Disseram
pra Dilma que deveria participar do golpe e não repudiá-lo, pois seria um golpe
contra o povo e não contra ela ou contra o seu governo, que eram necessários alguns
ajustes fiscais feitos por um ministro ligado ao FMI e às grandes corporações
bancárias, um judeu usurário clássico estilo Shylock, ou mesmo o Joaquim Levy que
retiraria alguns direitos do povo que ela prometeu defender, alguns milhões,
muitos milhões, na verdade vários bilhões, o que enxugaria a máquina pública
restrita apenas aos políticos, demissões aqui, demissões ali e, quem sabe, de
quebra, a aprovação de uma lei antiterrorismo para o caso das centrais
sindicais ficarem muito alvoroçadas e se resolverem a protestar – o que ninguém
acreditava e até hoje ninguém acredita – e, depois disso, tudo ficaria muito
bem, o país voltaria a andar, um país para poucos, mas que fazer?
Disseram
pra Dilma que o golpe era uma questão estritamente pessoal, conseqüência de
conflito de temperamentos que indispuseram deputados e senadores contra a
presidente e contra o seu partido, principalmente depois do fim do mensalão, ou
dos mensalões, quando os congressistas deixaram de receber suas honestas gorjetas
em troca de favores.
Disseram
pra Dilma que dois ou três desses deputados e senadores eram os chefões da máfia
do golpe, que esses chefões tinham comprado os chefetes e seus subordinados,
com o apoio do submisso Judiciário e, por fim, decidiram que a maioria de
golpistas no Congresso dava a eles o direito de depô-la e organizar-se em
ilegal governo, legalizado aos olhos do povo midiotizado pelos comprados donos
da imprensa e de todos os golpes e que esperam se tornar tão imensamente milionários
que poderão passar o resto de suas vidas em degradantes festas e esfuziantes
viagens e, ao morrer, se morrerem, serão guardados em imensos mausoléus
enfeitados pela suástica e pelas clássicas máscaras da tristeza e da alegria.
Disseram
pra Dilma que o Sérgio Moro faria uma limpeza no mar de lama que inunda o
Brasil, por isso a operação se chama Lava Jato. Graças ao Moro e à Polícia
Federal, ao FBI, à CIA, ao serviço secreto de Israel, aos Mórmons e à
Maçonaria, o Brasil ficaria livre da corrupção, nada como a liberdade vigiada,
que bom que ela, Dilma, tinha sancionado a lei que permite a prisão por tempo
indeterminado, apelidada de prisão preventiva, os tempos são outros, prende-se sem
provas e por ouvir dizer e depois os presos são julgados pelo mesmo juiz que
mandou prender, admirável mundo novo, e o Moro, esse bom rapaz que estudou nos
Estados Unidos e lá aprendeu tudo sobre corrupção, faria as prisões
necessárias, e até as desnecessárias.
Disseram
pra Dilma que não tem importância que os principais quadros do seu partido mofem
na cadeia sem quaisquer provas que os incriminem - o que é um partido, nas
atuais circunstâncias? Se for o caso, troca-se de partido, este é um país livre
para os que ainda estão livres, e se o Lula também for preso será menos um a
incomodar, a fazer pressão pelos direitos sociais e outras utopias obsoletas.
Disseram
pra Dilma para não falar em ingerência externa, que mania de jogar a culpa nos
Estados Unidos, é claro que eles são os responsáveis, mas não se pode falar nessas
coisas em público, uma questão de diplomacia, de tato, de bom tom, roupa suja
se lava em casa, este é um golpe doméstico, parlamentar, civil, os militares
nem precisaram sair dos quartéis, para isso existe a policia militar e todas as
outras polícias que botam qualquer exército no bolso, lembra do que aconteceu
na Turquia, recentemente? As forças armadas daquele país tentaram um golpe e
foram presas pela polícia, e olha que o Moro nem estava lá! Além do quê, em
política nunca se sabe, vá que o STF ponha a mão na consciência, se arrependa,
anule o ato jurídico do impedimento devido às suas óbvias imperfeições, a Dilma
volta a ser presidente depois de um grande acordo para pacificar a insubordinada
nação – e como é que fica com os USA com quem o Brasil tem tantos acordos, discretos
e indiscretos, e a quem jura vassalagem?
Disseram
pra Dilma que o golpe é passageiro e que ela ficará na História como a
guerreira da nação brasileira, talvez até ganhe uma estátua, como o Romário, ou
o Prêmio Nobel da Paz, como o Obama, por lutar pela união entre as classes,
pela paz social, pela democracia burguesa, pelas pacíficas minorias
insurgentes, pelo consumismo da nova classe média, pelo poder das devassáveis urnas
eletrônicas, por incentivar a devastação da Amazônia com o Novo Código
Florestal e com a construção de hidrelétricas megalomaníacas, como a de Belo Monte.
Disseram
pra Dilma que tudo passa, tudo passará, menos ela e o seu governo, que
enfrenta, é verdade, um breve período de estagnação devido ao Temer e sua
quadrilha, que quer porque quer entregar o Brasil aos seus patrões, e já está
entregando apressadamente, e tem a ânsia vampiresca de sugar o sangue dos
brasileiros, e já está sugando com volúpia, mas que logo em seguida, devido ao
grito das ruas e aos silenciosos conchavos palacianos, ela voltará nos braços
do povo para constatar que o petróleo era nosso, mas já foi vendido e que a
retirada dos direitos sociais é irreversível; mas, em compensação, ficará
famosa ao chamar eleições gerais e acabar de vez com o seu próprio mandato.
Rsrs...que disseram, disseram. Mas não tem volta. Não há a menor possibilidade dela voltar à presidência da república, infelizmente. Por isso é preciso deixar bem claro quem são os golpistas, de que lado tiveram, durante todo o período do golpe. Daí realmente só com Diretas-Já. Mas, por favor, que os candidatos de esquerda não me venham mais com alianças espúrias, com a direita e os fascistas. Uma constituinte precisa ser o compromisso urgente de qualquer candidato a presidência deste país.
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