sábado, 8 de novembro de 2014

A FALSA GUERRA IDEOLÓGICA




Aqueles que pedem um golpe militar estão muito enganados com as Forças Armadas, eternamente aliadas dos grupos mais reacionários, hoje traduzidos como partidos políticos, entre os quais se destacam o PT e o PMDB, por vezes o PSDB. No governo do PT, principalmente a partir do primeiro governo Lula, as Forças Armadas brasileiras solicitaram e conseguiram ampla liberdade de ação, que as levou a liderar o grupo de países que invadiu o Haiti sob falsos pretextos de assistencialismo, oportunizando às Forças Armadas dos Estados Unidos dominar aquele país tão estrategicamente localizado no Caribe.
   Em seguida, os militares brasileiros passaram a participar de manobras conjuntas com a ONU e seu exército mundial, a OTAN, destacando-se a pequena frota da marinha brasileira que ajuda a cercar o Líbano e aqueles oficiais que são convidados para liderar forças da ONU em países da África que tentam fugir à política de controle dos Estados Unidos e de seus aliados. Nos últimos anos, as Forças Armadas brasileiras foram convocadas para cercar as favelas no Rio de Janeiro com a desculpa de combater o tráfico de drogas e ainda mais recentemente, durante a Copa do Mundo do Brasil, as Forças Armadas brasileiras deram uma demonstração de grande eficiência ao ajudar a CIA e demais serviços de inteligência dos países aliados, como os Estados Unidos, a proteger atletas e torcedores.
   As Forças Armadas são grandes aliadas do governo Dilma, assim como o foram do governo Lula e dos governos de Sarney, Collor, Itamar e Fernando Henrique. Aliás, Lula não poderia ter sido eleito se não fosse esse acordo muito liberal com as Forças Armadas, o mesmo acordo que aconteceu quando os militares decidiram que chegara o momento dos políticos civis liderarem o país, desde que não mudassem os rumos da política estabelecida durante a ditadura iniciada com o golpe militar de 1964. Os políticos podem brincar de política, mas não podem mudar as estruturas do poder.
   Talvez essas urnas eletrônicas que hoje estão sendo auditadas a pedido do PSDB tenham sido escolhidas para inovar as eleições, não devido à sua praticidade, mas justamente porque podem ser manipuladas para dar a vitória à coligação partidária mais próxima aos interesses daqueles que verdadeiramente governam o Brasil – e talvez isso só fosse necessário até o momento em que esses partidos e coligações se revelassem tão iguais entre si, como agora, que a probabilidade de fraude poderia até ser aventada, dando espaço para um sistema eleitoral mais seguro e honesto.
   Setores da direita mais rançosa têm acusado o PT de ser “bolivariano” – que hoje é sinônimo de socialismo pela via pacífica na Venezuela, Bolívia e Equador. Os governos do PT, no entanto, seguem uma linha marcadamente capitalista, de obediência aos ditames do mercado, de aliança em todos os setores com os Estados Unidos e União Européia e internamente obedecem aos grandes empresários e latifundiários. Mais à direita seria o fascismo, apesar do PT se revelar um tanto quanto fascista em sua insistente tentativa de hegemonia política.
   Observe-se que a política petista tem como base o controle dos sindicatos que, por sua vez, dominam os operários a eles filiados, que recebem uma educação política capitalista e consumista. No campo, a reforma agrária está parada, os latifúndios aumentaram de extensão e o maior exemplo disso é a derrubada incessante das florestas, com o objetivo não só de venda de madeira, como de aumentar o tamanho das terras para plantio e pecuária. O Brasil está virando um deserto e poucos se dão conta que isso é resultado da política predatória e entreguista do governo.
   Nas cidades aumenta o caos a cada dia; sem tetos são expulsos a tiros e bombas de suas ocupações e a pobreza é criminalizada. Há mais de dez milhões de miseráveis no país, pessoas que não tem o que comer, e os pobres continuam a ser assistidos pelo governo para que aceitem o assistencialismo como solução da desigualdade social, que só faz aumentar. De acordo com a ONU, de Norte a Sul há 13 grandes bolsões de pobreza no Brasil, com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) igual ao de Uganda, na África. Entre 175 países, o Brasil está na 65ª colocação em Índice de Desenvolvimento Humano.
