domingo, 14 de abril de 2013

A COREIA JUCHE ALÉM DO MARXISMO-LENINISMO



A palavra Juche significa autoconfiança ou autossuficiencia e a Ideia Juche é o que move os norte-coreanos. Kim Il Sung, fundador do Partido do Trabalho da Coreia, foi quem concebeu a Ideia Juche a partir do marxismo-leninismo, nas décadas de 1930-1940, que foi desenvolvida depois por Kim Jong Il. Segundo os teóricos da Ideia Juche, esta não é apenas o marxismo-leninismo adaptado à realidade coreana, mas uma nova ideologia que seria superior ao próprio marxismo. A superioridade da Ideia Juche consiste em que indicando a posição e o papel do homem no mundo esclarece-se de maneira mais científica a maneira como o homem forja o seu destino. De acordo com Kim Jong Il: “Se o marxismo criou pela primeira vez a concepção revolucionária de mundo da classe trabalhadora, a Ideia Juche a aperfeiçoou, desenvolvendo-a a uma etapa superior”. O princípio básico da Ideia Juche é que as massas são donas do mundo e de seu próprio destino.

   Além disso, o patriotismo e o nacionalismo são muito importantes na Ideia Juche, levando-se em conta o fato de que um povo que não ama a sua pátria não poderá desejar o melhor para ela e para si mesmo: o socialismo. A Ideia Juche não acredita que aja qualquer contradição entre patriotismo, nacionalismo e socialismo. Sobre o nacionalismo, Kim Jong Il, que escreveu mais de 800 textos sobre a Ideia Juche, afirma que deve-se diferençar o verdadeiro nacionalismo do “nacionalismo da burguesia”, que é sinônimo de exclusivismo, egoísmo nacional e chauvinismo.

   A Ideia Juche resgata parte da herança cultural do Oriente ao introduzir junto ao socialismo posturas éticas ligadas ao confucionismo, taoísmo e budismo. Assim, o amor à pátria deve nascer dentro da primeira célula, com o amor à família, o respeito mútuo, o amor romantizado, a ausência de pornografia, drogas ou atitudes grosseiras; desenvolver-se através da comunidade, onde todos devem colaborar para o bem de cada um e de todos e redundar no que é considerado o verdadeiro nacionalismo socialista, isento de individualismo sem negar o indivíduo.

   O nacionalismo como base do socialismo é uma das principais discussões entre os teóricos marxistas, desde que Marx e Engels ao observarem o período pré-imperialista do capitalismo, entenderam que a revolução proletária deveria ser necessariamente internacionalista. Logo após o triunfo da revolução socialista na União Soviética, as transformações mundiais revelaram o surgimento do capitalismo monopolista e do imperialismo, que reflete as desigualdades sociais também entre os países, ou o desenvolvimento desigual entre os países.

   Após a morte de Lênin, em 1924, ocorreu uma grande discussão dentro do Partido Comunista da União Soviética entre Stálin, que propunha “o socialismo em um só país”, e Trotsky, que defendia “a revolução permanente”. Trotsky acreditava que o proletariado deveria fazer a revolução socialdemocrática – no lugar da burguesia, cada vez mais conservadora – e em seguida evoluir para a revolução socialista. Ao mesmo tempo, entendia que a revolução poderia ser limitada a uma só nação, mas internacionalizada e desenvolvida rapidamente em outros países para poder resistir à pressão hostil dos países capitalistas.

   De certa forma, Trotsky repetia a visão mais ortodoxa de Marx e Engels, mas, como citado acima, na época pré-imperialista do capitalismo. Por seu lado, Stálin defendia que naquele momento histórico, posto que o capitalismo assumira formas monopolistas e imperialistas, acelerando as leis do desenvolvimento desigual, e usando o marxismo não como um dogma, mas como um método de reflexão e ação, e dado a derrota de todas as revoluções socialistas na Europa, excetuando-se a União Soviética, a revolução soviética deveria, em primeiro lugar, reforçar-se internamente.

