domingo, 22 de maio de 2011

A CORRUPÇÃO TAMBÉM NA LÍNGUA



Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!


(Olavo Bilac)


Quando erramos, erramos. Ou não erramos? Há quem pense que uma república, por ser coisa do povo – res publica – no ensino da sua língua deve acompanhar a pobreza mental de quem não sabe ler, escrever e falar. O raciocínio parece ser o seguinte: se a maioria do povo não sabe falar (muito menos ler e escrever) o português correto, adote-se o não falar corretamente, o não escrever corretamente como sendo o correto, porque a maioria deve mandar no país, uma vez que a República deve pertencer ao povo.

     E assim pensando, os professores do MEC, do alto das suas altas graduações de pós-pós-doutorado, patrocinaram a edição de um livro didático que ensina que o errado também poderá ser certo, desde que você saiba falar (e talvez escrever) apenas o errado. A idéia é dizer ao povo, em sua grande maioria, que ele manda, mesmo que não saiba pensar, raciocinar e articular uma frase em português correto. Porque o correto poderá estar errado e o errado poderá estar certo, desde que o povo assim decida.

     O volume Por Uma Vida Melhor, da coleção Viver, Aprender, mostra ao aluno que não há necessidade de se seguir a norma culta para a regra da concordância. Os autores usam a frase “os livro ilustrado mais interessante estão emprestado” para exemplificar que, na variedade popular, só “o fato de haver a palavra os (plural) já indica que se trata de mais de um livro”. Em outro exemplo, os autores mostram que não há nenhum problema em se falar “nós pega o peixe” ou “os menino pega o peixe”. Segundo os autores, o estudante pode correr o risco “de ser vítima de preconceito linguístico” caso não use a norma culta. O livro da editora Global foi aprovado pelo MEC por meio do Programa Nacional do Livro Didático.

     Mais um ato de demagogia tipicamente petista. É mais fácil concordar com o que está errado do que ensinar o que é certo. E assim teremos uma segunda língua, alternativa aos analfabetos funcionais, que lembrará o português. E ficará tudo mais fácil para todos. Para que ensinar concordância, regência, análise sintática, que é tão difícil até para os professores? Morfologia...Sintaxe... E os verbos... São tão infinitivos que a sua tendência será desaparecer no infinito. É muito difícil aprender português. Então, para que aprender?

     Convenhamos, a linguagem vem em primeiro lugar, depois é que a língua é formada. Você pode se comunicar através de gestos, olhares, sons guturais e, desde que consiga fazer-se entender dentro do seu grupo social através de uma linguagem primitiva que facilitará essa comunicação... estamos conversados. Daí, para entender a língua conseqüente a essa linguagem e outras complicações ortográficas e gramaticais, deixemos isso para os idiotas que gostam de ler e de escrever. Vamos falar brucutu, inventar o nosso patoá. É mais fácil.

     É mais fácil, também, corromper e ser corrompido e estamos no Brasil onde quem não é corrupto é considerado bobo. Então, vamos corromper também a língua, para que fique bem entendido que a corrupção faz parte da nossa linguagem e entendimento enquanto brasileiros.

     Temos ótimos exemplos de corrupção também no modo de falar dos nossos presidentes. Lula não sabe falar e quando diz alguma coisa, como, por exemplo: “cumpanheiros, nóis tamu aquipra verquenhé qui póde mais!”, é perfeitamente entendido e ovacionado delirantemente pelos seus iguais. É uma língua própria, que está pegando e agora está sendo gramaticalizada, tamanho o exemplo do nosso ex-presidente. E a nossa presidente, que prefere ser chamada de ‘presidenta’, tem o seu próprio linguajar, que alguns apelidaram de “dilmês” – tão graciosa é a maneira como se expressa. Graciosa e ininteligível, muitas vezes, mas graciosa. E o exemplo sempre vem de cima.

     Mesmo que o que venha de cima seja um cacho de bananas na nossa cabeça, indicado pelos especialistas em cachos de bananas para parar o raciocínio supérfluo. Além disso, banana é rica em potássio e fibras. E precisamos de fibra para agüentar este demagógico e corrupto Brasil.

     Tão demagógico que de tanto falar em Paulo Freire, autor de “A Pedagogia do Oprimido”, o PT fez exatamente o contrário: ensina aos oprimidos que a opressão faz bem. E diz a eles que podem optar por continuar como oprimidos até na língua, se assim desejarem. Para não correrem o risco de preconceito lingüístico, poderão criar a sua própria língua – baseada na gíria e na preguiça mental. E, teoricamente, falando e escrevendo como quiserem, os oprimidos se sentirão livres de qualquer preconceito lingüístico. E colocarão a si mesmos em um guetto mental e cultural. 

     Mas como os oprimidos não sabem que são oprimidos, porque a pedagogia da ditadura civil continua a ser a mesma pedagogia da opressão da ditadura militar, e não a pedagogia proposta por Paulo Freire, acreditarão que falar e escrever de qualquer jeito é uma forma de liberdade. Só não sabem, e continuarão a não saber, que, na verdade, é mais uma maneira de opressão e de discriminação. Já não basta ser pobre e excluído; é necessário que fale e escreva errado, com o aval e os sorrisos do governo. Ghetto cultural.

     Na verdade, não importa ao Governo educar corretamente os jovens e adultos. Importa que passem de ano de qualquer maneira e corram para o mercado de trabalho, ostentando o seu diploma. Quanto mais pessoas procurando emprego, menor será o salário, devido à grande concorrência por vagas. É a lei da oferta e da procura também para o trabalhador.

     Ás vezes, quando assisto a um programa sobre a realidade dos países latino-americanos fico surpreso com a facilidade e riqueza de vocabulário com que os irmãos à nossa volta falam o espanhol, com pequenas diferenças de país para país, que não chegam a se configurar em dialetos, mas diferenças como o nosso português do Brasil em relação ao português de Portugal, Angola, Moçambique, etc. E as pessoas entrevistadas são simples, às vezes muito pobres, mas cultuam a sua língua como quem cuida de um filho, porque falar bem a própria língua – embora o atual Ministério de Educação e Cultura pense o contrário – é uma questão de cultura.

     E não percebo que usem gíria. Não tanto como nós. Eles gostam de falar espanhol, de se expressar em espanhol. Não tratam a sua língua como um estorvo, exatamente como nós, ou conforme as últimas orientações do MEC. Mas aqui é uma questão de corrupção até na língua.

     Também gosto de ler os livros em português de Portugal, como os romances de Saramago, que tão suave e agradavelmente sabia se expressar, e percebo o quanto perdemos não só em vocabulário como em amor à nossa própria língua e que a nossa distância de Portugal não é somente física.

     Porque um povo que não ama a própria língua não pode amar a si próprio. 

     À medida que esse desamor aumenta, diminui a sua auto-estima, diminui-se ante si mesmo. E passa a falar e a escrever atravessado, como nas mensagens da Internet, e a desfazer-se do seu orgulho e a sentir-se pequeno, muito pequeno e a adotar outras línguas, como o inglês, por entender, em sua sublime ignorância, que falar corretamente o português é errado. E o errado passa a ser o certo e a identidade nacional dilui-se.

     Talvez seja este o objetivo final deste governo que vai para dez anos: acabar com o que resta de orgulho pátrio. Porque pessoas sem qualquer orgulho, sem referências que não sejam as chuteiras e os cabelos dos jogadores de futebol, são mais fáceis de manipular.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

MILITARES


Desde que o mundo é mundo existem militares, ou pessoas com instintos guerreiros e belicosos. Talvez Caim tenha sido o primeiro militar sem farda, mas há dúvidas, porque ele foi castigado por Deus quando matou o seu irmão Abel e os militares não são castigados quando matam. Geralmente não primam pela inteligência, mas pela capacidade física. No início eram apenas pessoas fortes usadas pelos países para defender-se de outros países que também tinham pessoas fortes e agressivas. Aos poucos, ao perceberam a sua imensa força, foram se organizando e passaram a fabricar o que entendemos por História.

     A História é a história dos feitos militares. Ao estudarmos a História encontramos grandes guerreiros e conquistadores; jamais a história dos soldados que os transformaram em grandes guerreiros e conquistadores. Porque a história de cada grande vitória militar é encomendada pelos vencedores e nessa história não entra o povo fardado que lutou e morreu ou sobreviveu a cada batalha, mas somente as estratégias empregadas pelos generais.

     Por isso, a História oficial se torna extremamente suspeita, e por mais que os repetidores das grandes empresas de comunicação insistam que determinadas coisas aconteceram em determinadas épocas, procurando transformá-las em fatos históricos, se essas determinadas coisas se relacionarem com guerras já acontecidas e se os repetidores dessas empresas jornalísticas estiverem ligados àqueles que venceram as guerras... desconfie.

