tem contra os elefantes? Porque matar elefantes é crime, crime ambiental. Mas sabe-se lá o que reis (e rainhas) e outros donos do Poder imaginam o que sejam crimes... O povo pode ser incriminado por roubar bananas na quitanda da esquina, mas eles... Talvez por isso o povo brasileiro tenha pegado essa mania de dizer que está matando um elefante por dia. Um mau exemplo que está sendo seguido, embora não existam elefantes no Brasil. Ou existem?

     Considerando-se o tamanho e a força, talvez os elefantes possam ser comparados a essas pessoas que representam o Poder. Não o poder, mas o Poder. Pensam-se inatacáveis, por mais processos que respondam (ou não respondam, se assim desejarem). Sempre acham uma maneira – que chamam de jeitinho brasileiro – de se mostrarem mais inocentes que rapadura de coco – mesmo quando estão com as mãos meladas.

     Por exemplo, a tal de CPMI do Carlinhos Cachoeira, que seria apenas para achar mais culpas no já tão culpado Demóstenes, está revelando que o Cachoeira é o Al Capone do Brasil. Compra todos, faz negócos com todos; domina empresas e empresários; políticos do governo, políticos da suposta oposição – a tal ponto que as testemunhas estão sendo ouvidas em sigilo; há um banco de dados que só pode ser acessado de maneira muito restrita; senadores, deputados, ministros e outros estão tendo ataques de nervos – mesmo que o povo saiba que a CPMI não vai dar em nada, no máximo em pizza ou leite condensado ou rapadura melada de coco.

     Não dá vontade de matar elefantes? Não os elefantes de Botsuana, que não tem nada a ver com a nossa diária corrupção, e ficam lá, comendo as folhas das árvores amigas, sequer imaginando que reis, banqueiros e até...brasileiros poderão estar mirando nas suas cabeças.

     Dá vontade de matar outros elefantes, os predatórios, os acusados de corrupção que nunca serão condenados, os que fazem leis que liberam traficantes para que possam continuar a traficar ou que soltam contraventores conhecidos... Tantos são os elefantes demagógicos que dá vontade de matar!

     Ficamos na vontade, por enquanto, matando os nossos diários e virtuais elefantes, mas pensando neles, vocês sabem quem.

Um comentário:

  1. Os ociosos Reis de Espanha tem alguma coisa mais a fazer, a não ser matar elefantes de verdade? Fazer o mesmo com os nossos torna-se tarefa bem mais difícil, mas não custa seguir tentando. Muito boa a matéria. Parabéns!

    ResponderExcluir

Faça o seu comentário aqui.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...