quarta-feira, 6 de junho de 2012

OS MENSALÕES


Criada para esconder o julgamento dos indiciados no Mensalão, a CPI de Carlinhos Cachoeira transformou-se em um Mensalão 2, devido aos fortes indícios de ligações de Carlinhos Cachoeira não só com parlamentares de todos os partidos – especialmente PT, PMDB, DEM e PSDB – como por tráfico de influência através de governadores e de empresas, como a Delta Construções, ligada estreitamente ao governo federal.

     Carlinhos Cachoeira é o nome do momento, mas todos sabem que existem outros “Carlinhos Cachoeira”, que estão soltos e assim continuarão. Vinte deles foram presos na Operação Hurricane (Furacão), no dia 13 de março, e soltos por liminar concedida pelo ministro do STF Marco Aurélio Mello no dia 1º de maio. Entre os vinte soltos pelo ministro Marco Aurélio, quatro são os mais famosos: Aniz Abraão David, o Anísio, Aílton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães, o seu sobrinho Julio César Guimarães Sobreira e Antonio Petrus Kalis, o Turcão. O ministro argumentou que o decreto de prisão não estava suficientemente fundamentado. E soltou os vinte conhecidos contraventores.

     Na mesma época, Carlinhos Cachoeira estava sendo preso, também por contravenção, o então senador do DEM, Demóstenes Torres, amigo de Cachoeira, saía do seu antigo partido (e brevemente será expulso do Senado e da vida parlamentar) e era instalada a CPI de Carlinhos Cachoeira, com base em revelações da operação Monte Carlo e operação Vegas, montadas pelo Departamento de Polícia Federal para desarticular uma organização que explorava máquinas caça-níqueis e jogos de azar em Goiás.

     A operação Monte Carlo foi além das ligações de Demóstenes com Carlinhos Cachoeira. Descobriu que a Delta Construções – principal empreiteira do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) fez contratos diretos com 18 administrações estaduais. A Delta estava ligada à organização de Carlinhos Cachoeira através de seu ex-dono, Fernando Cavendish. Cavendish afastou-se da Delta Construções quando a Polícia Federal descobriu que a Delta financiava empresas fantasmas criadas por Carlinhos Cachoeira.

     Quem levou a Delta Construções para tão perto governo Dilma teria sido o (ex?)consultor da empresa, José Dirceu – ex-deputado do PT, cassado por denúncias de corrupção, apontado como o “chefe da quadrilha” do Mensalão e um dos principais chefes do partido do governo.

     O deputado federal Almeida Lima (PPS-Sergipe) afirmou, em abril, ainda na fase de preparação da CPI, que a instalação da CPI era um “tiro de bazuca no pé do PT”. De acordo com o site www.ucho.info, José Dirceu prestou serviços de consultoria para a Delta. Segundo os jornais, o contrato foi assinado no final de 2008 para prospecção de negócios na América do Sul. “Na mesma ocasião, os contratos com a empreiteira com o governo federal praticamente dobraram, passando de R$ 393 milhões para cerca de R$ 800 milhões. Atualmente, a empresa detém a maioria dos contratos de obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e com ramificações em vinte e três estados. “Não é sem razão que é chamada de a empreiteira do PAC”, ironizou o deputado.”

O MENSALÃO I

Em 2004 o nome Carlinhos Cachoeira ficou conhecido, quando foi divulgada uma gravação onde Waldomiro Diniz – assessor especial de José Dirceu, quando este era ministro da Casa Civil do primeiro governo Lula – aparecia extorquindo dinheiro do contraventor para arrecadar fundos para a campanha do PT em troca de facilitação em concorrência pública. Foi o chamado caso LOTERJ, que deu origem à CPI dos Bingos, cuja única consequência foi uma medida provisória assinada por Lula, proibindo bingos, caça-níqueis e outras casas de jogos de azar em todo o Brasil.

