sábado, 18 de fevereiro de 2012

A REVOLUÇÃO


Recebi uma mensagem através do Facebook dizendo que a revolução no Brasil está começando e que o primeiro sinal foi a vitória da constitucionalidade da Lei da Ficha Limpa no STF. Em seguida, recebi outra mensagem dizendo que a revolução no Brasil está começando e que foi iniciada com as diversas marchas contra a corrupção e que os corruptos devem fugir para não serem atropelados.

     Corri para olhar os jornais. Nada de revolução. Poderão me dizer que os jornais que olhei fazem parte da grande mídia reacionária. É verdade. Costumo ler de passada aqueles jornais para entender o que eles estão pensando e o que querem vender para a massa. Todos dão as mesmas notícias, porque recebem as mesmas informações das mesmas agências de notícias – devidamente peneiradas – e as repassam para os seus leitores. Nos sábados e domingos é pior, como se o resto do mundo não existisse; como se o Brasil se resumisse a Rio e São Paulo.

     Fui colocar o lixo no enorme caixão de lixo - recentemente inventado pela reacionária Prefeitura de minha cidade - pensando que a Revolução não começa nem termina: é um processo sociológico inevitável, com momentos de ruptura institucional, quando o povo não agüenta mais ser explorado, mas que não se esgota nesses momentos, ou não seria revolução; costuma avançar e retroagir, conforme as forças sociais em conflito, mas existe desde que as pessoas se organizaram em sociedade, buscando a felicidade através de melhorias materiais e espirituais.

     Também lembrei uma famosa resposta dada por Fidel, a um repórter ingênuo que lhe perguntou quando ele (Fidel Castro) iria cortar a barba. A resposta foi: “quando a revolução terminar”. 

     A Revolução não termina; avança, evolui, muda de aspecto, de acordo com as exigências sociais, por vezes parece involuir para momentos de sectarismo e despotismo, quando um grupo se considera “dono da revolução” e obriga o povo a aceitar as suas idéias e desmandos, em outros momentos é golpeada por oligarquias que se sentem diminuídas em seu poder e apelam para as armas. Mas continua, mesmo sob um regime ditatorial, como um rio contido entre margens muito apertadas, mas que sabe que o seu destino é o mar.

     Estava pensando sobre essas coisas, quando cheguei à enorme caixa de lixo na rua e vi uma senhora de cabelos brancos remexendo no lixo. Eu não a conheço, deve ser uma pessoa que chegou à miséria recentemente. Ou, talvez, estivesse procurando no lixo da minha rua o que não tinha achado em outros lixos de outras ruas. Para aquela senhora a revolução não chegou. Ela não deve pertencer a nenhum sindicato, é velha demais para trabalhar e bem que gostaria de fazer uma revolução, mas não tem forças. Enquanto isso, tenta sobreviver como pode, como as revoluções usurpadas de nosso país.

     Naquele momento, lembrei da Dilma e de suas férias carnavalescas na Bahia. Era inevitável a comparação.

     Quando voltei para casa nesta tarde de calor, olhei mais uma vez as notícias. Talvez alguma coisa tivesse escapado à minha observação... E vi!

     Milhares de pessoas pulando atrás do Cordão da Bola Preta e do Galo da Madrugada, no Rio de Janeiro. Até parecia uma revolução. Mas estamos no Brasil.

Um comentário:

  1. Pois é, companheiro. Também chegaram até mim boatos da tal revolução... Confesso que ao ler a tua matéria, com interpretações da revolução de verdade, concordei e aprendi. Parabéns!
    Lidia.

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