quinta-feira, 12 de setembro de 2013

SEU CHICO E A VOLUBILIDADE DA LEI


- E então, seu Chico, o Celso de Mello é quem vai decidir se os mensaleiros merecem outro julgamento.

- Numa sexta-feira 13, o número do PT. Ficaria muito óbvio, o senhor não acha? Vão deixar pra quarta-feira pra causar suspense e dar maior audiência. O Celso de Mello? Vai ficar famoso. Acredito que lá para o futuro, quando se falar em corrupção e supremos julgamentos, haverá quem venha a dizer: “Desde os tempos do Celso de Mello...” Mas veja o senhor que não é o único. Ao que tudo indica o Celso de Mello apenas vai dar o tiro de misericórdia na nossa ingênua noção de justiça. Está bem acompanhado: Lewandovski, Dias Toffoli, Rosa Weber, Teori Zavasck e Luis Roberto Barroso. Tudo gente boa, mui amigos da Dilma, do Lula... Ainda bem que não tem gaúcho no meio.


- Tem sim, seu Chico. A Rosa Weber é de Porto Alegre.


- Vergonha! Me tapei de quero-quero! Deve ser uma recém nomeada, assim como aquele teórico, e o boi barroso ou coisa parecida. Meu Deus!, estou até esquecendo os nomes das supremas autoridades. Mas então a moça é porto-alegrense? Com certeza foi indicada pela Dilma. Menos mal que é de Porto Alegre e não de Santa Maria, Passo Fundo, Bagé e todas as outras cidades do interior que são realmente gaúchas. Porto Alegre, o senhor sabe, sempre com um pé lá e outro cá. E geralmente o pé que fica do lado de lá puxa o outro. Considerando esses considerandos, nem dá pra culpar a senhora dona, doutora excelentíssima, com tantas alegres influências que deve ter recebido na sua vida. Quem sabe é uma alma boa... De boa fé, quero dizer...

- Ficou atrapalhado, seu Chico.

- Confesso que fiquei. Deve ter sido o susto. Vou relevar esse voto feminino, que deve ter sido moderado e movido pelo bom senso, talvez pela sensibilidade própria daquele sexo. Ela deve ter imaginado o coitado do Zé Dirceu preso, triste, sozinho naquele presídio. Deu pena. Quanto aos porto-alegrenses, nem todos são daquele jeito e com aquele sotaque. Tem muita gente boa por lá. Não foram eles que iniciaram a Guerra dos Farrapos?

- E terminaram defendendo o império.

- Começaram e terminaram, concordo. Lá dentro daquelas lojas maçônicas, com grandes e embevecedores discursos em nome do Grande Arquiteto e coisa e tal... Queriam trocar o governador do estado e se viram envolvidos em uma revolução separatista - veja que coisa!... Imagine o Caxias mandando recados: “Mas quê! Então vocês me traíram? Traíram o ideal maçônico de um Brasil grande, espichado e marasmento como um bicho-preguiça, e querem se separar?” E eles respondendo: “Ó irmão Grande Preboste, grande e poderoso como grandes e poderosos sabem ser os grandes prebostes! Não é bem assim. Ocorre que a pobre gente do interior se entusiasmou e cá ‘stamos envolvidos nesta guerra que não desejávamos, até prometemos a libertação dos escravos (imagine aquela negrada solta, o que não vão aprontar!) e já lá vão quase dez anos, as nossas fazendas ‘stão abandonadas, a riqueza diminui, até a peonada anda se dando ares e cá ficamos um tanto quanto encalacrados...” E Caxias: “Seus incompetentes! Seus aloprados! Segurem as pontas que eu vou dar um jeito nisso. A propósito, o tal de Canabarro continua por aí?”

- Só o senhor, seu Chico...

- É verdade, só eu sou eu, por incrível que pareça, mas bem que eles podem ter tido umas conversinhas desse tipo. Irmãos com irmãos. E depois, o massacre de Porongos, o armistício, os chefes indo para as suas fazendas no Uruguai e voltando para ajudar o império na Guerra do Paraguai... Tudo entre irmãos. E isso me lembra que o tal de mensalão, que já perdeu o sal e virou uma saladinha muito frugal, deve ter muito de irmão com irmão conversando nas grandes salas dos passos muito perdidos das lojas, e não por acaso loja virou sinônimo de lugar de compra e venda.

- Loja vem de Logos, Verbo, manifestação divina. No início do evangelho de São João ele escreve: “No princípio era o Logos, e o Logos estava com Deus, e o Logos era Deus”.