   Alguns afirmam que esta teria sido uma tese desenvolvida por Nikolai Bukhárin, em 1925, e adotada no XIV Congresso do PCUS. Outros, no entanto, dizem que Stálin se baseava em Lênin que escreveu: “O desenvolvimento econômico e político é uma lei absoluta do capitalismo. Então, a vitória do socialismo é possível em alguns ou mesmo em um país capitalista, tomado isoladamente.” (Escritos Selecionados, V. I. Lênin). Além disso, em “Programa da Revolução Proletária”, Lênin escreveu: “O desenvolvimento do capitalismo procede de forma extremamente desigual nos diversos países. Isto não pode se dar de forma diferente sob o sistema de produção de mercadorias. Disto segue, irrefutavelmente, que a vitória do socialismo não pode ocorrer simultaneamente em todos os países. O socialismo alcançará a vitória primeiro em um ou alguns países, enquanto os demais permanecerão burgueses ou pequeno-burgueses por algum tempo”.

   Com a vitória política de Stálin sobre Trotsky a União Soviética desenvolveu-se dando maior ênfase ao nacionalismo do que ao “internacionalismo proletário”. Marx e Engels entendiam que o proletariado deveria unir-se mundialmente enquanto classe que tem os mesmo interesses e objetivos. No entanto, as diferenças sociais de país para país muitas vezes transformou essa suposta união em traição, uma vez que nos países imperialistas e seus “aliados” ou vassalos ideológicos, o proletariado nada mais deseja que a ascensão para a pequena-burguesia, da qual adota a cultura e pela qual é massificado pacificamente.

   Mesmo assim, correntes trotskistas do mundo inteiro interpretam um socialismo nacionalista como o da República Democrática Popular da Coréia com certa suspeita e até algum ranço dogmático, porque “está escrito” que o nacionalismo é pequeno burguês – mesmo que seja socialista.

   De acordo com Gabriel Martinez (“Sobre alguns problemas referentes à educação Juche”) “...Isso não quer dizer, de nenhuma maneira, que se enalteça somente a nossa nação, desprezando as outras. Nós, os comunistas, não podemos nos converter em nacionalistas. Ao mesmo tempo, somos autênticos patriotas e internacionalistas. Se insisto em dar a primazia à nossa nação é para destacar a necessidade de fazer de maneira independente a revolução e a construção com o espírito de considerá-la como o que é mais precioso e com um significativo orgulho nacional. Os que idolatra, às cegas, a outras, desdenhando a sua nação não podem ser fiéis ao seu partido ou ao seu povo nem ter uma atitude de donos da revolução do seu país...”

 A Ideia Juche, que prevê a independência através da autossuficiência de cada país socialista não exclui o marxismo ou o internacionalismo, mas vai além ao afirmar que cada país tem características próprias que devem ser preservadas e que cabe a cada nação escolher o socialismo e a igualdade como necessidade de sobrevivência contra o capitalismo sem depender de alianças e tendo como base a autoconfiança = Juche.

Quando se pergunta porque os Estados Unidos e aliados que formam as forças da OTAN estão tão preocupados com a pequena República Democrática Popular da Coréia, a ponto de fazerem manobras ostensivas anualmente em suas águas na tentativa de provocar uma guerra, talvez a resposta não esteja no domínio territorial, na geopolítica.

Muito provavelmente temem a Ideia Juche, que já se espalha pelo mundo. Atualmente, existem o Instituto Internacional da Ideia Juche, o Instituto Asiático da Ideia Juche, o Instituto Regional Africano para o Estudo da Ideia Juche e a Associação da Região Europeia para o Estudo da Ideia Juche. Na América Latina, desde 1978 existe um instituto continental da Ideia Juche. Nos dias de hoje, há mais de mil grupos de estudo, vinte e sete comitês nacionais e quatro organismos continentais.

Nos anos 2000 aconteceram mais de trezentos simpósios sobre a Ideia Juche em mais de quarenta países. Estados Unidos e aliados, assim como alguns setores da esquerda acomodada, temem que o marxismo, através da Ideia Juche, novamente se torne revolucionário e nada mais sabem fazer que tentar destruir a Coreia do Norte a qualquer preço. Mas ideias não podem ser destruídas.

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