     A História não é uma ciência e os vencedores sempre manobram as suas próprias mídias para que as gerações futuras acreditem que tudo o que eles fizeram, por pior que tenha sido, foi o melhor para todos e que o inimigo foi combatido e exterminado porque era muito mau. Os historiadores acostumaram-se ao maniqueísmo e a aceitar as verdades oficiais, tornando-se – também eles – repetidores do que, muitas vezes, poderá ser uma grande mentira oficial.

     Ao repetir a História conforme lhes é dita para ser repetida, historiadores e professores de História transformam-se em uma forma de mídia defensora do status quo. É claro que existem aqueles historiadores que realmente pesquisam e buscam a verdade histórica, mas são poucos e raros. Quando descobrem alguma mentira no que até então foi considerada uma verdade histórica incontestável, costumam ser perseguidos pelo sistema. E se insistirem em revelar o resultado das suas pesquisas, podem até ser presos. No mínimo. Principalmente se for uma verdade histórica imposta por militares.

     Militares são os que fazem a História e as leis dos seus respectivos países. É claro que sempre ajudados por civis juristas e legisladores amigos, mas os militares estipulam quais leis que dizem respeito às suas ações e ao seu pensamento podem ou não vigorar.

     Com o passar do tempo, os militares formaram uma classe em cada país, como uma praga. Isso fez com que todos os esforços dos filósofos e dos amantes da liberdade e da vida tenham sido em vão. Até agora. Porque, por incrível que pareça, ainda existem pessoas que gostariam de viver em um mundo onde a criatividade e a paz estivessem em primeiro lugar. E tentam lutar pacificamente por isso. Mas pouco tem adiantado. Sempre que há alguma passeata pacífica pela paz, amor e outras necessidades humanas para uma vida melhor e mais justa, militares de baixo nível – com o nome de policiais – atacam os manifestantes. Invariavelmente.

     Por isto, talvez, tenham surgido sociedades secretas, que seriam grupos de pessoas amantes da verdade que se reuniriam secretamente para trocar opiniões, estudar e buscar a melhor maneira de transformar este nosso mundo em um lugar pacífico. Teriam como suporte eufemístico o ocultismo, o hermetismo e outras coisas tão secretas que não podem ser reveladas nem aqui.

     Mas de nada adiantou. Quando os militares descobriram as sociedades secretas, infiltraram-se, conquistaram altos cargos e conseguiram fazer com que os demais membros pensassem que para se conseguir a paz e a verdade é necessário fazer-se a guerra. Segundo alguns exegetas, como A..., B..., C... e outros que também não posso revelar os nomes, sob pena de morte inglória, existiram até lojas maçônicas formadas somente por militares. E talvez ainda existam. Seriam lugares onde estudariam as melhores estratégias de guerra secreta, se congraçariam trocando medalhas e apertos de mão esotéricos e teriam acesso a secretos fundos de beneficência mútua. Tudo pelo amor à guerra e à conquista.

     A classe militar se considera acima dos demais humanos não fardados, que chamam de civis. Acreditam-se superiores, porque é deles o poder da destruição. E nada mais assustador do que pessoas que gostam de destruir. Formam um mundo à parte, com costumes e leis particulares, não se deixando governar pelos civis, o que seria para eles um supremo opróbrio.

     Na verdade, o povo incomoda os militares, porque depois de cada guerra pede a paz e um governo pacífico e civil e os militares somente existem em função das guerras que eles mesmos promovem. Quando não estão guerreando ou preparando guerras, os militares não sabem o que fazer. Jogam xadrez, boliche, peteca; promovem manobras para treinar as tropas, desfilam perante a população civil nos dias aprazados, revelam a sua arrogância e o seu desprezo pelos não fardados com atitudes soberbas, porque se sentem intocáveis, mas nada disso os satisfaz.

     Quando muito necessário, assumem o poder dos seus países ostensivamente, mas, em geral, preferem que civis amigos façam esse trabalho por eles, desde que sigam as suas orientações. Sabem que, de qualquer maneira, são eles os donos do poder. O único medo que eles acalentam é o medo do povo que - mesmo desarmado - por seu vulto e quantidade, se um dia acordar, poderá dar-se conta de sua verdadeira força.

     Devido a isso, no Brasil os militares mais poderosos, como marechais, generais e coronéis, que circulam pelas varandas do poder, fizeram um trato com os civis poderosos – latifundiários, empresários e políticos – no sentido de amansar e enganar o povo através de eleições que acontecem a cada dois e quatro anos – ocasiões em que o povo pensa que estará decidindo o futuro do seu país. Isso faz com que o povo fique feliz por alguns dias, na época das eleições e, depois, quando quer reclamar de alguma coisa, já não pode fazê-lo porque entregou o seu poder aos políticos que são aliados dos militares – os verdadeiros governantes do país.

     Militares obedecem a outros militares que obedecem a outros militares, e assim numa cadeia de poder vertical que faz com que os militares mais graduados dos países mais fracos militarmente obedeçam aos militares mais graduados dos países que possuem armas de grande poder destrutivo. E o poder destrutivo é o grande deus dos militares.

     Dessa maneira e por amor à hierarquia, formaram-se grandes alianças militares, com os países mais fortes tendo o poder supremo das decisões e os demais países somente seguindo aqueles que tem força para decidir.

     Isto, nos países como o nosso, onde o povo não governa. Porque existem países onde os seus povos, através de revoluções, tomaram o poder em suas mãos e elegeram formas de governo que não incluem a militarização como premissa básica de governo ou a entrega do poder a políticos corruptos.

     São esse países os visados pelas grandes alianças militares, como, por exemplo, a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), que é custodiada pela ONU. A OTAN é uma organização militar que compreende os países europeus, mais os Estados Unidos e o Canadá. Mas, na verdade, é dirigida pelos Estados Unidos.

     A ONU, que sempre apóia tudo o que a OTAN faz, teoricamente seria uma organização civil, com representantes em quase todo o mundo, que existe para unir os povos e promover a paz, etc. Mas, na realidade, é dirigida pelos interesses dos Estados Unidos e de seus aliados, constituindo-se em uma espécie de organização fantoche do império.

     E o império atual, assim como todos os impérios que já existiram no decorrer da história das civilizações, é um império militarizado. A cabeça exposta desse império são os Estados Unidos, mas dele participam, com o mesmo poder de fogo, as demais nações que possuem arsenal nuclear. Com algumas exceções. Paquistão, Índia, China, Coréia do Norte, são algumas das nações que tem armas nucleares, mas nem sempre estão alinhadas com o império.

     Como todo império que se preze, o atual deseja dominar a tudo e a todos. Não por razões lógicas perfeitas ou devido a uma filosofia pura e humanitária, mas para conquistar todos os mercados do mundo, porque a sua origem é o capitalismo e as grandes empresas necessitam de mercados abertos para vender os seus produtos.

     Mas, atualmente, os militares também são considerados como um produto. O capitalismo previu a sua utilização como fonte de renda e lucros, à medida que fosse formada uma mentalidade militar voltada somente para o materialismo. Por isso, os militares são muito bem pagos para executarem as ordens dos seus senhores e pensarem que são eles que governam. Acostumados a não pensar e a somente obedecer, os militares concordaram com os planos de dominação mundial dos capitalistas e deles participam ativamente acreditando não na glória ou na honra, mas na conquista do espólio final.

     Em relação ao império que fabricou essa mentalidade militar, eles são mercenários e estão à mercê dos seus senhores. Não porque sejam somente submissos às decisões das multinacionais que governam o império. Mas também devido a isso. Mercenário é aquele que trabalha por soldo, não por ideal. É uma palavra que vem do latim mercenariu, de merce = comércio.

     Militares, no entanto, consideram mercenários somente aqueles que utilizam armas, mas não representam, oficialmente, nenhum país e que são contratados por países ou grandes empresas para desestabilizar militarmente as economias de outros países que contrariam os seus interesses. Geralmente esses mercenários são pessoas viciadas em guerras e tiram das guerras o seu sustento. Não possuem nenhum ideal e tem imenso prazer em matar – ao contrário dos militares fardados, que matam por obrigação.

     Antigamente, quando os príncipes eram príncipes apenas pelo poder econômico e sentiam grande necessidade de aumentar esse poder, invadindo e conquistando as terras dos outros, contratavam mercenários para esse serviço. Acontecia, às vezes durante as batalhas, o curioso fato de mercenários trocarem de lado, seguindo a lei mercenária de sempre aceitarem a maior oferta.

