Conheci o Ariosto quando ele era empresário de um grupo de rock em Bagé, o "LIBERTY". Éramos colegas de 2º grau, na época chamado de curso Clássico. Aprendíamos um com o outro, como os adolescentes candidatos a gente aprendem: na marra, na experiência.
Fizemos artesanato juntos, estudamos para o vestibular juntos e fomos morar juntos em Santa Maria, cursando Comunicação Social.
Depois, a vida nos separou. Seguimos caminhos distintos, mas continuamos juntos no coração.
Ele foi o irmão homem que não tive, o amigo de todas as horas, o mestre da minha vida de adolescente. Uma das coisas que mais nos unia era a poesia, o gosto por escrever, a paixão pela descoberta da arte nas palavras. Tateando, buscando, tentando, fazíamos versos, que chamávamos de poemas. Algumas vezes, escrevíamos contos. Passei para ele a minha paixão pela leitura. Compartilhamos todas as loucuras possíveis e deixamos a vida fluir para nós.
Diferente de mim, o Ariosto conseguia unir inteligência com esperteza, com sagacidade. Antes de nos conhecermos, ele já tinha passado por muitas experiências, pode-se dizer que “conhecia o mundo” e sabia das armadilhas e das possibilidades.
Quando se formou em Jornalismo foi para Brasília trabalhar. Lá ele constituiu família e demonstrou ser um ótimo jornalista. Uma ou duas vezes veio a Bagé, mas senti que esta cidade já tinha se esgotado para ele. Ele sempre desejou mais e sempre alcançava o que desejava.
Aos poucos, fomos perdendo o contato. Uma noite, em 2007, ligou para mim. Conversamos por mais de hora e fomos inteiramente sinceros um com o outro, como nunca tínhamos sido antes. Ele estava se recuperando de uma séria cirurgia e me disse claramente que achava que ia morrer. Que duraria, talvez, mais um ano ou dois. Eu brinquei com ele ao dizer que também estava me recuperando de um AVC e que íamos apostar uma corrida para ver quem iria primeiro. Na mesma conversa, me contou que estava lançando o livro “POEMAS DO FRONT CIVIL”. Poucos dias depois, recebi o livro. Vale a pena. Dentro daquela aparente rudeza de seus versos há uma pureza exultante. Depois, conversamos mais algumas vezes, sempre por telefone, e eu sentia na voz do meu amigo uma grande emoção.
Há poucos dias fiquei sabendo que o meu amigo tinha falecido, no dia 23 de janeiro. É muito difícil acreditar nisso, pois sempre temos a sensação de que somos imortais e a morte dos que nos são muito próximos é, também, um pouco da nossa morte. Resta a certeza de que ele apenas foi na frente e se agora choro por ele é porque tive a felicidade de conhecê-lo.
“Nada mais sei além do que vejo
Nunca se esqueçam de como arrebentamos o crânio
Contra as paredes de aço
De como atravessamos a cidade
Como um cego sem cão
Em pânico como um homem que acaba de
Enlouquecer
E vê o raio de uma lua amarela romper a treva
Navalha a raspar a retina da fera
Que cruza a rua e aos berros cai fora
Nunca se esqueçam de que vocês queriam um prêmio
Por terem tido o impulso do bem
Mesmo depois de todo o mal feito.”
(ARIOSTO TEIXEIRA – “POEMAS DO FRONT CIVIL”).
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