sexta-feira, 13 de julho de 2012

UM PAÍS DE ANALFABETOS


Em recente reportagem da revista Science sobre a Amazônia é prevista a extinção de 80 a 90% de espécies de mamíferos, aves e anfíbios até 2050, caso o ritmo de desmatamento e degradação continue acelerado. O PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) pretende construir 22 hidrelétricas de grande porte na região; as unidades de conservação estão sendo reduzidas e, com o novo Código Florestal, ditado ao governo pela Bancada Ruralista do Congresso, tudo poderá acontecer, não só na Amazônia como em todo o território nacional.

     O desmatamento da Amazônia, que começou raivosamente em 1978 e aumentou furiosamente nos últimos anos com a política de exportação e aumento da dependência externa dos produtos industrializados, tornando o Brasil um país anão em tecnologia própria, favorece os grandes empresários do setor de agricultura e pecuária, os grandes empresários das construtoras como a Norte Energia, que está criando Belo Monte – que se tornará a maior devastadora do meio ambiente jamais conhecida – e todos os demais grandes e pequenos empresários que se interessam em tornar a Mata Atlântica, a Amazônia, o Cerrado, o Pampa e tudo o que ainda resta de Brasil em pasto pasteurizado e plantações plastificadas cercando grandes cidades onde habitarão milhões de robôs monitorados.

     Este é o país idealizado pelos governos continuístas da ditadura militar e que se dizem democráticos. Governos muito aplaudidos pelo povo, segundo as empresas de pesquisa de opinião pública contratadas pelos interessados.

     Essas pesquisas dizem que o governo de Dilma Roussef tem a aprovação de 77% da população – o que significaria que 77% do nosso povo apóia o desmatamento, a desertificação do solo, os desertos verdes, a destruição do meio ambiente, a extinção das espécies animais e também de algumas espécies humanas, como os indígenas, a corrupção no governo e no desgoverno, a inflação que só tende a aumentar, apesar da propaganda pró-Dilma dos grandes meios de comunicação, a aliança para o que der e vier com o governo dos Estados Unidos, as péssimas condições da educação, as péssimas condições da saúde, os maiores impostos do mundo, as desigualdades sociais, que tornam o Brasil a oitava nação mais desigual do mundo, segundo a ONU, a venda de grandes extensões do nosso território para estrangeiros, a ausência de reforma agrária, a impunidade dos corruptos, a influência dos grupos econômicos na política – o que mais?

     Se o povo concorda com tudo isso, merece o governo que elegeu. Ou será apenas um povo analfabeto político?

     Bertoldt Brecht escreveu: “O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.”

     Ou será apenas analfabeto? 14 milhões de brasileiros são analfabetos, não sabem ler e escrever. O que não significa, necessariamente, idiotia ou imbecilidade, mas fragilidade extrema para aceitar facilmente a propaganda oficial. Em sua maioria ou, talvez, totalidade, são os que recebem mesadas do governo para poderem sobreviver.

     Além do simples analfabeto, temos o analfabeto funcional. É aquela pessoa que sabe ler e escrever, mas não entende, não consegue interpretar o que lê. Provavelmente, não saiba interpretar outras coisas. De acordo com a Wikipédia, “no Brasil o analfabetismo funcional atinge cerca de 68% da população (30% no nível 1 e 38% no nível 2). Somados esses 68% de analfabetos funcionais com os 7% da população que é totalmente analfabeta, resulta que 75% da população não possui o domínio pleno da leitura, da escrita e das operações matemáticas, ou seja, apenas 1 de cada 4 brasileiros (25% da população) são plenamente alfabetizadas, isto é, estão no nível 3 de alfabetização funcional”.

     E temos aí os votos da Dilma, a razão pela qual a sua aprovação é de 77% da população. Alguns dizem que as pesquisas são fraudulentas, manipuladas pelo governo. Não é impossível, porque este é o país da corrupção. Porém, considerando a probabilidade de que as pesquisas tenham sido feitas com toda a correção científica e que o Nordeste – onde o governo é mais bem aceito - é a região que tem três vezes mais analfabetos (de todos os tipos) que as demais regiões do pais e, ainda, considerando que somente em 2010 o governo federal investiu em mídia (propaganda oficial) R$ 1.628.920.472,63 (imagine-se o que deve estar investindo em 2012, ano de eleições...) não é de se duvidar que a grande maioria dos brasileiros esteja apoiando este governo.

     A propaganda institucional é tamanha que, apesar de a corrupção brasileira ser manchete todos os dias – mesmo que a imprensa seja manipulada pelas grandes agências de notícias para divulgar somente determinados assuntos – Dilma Rossef foi transformada no grande ícone da moralidade e boas intenções.

     Na cidade onde eu moro – Bagé, RS, que já foi a cidade dos bageenses – duas grandes coligações políticas e mais o PSDB disputam as eleições, este ano. Uma delas é chefiada pelo próprio prefeito, que é do PT e pretende a reeleição; outra, por uma ex-vereadora do PTB, que fez alianças com o PDT (ou parte dele) e mais alguns partidos sem expressão na cidade; o terceiro candidato a prefeito é um vereador do PSDB, que sabe que perderá, mas poderá negociar politicamente os votos recebidos com a coligação vencedora.

     Até aqui, tudo “normal”. Os três candidatos usam o nome de Dilma Roussef como chamada de campanha. Não há qualquer tipo de oposição, apenas oposição entre os candidatos. Não há ideologia, idéias ou ideais. Dilma elegerá o candidato mais confiável.

     Enquanto isto, no Brasil, indígenas, animais de todos os tipos, plantas nativas e o próprio solo cada vez mais degradado pelas empresas cúmplices do governo, estão ameçados de extinção.

     Mas ninguém sabe a espeito, ninguém quer saber. Este é um país de analfabetos.

2 comentários:

  1. Texto perfeito e horroroso ao mesmo tempo Fausto. Perfeito na forma e horroroso no conteúdo, já que conclui uma triste realidade.

    Felicitações!

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  2. Este é o País do mais... para pior. É doloroso conviver com uma realidade tão cruel em alienação e conivência absurdas. Ótimas informações na matéria. Parabéns!
    Lidia.

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