     Maquiavel, que serviu na administração da República de Florença, de 1498 a 1512, escreveu um livro intitulado “A Arte da Guerra” onde, entre outros assuntos bélicos, criticava o hábito daquela república – que era governada por famílias principescas, como os Médici e os Soderini – de contratar mercenários para fazer as suas guerras habituais contras as outras cidades italianas. Propunha que aquela cidade-estado formasse um exército regular com os seus cidadãos, a exemplo do que já acontecia em países bem maiores, como a França.

     Foi-lhe dada uma oportunidade de fazer uma experiência para provar a sua tese e Maquiavel recrutou um pequeno exército, formado por pessoas pobres e pequenos agricultores. Mas não deu certo. Os pequenos agricultores consideravam-se muito mal pagos e preferiram continuar cultivando os seus pequenos terrenos e as pessoas pobres recrutadas logo desertaram quando dos primeiros combates travados contra exércitos de mercenários de outras cidades. Acharam que a pobreza era preferível a serem mortos defendendo os interesses das grandes famílias de Florença.

     Quando os países começaram a consolidar as suas fronteiras, a necessidade de exércitos regulares tornou-se imperiosa e a essa necessidade seguiu-se a lei de alistamento obrigatório. E, devido a essa lei, que obriga os jovens a participarem ativamente dos interesses bélicos dos seus respectivos países, surgiram as Forças Armadas, divididas em Exército, Marinha e, posteriormente, – para horror de Santos Dumont - Aeronáutica. Nem todos os jovens alistados servem nas Forças Armadas dos seus países, mas, com certeza, todos os jovens pobres alistados são obrigados a servir.

     E servir é a palavra correta. A formação e a organização dos países originou diversos tipos de coerção sobre os cidadãos. O simples fato de nascer em determinado país obriga as pessoas a fazer coisas que, voluntariamente, não fariam, como pagar todo o tipo de impostos exigidos pelo Estado e servir nas Forças Armadas. Para que esse regime de servidão não pareça uma escravidão permanente, o Estado utiliza valores morais, como o amor à pátria, para coagir as pessoas a agir contra a sua própria natureza.

     Servir nas Forças Armadas é uma das maneiras das pessoas demonstrarem seu amor à pátria, mesmo que esse amor passe a ser obrigatório. E assim agindo, o Estado – sempre representado pelas famílias mais ricas – obriga os cidadãos mais pobres a morrerem heroicamente, quando necessário. Ou a seguir carreira - se tiverem capacidade e instrução suficiente. E, talvez, se transformarem também em pessoas ricas que passarão a representar o invisível, mas poderoso, Estado, coagindo as pessoas fardadas mais pobres a lutarem em seu nome, ou por amor à pátria.

     É claro que esse serviço é pago, porque os soldados recebem o seu soldo, e, de acordo com a gradação, o pagamento é maior. Mas em outras épocas não era assim. Em muitos casos, os soldados arregimentados para uma batalha recebiam a promessa da liberdade de saque. Começavam a batalha pensando em defender a nação e terminavam como ladrões.

     Aliás, até hoje. Uma guerra não se faz por princípios, mas por necessidade. Às vezes, necessidade de saquear as riquezas de outro país. Mas sempre em nome de valores morais. Os soldados, imbuídos desses valores morais, saqueiam outros países para que os muito ricos dos seus países se tornem ainda mais ricos. Existem inúmeros exemplos, na História, dessa degradação moral nas guerras, em nome de valores morais intangíveis.

     Mas exemplos mais próximos são mais tocantes. As invasões do Iraque e do Afeganistão foram feitas para ‘defender a civilização ocidental e contra o Islamismo terrorista’. Mas a verdade é que os Estados Unidos e seus aliados entraram naqueles países para tomar os seus poços de petróleo e outras riquezas. A guerra civil na Líbia, que seria ‘contra a ditadura e pela liberdade’, está se transformando em uma descarada invasão daquele país para roubar petróleo e gás.

     Quando surgiram os militares como organização bélica em seus países, eles lutavam pela honra e pelo amor à pátria. Às vezes, individualmente, também lutavam por suas amadas ou pela conquista de um ideal. Tornavam-se exemplos de retidão, de boa conduta e de luta constante pelo bem da Humanidade.

     Ainda existem militares assim, principalmente nos pequenos países onde a luta é para preservar as raízes do nacionalismo. Talvez ainda exista esse tipo de militar até no Brasil. Aqui, tivemos grandes exemplos de idealistas que tiveram que se converter em militares para tentar realizar um país justo e humano.

     Na verdade, se pensarmos bem e com o mínimo de análise que requer este pequeno texto, até a primeira Guerra Mundial os militares de cada país lutavam pela honra e pelo dever de defender a sua pátria. O início do século vinte ainda continha um pouco do romantismo dos séculos anteriores, principalmente dos séculos dezoito e dezenove, quando houveram grandes guerras de libertação e os militares se distinguiram justamente por se constituírem em líderes dessas lutas.

     Na América Latina reverenciamos, com justiça, a libertadores tais como Artigas, Sucre, Martí, Che Guevara, Fidel Castro, Emiliano Zapata, Pancho Villa, Toussaint L’Ouverture no Haiti, Francisco de Miranda, San Martín, Simon Bolívar, Bernardo O’Higgins, e tantos outros que a memória agora me falha. O curioso é que não consigo lembrar nenhum grande libertador no Brasil.

     Aqui, houveram líderes de revoluções, que tentavam a separação do Império – como Tiradentes, em Minas Gerais, João Batista Gonçalves Campos, no Grão-Pará (atualmente Amazonas e Pará), Manuel Francisco dos Anjos Ferreira, que liderou a Balaiada, no Maranhão, Ceará e Piauí; Francisco Sabino, que liderou a Sabinada, na Bahia; general Netto, Bento Gonçalves e Garibaldi, que lideraram a Revolução Farroupilha.

     Invariavelmente, movimentos que foram traídos e seus líderes assassinados ou cooptados para as forças do Império, como Bento Gonçalves e Netto, que lutaram, mais tarde, na Guerra contra o Paraguai. E no século vinte, já durante a República, Antonio Conselheiro, que não liderou nenhuma revolução, mas fundou uma cidade no Nordeste, chamada Canudos que teve todos os seus habitantes massacrados pelo glorioso exército nacional.

     E pensando um pouco mais, puxando pela memória, depois que os militares instalaram a ditadura, em 1964, líderes como Mariguella e Lamarca merecem ser lembrados. Além daquela centena de gloriosos brasileiros que morreram lutando no Araguaia. Na verdade, a maioria deles foi traída por pessoas que hoje são políticos - e torturados e assassinados, para alegria suprema dos militares.

     Na verdade, houve um grande revolucionário, chamado Luiz Carlos Prestes, que atravessou o Brasil de ponta a ponta, nos anos ’20, lutando contra militares e cangaceiros contratados pelo governo da época, com uma coluna que foi depois chamada de “a Coluna Invicta”, que jamais foi vencida em nenhuma batalha ou combate e acabou se internando na Bolívia, por absoluta falta de armas, munições e víveres. Prestes era um militar. Como Lamarca, desertou do exército para fazer a revolução. Eram tempos em que militares - alguns deles - também pensavam em termos de nacionalismo e lutavam contra as injustiças de armas na mão. Época em que não havia Mcdonalds no Brasil.

     E houve, depois, nos anos ’30 um grande brasileiro nacionalista – advogado e jornalista – chamado Getúlio Vargas que, por estar na política, rebelou-se contra os políticos corruptos e fez duas revoluções – em ’30 e ’32 – contra as oligarquias dominantes. Venceu e como ditador deu direitos ao povo trabalhador, mas foi deposto em 1945 pelo exército que voltava de uma guerra que não era sua, na Europa e que de tanto fazer a cobra fumar acreditou que o Brasil deveria ser uma extensão dos Estados Unidos.

     Depois, mataram Vargas em 1954, quando era presidente, golpearam João Goulart em 1961 e em 1964 e instalaram-se no poder até o momento em que acharam civis confiáveis para quem esse poder poderia ser passado. Nesse meio tempo, mataram todos de quem desconfiavam.

     Militares são assim. Obedecem a outros militares e mandam nos civis a quem fingem obedecer, como no Brasil de hoje. Tem um pacto de sangue entre si e querem dominar a todos e a tudo. O seu único medo é que o povo acorde e reivindique um pouquinho desse poder.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

O PREFEITO E AS ÁGUAS PÚBLICAS


O prefeito estava à janela da Prefeitura, observando a mais nova obra da sua gestão – a praça central. Com a mão direita nos cabelos louros e cacheados, procurava lembrar como era aquela praça antes de ele assumir o governo municipal. Uma praça que datava de quase 100 anos, sempre tivera bancos grandes de cimento e muitas árvores, as mais diversas. Ele conseguira fazer uma reforma estrutural, como dizia o engenheiro seu amigo, encarregado da dita reforma. Mas ele, pessoalmente, preferia a palavra “revitalização”. Tinha ido a Brasília e conseguido convencer o Governo de que a revitalização da praça era essencial. Afinal, o Ministério das Cidades tinha verbas para isso, e ele recebera mais de 1 milhão de reais. Dinheiro garantido, mas depois surgiram as dúvidas: o que fazer para revitalizar a praça?

