segunda-feira, 25 de abril de 2016

A REVOLUÇÃO DOS CRAVOS E MORUS O IMPOLUTO




A 25 de abril de 1974 aconteceu a Revolução dos Cravos, em Portugal, dia em que as Forças Armadas derrubaram o governo de Marcelo Caetano, que sucedera a Salazar, instaurando um regime democrático e revolucionário que, por sua vez, foi golpeado em 25 de novembro de 1975 pelas forças mais reacionárias das Forças Armadas, aliadas a partidos de direita e de centro que elegeram presidente a Mário Soares, um político oriundo do salazarismo. Apesar de frustrada em seus objetivos maiores, a Revolução dos Cravos, durante aquele breve período, conseguiu a reorganização das forças populares e deu liberdade às antigas colônias, então insurgentes, de Moçambique, Angola e Guiné. A Revolução dos Cravos não se limitou a uma data, porque uma revolução de verdade é um processo em que está envolvida toda a população em seus diversos segmentos sociais, e não termina, mas evolui, apesar dos altos e baixos, das idas e vindas. 25 de abril é a grande data do começo dessa revolução em Portugal. No Brasil... 

   Conta-se que no período que antecedeu à revolução, a polícia política do regime, ou Polícia Federal, fazia o que bem entendia, prendendo, invadindo as casas de todos que desejava incriminar, vasculhando tudo, levando objetos pessoais dos detidos para forjar provas e intimidando os presos de tal maneira, através de métodos de tortura psicológica aprendidos com a Gestapo e a CIA, de tal maneira que obrigava a muitos a praticar o que, então, foi denominado de “delação premiada”, que consistia no direito de voltar a comer alimentos saudáveis e beber água não contaminada. Todas as celas eram vigiadas com modernos aparelhos eletrônicos de espionagem e profissionais da rede Obolg, que serviam ao regime fascista, passavam horas em frente às câmeras de vigilância tentando decifrar, por leitura labial, o que os presos políticos murmuravam. 

   Diz-se que a Polícia Federal, também conhecida como PIDE (Poder Intervencionista Discriminatório de Exceção), mas apelidada pelo povo sofrido de PIG (Perversão de Indícios Gerais), era dominada pelo famoso juiz Régulus Morus, que mandava no STF, intimidava o Ministério Público, nomeava indiretamente o Procurador-Geral e contava com o apoio de todos os farsantes do Congresso, também apelidados de deputados e senadores. 

   Suspeita-se que era ele quem determinava as horas de trabalho e lazer da população e os momentos em que todos podiam sair às ruas, revezadamente, para tomar um pouco de sol e conversar exclusivamente sobre futebol e novelas. Quem falasse qualquer coisa alheia a esses dois temas seria preso. Disfarçadas câmeras colocadas estrategicamente nas praças, ruas, calçadas, fora e dentro das casas, gravavam todos os movimentos e conversas do povo para eventuais análises sociológicas e futuras campanhas de ICP (Indução ao Comportamento Planificado), através da onipresente rede Obolg. 

   Morus era adorado pela direita festiva e pela direita sisuda. Pagavam-lhe um altíssimo salário e mais todos os benefícios imagináveis. Sempre que entrava em algum restaurante era aplaudido demoradamente, cantava-se o hino nacional, flores eram colocadas na sua mesa e ofereciam-lhe rapazes imberbes para eventuais festas particulares, que nunca aconteciam porque o guarda-costas de Morus, o adorador de ditas muito duras, J. J. Bolsão Hilário, ciumento de suas funções, fazia cara feia. Por isso, Morus foi apelidado de Impoluto. Ou por detestar o pólen das flores, que eram sempre jogadas no lixo. 

   Acredita-se que esta teria sido a principal razão da Revolução dos Cravos. Indignados porque as flores eram tratadas de maneira desprezível por Morus e seus asseclas, os cravos começaram a conspirar, conseguiram a adesão de outros cravos e de mais outros e outros ainda, inclusive fortes cravos das Forças Armadas, e puseram-se a revolucionar. 

   Antes disso, porém, afirma-se que Morus o Impoluto, lá pelo dia 24 de abril de 1974, após tediosos e cansativos interrogatórios foi para a sua casa, protegida por 365 pistoleiros sob a chefia de J. J. Bolsão Hilário, deitou, dormiu e sonhou que era uma ninfa perseguida por sátiros que cantavam perturbadora música. Acordou sobressaltado, chamando a mãe. Quando se acalmou, prestou atenção a um estranho ruído que vinha da rua. Vestiu-se apressadamente, saiu e encontrou J. J. Bolsão Hilário muito pálido, apontando com o dedo indicador para imensa multidão que cantava “Grândola, Vila Morena”, acompanhada por soldados com fuzis enfeitados por cravos. 

   À medida que se aproximavam o dedo indicador de J. J. ficava  duro como pedra e Morus o Impoluto sentiu-se hipnotizado com a letra da canção.

Grândola, vila morena/Terra da fraternidade/O povo é quem mais ordena/Dentro de ti, ó cidade/Dentro de ti, ó cidade/O povo é quem mais ordena/Terra da fraternidade/Grândola, vila morena/Em cada esquina um amigo/Em cada rosto, igualdade/Grândola, vila morena/Terra da fraternidade/À sombra duma azinheira/Que já não sabia a idade/Jurei ter por companheira/Grândola, a tua vontade/Grândola, a tua vontade/Jurei ter por companheira/À sombra duma azinheira/Que já não sabia a idade...”


   Régulus Morus acordou da sua passageira hipnose, e começou a gritar: - O que significa isso?! O povo é quem mais ordena? Onde já se viu? Ordena o quê? Quem ordena é o ordenamento jurídico. O que eles estão pensando?


- Vamos, chefe! – gritou J. J. Bolsão Hilário.


- Para onde? – perguntou o assustado Morus.


- Para o Brasil, onde a dita continua dura. Daqui a dez ou quinze anos, eles vão fazer uma redemocratização subversiva e tem gente que vai precisar da sua impoluta presença para por fim à anarquia. E dizem que lá é fácil ser deputado e ganhar bem por meios transversos.


- Antes, eu tenho que dar uma passadinha nos Estados Unidos para fazer um recall, receber algumas ordens e lavar bem as mãos.


- As suas mãos estão limpas, chefe.


- E nunca se esqueça disso!


   Portugal fez a sua revolução e, no Brasil, muitos anos depois...

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