     Em 2005, foi descoberto um esquema de corrupção que foi denominado Escândalo dos Correios. Os principais implicados eram membros do PTB – partido da base aliada do governo -, que controlava os Correios em troca de apoio ao governo Lula. O ex-deputado Roberto Jefferson, então Presidente do PTB, acuado, revelou um esquema de corrupção ainda maior, do qual fazia parte. Esclareceu que parlamentares que compunham a chamada "base aliada" recebiam, periodicamente, recursos do Partido dos Trabalhadores em razão do seu apoio ao Governo Federal, constituindo o que se denominou como "mensalão" – e acusou o então Ministro da Casa Civil José Dirceu de ser o mentor do esquema de compra de votos. Segundo informações veiculadas pela imprensa, o PT se comprometia a pagar a quantia de R$ 150.000,00 a cada deputado federal do PTB, em troca do apoio dos parlamentares petebistas ao Executivo. O não cumprimento da promessa teria provocado o rompimento entre os dois partidos, o que veio a culminar com a série de denúncias de corrupção alardeadas a partir de maio de 2005.

     O dinheiro para comprar os deputados viria, principalmente, do Banco Opportunity, de Daniel Dantas, que também controlava as empresas de telefonia privatizadas. Mais de 127 milhões de reais foram parar nas contas da empresa DNA Propaganda, de Marcos Valério, que repassava ao então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, para o pagamento dos parlamentares da “base aliada”. Mas não foi somente Daniel Dantas que financiou os projetos do PT.

     O deputado Roberto Jefferson disse que parte do dinheiro do mensalão vinha de empresas estatais, entre elas, Furnas, Eletronuclear, Petrobras, Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) e Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (EBCT).

     Furnas: Segundo o deputado, Furnas repassou R$ 3 milhões por mês ao Partido dos Trabalhadores (PT) e seus aliados.

     Eletronuclear: O presidente da empresa Paulo Figueiredo (indicado pelo PCdoB, aliado do PT) e o ex-assessor do ministro José Dirceu e ex-secretário de Comunicação do PT Marcelo Sereno são suspeitos de terem manipulado os fundos de pensão da estatal para desviar dinheiro ao PT.

     Petrobras: Segundo o deputado Roberto Jefferson, foi uma das principais empresas usadas pelo PT para desviar recursos para o partido. Em 5 de julho de 2005 o secretário-geral do PT Silvio Pereira renunciou a seu cargo porque foi descoberto que ele recebeu de presente um automóvel Land Rover da empresa GDK, vencedora de uma licitação de U$ 90 milhões junto à Petrobras.

     Instituto de Resseguros do Brasil (IRB): segundo Roberto Jefferson, Marcos Valério articulou um encontro com representantes da Portugal Telecom, ligada ao Banco Espírito Santo (BES). Nesse encontro ficou decidida a transferência de U$ 600 milhões do IRB ao BES e que este compraria as linhas de transmissão da estatal Eletronorte. De acordo com o deputado, a operação renderia até R$ 120 milhões para o PT e o PTB. O próprio Jefferson foi acusado de interferir junto ao IRB para arrecadar fundos para seu partido, o PTB. Jefferson admitiu a manobra, contudo disse que ela foi legal e que as doações seriam registradas legalmente e feitas por empresários indicados pelo então presidente do IRB.

     Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (EBCT): Inicialmente o deputado Roberto Jefferson foi acusado de comandar um esquema de corrupção nos Correios. Jefferson admitiu a existência de um esquema de corrupção, mas alegou que ele era controlado pelo PT. Em depoimento para a CPI dos Correios, Maurício Marinho, que foi chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material da estatal, citou os nomes do então secretário-geral do PT, Sílvio Pereira e do então ministro Luiz Gushiken, como as pessoas e teriam influência na administração da empresa.

     Também os fundos de pensão das empresas estatais são suspeitos de arrecadar dinheiro para o caixa 2 do PT.

O MENSALÃO II

O Mensalão 2 tem a participação dos contraventores que, na época da CPI dos Bingos (que não deu em nada) passaram a agir clandestinamente devido à MP que proibiu jogos de azar.