     Aos poucos, surgiram as soluções: tirar os bancos de cimento e colocar bancos de madeira; alguns novos postes de luz, canteirinhos mais bonitos, tirar algumas árvores, colocar outras; cria-se um espaço aqui, outro acolá e pronto!... Tinha conseguido gastar a verba. É claro que não tinha gastado exatamente toda a verba. Sempre sobra alguma coisa. Mas ninguém poderia contestar: estava tudo especificado, tintim por tintim, no site da Prefeitura. E, qualquer coisa, a Prefeitura estava bem provida de contadores e advogados.

     Estava envolvido por esses pensamentos, quando entrou o seu secretário, dizendo:

     - Senhor prefeito, temos um problema!

     - Um momento, companheiro secretário! Nunca me chame de senhor prefeito, mas de companheiro prefeito, principalmente na frente das outras pessoas.

     - Mas estamos sozinhos, senh... er... companheiro prefeito.

     - Mesmo sozinhos, vá treinando. E não me fale em problemas: é claro que sempre temos problemas.

     - Mas este problema, companheiro prefeito, é de natureza diferente. Um cidadão reclamando que cortaram a água da casa dele.

     - Se cortaram é porque ele não pagou, companheiro secretário. Não lhe parece óbvio?

     - Muito óbvio, companheiro prefeito, e este é o caso. O cidadão não pagou e lhe cortaram a água. Mas é bem pior que isso: ele não pagou e não quer pagar porque diz que a cobrança é injusta e está apelando para o companheiro prefeito para que lhe restituam a água.

     - Mas em nome de quê, pardieu? Como está o meu francês?

     - Está quase perfeito, companheiro prefeito, mas ainda falta alguma coisinha.

     - Eu estou me esforçando, companheiro secretário. Você sabe, em terra de quem fala português e inglês, quem fala francês é rei...

     - Prefeito, companheiro prefeito.

     - Pois é, companheiro secretário... mas eu almejo maiores alturas, companheiro. E este companheiro cidadão, ou deverei dizer citoyen? Mesmo não pagando, ele quer água? Logo agora que estamos entrando em uma crise mundial pela água... Talvez até sejamos invadidos pelos Estados Unidos definitivamente. Eles querem a Amazônia, e não só a Amazônia... Que gente gananciosa! Comem aquela comida artificial deles e depois querem a nossa água... Sedentos, muito sedentos... E o companheiro sedento?

     - Esse companheiro sedento, companheiro prefeito, protocolou um ofício para o senhor. Está aqui.

     - Humm... Deixe ver... A água é um bem essencial à vida... É verdade... Saúde... Sim... Mas ele está louco, companheiro secretário!

     - Concordo, companheiro prefeito. Como o senhor quiser: ele está louco.

     - E sabe porque ele está louco?

     - Está louco porque está louco, companheiro prefeito?

     - É claro, mas além disso... Muito além das estrelas... Você acha, companheiro secretário, que iremos, algum dia, muito além das estrelas? Que o ser humano, mesmo com tantas bombas atômicas, não destruirá o seu habitat, a Terra? Que as geleiras derreterão e que teremos uma terrível inversão climática? Você acredita que Osama está morto, que Obama é um bom moço e que quem manda na Casa Branca é realmente a Hillary Clinton? Isso não é hilário, a Hillary querer invadir o Paraguai para pegar aquele imenso lençol freático e ser atacada pelos índios tupiniquins?

     - Perdão, companheiro prefeito, no Paraguai são os índios guaranis.

     - Tupiniquins, guaranis, caiapós, xavantes... Não é tudo a mesma coisa, não são todos índios?

     - Existem singularidades, companheiro prefeito...

     - Particularidades seria mais adequado, companheiro secretário. E esta, agora! Um cidadão, um citoyen, querer água sem pagar as taxas! Mas não é um abuso, companheiro secretário? Cortem-lhe a cabeça!

     - Absoluto abuso, companheiro prefeito. Mas cortar a cabeça... O companheiro não acha...

     - Eu sempre acho, companheiro secretário, mesmo sem procurar. E quando eu disse “cortem-lhe a cabeça” foi apenas uma citação: “Alice no País das Maravilhas”. Além disso, completo abuso fica mais correto, companheiro secretário. Completo abuso e não absoluto abuso. Completo abuso seria a invasão da América do Sul pelos soldados dos Estados Unidos para roubar água. Cada um deles com a sua canequinha na mão. Melhor: com o seu cantil e com tonéis vazios. E mais: empresas que antes eram petrolíferas e serão aqüíferas dando golpes de estado, substituindo presidentes, massacrando o povo nas ruas... E eu que queria tanto que o chafariz da praça funcionasse...

     - Mas é simples, companheiro prefeito, mande consertar o chafariz.

     - E ver aquele cidadão desesperado, com toda a sua família bebendo as águas públicas? E dando entrevistas sobre a insensibilidade do prefeito? Non, non, non, non, non e non!

     - Non?

     - Não, apedeuta companheiro secretário. Mil vezes não!

     - Então o chafariz não irá funcionar?

     - Com certeza que sim! As águas vão rolar e a fonte vai cantar. Você acha, companheiro secretário, que a música sertaneja de antigamente era superior a esta coisa de hoje que só fala em meu amor e você pra lá e você pra cá e calcinha preta... Todas essas vulgaridades?

     - Com certeza que sim, companheiro prefeito.

     - Com certeza que sim... Com certeza que sim... Há algo errado nessa sua frase, companheiro secretário. Não exatamente errado, mas redundante, desnecessário... Desnecessário dizer que a solicitação do companheiro cidadão deverá ser atendida, não acha, companheiro secretário?

     - Sem que ele pague as taxas de água, companheiro prefeito?

     - Ele pagará... Ele pagará... Através de um processo judicial, é claro. Por enquanto, peça ao companheiro secretário da autarquia para religar a água desse bom cidadão. Não queremos que a sua família passe necessidades, não é companheiro secretário?

     - A minha família ou a dele, companheiro prefeito?

     - A dele, companheiro secretário, você entendeu bem e não me venha com gracinhas. Um companheiro cidadão com problemas telúricos não deve ser abandonado. Porque a água brota da terra, do latim tellus, telúrico, e todos tem direito aos seus cinco minutos de fama, ou serão quinze? O sol nasceu para todos, assim como a água não existe apenas para os peixes e caranguejos e siris. Você já comeu uma casquinha de siri? É claro. Tão claro quanto a luz elétrica... Quem diria... Um pára-raios... E Benjamin Franklin não terá levado um choque? E depois Edison e a lâmpada maravilhosa... Enfim, não queremos que um cidadão passe dificuldades, não é companheiro secretário?

     - Claro, companheiro prefeito.

     - Muito bem... Muito bem... A nossa função é social. Estamos aqui para solucionar problemas, dirimir contendas, amar a todos, vencer os gigantes, defender as donzelas...

     - Como disse, companheiro prefeito?

     - Você não leu o “Dom Quixote de la Mancha”, companheiro secretário?

     - Ainda não, companheiro prefeito.

     - Então não leia. Traga-me a agenda. Sei... Outra reunião com os fazendeiros... Quero dizer, com a Comissão para a Prosperidade do Município. Belo e pomposo nome. Para quem irá essa prosperidade do município - hein, companheiro secretário? Para os industriais que não tem indústria – nos dois sentidos, companheiro secretário – no máximo uma fabriqueta aqui, outra ali. Para os comerciantes que vendem produtos do Paraguai e querem que eu expulse os camelôs? O que me diz, companheiro secretário? Ou para os fazendeiros, que agora querem plantar eucaliptos para vender madeira para as fábricas de celulose e para isso desejam uma lei de incentivo à pecuária, que de pecuária não tem nada, porque estão todos se mudando para o Mato grosso do Sul, com bois e tudo? E lá vou eu dizer que sim, que plantem eucaliptos que eu encaminho a lei para a Câmara, que façam o que bem entenderem, porque sem eles eu não sou nada... Ah!, hoje não é o meu dia nem será a minha noite, porque terei que sorrir para todos, elogiar os empreendedores que no fim do ano receberão o troféu dos caras de pau. Mon dieu! Mon dieu!

     - Como disse, companheiro prefeito?

