sábado, 11 de fevereiro de 2012

O GOVERNO EM XEQUE



Um estado policial sempre será ditatorial, mesmo que se mascare de democrata. Criar um estado policial é desejar ser refém da polícia, conforme vem acontecendo nos últimos doze dias na Bahia e, agora, no Rio de Janeiro. A presidente Dilma disse que não aceitaria determinadas exigências dos policiais baianos em greve, o governador Jaques Wagner apelou para o Exército, mas o que podem fazer os militares contra uma greve de militares, mesmo que policiais?

     Nada que se perceba. Cercaram a Assembléia Legislativa de Salvador, onde estavam mais de dois mil grevistas, prenderam alguns, atiraram balas de borracha em outros, mas os grevistas saíram e continuaram a greve.

     Qual a estratégia quando você quer derrubar um governo, ou, no mínimo, desmoralizá-lo? Greve nos serviços essenciais, como a polícia militar e os bombeiros.

     Um golpe de estado não surge do nada ou da vontade de alguns generais insatisfeitos. É planejado cuidadosamente. E greve nos serviços essenciais é sempre o primeiro passo. A população se sente insegura e ao Governo só restam duas opções: ou concordar com todas as exigências dos grevistas e perder a força e autoridade que se espera de um Governo, ou reprimir a greve.

     Não cabe a um governo civil, que se diz democrata, atos de repressão e não é provável que o Governo venha a ceder em todas as frentes aos grevistas. Se isso acontecer, será considerado um governo fraco.

     Mas o Governo já é fraco. As seguidas denúncias de corrupção, as quedas de ministros e assessores, a insatisfação geral contra um Executivo que sobrevive através de suspeitas alianças no Congresso e, para culminar, a crise no Judiciário, que põe a nu os altíssimos salários de juízes e desembargadores e revela que nada será feito se algum malfeito for descoberto, porque a máxima punição para aqueles senhores é o presente da aposentadoria, mostra um Governo cambaleante e desmoralizado.

     E o povo se sente roubado.

     Pior que isso. Cada vez mais se percebe que esta é a democracia dos banqueiros e empresários, restando ao povo pagar impostos e viver de sonhos.

     Junte-se a isso a recente viagem de Dilma a Cuba, que não agradou nem um pouco o seu aliado do Norte. Contra todas as expectativas da extrema-direita, Dilma não quis se encontrar com a mercenária cibernética Yoani Sánchez e recusou-se a falar nos direitos humanos em Cuba, alegando – justamente - que se fosse o caso de falar em direitos humanos teria que ser de maneira multilateral, incluindo a base estadunidense de Guantánamo, onde as piores torturas são perpetradas contra prisioneiros de guerra pelo Estado norte americano.

     Isso incomodou bastante aquele país que espalha o terror pelo mundo. Deixou o Governo dos Estados Unidos bastante irritado, no momento em que organiza a guerra civil na Síria e prepara a invasão do Irã.

     Quando invadiram o Vietnã, nos anos sessenta, os Estados Unidos fizeram questão de promover ditaduras militares em quase toda a América do Sul, que consideram seu terreno.

     A História não se repete, mas oferece lições.

     Talvez a greve dos PMs da Bahia seja justa, mas foi divulgado que eles ganham R$2,400,00 por mês, e se todo brasileiro ganhasse – no mínimo - esse salário teríamos um país justo. É uma greve curiosa, porque se estende para outros estados, como o Rio de Janeiro, estrategicamente organizada às vésperas do Carnaval e nos dois Estados (Bahia e Rio de Janeiro) onde o Carnaval atrai milhares de turistas do mundo inteiro.

     Mais curioso ainda é o fato de nesses poucos dias de greve dos policiais da Bahia, além dos inúmeros atos de vandalismo e assaltos, terem ocorrido mais de 150 homicídios. É como se a greve dos policiais tivesse aberto a jaula dos sedentos de sangue, dando a eles o direito de matar.

     Os assassinatos tem por objetivo legitimar a greve, mostrando ao povo baiano quão essenciais são os serviços da polícia. Mas surte o efeito contrário, no instante em que a população se dá conta de que está desprotegida e que os próprios policiais em greve são acusados de vandalismo, senão de coisas piores.

     O Governo está em xeque. Ou toma decisões enérgicas ou a sua óbvia fraqueza poderá dar ensejo a que algum aventureiro fardado - apoiado alegremente pelos Estados Unidos, que já desconfiam da Dilma – lance mão do seu poder bélico e tome o poder alegando as desordens e a corrupção.

     Se fosse nos anos sessenta, Dilma ganharia uma passagem de ida para um remoto país, junto com o seu ministério. Mas, naquela época, quando houve o golpe militar, o governo de João Goulart fazia reformas de base, educava o povo através do método Paulo Freire e era um Governo impecável, que só renunciou para evitar uma chacina quando soube que a IV Frota dos Estados Unidos estava pronta para intervir em caso de resistência ao golpe.

     Agora, por mais de esquerda que queira parecer, posando em foto com Fidel Castro, Dilma é aliada dos Estados Unidos em tudo e por tudo; curva-se às decisões de Washington, tem na Rede Globo um vacilante apoio, mas apoio, e faz o jogo neoliberal, continuando a privataria tucana com a privataria petista.

     Para que o atual Governo possa funcionar, apesar das corrupções comprovadas e veiculadas toda semana, não só atrelou a maioria dos sindicatos como se torna vassalo das Forças Armadas. E necessita da polícia para continuar marginalizando a pobreza. Fez do Brasil um estado policial, mas não contava que os seus policiais iriam, um dia, rebelar-se contra os baixos salários e péssimas condições de trabalho.

     Agora tenta salvar o seu Carnaval, porque carnaval é o apelido do atual Governo.

Um comentário:

  1. Pois é Fauto, esta semana pensava nisto, isto é, o perigo de como estão sendo conduzidas estas ações pelos governos, ou seja, acionando o Exército e sair prendendo lideranças sindicais é muito complicado e pode gerar várias interpretações pela sociedade.

    ResponderExcluir

Faça o seu comentário aqui.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...