domingo, 3 de julho de 2011

COMPLEXO DE TICO-TICO



     Li alguns comentários de pessoas desiludidas com o clube. Aqueles comentários que são postados após as notícias, na Internet. Alguns dizem que vão rasgar a carteira de sócio, outros, que vão dar um ano sabático para o Grêmio, esquecer que ele existe até o Odone sair. Os mais críticos. Aqueles a quem falta senso crítico e já se acostumaram a torcer pelo time, não importando qual time ou qual treinador ou qual diretoria, logo aceitarão a Nova Ordem vigente. Pensam que um clube de futebol é exatamente isso: um vaivém de jogadores e de treinadores e que a eles, torcedores, cabe apenas gritar durante os jogos, torcer pelas cores, aceitar qualquer coisa, porque a diretoria sabe o que faz e por isso é diretoria.

     Exatamente como a maioria do povo brasileiro, e o torcedor é povo, nada mais que povo amordaçado e inconsciente.

     No Brasil, elegemos uma desconhecida com os votos da fome, os votos da miséria, os votos da ignorância, os votos a cabresto, os votos da intimidação, os votos do medo daqueles a quem foi dito que se a Dilma não fosse eleita voltaria a ditadura militar e não sabem que a turma da Dilma nunca foi tão amiga dos militares como agora e os militares nunca estiveram tão satisfeitos com este, que é o governo civil dos seus sonhos.

     Um governo que faz exatamente o que eles gostariam de ter feito se a ditadura ainda fosse militar – invade os morros com blindados, desacata a constituição – e ainda faz o que eles fizeram: acordos com banqueiros, latifundiários e multinacionais. Um governo que não tem oposição, como eles não tiveram, e que se propõe a continuar devastando o Brasil em nome de um progresso que somente favorecerá os muito ricos. De vez em quando, o governo diz aos miseráveis que vai acabar com a miséria. E os miseráveis aplaudem e prometem mais votos.

     O Grêmio foi um clube que prometeu ser grande em determinada época, lá pelos anos ’80. Depois alguma coisa aconteceu. Principalmete neste século ficou claro que o Grêmio estava com complexo de tico-tico. Contentou-se em ser apenas o segundo melhor time gaúcho, o que significa ser o último, porque os demais times daqui são apenas celeiros de jogadores. E o Grêmio optou por também ser celeiro de jogadores para os times europeus. Os donos do Grêmio – aqueles que se revezam na diretoria – decidiram que seria mais compensador formar e vender dois ou três jogadores por ano e não lutar por títulos. Os títulos, se viessem, seriam acontecimentos fortuitos, mas não o objetivo principal. Em troca, a torcida terá um novo estádio.

     Isso lembra a história do bolo. Durante a ditadura militar houve um momento que foi apelidado pela imprensa coadjuvante de “milagre econômico”. Um momento muito parecido com o de agora. Só que agora é pior, porque a falsidade é maior. O país crescia, estradas eram construídas, empregos eram gerados, uma nova classe média surgia dos escombros da pobreza, pronta para tudo consumir e tudo aceitar. O PIB (Produto Interno Bruto) aumentava a cada mês.

     Um belo dia, um daqueles jornalistas que hoje se ufanam de ter combatido a ditadura entrevistou um daqueles generais e perguntou quando toda aquela riqueza seria distribuída para o povo. O general respondeu que estavam esperando o bolo crescer para depois dividir. A fase ficou famosa, assim como o famoso bolo que continua aí, crescendo para ser dividido somente entre os amigos do rei. Ou da rainha.

     Pois o bolo do Grêmio chama-se Arena. Um novo estádio que está sendo construído para que a torcida fique melhor acomodada e somente depois do grande feito o Grêmio pensará em vitórias.

     Por enquanto, os dirigentes desejam ter um time medíocre, o suficiente para tentar não ser rebaixado novamente. Tiraram o Renato porque ele gosta muito de ganhar partidas e não tinha time para isso. O time existia quando Renato chegou, mas depois foi sendo desmontado. A tal ponto que, no final do campeonato gaúcho, o Grêmio que enfrentou o Internacional nas finais era um time de reservas e de jogadores inexperientes. Um time medíocre, ao gosto dos dirigentes, que aproveitaram a série de maus resultados para tirar o Renato, que representa para a torcida o Grêmio vencedor. Mas os dirigentes não gostam de vitórias; gostam de vender jogadores. E havia o perigo do Renato encontrar a fórmula mágica que levaria o time a novas vitórias.

     Entrevistado sobre qual seria o perfil do novo treinador, um dos vice-presidentes do Grêmio disse a frase que ficará eternizada: “Um treinador que não goste de ganhar sempre”.

     Do que se depreende que para os dirigentes do Grêmio ganhar não é a prioridade. Para que ganhar se é possível empatar ou perder?

     Talvez por isso tenham contratado um treinador desconhecido e que era auxiliar técnico do Falcão no Internacional. Para não ganhar. E também para humilhar um pouco o Renato e a torcida tricolor.

     É o mesmo que a Dilma ser eleita a pau e corda porque o Lula assim desejava. Uma pessoa que foi colocada como presidente para cumprir as ordens do seu partido. E entre essas ordens está construir Belo Monte no Pará e mais duas usinas em Rondônia – e destruir parte da Amazônia -, entregar a Amazônia e a Mata Atlântica para a sanha das empresas de desmatamento, afastar a feiúra das favelas para bem longe - mesmo que tenha que matar muita gente com a sua polícia especial – dos estádios em que serão realizados jogos da Copa do Mundo e ser governada por banqueiros e multinacionais – mesmo que isso custe a soberania do país. Entre muitas outras coisas.

     E o novo treinador do Grêmio terá de ser muito respeitoso com a diretoria e com os seus objetivos, que se resumem, preferencialmente, em promover novos jogadores da base gremista para que sejam vendidos – porque os resultados em campo não interessam.

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