     - Eu não disse nada, companheiro secretário, e se você ouviu alguma coisa, esqueça. Esquecer é o melhor remédio na política. Sorrir, também. Sorrir, esquecer; sorrir, esquecer... De vez em quando, em época de eleições, fazer discursos, dizer ao povo que todo o poder emana deles – mas somente emana, não é companheiro secretário? E depois sorrir, esquecer e concordar com os mais poderosos pela simples razão de que são mais poderosos e a política é um jogo de poder que não emana do povo... Sorrir, esquecer, concordar... Tudo é vaidade neste mundo, tudo é vaidade...

     - É verdade, companheiro prefeito.

     - O que é a verdade, companheiro secretário? Quod est veritas?

     - Perdão, companheiro prefeito, não entendi...

     - Perfeito, companheiro secretário, não é para entender. Agora pode ir e me avise quando for hora do cafezinho. Antes que as geleiras degelem, antes que seja necessário usar barcos e não carros, antes que o Obama invada esta cidade atrás de outro Osama ou da água do chafariz, que será tão belo! Antes que o mundo acabe em 2012, não é companheiro secretário? Companheiro secretário! Você já saiu? Que coisa... Um fim de mundo com data marcada... Não tem a menor graça... E pessoas que não tem água! Como este mundo é cruel! Mon dieu! Mon dieu! E eu que queria tanto ser franciscano... E eu que já tive ideologia... “Ó que saudades que eu tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida...”

     - Hora do cafezinho, companheiro prefeito! O companheiro dizia...?

     - Nada. Estava apenas treinando o meu português. Você conhece Casimiro de Abreu?

     - Já ouvi falar, companheiro prefeito. Não é aquele companheiro que mora ali na...

     - Deixe pra lá, meu simplório secretário. Vamos ao cafezinho! Allons!

quarta-feira, 18 de maio de 2011

A PERVERSÃO DO POLITICAMENTE CORRETO: HOMOFOBIA E HETEROFOBIA



O que é politicamente correto é politicamente correto para quem? Quem sai lucrando politicamente? Decência, pureza, educação – o que significa isso, hoje em dia? O que significa pureza em uma época de total degradação da natureza, quando nos tornamos pervertidos até com a nossa Mãe Terra e a destruímos deliberadamente? Em época de total corrupção, quem não é corrupto está errado?

     O que significa, agora, a palavra perversão?

     De acordo com a Wikipédia, Perversão vem do latim perversione que corresponde ao ato ou efeito de perverter, tornar-se perverso, corromper, desmoralizar, depravar, alterar. É um termo usado para designar o desvio, por parte de um indivíduo ou grupo, de qualquer dos comportamentos humanos considerados normais e/ou ortodoxos para um determinado grupo social. Os conceitos de normalidade e anormalidade, no entanto, variam no tempo e no espaço, em função de várias circunstâncias.

     Os conceitos de normalidade e anormalidade... São apenas conceitos? Por exemplo, é normal proteger a natureza e é anormal depravá-la, degradá-la. Todos concordam? Pelo menos em teoria, não? Mas, quando se trata de desmatar, destruir espécies, em nome de se construir sabe-se lá qual monstruosidade, em nome de um desenvolvimento que somente irá favorecer um pequeno grupo... Alteram-se os conceitos imediatamente. O que era uma perversão passa a ser ‘normal’. Passa a ser ‘politicamente correto’ defender-se a monstruosidade, a degradação, a perversão da natureza pelo lucro que isso trará a um grupo de pessoas. Em nome de um desenvolvimento que não respeita a natureza, a perversão é invertida e essa inversão passa a ser versão.

     Nesse caso, os conceitos de normalidade e anormalidade são alterados, mas para favorecer pessoas, grupos políticos, e a grande multidão dos midiatizados acaba concordando com as ideias daqueles que tem poder para fazer com que a mídia diga às pessoas o que é e o que não é normal, de acordo com os seus interesses políticos. E certas coisas que antes eram anormais, ofensivas e degradantes passam a ser politicamente corretas, porque a sua adoção favorece grupos políticos e porque o povo é levado a acreditar na nova ‘verdade’.

     E surgem leis para transformar o que antes era anormal em normal. E as pessoas acatam, porque tem medo de serem penalizadas, se não concordarem com as leis. E também acatam novas leis, mesmo as mais inverossímeis, porque este é um país de semi-analfabetos, onde o povo pode ser facilmente manipulado e coagido a aceitar tudo aquilo que vier ‘de cima’.

A AUSÊNCIA DE IDEOLOGIA

     A ausência de ideologia é uma característica marcante nos governos pós-ditadura militar, no Brasil. Não somente as ideologias da esquerda clássica (comunismo) ou da direita clássica (fascismo), mas também qualquer forma de nacionalismo. A impressão que passa é que os militares somente permitiram a existência de governos civis, desde que os partidos desses governos promovessem a alienação do povo. No entanto, para substituir esse vácuo mental, os partidos governantes – e não somente eles – assumem lutas sociais dentro das camadas das classes média e média alta – sempre apoiadas pela burguesia –, que se limitam a determinados aspectos deteriorados da sociedade, evitando-se o aprofundamento em busca das causas.

     Assim, surgiram as lutas em defesa das minorias ultrajadas: negros, mulheres e homossexuais. Além dos pobres e miseráveis. Aos miseráveis foram dadas promessas; aos pobres foram dadas mesadas: os pobres votam. Aos negros foram dadas cotas nas universidades. Às mulheres foi dado o feminismo. Lula e Dilma foram eleitos por esses setores sociais, através de dádivas e de promessas. Aos homossexuais estão sendo dados direitos exclusivos, o que é uma afronta à Constituição Brasileira, que dá a todos os brasileiros os mesmos direitos.

     Mas faz parte da política. Por ausência ideológica, o PT e aliados – que são todos os partidos no Congresso, embora alguns finjam de oposição – defende as causas dessas autodenominadas minorias. As mulheres, no entanto, constituem mais de 51% da população brasileira, e não podem ser chamadas de minorias. Os negros também são maioria. Entre negros e pardos ou mestiços com pele escura, existem cerca de 97 milhões, contra 91 milhões de brancos ou mestiços com pele branca. Portanto, os negros também não são minoria. Os pobres e miseráveis são a imensa maioria do povo brasileiro, independente de gênero ou cor da pele. E os homossexuais, em aumento contínuo, já são cerca de 10% da população brasileira, em um cálculo por baixo.

     Dedicando-se às causas dessas ‘minorias’, ao mesmo tempo em que promove a devastação da natureza em todo o Brasil para satisfazer os empresários que sustentam o Governo, e ao mesmo tempo em que deixa a questão agrária e os verdadeiros problemas sociais de lado, o PT garante votos e eterniza-se no poder. Não só o PT. Também os demais partidos que dividem o poder.

     A luta de classes é trocada por lutas pelas ‘minorias’ e o PT, com essa estratégia, passa por partido de ‘esquerda’. E o povo acredita que ser de esquerda é lutar por pequenos aspectos sociais, assim como costumes, e torna-se ainda mais alienado e mais passível de ser manipulado.

HOMOFOBIA OU HETEROFOBIA?

     Recentemente, tivemos a legalização da união estável entre homossexuais, pelo Supremo Tribunal Federal, que mais uma vez arrogou-se o direito de legislar. Foram dez votos a favor e nenhum contra. Votos políticos. O STF é um órgão político. Os ministros são indicados e não concursados e quem os nomeia é o Presidente da República. Assim, torna-se receptivo ao Poder Executivo ao apreciar demandas de interesse do governo federal. E uma das demandas do Poder Executivo é favorecer as demandas dos grupos de homossexuais do país (também autodenominados gays, que significa alegres em lingua inglesa). E uma das demandas dos grupos de homossexuais era a união estável entre homossexuais. O STF resolveu o assunto.

     Ao mesmo tempo, foi aprovado na Câmara e está tramitando no Senado, um projeto de Lei de autoria da deputada Iara Bernardes, também chamado de “lei da mordaça”, que prevê alterações na Lei 7716/89 (Lei do Preconceito), no Código Penal e na CLT. É a PLC 122.

     Contra o costume e contra a Constituição Federal, esse projeto prevê alterações de tal maneira que a minoria homossexual terá prerrogativas superiores aos demais cidadãos não homossexuais da República. A Constituição da República Federativa Brasileira garante a livre manifestação do pensamento (Art 5º IV); a inviolabilidade de consciência e de crença sendo assegurado o livre exercício de cultos religiosos (VI).

     Mas a PLC 122 vai contra a Constituição Federal. Líderes religiosos, católicos, evangélicos, espíritas, mulçumanos, judeus e outros, cujos estatutos religiosos como a Bíblia, o Alcorão e a Torá que terminantemente não aceitam o relacionamento sexual que não seja entre um homem e uma mulher, poderão responder processo e ser presos caso em suas liturgias leiam um texto registrado nos seus livros sagrados, se por acaso estiver entre os seus ouvintes algum adepto GLS (gays, lésbicas e simpatizantes). Da mesma forma não poderão, nos seus locais de culto, impedir que as mesmas pessoas troquem carícias e até se beijem.