   E o PT se diz socialista, quando na sua prática é exatamente o oposto, agravado com os seguidos escândalos de corrupção no seu governo que vai se arrastar para 16 anos de incompetência interna e de servilismo ao capital estrangeiro. Finge-se de esquerda para ofuscar a verdadeira esquerda que perdeu o rumo e se protege dentro de pequenos partidos que há muito tempo deixaram de ser revolucionários. Partidos que, ao fim e ao cabo, com raras exceções revelam-se como reservas estratégicas do PT quando este partido tenta travar uma guerra ideológica inexistente.
   Para consumo interno, o PT vende para a sua militância o pensamento de Antonio Gramsci, teórico revisionista italiano que pregou o pluralismo político e a união entre as classes – em oposição à luta de classes – e foi declaradamente anti-marxista. Para a fraca capacidade teórica dos militantes do PT, no entanto, as belas frases de Gramsci satisfazem plenamente, uma vez que não trazem em si o temido espectro da revolução. Tentando a hegemonia proposta por Gramsci, o PT aliou-se a conhecidos oligarcas, como Jader Barbalho, Collor de Mello e José Sarney que, em troca de cargos e de prestígio trazem para o PT os votos a cabresto da maior parte do Nordeste brasileiro.
   Não há nenhum “bolivarianismo” nas idéias de Gramsci, mesmo porque as suas teorias foram escritas com base no panorama europeu do pós-guerra, na tentativa de trazer os partidos de esquerda da Europa para dentro do sistema capitalista.
  O PT é, em primeiro lugar, um partido anti-nacionalista, que fez de tudo para destruir a memória de partidos como o antigo PTB de Getúlio Vargas e João Goulart, que avançavam na possibilidade do Brasil para os brasileiros e não para os amigos empresários, como deseja o PT. Durante os governos de Vargas e Jango pela primeira vez o povo brasileiro sentiu-se dignificado, havia um projeto para o Brasil que passava pelas reformas de base e pela reforma agrária, excluindo-se a interferência norte-americana nos assuntos do país.
   Após o golpe militar de 1964, que entregou o Brasil às multinacionais, e posterior “redemocratização” que continuou, com os governos civis, a política dos militares, o Brasil retrocedeu imensamente e, com o PT, fingiu um avanço que não passou de esboços de reformas sociais na tentativa de perpetuar a hegemonia com o apoio das classes dominantes. A par disso, a corrupção, a compra de votos de políticos, o desvio de dinheiro das grandes empresas estatais, a entrega em leilões espúrios das nossas riquezas estratégicas, como o petróleo.
   Nas recentes eleições não houve qualquer tipo de guerra ideológica, a despeito do PT ter se mostrado ao povo mais amestrado como o “partido dos pobres”, em oposição ao PSDB, que seria o “partido dos ricos”. Mentira após mentira, calúnia após calúnia, o PT conseguiu reeleger a sua presidente com os votos dos mais ignorantes, dos mais maliciosos e daqueles que ganham para trabalhar no partido. E, apesar disso, não é improvável que tenha havido fraude eleitoral.
   A extrema-direita que tanto se queixa do PT deveria apoiá-lo porque é o partido de centro-direita mais alinhado com as suas idéias, e esquecer o que chama de ameaça “bolivariana”, porque, se fosse assim, o PT, antes de tudo teria que ser um partido nacionalista.
   O que aconteceu nas eleições foi um sentimento de repúdio em relação ao governo. Mais da metade dos eleitores votaram contra ou negaram seu voto ao PT. Não foi uma eleição onde determinadas idéias foram escolhidas em detrimento de outras, mas um período eleitoral em que o PT usou de todas as armas da difamação e do ilusionismo para patrulhar as pessoas, incutindo-lhes medo, criando conflitos inexistentes, intimidando a tal ponto que mais de 30 milhões se abstiveram de votar no segundo turno, sem contar os votos brancos e nulos.
   O que revela que o povo não está feliz, nem com as eleições nem com o sistema eleitoral e muito menos com a corrupção que se tornou um hábito entre os políticos. Fala-se em reforma política no momento em que o sistema está caindo de podre e em que todos os políticos são suspeitos. O povo mais esclarecido deseja que alguma coisa aconteça para mudar esse cenário de degradação que estamos vivendo. Há a possibilidade de pedido de impeachment, caso fique provado que a presidente sabia dos roubos na Petrobras, há possibilidade de muita coisa. As eleições foram apenas o começo de uma revolta que está amadurecendo aos poucos.

Um comentário:

  1. Muito boa análise sobre as Forças Armadas e sua participação na política brasileira e sobre ideologia de forma geral.

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