quarta-feira, 25 de novembro de 2009

PAULO FREIRE E A AÇÃO PELA LIBERTAÇÃO



(Foto de Lidia Amaral)

Todo ensino é fascista, pois todo ensino impõe verdades. Ou: todo ensino será fascista enquanto servir para veicular uma visão de mundo não comprometida com o desenvolvimento individual, com o crescimento individual, e, consequentemente, com o aperfeiçoamento social. Todo ensino será fascista enquanto for objeto de manipulação das classes possuidoras, dominantes; manipulação voltada para a preservação do status quo, para a perenidade do estabelecido.
        O verdadeiro ensino é aquele que não manipula, não se impõe como verdadeiro e único, mas é aberto a todas as possibilidades, e tem como premissa principal a crítica constante.
        Estas são algumas das colocações de Paulo Freire em “Pedagogia do Oprimido”, livro sempre atual onde procura analisar a estrutura do ensino nos países capitalistas, marcadamente o Brasil.
        O Brasil, apenas como ponto de referência, pois a realidade sócio-cultural revista por Paulo Freire diz respeito a todo o contexto latino-americano, e, por extensão, aos países do terceiro mundo.
        Para essa análise é necessário rever os pontos de encontro da relação opressor-oprimido.
        Do ponto-de-vista do oprimido, Ser é igual a Parecer, e parecer é “parecer com o opressor”. Aceitar o opressor. É claro que do ponto-de-vista do oprimido alienado, bitolado, cúmplice do opressor, a quem aprendeu a reverenciar e temer. Aprendeu, também, a admirar e aceitar os valores da classe burguesa como únicos, verdadeiros e absolutos.
        Essa aceitação é tão forte que, quando o oprimido consegue “libertar-se” – por lhe ser facilitada alguma ascensão social – assume os valores burgueses que combateu; torna-se, por sua vez, opressor.
        O medo da liberdade concorre para a formação “prescrita” da consciência do oprimido, ou “de” oprimido. E aí entra outro fator: a Prescrição.


“Toda prescrição é a imposição da opção de uma consciência a outra”.


        A consciência recebedora da prescrição é a consciência hospedeira da consciência opressora. “Por isso, o comportamento do oprimido é um comportamento prescrito”.
        Por isso o medo da liberdade. Pois a liberdade, de acordo com a consciência que prescreve, é apenas a liberdade de usar calças de brim, desde que estas estejam na moda. O que fugir disso, qualquer tentativa de especulação supra, é imediatamente desestimulada e qualificada de utópica. A não ser que realmente seja uma especulação utópica, como a tentativa de provar a existência de Deus, de classificar o sexo dos anjos. Isso pode.
        A primeira luta pela liberdade, pelo “Ser Mais” é a luta consigo mesmo. Contra si. Contra a alienação que resulta da prescrição. O oprimido é um castrado no seu poder de recriar o mundo.
O oprimido também é um opressor, e sua libertação consiste em superar essa contradição, em se desalienar, em superar-se.
        É necessário o reconhecimento do limite que a sociedade opressora impõe ao oprimido. E esse reconhecimento deve servir como motor de sua ação libertadora. A contradição somente pode ser superada “quando o reconhecer-se oprimidos os engaja na luta por libertar-se”.
        Ser Mais, para Paulo Freire, é a primeira meta de todo indivíduo. Para o oprimido, Ser Mais consiste, primeiro, em se desvincular da estrutura opressora. E essa desvinculação só acontecerá quando houver uma exigência radical da transformação da situação concreta que gera a opressão. A realidade opressora, sendo “funcionalmente domesticadora”, deve ser suprimida e dar espaço a uma nova realidade, sem opressores e oprimidos.


        A pedagogia do opressor “é instrumento de desumanização”. Sua única finalidade é manter a própria opressão.


        A Pedagogia do Oprimido consiste em enfrentar, culturalmente, a cultura da dominação. De duas maneiras:


1. Percepção do mundo opressor;


2. Expulsão dos mitos criados e desenvolvidos na estrutura opressora, e que se preservam como espectros míticos na estrutura nova que surge da transformação revolucionária.


        O opressor consciente de sua situação como tal, deve solidarizar-se, não de maneira paternalista, mas engajando-se na mesma luta de libertação dos oprimidos, na mesma práxis – procurando transformar a realidade objetiva.
        A supressão da contradição opressor-oprimido só se pode verificar objetivamente. Esta é uma exigência radical: a da transformação objetiva da situação opressora. Radical, porque combate um imobilismo subjetivista que transforma o ter consciência da opressão “numa espécie de espera paciente de que um dia a opressão desapareceria por si mesma...”.
        A ação pela libertação, para a Revolução, não poderá ser puro ativismo, porque a Revolução possui caráter eminentemente pedagógico. Ao se transformar a realidade opressora, o homem que participa dessa transformação, transforma também a si mesmo, liberta-se do opressor que até então conduzia dentro de si.
        Daí o caráter pedagógico, dialético, da transformação, da Revolução, que deve constituir-se, fundamentalmente, em duas distintas etapas.
        A primeira, “em que os oprimidos vão desvelando o mundo da opressão e vão comprometendo-se, na práxis, com a sua transformação”.
        A segunda, em que, “transformada a realidade opressora, esta pedagogia deixa de ser do oprimido e passa a ser a pedagogia dos homens em processo de permanente libertação”.

2 comentários:

  1. Excelente texto sobre a relação opressor x oprimido. Se Paulo Freire estivesse vivo, agradeceria o endosso.

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  2. gosto, bem boa a ideia. agora posso te ler mais frequentemente...
    bjoOs

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