     É a lei indo contra os costumes. E qualquer pessoa de inteligência média aprende que a lei deve provir dos costumes e não o contrário. É o Estado indo contra a grande maioria dos seus cidadãos em nome do que se apelidou de “combate à homofobia”. Na tradução direta, ‘homofobia’ seria medo em relação aos homossexuais, o que parece ser um contrassenso. Mas interprete-se como aversão ao homossexualismo. No caso da lei ser aprovada, as pessoas que tem aversão ao homossexualismo – e não precisará tanto: as pessoas que não concordam com as práticas homossexuais, ou, simplesmente, que não são homossexuais e se manifestam a respeito, poderão ser presas.

     Mais ainda. Teme-se que esta lei que concede prerrogativas que não são concedidas a grupos como índios, negros, idosos, deficientes, crie uma verdadeira "casta" de GLS, de forma que o objetivo da lei tenha o efeito inverso ao pretendido, face ao terror que levará à sociedade, onde até um pai não poderá orientar o seu filho e um pedófilo poderá alegar em sua defesa que a orientação sexual dele é gostar de satisfazer suas lascívias com criancinhas.

     A pederastia será considerada normal. Aliás, pederastia é uma palavra que está quase em desuso e alguns confundem o significado com pedofilia. Pedofilia é a perversão sexual, na qual a atração sexual de um indivíduo adulto ou adolescente está dirigida primariamente para crianças pré-púberes (ou seja, antes da idade em que a criança entra na puberdade) ou no início da puberdade. Sem distinção de sexo. Pederastia designa o relacionamento erótico entre um homem e um menino. Por extensão de sentido, o termo é modernamente utilizado para designar, além da prática sexual entre um homem e um rapaz mais jovem, também qualquer relação homossexual masculina. Portanto, a palavra pederastia está em desuso, assim como a palavra pederasta.

     Está no projeto de lei: "o caput do art. 1º da Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1999, passa a vigorar com a seguinte redação:

     “Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião, procedência nacional, gênero, sexo, ORIENTAÇÃO SEXUAL e identidade de gênero".

A DEMONIZAÇÃO DO OUTRO

     O deputado Jair Bolsonaro, porque não é do PT e porque afirmou que orienta o seu filho para que não venha a ser um homossexual está sendo demonizado como o último dos reacionários. O PT revela-se um partido a favor do homossexualismo ou a favor da defesa do homossexualismo. Os que são contra são maus. Apoiar os homossexuais dá votos. Votos para os membros do PT e para os membros dos seus partidos aliados – mesmo para aqueles que não são homossexuais. Votar no PT continua a ser moda, ainda que não ofereça, agora, mais que um homossexualismo amplo, direto e irrestrito.

     É claro que existe muita discriminação aos homossexuais e inclusive tem havido assassinatos de homossexuais apenas porque são homossexuais. E esses fatos devem ser coibidos, os autores dos crimes devem ser presos e condenados sob a forma da lei e com todo o rigor. Mas se deve ir mais fundo: buscar as causas desses crimes e extirpá-las para que não mais aconteçam.

     E acredito que uma das causas é a péssima educação do povo brasileiro. Não só nas escolas, mas na base familiar. Uma educação que não prioriza o respeito, mas a baderna. Há até uma nova teoria psicológica de que as crianças não devem ser punidas quando erram. Não existem limites e tudo é permitido. A conseqüência é uma sociedade devassa, libertina, carnavalizada. Os turistas estrangeiros são atraídos a vir passar as suas férias no Brasil devido às belas nádegas das brasileiras. Ou dos brasileiros. Leis existem às dúzias, mas somente poucas são obedecidas porque este é o país do jeitinho e da corrupção.

     Criou-se aqui a cultura da corrupção, da degradação, da devastação. Da entrega do Brasil e dos brasileiros a quem pagar mais. Este é um país que vai pra frente aos empurrões das multinacionais, dos doleiros, dos marqueteiros, da indústria da desinformação. Temos um governo demagogo, que demonstra, com as suas obras, odiar o solo pátrio, detestar a natureza. Um governo que gasta milhões com a mídia para tentar deixar o povo inerte e apalermado, enquanto divide o dinheiro desse mesmo povo.

     A maldade e a deterioração são tidas como atos naturais dos mais espertos, a quem os brasileiros aprendem a reverenciar. E a maldade e a deterioração passam a ser atos naturais daqueles que desejam ‘vencer na vida’, dominar o próximo. E essa mentalidade leva aos crimes. Crimes de toda a espécie, inclusive filhos que matam pais e pais que matam filhos. E pessoas deturpadas que matam homossexuais. Mas também existem pessoas que matam pessoas que não são homossexuais.

     Mas, a pretexto de uma homofobia generalizada cria-se uma lei que favorece os homossexuais em detrimento dos demais cidadãos. Explicando melhor: em detrimento de hábitos e costumes da maioria dos cidadãos. É natural que se faça uma lei para defender uma minoria que se sente atingida em seus direitos. Mas não é natural que, em nome da defesa dessa minoria, direitos adquiridos sejam retirados dos demais cidadãos. A democracia oscila quando surgem leis assim, claramente demagógicas.

     Se já estava existindo, por falta da participação do Estado, uma excessiva permissividade, com esta lei o Estado estará autorizando toda e qualquer permissividade – e isso atenta contra aqueles que entendem que moral, bons costumes, boa educação, valores religiosos e sociais devem estar em primeiro lugar nas relações sociais. Atenta contra os grupos religiosos e, também, contra os grupos não necessariamente religiosos, mas que acreditam que valores morais são importantes na sociedade.

     É uma lei que é claramente contra o direito de pais e mães orientarem os seus filhos de acordo com aquilo que entendem que seja certo no que tange à vida sexual. Transparece, nesse caso, o Estado sobrepondo-se ao núcleo familiar, coagindo-o e intimidando-o a agir de determinada maneira. E isso é fascismo.

     É uma lei inconstitucional, porque já no artigo V da Constituição Brasileira está explícito que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (...).” Se todos são iguais perante a lei, não há porque uma determinada classe, qualificada pela sua opção sexual, ser ‘mais igual’ que os demais. Além disso, no mesmo artigo V – VI, está escrito: “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias.”

     A lei é inconstitucional, porque não permite que haja discriminação ou preconceito de sexo, gênero ou orientação sexual. Ao mesmo tempo, no inciso VI do artigo V da Constituição está escrito que “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, etc.” E todos sabem que as principais religiões - maioria no Brasil - são contra o homossexualismo.

     Vamos supor que um sacerdote esteja lendo no seu local de culto o livro Gênesis, na parte que fala da destruição de Sodoma e Gomorra por Deus, porque os habitantes daquelas cidades eram todos homossexuais e um homossexual, sentindo-se ofendido, entre com uma ação contra o sacerdote e sua igreja... Sob a alegação de que o Estado é laico! Mas o mesmo estado laico tem em sua Constituição a liberdade religiosa. Como fica?

     Com a aprovação dessa lei, é muito provável que os heterossexuais passem a ser demonizados sempre que expressarem uma opinião contrária ao homossexualismo. Como já está acontecendo desde agora. Em nome da luta contra a homofobia está surgindo a heterofobia. Políticos claramente interessados nos votos dos homossexuais estão promovendo diversas manifestações públicas “contra a homofobia”; manifestações que vão desde discursos dos muito poderosos a favor da PLC 122 até “beijaços” na frente de igrejas.

     Por exemplo, o “Diário Catarinense” registrou a seguinte notícia, em 12/5/2011:

     “Cerca de 150 pessoas participaram do "beijaço" contra a homofobia marcado para o final da tarde desta sexta-feira, em frente à Catedral de Florianópolis.

     “Nomeada "Um beijo a Bolsonaro" o ato contra a intolerância sexual e racial foi marcado por outra manifestação, de jovens católicos. Enquanto os participantes do primeiro protesto beijavam-se na Praça XV os outros rezavam em frente à igreja.

     “A manifestação foi motiva da pelos comentários do deputado federal Jair Bolsonaro, do Rio de Janeiro, que criou um panfleto sobre a sua opinião homofóbica e deu declarações sobre as escolhas sexuais da população.

     “Alunos de Artes Cênicas, da Udesc e Ufsc, promoveram a ação, chamando vários casais homossexuais, bissexuais, brancos e negros para que se beijassem ao mesmo tempo.