     Desta vez não se trata de deputados e senadores sendo comprados pelo PT para votarem nos projetos do Governo, mas de empresários do jogo do bicho, bingos, máquinas caça níqueis, que tiveram a sua ação oficialmente criminalizada e passaram a atuar subterraneamente, contando com o apoio – supostamente comprado – de políticos e membros de diversos governos estaduais. Também são apoiados por outros empresários – que não tem as suas ações criminalizadas – e a eles apoiam, para que tudo dê certo no mundo dos grandes negócios.

     A Delta Construções, que já ganhou mais de R$718 milhões com negócios em 18 estados brasileiros, e que teve, na CPI do Cachoeira, o pedido da quebra do seu sigilo bancário defendido pelo relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT)– para espanto, gritos e sussurros de membros de todos os partidos – tem como seu principal acionista Fernando Cavendish, que estaria envolvido com o esquema de Carlinhos Cachoeira.

     Acresce que Cavendish foi fotografado junto com o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), aliadíssimo do Governo Federal e principal dono do dinheiro do petróleo que deveria ser brasileiro. Estavam com lindos lenços na cabeça, rindo e brincando de qualquer coisa ou não sei o quê, especula-se que do resultado de negócios lucrativos, em um belo hotel de Paris.

     Além de Sérgio Cabral, o governador Marconi Perilo (PSDB) de Goiás e o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, que é do PT, também seriam velhos conhecidos de Carlinhos Cachoeira, Delta Construções e outros menos cotados.

     Outros menos cotados. Talvez os menos cotados sejam aqueles bicheiros conhecidos, os 20 contraventores que foram soltos por ordem judicial em abril, no Rio de Janeiro, e mais sabe-se lá quantas centenas de contraventores por este Brasil afora. Pessoas que tem seu dinheiro arrecadado dos otários brasileiros acostumados à cegueira do futebol, samba e muitos feriadões e que acreditam que jogar no bicho é uma coisa ‘inocente’, assim como jogar seja lá no que for, porque este é o país em que ninguém vive de salário – conforme um ditado popular.

     Os donos do jogo do bicho (e de outros jogos ainda ilegais) não por acaso são chamados de banqueiros e se relacionam com outros banqueiros oficiais para lavarem o seu dinheiro arrecadado em praças, ruas e outros lugares mambembes e circenses deste país que segue nos enganando com a sua falsa pose de ministro togado que faz rir por falta de lágrimas. E os banqueiros de todo o tipo – desde os que tem grandes casas bancárias até os que se escondem em porões – acostumaram-se a comprar senadores, deputados, ministros e todos aqueles seres que, volta e meia, nos pedem votos em troca do que todos sabemos serem mentirosas promessas.

     Acostumamo-nos com a mentira e com a corrupção e delas rimos, porque as lágrimas já secaram, devido à inevitável raiva que ruboriza os mais crédulos e crentes nos carinhos do Estado.

     Estamos cada vez mais acostumados com o ‘dar em nada’ das CPIs, com os julgamentos vazios de corruptos que se tornam famosos pela sua qualidade de corromper a todos – e todos desejam ser corrompidos -, com o seu rosto ‘esperto’ de jogadores que nos enganam diariamente e que muitos admiram, porque o muito dinheiro da corrupção os torna impunes.

     Cada vez mais ficamos acostumados com a hipocrisia do Estado.

     O Mensalão 2 nada mais é que os contraventores comprando políticos, imiscuindo-se nos negócios do Governo, conseguindo licitações fraudulentas e favores especiais em troca da continuidade da fraude conhecida e de mais especiais favores, o que os faz rir desbragadamente de nós – com lenços na cabeça e com olhar de escorpiões - os que se acreditam honestos e pagam os impostos que eles arrecadam.

     Este é o país que vai pra frente com pontapés na traseira dos brasileiros que ainda não se corromperam. Pontapés e risos de escárnio.

2 comentários:

  1. Não somos o mesmo País, mas lá que parecemos, parecemos!Será que os gestores públicos não são os mesmos, mas com bigodes e óculos escuros num País, e no outro de cara destapada? Força, camarada!

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  2. Postagem rica e inserçõe oportunas para entendermos cada vez mais o que se passa nesse País. Parabéns e obrigada.
    Lidia

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