- Pois tá explicado! São João não é o grande patrono da Maçonaria? E eu acho que loja, além de significar Logos, também se refere a logística, lugar onde se organizam os acontecimentos que, depois, para os profanos, se transformarão em grandes notícias. Maçom é um bicho que pensa que é Deus e ninguém tira isso da cabeça deles. Como os juízes do Supremo. Tanto é que se chama Supremo. Aqueles, quando morrem vão direto pro Céu sentar à mão direita do Deus-Pai-Arquiteto, porque na esquerda eles não sentam jamais. Já imaginou maçom de esquerda? Nem na época dos carbonários, do Mazzini e do Garibaldi, que fizeram uma revolução na Itália para unificá-la sob um rei. Falavam muito em república, que viria a seu tempo, depois de tudo bem combinadinho dentro das lojas: quem recebe quanto e de que maneira.

- Como no mensalão?

- Pois não é que o senhor agora me avivou para essa possibilidade? Se soltarem os ditos cujos ladrões conhecidos, mas que não podem ser presos, porque ladrão rico nunca vai preso, ainda mais ladrão ligado ao Governo... Pois se soltarem Zé Dirceu e camarilha, quer dizer que aí tem coisa.

- Que coisa, seu Chico?

- Mas o senhor não vê?! Bateu a cegueira com esse tempo osco, que não é inverno nem verão, muito antes pelo contrário? Se soltarem os qüeras – e vão deixar eles soltos, ao que tudo indica, com exceção de um ou dois que vão pagar o pato pelos outros e talvez não sejam irmãos juramentados – é sinal verde para a roubalheira geral, seja em que governo for. Sendo do Governo, pode roubar. Sempre vão dizer que é para o bem de todos e para a felicidade geral da nação, e a tal de nação, que não é a nação colorada ou gremista, vai ter de engolir em seco e aceitar. E tem mais: daqui pra frente vão fazer os seus roubos de maneira bem mais organizada, sem deixar furo. O Lula não chegou a dizer que eles, os mensaleiros, são uns aloprados porque se deixaram pegar?

- Mas seu Chico, isso seria o fim das instituições.

- Ao contrário, aí é que o senhor se engana. Seria a instituição de uma lei nova sobre todas as instituições. Nova, nem tanto, e que pode ser resumida pelo adágio popular: “Quem pode mais chora menos”. E para a nação obtusa, futebol e carnaval. E estamos conversados.

- Mas a oposição...

- Pois a tal de oposição um dia desses vai virar situação e trato é trato. É aí que mora a coruja!

- O senhor está querendo dizer que os juízes do Supremo são corruptos?

- Claro que não, vivente! Tanto não são que cinco deles votaram pela lei e a verdade. Os outros votaram pela volubilidade da lei e da verdade, se acham muito certos e até fizeram um 'mea culpa' ao desejarem um novo julgamento dos mensaleiros. Admitiram, ou lembraram, que o julgamento do qual eles participaram teve erros. São muito humildes, o senhor não acha? E juiz humilde e coisa difícil de se ver. Costumam ser cheios de conjuminâncias e prolixidades. Estes, pelo jeito, são tão humildes que até é provável que façam uma peregrinação pelo Caminho de Santiago, guiados pelo Paulo Coelho com a espada mística na mão. Quem sabe a mística espada de justiça cega...

- Depois de soltarem os mensaleiros.

- Claro. Em agradecimento.

- Se bem que o Celso de Mello pode votar junto com os cinco que não consideram a lei muito volúvel.

- Ah, mas claro que pode! E o senhor acredita? E isso me lembra a letra de uma música gaudéria. O senhor deve conhecer. O título é “O BARULHO DO MEU RELHO”, de Germano Fogaça e Lawrence Wendt. O início é assim: “Ah leleque leque leque leque leque leque leque/É o barulho do meu relho no lombo desses moleque...” Vem bem a propósito. Lá no Supremo eles tão dando voltinhas na lei pra soltar esses moleques - no mínimo moleques! - quando o que eles mereciam era uma surra de relho!

- Mas seu Chico, e a Lei da Palmada?


- É da palmada e tem a ver com a palma da mão. Não se fala em relho na lei. E quanto a isso de lei... Coitada, como ficou caprichosa, volúvel, cheia de vontades, volátil, inconstante, manhosa!...

Um comentário:

  1. S. Chico e interlocutor tiram um verdadeiro sarro sobre nossas leis. Rir é o remédio quando nada podemos ainda fazer. Parabéns!.

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