     “A organizadora do beijo coletivo, aluna de Artes Cênicas da Udesc, Renatha Lino, reiterou que o movimento foi pacífico e não se tratou de um protesto mas de uma performance artística. Na avaliação da organização 250 pessoas participaram do evento.”

     Está na moda chamar de “homofóbico” quem não for homossexual ou quem não apoiar demandas homossexuais, como a PL 122. Em vez de apoiarem lutas sociais que digam respeito a todo o povo brasileiro – e são tantas! - jovens de classe média alta, estudantes universitários (e não somente jovens) manipulados pela mídia do poder e buscando “causas” para lutar, encontraram na “luta contra a homofobia” uma razão para se mostrarem atuantes, engajados. Mas com isso provocam distúrbios sociais que não seriam necessários caso o modismo provocado por interesses políticos não os açulasse a agir dessa maneira.

     Porque atos assim são provocativos, dividem a sociedade e em nada colaboram para a harmonia nas relações sociais. Em última análise, a razão da existência das leis é a busca da harmonia social. Ou deveria ser. E leis que privilegiem grupos sociais específicos estão, obviamente, indo contra aquilo que entendemos por contrato social – que é a busca do equilibro das forças dinâmicas na sociedade.

     É quando ocorre a demonização do outro. Daquele que não concorda com as nossas idéias. Se, antes, heterossexuais agrediam homossexuais e os tratavam como pessoas de segunda classe, devido a uma falha na educação ou a conceitos sexuais ortodoxos, agora que o homossexualismo tornou-se moda, os seus defensores agridem aqueles que não concordam com essa moda. E temos uma ruptura social, causada pela intolerância a serviço da política. E isso é claramente antidemocrático e leva ao fascismo, à imposição de idéias com as quais a maioria da população não concorda. Uma imposição de idéias e de costumes sem que haja um debate social a respeito, porque o Estado se arvora o direito de impor idéias e costumes e de privilegiar uma minoria a título de defendê-la.

     Ao mesmo tempo, questões sociais como esta, que tratam da superfície dos problemas sociais e em nada alteram o conjunto social no sentido de melhorias realmente revolucionárias; que não tratam de aprofundar e resolver problemas muito mais urgentes como a fome, o desemprego, a miséria, a falsa e precária educação, a saúde e o bem estar do cidadão, no todo social e não em castas, além de esconderem o que o Estado está fazendo com o país através da sua política entreguista e maquiavélica, da sua política contra a natureza dentro do país, da sua política que busca a alienação política do cidadão, são manobras diversionistas clássicas do Estado capitalista, nas quais embarcam os grupos intelectuais que se pensam de vanguarda e que são superficiais na sua maneira de pensar o mundo e a sociedade.

     Geralmente, grupos intelectuais ligados a classes mais altas e que, direta ou indiretamente, ao apoiar esses temas que somente favorecem políticos profissionais, acabam corroborando a ação do Estado predador.

O POLITICAMENTE CORRETO

     Tive e tenho amigos e amigas homossexuais e nossas relações sempre foram baseadas em respeito mútuo, inclusive no que diz respeito às nossas vidas sexuais. Mas considero errado classificar grupos devido à sua opção sexual. Porque o sexo é uma das atividades humanas e não, necessariamente, a atividade determinante das relações sociais.

     Viver em função do sexo me parece ser uma coisa obsessiva, principalmente para as pessoas maduras. Embora seja natural que jovens e adolescentes tenham essa preocupação quase compulsiva durante o período da sua formação enquanto seres humanos. Observem que as poesias dos jovens tem, em primeiro lugar, a preocupação com o “eu”. A busca de si mesmo e a preocupação existencial faz parte da juventude. E não só da juventude, mas naquela fase essa busca é mais aguçada. E dentro dessa busca entra a sexualidade.

     É na juventude, geralmente, que as pessoas se definem sexualmente. E isso deveria bastar em uma sociedade organizada. No caso dos homossexuais, não deveria ser o ponto de partida para uma vida que girasse em torno do sexo e da sexualidade, porque isso pode provocar transtornos psicológicos e uma preocupação excessiva com o próprio individualismo e com a defesa dessa individualidade sexual – porque a pessoa acaba se transformando e se auto-afirmando a cada instante como alguém que tem uma opção sexual diferente da opção sexual da maioria das outras pessoas e a sua identidade passa a ser sexual, em primeiro lugar.

     Mas não vivemos, no Brasil, em uma sociedade organizada, mas depravada, corrupta e mentirosa. Uma sociedade cínica. E isso faz com que os homossexuais se organizem em grupos estruturados devido à sua opção sexual e não ao trabalho que exercem. A princípio, esses grupos são organizados como uma maneira de autodefesa contra os heterossexuais que tem uma mentalidade deturpada e acreditam que todos devem ser heterossexuais e agridem aqueles que não são heterossexuais, porque os consideram uma ameaça ao seu modo de vida e à sua maneira de encarar o mundo.

     Pessoas assim deveriam ser retiradas do convívio social e reeducadas. Mas o Estado nada faz a respeito. Ao contrário, os centros de reabilitação, penitenciárias e congêneres são locais onde os apenados aprendem a ser mais criminosos ainda. Este é um pais que trata as pessoas como animais e os animais como se fossem lixo.

     Então, o que ocorre é que quando os homossexuais reclamam os seus direitos e acusam os heterossexuais homofóbicos o Estado vê naqueles grupos mais uma maneira de angariar votos e os trata como se fossem cidadãos especiais, em detrimento dos demais cidadãos e, como agora, fazendo leis a seu favor que vão de encontro à própria Constituição da República.

     Não é esse o caminho. Por isso a pergunta: o politicamente correto é correto para quais grupos políticos? Quem sai lucrando politicamente quando se mudam as normas sociais a cabresto, sem haja uma ampla discussão a respeito e sejam contempladas todas as partes envolvidas? Qual o Brasil que queremos? É esta coisa cínica, pervertida, deturpada ou um país que realmente dê a todos os seus cidadãos condições dignas de vida, conforme está prescrito em nossa Constituição?

domingo, 15 de maio de 2011

DEGRADAÇÃO NA AMAZÔNIA CRESCEU 35% EM MARÇO


Aceleraram o desmatamento antes do novo Código Florestal ser aprovado. Como terá sido em abril? E como está sendo em maio? Que país termos até o fim do ano?

     Deu no Yahoo!:

     “Degradação na Amazônia Legal cresce 35%

     “Na Amazônia Legal, 299 quilômetros quadrados de florestas foram degradados em março deste ano, um aumento de 35% em comparação com o mesmo período de 2010, quando a área atingida foi de 220 km². Os dados, do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), constam no último boletim do Instituto Imazon.

     “Segundo o instituto, Mato Grosso foi responsável por 73% da degradação, seguido por Rondônia, com 23%. Degradação florestal significa que a floresta foi cortada parcialmente ou sofreu queimada, mas não foi totalmente derrubada.

     “Os dados confirmam o alerta feito pelo Deter, sistema de satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) que detecta a ocorrência de corte raso, ou seja, desmatamento total de uma área, na Amazônia Legal.

     “Em janeiro e fevereiro deste ano, o Deter apontou 19,2 km² de áreas desmatadas. Mato Grosso apareceu como o Estado que mais desmatou, com 14,4 km², seguido pelo Maranhão, com 4,3 km². (...)”

     Algumas reações à notícia:

     • Gigi

     "É um negocião destruir a amazônia. Para que precisamos de mata atlantica? Se tivermos a proteção da floresta não seremos alvo de tufões e nem de furacões. Dai, como o governo vai se livrar de um bocado de gente do bolsa esmola? Por isso o governo apóia a destruição do bem mais precioso que temos. Nossas matas e consequentemente nossa água. Quem mandou votar nestas desgraças que estão ai? Vai ser cada vez pior...."

     • rod

     "O negocio e plantar Soja. Arvore em pe nao da lucro pra ninguem!!!! A nao ser para as empresas estrangeiras que necessitam 'comprar oxigenio'. Moro em Sinop, MT. Da-lhe soja e andar de Hilux zera."

     • Junior

     "E ainda querem aprovar um código florestal onde os criminosos que destroem o meio ambiente vão ganhar incentivos para o desmatamento da mata nativa, da mata ciliar, da mata que protege as encostas e os topo de morros."
"O BRASIL, DESDE O SEU DESCOBRIMENTO, VEM SENDO PILHADO POR QUEM DEVERIA PROTEGÊ-LO. ATÉ QUANDO VAMOS ACEITAR PASSIVAMENTE?"

