quinta-feira, 28 de outubro de 2010

A DITADURA DA DEMOCRACIA




As eleições dão aos eleitos o direito de fazer o que bem entendem?



     Teoricamente não. Para que isso seja evitado é que foram criados os três poderes. A teoria pressupõe que deve haver independência entre eles. Independência e harmonia. E que esses três poderes, harmônicos e independentes, seriam representativos da vontade popular.

     Na prática isso não existe. Por exemplo, no caso de eleição de Dilma Roussef, do PT, e tendo o PT maioria no Congresso e sendo o Presidente quem nomeia os membros do Supremo Tribunal Federal, de fato teremos uma ditadura. Uma ditadura com eleições, mas uma ditadura.

     E uma ditadura com eleições sempre é uma ditadura instrumentalizada. As eleições servem apenas para referendar, através do voto popular, os nomes indicados pelo governo. O governo dispõe de todos os instrumentos para que isso aconteça. Dispõe da chamada “máquina pública”, que nada mais é que aquelas centenas de milhares de pessoas ligadas ao governo, os funcionários públicos de todos os setores que, para continuarem empregados, sentem-se na obrigação de fazer a propaganda do poder a que servem. Não só em época de eleições, mas diariamente, porque uma ditadura democrática instrumentalizada não prescinde da contínua, diária, insistente e nauseante autopropaganda.

     Isto, aliado a alguns acordos necessários com os meios de comunicação mais influentes, traz a preservação do governo e de seus interesses. Quando chega a época de eleições, as pessoas já estão condicionadas a votar no sistema que prevalece, sem muito raciocinar, sem maiores pesquisas.

     Através do período de sua existência e aprendendo com as velhas oligarquias o PT decidiu-se não pela ditadura do povo, mas pelo que costuma chamar de democracia radical.

     E a democracia radical petista consiste em eleições estafantes a cada dois anos de maneira a consolidar o poder existente ao mesmo tempo em que a população perde a noção do que seja representatividade real, porque sempre delega poderes a representantes que, depois, se mostrarão distantes e apenas subservientes à máquina estatal. E as eleições, aos poucos, como já aconteceu nos Estados Unidos, perdem o seu poder de fator transformador da sociedade.

     Depois da estafa, virá o repúdio, o que facilitará projetos que proponham eleições não obrigatórias e teremos governos eleitos sem a legitimidade da maioria do povo.

     Outro ponto importante que o PT descobriu como forma de preservar-se no poder foi a política de constantes alianças, tanto no Executivo como no Legislativo. Isso implica em dinheiro. Não necessariamente corrupção ativa, escancarada, mas a troca de cargos por alianças. Observem o Executivo e sua quantidade de ministérios e secretarias que servem a todos – de qualquer partido - que estiverem dispostos a concordar com a política do governo. E concordar com a política do governo implica em deixar de lado a sua própria política, as suas prováveis ideologias, para os partidos adesistas. Em troca de cargos. É uma espécie de compra de consciências que funciona na prática.

     Não só no governo federal, como nos governos estaduais e municipais. A política de troca de cargos por apoio político preserva os cargos daqueles que oferecem cargos e faz dos que aceitam essa política pessoas e partidos menores em suas ideologias, mas pessoas e partidos mais bem remunerados.

     “Um grande leque de alianças” – é a palavra de ordem. E esse leque de alianças, para ser grande, abrange partidos da suposta extrema direita e da suposta extrema esquerda. Por isto, sempre será um leque de alianças centrista, abafador de pensamentos e de ideologias, apenas preservador do sistema vigente. E o centro é sempre imóvel, estanque. O seu símbolo é o círculo, significando que está fechado em si mesmo. Mas dentro desse círculo centrista existe o ponto. E o ponto dentro do círculo revela que alguém, ou algo, que está dentro do círculo poderá olhar para todos os lados do círculo, comandá-lo, impor a sua vontade.

