terça-feira, 4 de dezembro de 2012

A DOUTRINA DILMA




Existiam dúvidas a respeito. Sabe-se que nasceu no estado de Minas Gerais e trabalhou no Rio Grande do Sul. Muitos se perguntavam: de que estado é a Presidente de todos os brasileiros? Agora ficou claro: Dilma nasceu em Minas, mas é tão mineira quanto o Lula - que pensa que é paulista - é pernambucano. O espírito de Dilma está no Rio de Janeiro. Dilma é carioca. Além disso, somente oficialmente é a Presidente de todos os brasileiros.

     Dilma reeditou a Doutrina Monroe no Brasil, com algumas alterações. O Presidente Monroe, dos Estados Unidos, afirmou, no século XIX, "A América Para Os Americanos". Ficou claro que para os americanos do norte, principalmente os Estados Unidos. E os estadunidenses passaram a invadir e orquestrar golpes de estado na América Meridional. Mais de 200. Algumas vezes eles não invadem diretamente. Compram as Forças Armadas e os dirigentes do país desejado. É um trabalho menor e que tem a mesma eficácia das invasões tradicionais. A penúltima vez foi em Honduras, a última no Paraguai.

     Dentro do Brasil, Dilma deixou claro que o Brasil é dos cariocas. De lambuja, mais dois ou três estados, como São Paulo, Espírito Santo e, talvez, Minas Gerais. A região sudeste, especialmente o Rio de Janeiro.

     Afinal, o Rio de Janeiro continua lindo. Tem o Corcovado, o Cristo Redentor, Ipanema, Copacabana e outras praias bacanas e é a cidade-estado onde nasceu o samba - e quem não gosta de samba bom sujeito não é. Mulatas, museus, balangandãs, balacobacos, tico-tico no fubá e aquela turma que bebe caipirinha na beira da praia. Também tem balas perdidas, ROTA, invasão de favelas, uma mini guerra civil e alguns arrastões por semana - mas essas coisas não contam. O que conta é aquele abraço, a torcida do Flamengo e outras torcidas menores, o bondinho do Pão de Açúcar, as escolas de samba e o petróleo. O petróleo que seria dos brasileiros, segundo a Constituição, mas é só dos cariocas e amigos mais próximos, segundo Dilma.

     De preferência, bem próximos do Governo Federal que - todos sabem - é carioca. A Doutrina Dilma diz que o Brasil é para os cariocas. E amigos. Uma questão de dinheiro. Royalties do petróleo que não é mais nosso - é deles. Chamam a isso de pacto federativo: quem tem mais ganha mais; quem tem menos pede esmola. O país é de todos, mas até certo ponto. Na verdade, é um pacto capitalista.

     A República Federativa do Brasil tem sido construída por oligarcas e não pela maioria do povo. A cada dois anos acontecem eleições, ocasiões em que o povo é levado a acreditar que está participando quando delega os seus direitos para alguns representantes e passa a ter outros direitos: o direito de pagar impostos, o direito de sambar (nos dois sentidos), o direito de buscar emprego na país dos desempregados, o direito à miséria, à falsa educação, a esperar nas filas do INSS e do SUS, o direito a ser enganado diariamente e ainda agradecer quando o roubo é pequeno, o direito a assistir os políticos assaltando, o direito a ser violentado em seus direitos e - a base de todos esses direitos - o direito à desigualdade social.

     A correta tradução de capitalismo é a de um sistema que adota a desigualdade social como meio para aumentar a riqueza dos que já são ricos. Em nome do que chamam de liberdade - a liberdade de ser injustiçado socialmente. É claro que a Constituição brasileira diz que o Governo é responsável pelo bem-estar dos cidadãos e é claro que isso não acontece à medida que o Governo promove a desigualdade. Para o sistema capitalista não há nada mais democrático do que a desigualdade.

     O caso dos royalties do petróleo, que são do país e de todos os cidadãos e estão sendo usufruídos somente por dois ou três estados entre 26 é um exemplo. Vejam que as máscaras políticas e ideológicas caíram quando se tratou de defender o dinheiro nosso que fica no Rio & Associados. Todos os representantes dos partidos cariocas - do falso partido que se diz comunista (PCdoB) ao assumido partido da extrema direita (DEM), passando por renitentes, medrosos ideológicos (PPS, PSB, PV) e até pelo corrompido PT - saíram às ruas para pedir à Dilma que vetasse o projeto que redistribuía parcamente o dinheiro oriundo dos royalties. Todos se uniram em nome do dinheiro. Chamam a isso de pacto federativo. Dilma vetou.

     Entenda que as águas do Rio de Janeiro não são águas brasileiras, apenas cariocas. Uma cidade capital de um estado que domina todos os demais estados brasileiros, porque é imensamente mais rica. Existe maior exemplo de desigualdade social? Seria o caso dos outros estados que são supostamente brasileiros e não são beneficiados com o dinheiro do petróleo que seria nosso e ficou pra eles se rebelarem e se desligarem da União? Para que serve a União se é a união de dois ou três estados contra os demais?

     Essa é a Doutrina Dilma, que não está escrita, mas subentendida. Ou claramente entendida.

     Os parlamentares de outros estados que não a cidade-estado referida lutarão no Congresso contra o veto de Dilma. Nada adiantará, porque são tantos os que estão presos politicamente ao Governo - este é um país de presos políticos corruptos em liberdade - que nada adiantará. A maioria do Congresso é governista e imagina-se quantos mensalões poderão existir naquelas duas mal-cheirosas Casas.

     Alguns gritarão: Quosque tandem? Até quando? Catilina está nas fronteiras, Lula está sem barba e Dilma não gosta de Joaquim Barbosa. E o povo, até quando será abusado na sua paciência?

Um comentário:

  1. Excelente postagem! É Brasil do começo ao fim. Tal qual. Triste, lamentável, mas profundamente real. Ótimas informações. Parabéns!

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