quarta-feira, 19 de setembro de 2012

OS NOVOS FARROUPILHAS


Comemora-se no Rio Grande do Sul os 177 anos da Revolução Farroupilha (1835 – 1845), deflagrada em 20 de setembro de 1835, tendo como épico momento a Declaração de Independência do Império do Brasil, proclamada por Antônio de Sousa Neto, no dia 11 de setembro de 1836, logo após a batalha de Seival, nos arredores de Bagé.

     Apesar da derrota da revolução e da posterior declaração da República no Brasil, é um sentimento gaúcho que a República de São Pedro do Rio Grande do Sul persevera na sua independência, embora, oficialmente, esteja integrada à União. Uma integração feita através das armas e não obedecendo a vontade do povo. 177 anos são passados e, ao contrário do que muitos esperavam e apregoavam – o Rio Grande do Sul como estado submisso ao Governo central –, cada vez mais o povo gaúcho se revela cúmplice amoroso da sua pátria, manifestando-se através do hino da independência em todas as ocasiões possíveis – inclusive antes e durante os jogos de futebol. É uma nação que conhece de cor o seu hino e o significado de frases como “Povo que não tem virtude acaba por ser escravo”.

     O Brasil é um país irmão que um dia encontrará melhor destino e governantes menos corruptos. Mas o Rio Grande do Sul tem as suas próprias tradições, hábitos, costumes, história e linguajar que o une mais com países como Uruguai e Argentina, senão com toda a América Latina, do que com o carioquismo imposto que tenta aculturar as novas gerações quase com a mesma intensidade que o Brasil se deixa aculturar e dominar pelos Estados Unidos.

     Infelizmente, também temos governantes demagogos, quando não corruptos, que defendem a sua classe e esquecem o povo, aliados do capital e do governo do país mandante que os vigia, agindo como sátrapas, pertencentes a grupos de poder interessados apenas na dominação, agregados a partidos que esqueceram as suas cores, muitas vezes adeptos de grupos subterrâneos e não democráticos, lutando pela estagnação e destruição dos nossos valores e da nossa cultura.

     Não são apenas eles, mas também, os que desejam um povo gaúcho escravo, formando uma elite que, com certeza, trairia a Revolução Farroupilha se ela acontecesse hoje. Uma revolução que foi traída pelos Bento Ribeiro e Canabarro, embora muitos, por pudor, não queiram admitir a verdade histórica.

     Ressuscitada duas vezes nas revoluções maragatas de 1893 e1923, teve o seu momento de maior brilho quando um gaúcho chamado Getúlio Vargas decidiu que se o Brasil necessitava tanto dos gaúchos seria necessário, primeiro, reconstruir o Brasil. Era 1930 e os cartéis que exploravam o que ainda hoje chamam de Brasil tremeram. Em 1932 reagiram, e o povo paulista foi sacrificado em nome dos interesses das multinacionais. Traído duas vezes, Getúlio foi deposto em 1945 e obrigado ao suicídio – por uma questão de honra, somente bem compreendida por quem tem um coração independente – em 1954. Sucederam-se governos entreguistas do sudeste, até que o gaúcho João Goulart assumiu o poder em 1962, com um projeto nacionalista e trabalhista e foi deposto em 1964, por ordem dos Estados Unidos.

     Depois da redemocratização, no final dos anos ’80, os enganadores se sucederam, nadando no seu aceito mar de lama. Caricaturais pelegos das elites que fingem combater querem se eternizar no poder – e mais uma vez o povo é levado à mendicância.

     No Rio Grande do Sul, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra surgiu em 1984, depois que a grilagem e o processo da mecanização das lavouras expulsou cerca de 30 milhões de agricultores do campo na década anterior. Um movimento que espalhou-se pelo Brasil rapidamente. Seus 50 mil militantes transformaram o campo num barril de pólvora, com marchas, ocupações de terras, rodovias, prédios públicos. Causam tanto incômodo que sua determinação serviram de estímulo para a criação da Associação dos Produtores Rurais, no Mato Grosso; o Primeiro Comando Rural, no Paraná; e ainda o ressurgimento da União Democrática Ruralista (UDR) e do Movimento Nacional dos Produtores.

     Além da terra para quem nela trabalha, os agricultores do MST, ligados à Via Campesina, lutam contra o uso de agrotóxicos, contra os produtos transgênicos e a favor de uma agricultura familiar e sustentável. Defendem um novo modelo agrícola, baseado na agricultura camponesa e agroecológica.

     Aos poucos, percebem que nada disso será conseguido sem muita luta, porque grandes são os interesses contra essa postura a favor da vida. Ao mesmo tempo, entendem que deles depende abrir os olhos da passiva massa das cidades, que se contenta com promessas e mesadas.

     São os novos farroupilhas, que enfrentam uma batalha a cada dia – escorraçados, insultados, muitas vezes massacrados e tratados como pessoas de última categoria. Mas sempre altivos e conscientes de que o futuro deve ser conquistado no presente, a cada passo.

     No Rio Grande do Sul, o dia 20 de setembro é considerado como o dia do orgulho gaúcho, e são esses novos farrapos – talvez os únicos que levantam a bandeira farroupilha com o mesmo destemor dos revolucionários de 1835 - que devem ser homenageados como legitimos representantes das lutas populares.

Um comentário:

  1. eu duvido sinceramente de tanta história mal contada sobre a historia do RS o que é verdade e o que é mentira!!!E a batalha de Porongos!!!e os pactos!e as influencias???quando se aclarará a verdadeira epopéia?

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