     O ponto dentro do círculo, em uma política centrista, aglutinadora de vontades e de idéias, é sempre o governo. Aqueles que estão em torno do governo, formando o círculo, para receberem as benesses prometidas terão que obedecer ao ponto dentro do círculo. Obedecer à política do governo. E só quem se beneficia com esse “centralismo democrático” é o próprio governo, mantendo os partidos que o apóiam centralizados em torno dos seus projetos, em aliança com as suas idéias e objetivos. E a figura da aliança é o círculo.

     E com isso acabam-se os partidos ideológicos e institui-se o centro como ponto de referência e equilíbrio. E o capitalismo como sistema.

     Todas as possibilidades de lucro para todos os que detem algum poder a partir dessa premissa de poder sem ideologia política que, em última análise, propõe-se como a ideologia do pragmatismo.

     O povo não interessa, porque o povo, enquanto povo, não tem poder algum. Torna-se referência política para a época de eleições. Votos a serem conquistados com muita propaganda vazia de idéias. Pessoas a serem cooptadas para engordarem os partidos que são ocos de idéias, mas suficientemente atraentes em suas propostas de buscar o poder pelo poder. Aliados com os demais partidos, que também buscam o mesmo.

     Eis a democracia, eis a ditadura perfeita.

     Quem poderá dizer que projetos que, de alguma forma, prejudiquem o povo, serão antidemocráticos, se forem votados e aprovados por um Congresso aliado do Poder Executivo, que sempre terá aliados no Supremo Tribunal Federal?

     Esse tipo de democracia não é mais que uma ditadura legitimada por eleições. E - como toda ditadura - contra o povo, de onde tira a sua força para tentar a perenidade no poder.

     Por isso as eleições são uma farsa. Porque são somente representativas, mas não participativas. As pessoas votam para delegar poderes mas não para participar do poder.

     As pessoas acreditam em partidos políticos que se aliarão com outros partidos políticos e perderão a sua identidade ideológica, as suas idéias programáticas. Aos poucos, os partidos não se diferenciarão uns dos outros. E quando as pessoas começam a se sentir muito perdidas, quase sem referências, surgem novas eleições, novas promessas, novas possibilidades de mudanças. Propaganda que não passa de venda de ilusões.

     Sem referências partidárias ou políticas o povo acaba se desencantando com a política, passa a nada mais esperar dos políticos e das estruturas governamentais. Não tendo em quem ou em que se apoiar, as pessoas tornam-se individualistas, às vezes voltando-se apenas para possibilidades místicas, participando automaticamente do ritual das eleições, mas sem mais acreditar em seus resultados.

     E isso é tudo o que os políticos profissionais desejam. Apenas usar o povo. Deixá-lo tonto com a sua propaganda e com as suas eleições contínuas que em nada mudam o sistema: apenas o legitimam. Manipular o povo com a sua imprensa para que aceite o estabelecido como sendo o melhor, a única possibilidade política. Enganar o povo com as suas vis manobras – como o assistencialismo, que apenas institucionaliza a pobreza – que apenas consolidam o poder, do qual esses políticos são os órgãos ativos, em lugar do povo.

     E depois reafirmarem que o poder que eles, os políticos, tem e do qual usufruem da maneira que acham melhor, através dos seus conchavos e alianças, que só favorece a eles e, muitas vezes, prejudica a grande maioria da população, emana do povo.

     É verdade. Emana do povo, sai do povo, é dado pelo povo. Mas não retorna para o povo. Esse mesmo poder que emana do povo fica dentro daquele pequeno círculo de poder que tudo decide e que não tem nada a ver com o povo. Um povo hipnotizado, preso a outras vontades, cúmplice inconsciente do que é feito com o seu voto. Um povo sempre à margem do círculo, que o segrega e oprime.

     E chamam a isso de democracia.

Um comentário:

  1. Democracia, a Farsa das eleições, e principalmente a falta absoluta de ideologia. Concordo com isto e muito mais. O Capitalismo nas menores coisas em nossas vidas se inserindo como natural, legal! E tendo o lucro como único objetivo. Qualquer País da América Latina nos ganha de dez, mesmo sendo desfeitos em sua simplicidade e consciência. Claro que, idéia passada pela mídia idiota televisiva, falada e impressa dos nossos meios de comunicação. Parabéns! Ótima postagem.
    Lidia.

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