quinta-feira, 17 de abril de 2014

GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ




    Pensávamos: o mundo está doente, a desigualdade é imensa, os políticos se especializaram em mentiras e o povo da maioria dos países jaz hipnotizado em peregrinos labirintos – mas existe Gabriel García Márquez, nem tudo está perdido; em algum lugar uma feliz senhora agrada-se de um particular verão, há cheiro de goiaba apesar do veneno da madrugada exalado no enterro do diabo, que sempre finge que morre como é próprio dos demônios com olhos de cão azul, quem sabe existe o amor, mesmo dentro de sua anunciada morte em tempos de tanta cólera, Gabriel García Márquez deve estar ensinando a contar contos entre amigos, relembrando as suas putas pobres em textos do Caribe, vivendo para relatar naufrágios, noticiando seqüestros, reinventando a vida em sestas nas terças-feiras e, súbito, ficamos sabendo que deu adeus ao seu outono o patriarca da maravilha em literatura, esperava uma carta que nunca chegou, passou cem anos de solidão ao lado de Maria dos prazeres e de tantas outras marias, o mundo pode ser incrível e triste ao mesmo tempo e, ao final – que nunca é verdadeiro final – funerais como o de mamãe grande, quando sabemos que, na verdade, um senhor muito velho com asas enormes está em sua última viagem, que nunca será a última, em um navio fantasma que aportará no que resta de magia em nossos corações.

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