     • ALFBR

     "É deprimente ler uma noticia dessas! Como pode, depois de tantos anos de denuncias, inclusive internacionais, um país manter-se inerte e imóvel diante de tamanho descalabro!? O que pretendem fazer para reverter esse quadro já? Não me venham dizer que os EUA são omaior poluidor do mundo nem que a as vacas da china são os principais responsaveis pelo buraco na camada de ozônio. Quero saber o que o o meu País está fazendo para salvar esse patrominônio. O dado é alarmante."

     • ▐░►◄░▌

     "Agora o desmantamento da Amazónia já é legal!? Grande governo sem dúvida. E ainda os brasileiros se queixam que os portugueses é que destruíram a Amazónia..."


     E mais 26 comentários do mesmo gênero. O povo percebe, mas se sente imobilizado, porque essa quantidade de partidos que estão aí (e continuam surgindo) existe apenas para compartimentar as pessoas, encaixotá-las dentro de determinados padrões. Nenhum dos partidos propõe qualquer coisa mais séria e agora estão fazendo uma “reforma partidária” para esconderem o rosto e receberem dinheiro diretamente do governo para as suas campanhas políticas.

     E o governo quer desmatar mais. No sul-maravilha quase não existem mais árvores nativas. Algum capão de mato aqui, outro ali... Agora, existem prefeituras que incentivam o plantio de eucalipto. Dizem que é para abrigar o gado, para fazer sombra. Isso é duplamente maligno. A razão desse plantio é vender madeira para as fábricas de celulose. E a conseqüência dessa razão sem razão, além do dinheiro fácil no bolso dos “produtores”, será a desertificação da terra.

O DESERTO VERDE

     Toda monocultura provoca desertificação. Além de degradar a terra, o eucalipto é voraz consumidor de água e liquida com a vegetação nativa. A continuar essa mentalidade destruidora, brevemente teremos grandes desertos no Rio Grande do Sul.

     Aos poucos? Não. Já está acontecendo agora. Os impactos do chamado deserto verde implantado no Estado são secamentos de rios, fontes de água, a devastação do solo, que chega a plena destruição do meio ambiente. Os poucos empregos gerados são para mão-de-obra especializada nas fábricas. Cidades e regiões gaúchas estão sofrendo com a estiagem agravada pela monocultura de eucalipto, como Bagé, Alegrete, Fronteira Oeste, Encruzilhada do Sul entre outras.

     Eu vivo em Bagé, terra da degradação da terra. Aqui, sofremos uma estiagem anual de vários meses. E o plantio de eucaliptos continua. É um grande negócio para os grandes negociantes. Para eles, a terra é apenas isso: negócio. O deserto verde é provocado por eucalipto, agrotóxicos e monocultura. Aqui não faltam agrotóxicos. E cultura de soja e arroz transgênicos. Tudo que as empresas de celulose desejam.

     Mas não somente em Bagé e na Fronteira Oeste deste estado que já foi muito rico. Também no Vale do Paraíba, em São Paulo. No sul da Bahia, aonde as empresas de papel e celulose chegaram também na segunda metade do século passado. Hoje, há muitas áreas abandonadas, sem condições para plantio devido aos efeitos agressivos do eucalipto sobre o solo. As empresas de celulose e de produtos transgênicos também estão em Santa Catarina, no Espírito Santo, em Minas Gerais e em todos os lugares do Brasil em que puderem entrar e semear o seu lixo.

     As empresas – como a Aracruz e a Monsanto - prometem gerar cerca de cinco mil empregos diretos e indiretos no Brasil, sem especificar por quanto tempo, ao passo que o desenvolvimento de um programa de agricultura familiar variada pode gerar até 30 postos de trabalho permanente por hectare.

     Cerca de 95% da polpa de celulose produzida no Brasil é destinada ao mercado externo, sobretudo para a União Européia e os Estados Unidos. Nesses lugares, cerca de 80% da polpa importada do Brasil é transformada em papel higiênico e lenços de nariz. E mesmo que assim não fosse. Estão usando a nossa terra como se fosse deles, deixando aqui a poluição e provocando a desertificação e auferindo lucros gigantescos.

     E a Aracruz é uma das empresas diretamente interessadas na destruição da Mata Atlântica, que o novo Código Florestal, se passar, irá propiciar. Já estão agindo. Um exemplo que não sai na “grande imprensa”:

     Em plena Copa do Mundo e no final da sexta-feira (16/06), próximo do fim do expediente dos órgãos ambientais, a transnacional Aracruz Celulose colocou em operação 27 tratores para destruir a mata atlântica em adiantado estágio de regeneração na cabeceira da nascente do córrego Jacutinga, na região de Farias, em Linhares (ES). A empresa não contava com a reação de mulheres camponesas - uma delas, no nono mês de gravidez - com suas crianças e maridos, que se colocaram em frente às máquinas, com risco de suas vidas, para parar o desmatamento que já havia destruído 50 hectares da vegetação.

DESMATAMENTO E MONOCULTURA

     Eles fazem o que querem. Tem o apoio do Governo. O mesmo Governo que incentiva a monocultura da soja e do arroz transgênico. E da cana de açúcar para fabricar biodiesel.

     O professor Walter Pinheiro da Fonseca, em entrevista para “O Estado do Triângulo” e prevendo a entrada de grandes empresas de monocultura da cana no Triângulo Mineiro, afirmou que os problemas da região Nordeste, em grande parte, devem-se aos longos períodos de monocultura da cana.

     “Estudos científicos apontam que o desmatamento na região nordeste é um dos principais responsáveis pela seca que assola toda a região, ou seja, a seca do Nordeste, tem ligação direta com a monocultura da cana no Brasil Colônia, durante um século. Com o desmatamento da Mata Atlântica do Ceará até Pernambuco, quando se tirou toda a mata rica em húmus, sais minerais, começou o semi-árido, isso mostra que os efeitos são drásticos.

     “As terras do Nordeste estão cansadas, estéreis, não servem nem pra cana mais, então eles precisam mudar de região. Hoje eles estão pegando os melhores bolsões de terras de cerrado. Na região do Triângulo Mineiro são terras férteis. Hoje, dos 40% de terras agricultáveis da nossa região, apenas 5% são ocupadas pela cana, mas eles objetivam plantar 35%, ou seja, a maior parte da área agricultável. Ao mesmo tempo que eles negam a monocultura, falam outra coisa. Eles estão atrás de terras férteis para transformar em pedaços de desertos.

     “Outra questão a ser analisada é esta, lembrou o professor, se a cana é tão rentável, porque o Nordeste é tão pobre? E deu logo a resposta: “Esgotou-se toda uma região, deixaram o Nordeste em estado de miséria". O povo nordestino hoje vive as conseqüências de erros do passado, que eles não têm culpa. E o que vemos é que os grupos estão procurando alastrar esses problemas para outras regiões, para atender uma pequena minoria. É uma minoria que faz isso e depois a toda a população sofre as conseqüências desse processo. Digo que hoje, o que se pretende é ´nordestizar´ o resto do Brasil.”

     Mas o Obama e sua turma querem biodiesel barato e o Governo brasileiro curva-se aos desejos do imperador.

     E também querem novos campos para cultivo e para pecuária. Na Amazônia. Por isso destroem a floresta, matam os animais e plantam soja transgênica e pasto para criar os bois. O mercado externo exige a devastação e paga bem pela carne e pela soja. Por isso devastam, queimam, cortam e o Governo brasileiro finge que nada pode fazer. É um Governo que adora estatísticas. Os pecuaristas são, em sua maioria, brasileiros, mas também existem empresas com capital transnacional. Tudo é exportado: a madeira, a carne, o leite, a soja.

     E o Governo, movido pela febre de devastação, constrói usinas como a de Belo Monte, para satisfazer a empresários e políticos. Não interessam os índios, a fauna e a flora. Não interessa o povo. O povo que vá assistir futebol, BBB, novela das oito.

     Brasil globalizado, Brasil pasteurizado, Brasil onde se fala inglês pra inglês ver que se fala inglês no Brasil.

     Um só mundo, uma só língua, como propagandeiam aqueles rapazes pagos pelo tio deles, o tal de Sam, a quem tanto veneram em troca de pedras pintadas e colares de miçangas e por ele se ajoelham e por ele rezam e por ele fazem tudo o que ele quiser porque quem paga manda e invade e saqueia e vampiriza... E desmata. As motosserras não param, dia e noite. Aqui é o Brasil de todos os malandros e otário é o povo que acredita que cachaça é água – quem mandou acreditar?

     Aqui jogamos futebol. Futebolizamos o amanhecer dos noventa por cento dos sem destino que se pensam destinados a povo votante e massa uivante nos estádios e só. A presidente diz que. O ex-presidente também diz. E ficamos futebolizados, novelizados, enovelados nas palavras que afirmam que nossas pernas são dribladoras e nosso querer se restringe a mais um gol. Ou gole.

     Quem mandou acreditar?
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